— Eles sempre vão tocar na mesma ferida — Alexander murmura, limpando as mãos sujas de sangue. — Essa é a fraqueza que todos veem na Cosa Nostra. O ponto que qualquer organização ousa explorar.Observo-o em silêncio, notando as marcas de uma noite sem descanso. Já está quase amanhecendo, e o céu começa a clarear, mas a tensão no ar é densa, quase palpável. Alexander carrega o peso dessas palavras, o peso de cada acusação de lealdade questionável, algo que outros enxergam como um ponto fraco nosso, um golpe direto no que construímos.Ele inspira fundo, e a frustração se manifesta em cada linha de seu rosto, endurecido pela experiência e pelos sacrifícios que a vida na máfia exige.— Eles acham que conhecem nossas fraquezas, mas não têm ideia do que realmente nos move, algo que eles nunca entenderão — continua, com um tom de desprezo.Alexander lança um olhar sombrio para o corpo de Majoto, caído no chão frio. Seu rosto está inchado, desfigurado, com a língua arrancada como um símbolo d
Estou sentada há cerca de cinco minutos em um restaurante afastado do centro da cidade. Recebi uma ligação de um dos investigadores contratados para investigar o assassinato do meu pai. Graças ao meu trabalho no GRAN HOTEL, consegui recursos suficientes para pagar pelo serviço, e hoje ele me ligou dizendo ter boas notícias.Vejo-o atravessar as portas do restaurante acompanhado por um senhor que parece ser de nacionalidade japonesa. Sinto um frio na barriga, me perguntando se esse homem sabe de algo importante.O homem aparenta ter cerca de 50 anos, e seu sorriso se alarga ao me ver, o que me deixa um pouco incomodada.— Desculpe pela demora, Desirée. — diz Carlos, o responsável pela investigação, assim que se aproxima.Levanto-me e estendo a mão para cumprimentá-lo. — Não tem problema, sei que você anda muito ocupado. — Sorrio e olho para o senhor à nossa frente.— Este é Ren Katakana, ele tem uma proposta boa para você, e isso pode nos ajudar a chegar mais perto dos verdadeiros culp
Assim que cheguei em casa, liguei para a Marcela, que veio sem demora. Contei a ela como foi minha manhã de domingo, incluindo a reunião com Carlos e Ren Katakana. Pela expressão em seu rosto, já percebi que ela não aprovou. Marcela sempre foi contra minha obsessão por encontrar o assassino do meu pai.— Acho totalmente errado você fazer isso — Marcela está jogada no sofá, olhos fixos em mim. — Esse cara te deu um emprego onde você ganha cinco vezes mais, ajustou seu horário para não te sobrecarregar, e você aprendeu tudo naquela empresa. Você se tornou uma mulher excepcional, independente, e tudo graças ao lugar onde trabalha. E agora vem me dizer que está pensando em trair quem te estendeu a mão... por causa do seu pai? — Ela se senta, amarrando os cabelos negros em um coque bagunçado, o olhar fixo e crítico. — Desirée, desculpa, mas você está sendo burra.Suspiro, frustrada. — Eu já investi muito dinheiro nessa investigação, Marcela.— Porque você quis — ela rebate sem piedade. — J
Eu e Marcela temos a mesma idade; nos conhecemos desde pequenas e, desde então, nunca nos separamos. Quando minha mãe foi embora, ela estava lá. Quando meu pai se perdeu no vício, ela também estava lá. E depois que perdi meu pai, ela esteve lá mais uma vez, firme ao meu lado. A vida dela também não é fácil, mas, de certa forma, é menos complicada que a minha. Pelo menos os pais dela sempre estiveram presentes e a apoiam em tudo. Recentemente, Marcela decidiu seguir a carreira de fotógrafa, e agora as coisas começaram a dar certo para ela. Hoje, posso dizer que nos duas estamos em um bom momento. Marcela vive em um prédio perto do estúdio onde trabalha, visita os pais nos finais de semana e tem uma roda de amigos enorme. Já eu, sou mais reservada e considero apenas Marcela e Melissa como amigas. Melissa, apesar de ter 41 anos, tem um espírito jovem e é superdivertida. Ela traz uma leveza a mais para minha vida, sempre me incentivando a viver com mais ousadia. Por mais que as coisas
Às vezes me pergunto se penso demais. Sempre que encontro uma saída para meu destino, acabo desistindo e continuo a fazer o que é esperado de mim.Quando Alexander decidiu ir atrás de Helena, fui a favor porque sabia que ninguém o faria mudar de ideia. Mesmo sabendo dos riscos de uma guerra, não cedi e fui seu apoio. Hoje, vejo que foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado. Alexander encontrou-se naquela escuridão e, além disso, saímos com uma aliança fortalecida com a máfia Outfit.Quando Rodolfo se viu cego de paixão por Halina, tentei segurá-lo. Brigamos, eu e Alexander tentamos mantê-lo sob controle, mas nada parecia funcionar. No final, de alguma forma, tudo acabou se encaixando.Agora, Alexander e Rodolfo estão com suas vidas organizadas, mas aqui estou eu, tomando um rumo totalmente diferente do que planejei para mim.Eu planejei trazer Desirée para o Gran Hotel, conquistar sua confiança, envolver-me com ela e ficarmos juntos. Ela veio, ganhei sua confiança, mas percebi qu
Recebo uma mensagem de Carlos dizendo que não poderá mais trabalhar para mim e que decidiu abandonar a investigação. Simplesmente não entendo. Tudo parecia estar sob controle, cada peça no lugar, e de repente, tudo desmoronou. É como se a vida estivesse me forçando a abandonar essa obsessão que me consome todos os dias.Mas como posso? Essa busca por respostas não é apenas curiosidade; é algo que me impulsiona, que define cada passo que dou. No entanto, com Carlos fora, perdi um dos poucos pilares de confiança e, junto com ele, o pequeno avanço que tinha conseguido.Talvez eu devesse mesmo parar. Talvez a vida esteja tentando me mostrar que alguns mistérios são melhor deixados sem solução.Jogo o celular no sofá e olho para o teto do apartamento. As lágrimas vêm, e eu as deixo cair. Sinto que chegou o momento de parar, de pensar em mim e de seguir a vida como se nada tivesse acontecido.O que eu fiz até agora? Nada, a não ser me empenhar em algo que também não resultou em nada.Pego o
Já bebi muito, mas nunca ao ponto de não conseguir me levantar. Olho para minha amiga, que está sorrindo como se estivesse vendo um passarinho verde, e acabo rindo junto.— Saulo não é tão bom de cama assim — ela diz, enchendo o copo e quase se deitando sobre a mesa, enquanto eu me encosto no vidro. — Já sai com caras melhores.— O que você sabe sobre caras melhores? Com quantos você saiu até agora? Uns três? — levanto a mão, tentando contar, mas mal consigo manter o braço firme. — Acho que bebemos demais.— Sim. Vou ligar pro meu namorado , o melhor de todos — diz ela, parecendo mais decidida em ir embora do que eu.A encaro, meus olhos quase se fechando. — Você aceitou mesmo namorar alguém?Ela tinha me falado que havia aceitado, mas eu não acreditei. Marcela nunca namorou ninguém, sempre só agarrava os garotos do bairro.— Sim. — Ela suspira após dar um gole no copo. — Estamos juntos há uma semana, e estou gostando dele. Acho que já posso te apresentar já que não será um caso qualq
A semana foi um verdadeiro teste de resistência. Mergulhei no trabalho, tentando manter a mente ocupada, mas o pensamento em Desirée me perseguia. Saber que ela poderia estar envolvida com Katakana tornava impossível afastá-la completamente da minha cabeça.Foi preciso muita força para bloquear qualquer sentimento, mas era inevitável sentir aquela dor sutil no peito, uma lembrança constante do quanto ela significava para mim — mesmo que esse sentimento nunca fosse recíproco. Minha alma ansiava por ela de uma forma que eu sabia ser imprudente. Se eu me permitisse pensar nela, se eu deixasse as dúvidas se infiltrarem, perderia o controle. E isso era algo que eu simplesmente não podia fazer.É difícil aceitar, mas minha mente insiste que ela não pode ser minha. É como se uma parte de mim soubesse que estar ao meu lado só traria perigo, como se cada passo que dou em sua direção fosse mais um motivo para que ela se machucasse. A razão sussurra que devo me afastar, que devo deixá-la livre,