Às vezes me pergunto se penso demais. Sempre que encontro uma saída para meu destino, acabo desistindo e continuo a fazer o que é esperado de mim.Quando Alexander decidiu ir atrás de Helena, fui a favor porque sabia que ninguém o faria mudar de ideia. Mesmo sabendo dos riscos de uma guerra, não cedi e fui seu apoio. Hoje, vejo que foi a melhor decisão que poderíamos ter tomado. Alexander encontrou-se naquela escuridão e, além disso, saímos com uma aliança fortalecida com a máfia Outfit.Quando Rodolfo se viu cego de paixão por Halina, tentei segurá-lo. Brigamos, eu e Alexander tentamos mantê-lo sob controle, mas nada parecia funcionar. No final, de alguma forma, tudo acabou se encaixando.Agora, Alexander e Rodolfo estão com suas vidas organizadas, mas aqui estou eu, tomando um rumo totalmente diferente do que planejei para mim.Eu planejei trazer Desirée para o Gran Hotel, conquistar sua confiança, envolver-me com ela e ficarmos juntos. Ela veio, ganhei sua confiança, mas percebi qu
Recebo uma mensagem de Carlos dizendo que não poderá mais trabalhar para mim e que decidiu abandonar a investigação. Simplesmente não entendo. Tudo parecia estar sob controle, cada peça no lugar, e de repente, tudo desmoronou. É como se a vida estivesse me forçando a abandonar essa obsessão que me consome todos os dias.Mas como posso? Essa busca por respostas não é apenas curiosidade; é algo que me impulsiona, que define cada passo que dou. No entanto, com Carlos fora, perdi um dos poucos pilares de confiança e, junto com ele, o pequeno avanço que tinha conseguido.Talvez eu devesse mesmo parar. Talvez a vida esteja tentando me mostrar que alguns mistérios são melhor deixados sem solução.Jogo o celular no sofá e olho para o teto do apartamento. As lágrimas vêm, e eu as deixo cair. Sinto que chegou o momento de parar, de pensar em mim e de seguir a vida como se nada tivesse acontecido.O que eu fiz até agora? Nada, a não ser me empenhar em algo que também não resultou em nada.Pego o
Já bebi muito, mas nunca ao ponto de não conseguir me levantar. Olho para minha amiga, que está sorrindo como se estivesse vendo um passarinho verde, e acabo rindo junto.— Saulo não é tão bom de cama assim — ela diz, enchendo o copo e quase se deitando sobre a mesa, enquanto eu me encosto no vidro. — Já sai com caras melhores.— O que você sabe sobre caras melhores? Com quantos você saiu até agora? Uns três? — levanto a mão, tentando contar, mas mal consigo manter o braço firme. — Acho que bebemos demais.— Sim. Vou ligar pro meu namorado , o melhor de todos — diz ela, parecendo mais decidida em ir embora do que eu.A encaro, meus olhos quase se fechando. — Você aceitou mesmo namorar alguém?Ela tinha me falado que havia aceitado, mas eu não acreditei. Marcela nunca namorou ninguém, sempre só agarrava os garotos do bairro.— Sim. — Ela suspira após dar um gole no copo. — Estamos juntos há uma semana, e estou gostando dele. Acho que já posso te apresentar já que não será um caso qualq
A semana foi um verdadeiro teste de resistência. Mergulhei no trabalho, tentando manter a mente ocupada, mas o pensamento em Desirée me perseguia. Saber que ela poderia estar envolvida com Katakana tornava impossível afastá-la completamente da minha cabeça.Foi preciso muita força para bloquear qualquer sentimento, mas era inevitável sentir aquela dor sutil no peito, uma lembrança constante do quanto ela significava para mim — mesmo que esse sentimento nunca fosse recíproco. Minha alma ansiava por ela de uma forma que eu sabia ser imprudente. Se eu me permitisse pensar nela, se eu deixasse as dúvidas se infiltrarem, perderia o controle. E isso era algo que eu simplesmente não podia fazer.É difícil aceitar, mas minha mente insiste que ela não pode ser minha. É como se uma parte de mim soubesse que estar ao meu lado só traria perigo, como se cada passo que dou em sua direção fosse mais um motivo para que ela se machucasse. A razão sussurra que devo me afastar, que devo deixá-la livre,
Acordo com uma tremenda dor de cabeça, e a primeira coisa que percebo é que bebi demais. Mal abro os olhos, puxo o travesseiro e cubro o rosto, tentando afastar o desconforto. Preciso urgentemente de um banho e algo para comer. Respiro fundo, e o cheiro suave de amaciante preenche o ar. Estranho, porque não é o mesmo cheiro que uso em casa.Com um sobressalto, abro os olhos e me sento na cama. O quarto ao meu redor não é meu. É espaçoso, bem decorado, com móveis de madeira escura e cortinas pesadas que bloqueiam quase toda a luz. Meu coração acelera por um momento, mas logo passo a mão pelo meu corpo, verificando minha roupa. Por sorte, ainda estou completamente vestida, o que me alivia. Pelo menos não fiz nenhuma besteira com um desconhecido.Olho ao redor, tentando identificar onde estou. A cama é absurdamente confortável, e o ambiente exala elegância. Definitivamente não é o tipo de lugar onde eu acabaria normalmente. Meu olhar para na porta, que está entreaberta, e ouço o som de u
— Está do seu agrado? — A voz de Otávio rompe o silêncio, firme, mas carregada de curiosidade.Tiro minha atenção do prato e levanto o olhar. Ele está ali, encostado no balcão da pia, com os braços cruzados, me observando atentamente. Seus olhos verdes analisam cada detalhe, como se tentassem desvendar algo que eu ainda não disse ou, com toda certeza não quero dizer.— Está perfeito, obrigada. — Respondo, sentindo minhas bochechas aquecerem sob aquele olhar intenso.Ele não sorri imediatamente, mas há uma leve inclinação nos cantos de sua boca, como se estivesse satisfeito com a resposta.— Que bom. — diz finalmente, descruzando os braços e se virando para a bancada, onde pega sua xícara de café. — Fiz com cuidado. Achei que você precisava de algo reconfortante depois da noite que teve.— E estava certo. — Admito, segurando o garfo e voltando minha atenção ao prato. Mas, mesmo assim sinto seus olhos sobre mim, e isso me deixa estranhamente inquieta.— Você quer me dizer alguma coisa?
Ela vai me dizer não. Está estampado no rosto dela, como um reflexo da incredulidade que sinto ao fazer a proposta.Estou frustrado, não apenas pela situação em si, mas pelo peso de saber que meu destino já estava sendo traçado antes mesmo de ter chance de contestá-lo. Desde o momento em que soube que precisaria me casar, sabia que estava embarcando em algo que, inevitavelmente, traria complicações. Levar alguém de fora da máfia para dentro do nosso mundo é como plantar uma semente em solo de guerra: frágil, instável e fadada ao caos.Alexander não merece mais problemas. Já carrega o peso da máfia nos ombros, e prometi a mim mesmo, quando entrei nesse universo, que faria o possível para minimizar os danos, para proteger a família e a organização.Por isso, concordar em me casar com Valentina parecia lógico. Ela é filha da máfia, criada dentro dessas regras, compreende cada detalhe desse mundo. Não haveria surpresas, nem conflitos desnecessários. Seria um casamento conveniente, sem ris
— Já estou imaginando. Você de noiva com um vestido brilhoso entrando na igreja, vários fotógrafos e o gato do seu chefe esperando no altar. — Marcela suspira, arrancando de mim um sorriso sem graça.Sim, parece um sonho, mas a realidade está longe de ser um conto de fadas.Coloco os pés sobre a mesinha de centro e me acomodo no sofá, tentando ignorar o turbilhão de pensamentos que me invade.Assim que percebi que minha conversa com Otávio já havia ido longe demais, levantei, fui até o quarto, troquei de roupa e saí sem dizer nada. Simplesmente desapareci.É assustador estar nessa situação, mas, no fundo, sei que ele pode me ajudar. Só que há algo mais por trás daquela conversa, algo que ele não quis me contar. E isso está me corroendo por dentro.O problema é que o preço é alto demais. Um casamento sem amor.Eu sei que há uma possibilidade de me apaixonar por ele. Mas e ele?— Pare de queimar seus neurônios e apenas diga "sim". — Marcela me cutuca, quebrando minha linha de pensamento