Sozinha e grávida, Tábata Mamoru jamais imaginaria que sua antiga paixão adolescente seria aquele que lhe estenderia a mão. Muito menos que os sentimentos por ele retornariam atrapalhando seu plano de partir assim que seu bebê nascesse. Uma ajuda inesperada indicou o caminho para a vida que sempre desejou — Como vai Tábata? Há quanto tempo... Dez anos de completo silêncio teve vontade de falar, mas, em seu estado, sua última preocupação seria a rejeição de sua primeira paixão adolescente. — Oi... — Apertou a alça da mochila, olhando um ponto atrás dele como se estivesse à procura de uma escapatória. De certa forma estava. — Hum... O que faz por aqui? — Lee me telefonou — ele respondeu. — Você ficará hospedada na minha casa enquanto ele estiver fora do país. Fazendo seu plano de partir ruir frente ao despertar de sentimentos antigos — Nunca imaginei que o senhor “perfeição” se arrependeria de algo — brincou, mas Guilherme a observou sério em vez de rir como o esperado. — Me arrependo de várias coisas — deslizou o torso da mão pela face dela até seu queixo, aproximando-se com os olhos fixos em seus lábios —, entre elas, todas as vezes que contive a vontade de te beijar. Com o coração aos pulos, Tábata segurou o rosto de Guilherme e inclinou-se para cima, acabando com a distância entre suas bocas.
Ler maisO quarto estava mergulhado em uma penumbra acolhedora, as cortinas semiabertas deixando um rastro da luz do exterior tingindo um filete do chão até a parede ao lado da cama, enquanto a chuva suave tamborilava na janela, compondo uma melodia aconchegante. Tábata repousava a cabeça no tórax de Guilherme, os dedos traçando desenhos invisíveis sobre o peito nu, aproveitando o refúgio do calor de seus corpos enquanto contava como foi seu dia.— Meu pai parece outro quando está com a Lean — comentou. — Ele sorri. Fazia tanto tempo que não via aquele sorriso... — A abelhinha tem esse efeito nas pessoas — ele disse deslizando os dedos pelo cabelo dela. — É impossível não se encantar por ela. Tábata ergueu o olhar, apoiando o queixo em seu peito, os olhos castanhos buscando os dele. — Estive com a Maya e a Hana depois disso — contou. — A gente conversou bastante, mas elas disseram algo que ficou na minha cabeça. — E o que foi?— Viram o Mateus vestido com roupas de grife, carro e relógio c
No horário marcado, Tábata encontrou suas amigas na lanchonete próxima ao antiquário. O lugar, lotado pelo horário de almoço, exalava o aroma de miríade de sabores. Junto com a filha, ocupou uma mesa no canto minutos antes, o que garantiu que tivessem lugar quando as amigas vieram para almoçar com ela.Depois de fazerem os pedidos, contou o ocorrido no antiquário.— Finalmente teve coragem! — Hana comemorou.— Sim — confirmou orgulhosa de si mesma. — Deixei claro que não volto a trabalhar sem um salário justo e a carteira assinada.Maya bateu palmas, animada, acompanhada pela cumplicidade de Hana.— Já estava mais do que na hora de você se posicionar. Quantas vezes eu te disse que era exploração? — indicou Maya.— Muitas — admitiu abaixando os olhos para esconder a vergonha por sua atitude passada. — Eu só não tinha coragem de enfrentar minha mãe... Sabem como ela é. Mas depois de ser expulsa, percebi que não tenho lugar nem na casa e nem na loja deles.Calaram um momento com a chegad
Não querendo passar outra tarde solitária em casa se martirizando pelo medo de perder a filha, depois que Guilherme saiu para o trabalho e Paulina partiu após outra breve visita, arrumou as coisinhas de Lena, o carrinho e foi para a casa de seus pais. Aproveitou e mandou uma mensagem para as amigas, marcando de encontra-las na hora de almoço delas.Logo que chegou a casa foi recebida pelo sorriso caloroso do pai e o frio inclinar de lábios de sua mãe, algo comum ao longo de sua vida.A sala estava iluminada pela luz suave que atravessava as cortinas de renda, e o ar carregava o leve aroma de chá recém-preparado, colocado sobre a mesinha de centro. Tábata tinha acomodado Lean no carrinho, ajustando o apoio e a mantinha florida da bebê, que esticava os dedinhos para brincar com os enfeites acima de sua cabeça. Em sua cadeira de rodas, Claudiano observava a cena fascinado, os olhos brilhando de ternura.— Essa menina vai crescer forte e esperta como a mãe — disse ele, a voz fraca e hesit
Após algumas horas os Perez que moravam na mansão Salvatore partiram, restando Paulina que acomodou-se ao lado de Tábata para conversar, sem pressa para partir. Guilherme saiu para trocar Lean e colocá-la para dormir, deixando as duas sozinhas.Tranquila, o peso de tantas semanas de incerteza finalmente encontrando um caminho para escapar, Tábata confessou:— Estava morrendo de medo de contar para sua família sobre mim e o Gui, porque sabia que também precisaria falar do pai da Lean. Achei que reagiriam pior... — Engoliu seco, desviando o olhar para as próprias mãos. — No fim só seu pai se mostrou contra.— Meu pai tem ideias conservadoras — Paulina explicou. — O que importa é que a maioria dos Perez gosta de você e do Guilherme juntos. Nós vemos como ele cuida e se importa com você e a Lean... — Paulina alisou o tecido da almofada em seu colo. — Fiquei sem graça quando percebi que só eu não tinha notado que havia algo entre você e o Guilherme.— Tentei esconder.Paulina riu baixinh
Prontos para enfrentar mais uma etapa no relacionamento, convidaram os parentes de Guilherme para almoçarem com eles no domingo.Na mesa um bolo simples, trazido pela prima dele, dividia espaço com travessas de massas e saladas, compondo a alimentação familiar. Lean descansava no moisés da sala, perto o suficiente do olhar atento dos dois. Entre garfadas a conversa seguia fluída, embora somente três conduziam a conversa: Guilherme, o pai dele e a prima mais nova. O tio dele não era de muitas palavras. A prima mais velha parecia área, embora lançasse sorrisos fracos. Tábata se sentia tensa com o que ocorreria mais adiante e preferia conduzir acenos e resmungos sorridentes.Perto do fim da refeição a bebê exigiu a atenção de Tábata. Quando retornou da troca e alimentação, estavam reunidos na sala e Guilherme fez um gesto sinalizando a chegada do motivo daquela pequena reunião familiar.Sentou ao lado dele, acomodando Lean em seus braços, necessitando dela para se sentir segura de algum
Tábata ficou imóvel, piscando devagar enquanto absorvia e tentava compreender o que ouviu. Procurou por qualquer traço de dissimulação no rosto dele. Não encontrou nada além de genuína perplexidade.— Não entendo...— Tampouco entendo ela usar essa mentira pra nos afastar. — Guilherme caminhou de um lado para o outro, o semblante tenso. — Te garanto que Simone nunca esteve grávida, pelo menos não de um filho meu. — Diante do olhar surpreso e incrédulo dela, contou com desgosto: — Nem posso te condenar por acreditar nela, porque também acreditei quando ela me contou estar grávida. — Ele parou de andar e soltou uma risada amarga, deslizando os dedos pelos cabelos castanhos e longos, bagunçando-os ainda mais. — Quando ela me contou, fiquei tão feliz que vendi o apartamento onde morava. Comprei essa casa, por ter um parque perfeito para crianças... E era tudo uma maldita mentira. Tábata sentiu um aperto no peito ao ouvi-lo, mas não o interrompeu, permaneceu em silêncio, observando-o com
O silêncio preenchia o quarto, quebrado apenas pela respiração suave de Lean no berço. Tábata ajeitou o cobertor delicadamente, um gesto quase ritualístico, enquanto Guilherme observava da porta. A luz amena do abajur iluminava os traços serenos da bebê, e, por um momento, tudo parecia perfeito e sem as complicações ameaçando a paz de ambas. Depois de ligar a babá eletrônica, afastou-se devagar, fazendo o mínimo barulho possível para não despertá-la, deixando a porta entreaberta.No corredor, Guilherme a envolveu a cintura de Tábata por trás, pousando o queixo em seu ombro ao seguirem vagarosamente em direção ao quarto principal. — Amor, o que está te incomodando? — ele perguntou fazendo-a virar o rosto para olhá-lo, a confusão estampada em seus olhos, fazendo-o explicar: — Desde que cheguei está calada, desanimada e distante. Nem mesmo Lean arrancou um sorriso desse seu rosto lindo — complementou beijando-a de leve.Ela desviou o olhar, deslizando os dedos pelo braço mantendo-a cat
Guilherme e Tábata caminharam lado a lado em direção ao estacionamento do prédio do escritório Ramos Advogados Associados. Ela segurava a filha contra o peito, embalando-a, acalmando os próprios nervos após a cena que a ex dele causou.— Você está bem? — ele perguntou ao chegarem ao veículo.Ela respirou fundo, tentando controlar-se para não acabar transmitindo seus sentimentos à bebê.— Estou bem. Mas confesso que ela me assusta — confessou olhando para baixo, como se o ato de admitir em voz alta a tornasse mais vulnerável.Girando-a distraidamente entre os dedos a chave da caminhonete, Guilherme a observou com mais atenção.— A Simone não é perigosa, só voluntariosa — disse para tranquilizá-la. No entanto, não foi suficiente para convencê-la.— Não sei. — Tábata balançou a cabeça, tentando organizar os pensamentos. — Ela parece descontrolada às vezes. Sempre tão intensa, lançando ameaças e hoje... ela está claramente perto de explodir a qualquer momento.Chegando ao veículo, Guilh
Antes de Tábata voltar para casa, segurando Lean no colo, ao sair da sala de seu colega, Guilherme levou ambas em direção à própria.O ambiente do escritório parecia fluir em sua habitual movimentação: Papéis espalhados sobre as mesas, teclados soando, o barulho da impressora ecoando e o burburinho pairando no ar. Porém, conforme prosseguiam, papéis eram esquecidos, teclas paravam de ser pressionadas, a impressora foi desligada e o burburinho diminuiu.Guilherme compreendia a curiosidade dos colegas, e agradecia a discrição.— Ora, ora, Perez. Decidiu trazer a família para a firma? — Guilherme inspirou fundo ao reconhecer a voz inconfundível de Julian Carelli. O colega barrou a passagem, no sorriso e olhar uma mistura de curiosidade e provocação. — Então essas são as mulheres que laçaram o grande Guilherme Perez? Não vai nos apresentar?Tábata mordeu o lábio, rindo baixinho, enquanto Guilherme revirou os olhos com exasperação. Julian adorava qualquer oportunidade de provocá-lo. No ent