🚦🚦Alerta de Gatilho
Este livro contém temas sensíveis que podem ser perturbadores para alguns leitores. Elementos como violência, relacionamentos abusivos, traumas, conflitos familiares, temas de máfia e vingança são abordados. Recomendamos cautela ao prosseguir, especialmente para aqueles que possam ser afetados por esses temas.🚦🚦 Este é o terceiro livro da série. BOA LEITURA 📚📚📚💗 Desirée González Eu não tinha o melhor pai do mundo, mas tinha um que se esforçava para ser. Desde sua morte, me vi sozinha, andando em um labirinto de medo e injustiça. Foi injusto o que fizeram com ele, mas, de certa forma, eu sabia que seu vício em jogos o afundaria no lamaçal. Ainda assim, não consigo aceitar o destino que lhe foi concedido. Ainda me lembro do seu sorriso e do seu jeito brincalhão, mesmo quando me deixava zangada. Eu o amava e admirava. Ele era tudo o que eu tinha, o único que me aceitou como eu sou, já que minha mãe preferiu os prazeres do mundo do que a nós dois. Agora, tudo o que me resta são as lembranças. Mas não posso permitir que suas lembranças se tornem uma prisão. A verdade sobre a sua morte está escondida sob camadas de mentiras, e eu preciso desenterrá-la. Meu coração se aperta ao pensar nas últimas palavras dele naquela manhã, quando me disse que eu deveria lutar pelo que era certo, mesmo que tudo parecesse errado. Agora, sou eu quem precisa fazer justiça. A ideia de que alguém, sem remorso, tirou a vida dele me consome. Não posso ficar parada enquanto os responsáveis vagam impunes. A cada dia que passa, a dor se transforma em raiva, e a raiva em determinação. Quero saber quem fez isso. Quero o culpado atrás das grades, sendo julgado por seus crimes, pagando pelo o que fez. Otávio Gambino Ela é incrivelmente linda, mas carrega uma força desconhecida. Há algo nela que me fascina e me afasta ao mesmo tempo. Esses dias que passei perto dela, observei que Desirée não é qualquer garota. Ela não me ilude como as outras mulheres; ao contrário, me desafia. E, embora isso me incomode, ao mesmo tempo me faz admirá-la. Ela é centrada, educada e inteligente. A forma como se move pelo mundo, mesmo diante da dor, me deixa intrigado. Eu me sinto como um bobo andando em um labirinto fechado, procurando por ela, perdido entre as paredes da minha própria vida. Desirée é um enigma, uma força da natureza que não se deixa moldar pelas expectativas dos outros. Sua determinação brilha, e isso me atrai irresistivelmente. Enquanto a observo, sinto uma necessidade crescente de protegê-la, mesmo sabendo que sou parte de um mundo que pode ser perigoso. A vida que levei, cheia de sombras e segredos, parece um peso insuportável diante da luz que ela irradia. É um contraste que me deixa em conflito: como posso me aproximar dela quando carrego verdades que podem destruí-la? A maneira como ela enfrenta a vida me faz querer ser melhor, querer mostrar a ela que, por trás das paredes que ergui, existe um homem que pode ser digno de sua confiança. Mas, a cada olhar que trocamos, percebo que a verdade sobre meu passado se interpõe entre nós, como uma barreira invisível. E, mesmo assim, não consigo evitar a atração que sinto por ela.Nova York – 13 anos atrás...17, 18, 19, 20, 21... Parei de contar ao sentir alguém colocar as mãos sobre meu ombro esquerdo. Ao levantar a cabeça, vejo minha mãe, com os olhos arroxeados e inchados, um pequeno corte no lábio e os olhos vermelhos pelo choro. Ela olha fixamente para a cena diante de nós, e eu volto minha atenção para Alexander novamente. Ele está encolhido em um canto, eu vejo o chicote ser levantado e cair mais uma vez sobre ele. Dessa vez, perdi as contas. Fecho os olhos quando o olhar do meu pai se volta para mim.Eu sabia que Alexander estava apanhando por minha culpa. Viro a cabeça e vejo Rodolfo em outro canto do quarto; há sangue no canto de sua boca, e ele me olha com raiva. Os três apanharam por causa da minha falha. Eles estragaram mais uma apresentação da máfia porquê eu não consegui matar alguém. Eu não queria matar, mas ver minha família sofrer a cada erro meu dóia mais do que a própria morte.Meu pai caminha em minha direção, e sinto a mão da minha mãe
Um ano antes...— Pai? — franzi a testa, agoniada, ao ver meu pai caído no sofá, bêbado novamente. Ultimamente, tem sido mais frequente vê-lo assim, e isso me cansa tanto físicamente quanto psicologicamente.Eu só queria viver um dia tranquilo, apenas um, mas parece que isso é impossível.Eu só tenho ele... e minha amiga Marcela. Na verdade, eu só tenho Marcela, porque meu pai se perdeu nos jogos e nas bebidas. Por mais que eu tente, não consigo salvá-lo.— Ele está fedendo. — Marcela sussurra atrás de mim enquanto nos aproximamos dele. Coloco a mão em sua testa para ver se não está com febre, mas, honestamente, eu não sei o que fazer. — Ele parece morto.Lanço um olhar de reprovação para minha querida amiga.— Não diga besteira. — Suspiro, empurrando-a suavemente em direção à cozinha.O apartamento é pequeno, não tenho luxo, mas ao menos é confortável. A cozinha e a sala são conjugadas, há dois quartos e um banheiro simples. Para mim, é perfeito. Abro a geladeira e pego uma garrafa d
O restaurante do senhor Aroldo está com um movimento bom hoje, o que, de certa forma, me alegra, porque isso pode me render uma grana extra.Depois de muito conversar com minha amiga, decidi internar meu pai em uma clínica de reabilitação e entrar na faculdade. A bolsa já ganhei; agora é só seguir com os meus sonhos. Mas, para isso, terei que trabalhar dobrado.— Desirée, mesa seis. — Respiro fundo, sabendo o que isso significa.Faz cerca de duas semanas que o mesmo rapaz vem aqui todos os dias. Ele se senta na mesma mesa e, por mais que as outras meninas tentem atendê-lo, ele só aceita ser atendido por mim. O pior é que, quando estou de folga, ele não vem. Isso, de certa forma, me deixou com o pé atrás. Aprendi a não confiar em ninguém, mas, dentro do estabelecimento, tenho que manter as aparências.Pego o cardápio e uma caneta, e sigo para sua mesa. Encaro seus olhos verdes, em um tom quase como o meu; ele parece gentil e amigável, mas o seguro morreu de velho. Não confio.— Boa tar
— Você está bem? — Marcela pergunta, levanto a cabeça e a vejo fechando a porta com as mãos cheias de sacolas. Hoje faz uma semana que enterrei meu pai. Eu não consigo entrar no quarto dele, não consigo dormir à noite, simplesmente não consigo fazer mais nada. O vazio parece me engolir a cada dia que passa. E, para piorar a situação, minha genitora ligou dizendo que eu tenho que vender o apartamento e ir morar com ela. Ela ainda teve a audácia de afirmar que metade da venda é dela, já que na época em que esse apartamento foi comprado, ela estava com meu pai. Eu a odeio, e não é pouco. — Estou bem. — minto, forçando um sorriso. — Pergunta estúpida. — Marcela diz, colocando as sacolas em cima do balcão. — Resposta errada. Decidiu o que vai fazer em relação à sua mãe? — Ela não é minha mãe. Marcela suspira, como se tentasse encontrar uma saída para a situação. — Desirée, você precisa dar um jeito nisso. — Eu vou voltar a trabalhar hoje, amanhã vou me matricular na faculdade e, ass
— Mande o currículo agora mesmo.Marcela está totalmente eufórica. Faz três dias que estou pensando sobre a proposta de Otávio em enviar um currículo para o Gran Hotel, mas ainda não tomei minha decisão.Consegui entrar na faculdade, meu salário já está ajeitado para alugar um novo lugar e o apartamento colocarei à venda amanhã.— Eu entrei na faculdade agora, eles não vão me ligar.— Para de ser teimosa e ao menos tenta.— Tudo bem.Pego meu celular e entro no Google. Primeiro vou pesquisar sobre esse hotel.Imediatamente uma enxurrada de informações aparece e, para o meu desespero, a imagem de Otávio dizendo que ele é o vice-presidente aparece. Abro a boca incrédula; como eu não percebi isso antes?— Terra chamado Desirée.— Você queria saber quem é Otávio.— Queria não, amiga, eu ainda quero.— Aqui. — Viro o celular para ela, e a reação dela é a mesma.— Ele é o vice-presidente Otávio Gambino. Não. — Ela balança a cabeça freneticamente.Me levanto, largando o celular. Agora que eu
Eu tive que passar por três entrevistas, o que, de certa forma, me deixou extremamente agoniada. A primeira envolveu perguntas básicas; na segunda, fui submetida a um teste psicológico; e, na terceira, tive que fazer algumas provas. Agora, finalmente, estou na última etapa: a sala do CEO.Confesso que estar de frente com Alexander Gambino é um misto de nervosismo e admiração. Pesquisei sobre a vida e a empresa dele e descobri que ele não é apenas o CEO, mas uma figura lendária na empresa, conhecida por sua frieza estratégica e presença intensa. Ao me encarar, seus olhos parecem avaliar cada detalhe, como se ele pudesse ler o que estou pensando antes mesmo de eu abrir a boca.Eu tento manter a compostura enquanto ele revisa o meu currículo. O silêncio na sala é quase esmagador, e eu sei que este momento é decisivo. Toda a preparação, todas as etapas, e tudo se resume ao que ele verá em mim agora.— Desirée González. — Ele levanta a cabeça depois de anotar algumas coisas no meu currícul
Dias atuais...— Vai trabalhar até mais tarde outra vez? — Tiro minha atenção dos papéis que analisava para encarar Alexander. Ele fecha a porta e caminha sem pressa até a mesa de café, servindo-se de uma xícara antes de vir na minha direção.— As coisas finalmente começaram a se alinhar — respondo, tentando manter o tom neutro. — Quero aproveitar esse momento de calmaria para revisar as papeladas da investigação de Milena. Não posso deixar passar nada despercebido.Alexander se senta na poltrona à minha frente e dá um gole no café, os olhos fixos em mim, como se tentasse medir o peso que isso tudo estava me causando. — Queria ter a mesma esperança que você, mas nós dois sabemos que a Yakuza dificilmente deixaria alguém vivo após tanto tempo.Engulo seco, desviando o olhar por um instante. Eu sei disso, e torço contra esse pensamento todos os dias. Todos dizem que a esperança é a última que morre… a minha irá morrer comigo, se for preciso.— Não sei. — Me recosto na cadeira, estudando
Abro os olhos encarando o teto, com a mente ainda presa naquele sonho horrível. Odeio esses sonhos. Dou um suspiro pesado e me sento na cama, esperando que, quem sabe, meu cérebro faça o download da minha alma. Nada. Sinto a frustração se instalar, como sempre.Hoje completo 19 anos. Consigo reconhecer que cheguei até aqui bem melhor do que imaginava. Tenho um emprego decente, estudo em uma ótima faculdade e moro em um apartamento só meu, perto do trabalho. Nem precisei mexer no dinheiro da venda do apartamento do meu pai. Metade, claro, já que tive que dividir com minha “genitora”.Olho ao redor, meio zonza, tentando reunir coragem para sair da cama e encarar o dia. O quarto ainda está na penumbra, a luz da manhã entra devagar pela janela entreaberta, trazendo uma brisa fria que faz o quarto parecer mais aconchegante. Lá fora, o som do trânsito começa a subir, quase reconfortante. A vida não para, e eu também não.Levanto devagar, o chão frio sob meus pés me tira o sono de vez. Vou a