Dias atuais...— Vai trabalhar até mais tarde outra vez? — Tiro minha atenção dos papéis que analisava para encarar Alexander. Ele fecha a porta e caminha sem pressa até a mesa de café, servindo-se de uma xícara antes de vir na minha direção.— As coisas finalmente começaram a se alinhar — respondo, tentando manter o tom neutro. — Quero aproveitar esse momento de calmaria para revisar as papeladas da investigação de Milena. Não posso deixar passar nada despercebido.Alexander se senta na poltrona à minha frente e dá um gole no café, os olhos fixos em mim, como se tentasse medir o peso que isso tudo estava me causando. — Queria ter a mesma esperança que você, mas nós dois sabemos que a Yakuza dificilmente deixaria alguém vivo após tanto tempo.Engulo seco, desviando o olhar por um instante. Eu sei disso, e torço contra esse pensamento todos os dias. Todos dizem que a esperança é a última que morre… a minha irá morrer comigo, se for preciso.— Não sei. — Me recosto na cadeira, estudando
Abro os olhos encarando o teto, com a mente ainda presa naquele sonho horrível. Odeio esses sonhos. Dou um suspiro pesado e me sento na cama, esperando que, quem sabe, meu cérebro faça o download da minha alma. Nada. Sinto a frustração se instalar, como sempre.Hoje completo 19 anos. Consigo reconhecer que cheguei até aqui bem melhor do que imaginava. Tenho um emprego decente, estudo em uma ótima faculdade e moro em um apartamento só meu, perto do trabalho. Nem precisei mexer no dinheiro da venda do apartamento do meu pai. Metade, claro, já que tive que dividir com minha “genitora”.Olho ao redor, meio zonza, tentando reunir coragem para sair da cama e encarar o dia. O quarto ainda está na penumbra, a luz da manhã entra devagar pela janela entreaberta, trazendo uma brisa fria que faz o quarto parecer mais aconchegante. Lá fora, o som do trânsito começa a subir, quase reconfortante. A vida não para, e eu também não.Levanto devagar, o chão frio sob meus pés me tira o sono de vez. Vou a
Organizar a agenda do senhor Alexander não é uma tarefa fácil, mas organizar a agenda de Otávio é ainda pior. Às vezes, acho que vou ter um mini infarto só de olhar para esses horários. Ele sempre tem algo inesperado ou algum compromisso que surge do nada, e eu, como uma de suas assistentes, sou a encarregada de colocar tudo em ordem. Por exemplo, o horário de almoço dele hoje foi de meia hora. Apenas trinta minutos. Isso não dá nem tempo de mastigar! Além disso, ele tem três reuniões com os gerentes das filiais, uma com o senhor Alexander às seis, e um jantar de negócios às sete. E, para completar, de manhã ele ligou pedindo que a Melissa enviasse alguns documentos por e-mail, já que estava "ocupado com outros assuntos". Assuntos esses que só Deus sabe o que são. Meu celular vibra, tirando-me dos pensamentos caóticos da manhã. Quando olho, é uma mensagem de Marcela. "Feliz aniversário, minha ruiva! Se prepare, porque hoje vai ter comemoração SIM, e sem desculpas!" Logo, dois ing
Fiquei observando o presente: uma sandália de salto fino em um tom vibrante de rosa. As tiras trançadas, decoradas com pequenos spikes, traziam um ar moderno e ousado, contornando meu pé de forma elegante. A amarração no tornozelo, com um laço delicado, completava o visual com um toque feminino e sofisticado.Eu amei cada detalhe. Mas me pego pensando... Como ele poderia saber? A paixão que tenho por sandálias é algo que apenas Marcela conhece. Não há nenhuma chance de Otávio estar ciente desse meu pequeno vício por saltos altos.Decido que é hora de expressar minha gratidão. Pego o celular e lhe envio uma mensagem:"Obrigada, seu presente foi perfeito."Acrescento um emoji de joinha, tentando transmitir um pouco da empolgação que sinto.Nunca mandei mensagem para meu segundo chefe fora da empresa; esta é a primeira vez. Um misto de nervosismo e expectativa invade meu estômago. Espero por alguns segundos, mas a mensagem não é respondida. Coloco o celular no canto e volto a observar a
Pegamos uma pequena fila porque decidimos chegar cedo. Depois de tudo certo, entramos como casal. Sim, eu e a minha amiga, já que a bonita não queria pagar mais caro, e em casal sairia mais barato.O lugar era incrível, um pouco parecido com uma boate, mas, olhando bem, só um pouco. As luzes eram suaves, criando uma atmosfera íntima e sedutora, enquanto a música pulsava, dando vida ao espaço.Fui até o fundo e me sentei em um canto, já que era a minha primeira vez neste lugar e queria observar tudo antes de fazer algo que poderia me arrepender. Era uma mistura de emoções: ansiedade, excitação e um toque de nervosismo. Enquanto olhava ao redor, percebi que os olhares de homens e mulheres se entrelaçavam, criando uma conexão quase elétrica no ar.Uma morena linda dançava no pole dance, fazendo movimentos graciosos que me fizeram franzi a testa. O que eu esperava ver eram homens, mas ali estava aquela mulher capturando a atenção de todos com sua performance. Ela se movia com tanta confi
Eu não queria estragar a noite de Desirée, mas também não permitiria que ela ficasse vendo um bando de dançarinos se despindo no palco. Por isso, mandei trocar o evento da noite, uma mudança discreta, mas eficiente.A casa de swing não é minha; ela pertence a Rodolfo, assim como outras duas boates na cidade. Mas isso ainda me dá certo privilégio para interferir quando necessário.Observo pelas câmeras de segurança o exato momento em que ela percebe a troca do show. Ela parece descontentamento ao ver as dançarinas entrarem no palco em vez dos dançarinos que esperava. O leve franzir de sua testa me arranca um sorriso. Ela não faz ideia de que eu estou por trás dessa mudança.Ela olha para o palco, parecendo desapontada, desvia o olhar e murmura algo para a amiga, que também parece surpresa e decepcionada. As duas trocam um olhar significativo e, por um momento, penso que vão sair. Mas, para minha surpresa, Desirée permanece ali, embora o desconforto esteja claro em sua expressão.Eu que
— Eles sempre vão tocar na mesma ferida — Alexander murmura, limpando as mãos sujas de sangue. — Essa é a fraqueza que todos veem na Cosa Nostra. O ponto que qualquer organização ousa explorar.Observo-o em silêncio, notando as marcas de uma noite sem descanso. Já está quase amanhecendo, e o céu começa a clarear, mas a tensão no ar é densa, quase palpável. Alexander carrega o peso dessas palavras, o peso de cada acusação de lealdade questionável, algo que outros enxergam como um ponto fraco nosso, um golpe direto no que construímos.Ele inspira fundo, e a frustração se manifesta em cada linha de seu rosto, endurecido pela experiência e pelos sacrifícios que a vida na máfia exige.— Eles acham que conhecem nossas fraquezas, mas não têm ideia do que realmente nos move, algo que eles nunca entenderão — continua, com um tom de desprezo.Alexander lança um olhar sombrio para o corpo de Majoto, caído no chão frio. Seu rosto está inchado, desfigurado, com a língua arrancada como um símbolo d
Estou sentada há cerca de cinco minutos em um restaurante afastado do centro da cidade. Recebi uma ligação de um dos investigadores contratados para investigar o assassinato do meu pai. Graças ao meu trabalho no GRAN HOTEL, consegui recursos suficientes para pagar pelo serviço, e hoje ele me ligou dizendo ter boas notícias.Vejo-o atravessar as portas do restaurante acompanhado por um senhor que parece ser de nacionalidade japonesa. Sinto um frio na barriga, me perguntando se esse homem sabe de algo importante.O homem aparenta ter cerca de 50 anos, e seu sorriso se alarga ao me ver, o que me deixa um pouco incomodada.— Desculpe pela demora, Desirée. — diz Carlos, o responsável pela investigação, assim que se aproxima.Levanto-me e estendo a mão para cumprimentá-lo. — Não tem problema, sei que você anda muito ocupado. — Sorrio e olho para o senhor à nossa frente.— Este é Ren Katakana, ele tem uma proposta boa para você, e isso pode nos ajudar a chegar mais perto dos verdadeiros culp