Sozinha e grávida, Tábata Mamoru jamais imaginaria que sua antiga paixão adolescente seria aquele que lhe estenderia a mão. Muito menos que os sentimentos por ele retornariam atrapalhando seu plano de partir assim que seu bebê nascesse. Uma ajuda inesperada indicou o caminho para a vida que sempre desejou — Como vai Tábata? Há quanto tempo... Dez anos de completo silêncio teve vontade de falar, mas, em seu estado, sua última preocupação seria a rejeição de sua primeira paixão adolescente. — Oi... — Apertou a alça da mochila, olhando um ponto atrás dele como se estivesse à procura de uma escapatória. De certa forma estava. — Hum... O que faz por aqui? — Lee me telefonou — ele respondeu. — Você ficará hospedada na minha casa enquanto ele estiver fora do país. Fazendo seu plano de partir ruir frente ao despertar de sentimentos antigos — Nunca imaginei que o senhor “perfeição” se arrependeria de algo — brincou, mas Guilherme a observou sério em vez de rir como o esperado. — Me arrependo de várias coisas — deslizou o torso da mão pela face dela até seu queixo, aproximando-se com os olhos fixos em seus lábios —, entre elas, todas as vezes que contive a vontade de te beijar. Com o coração aos pulos, Tábata segurou o rosto de Guilherme e inclinou-se para cima, acabando com a distância entre suas bocas.
Ler maisCarlos olhou para Simone, sua expressão séria.— Isso é verdade?— Claro que não. Ele está sendo manipulado por aquela mulherzinha infeliz — mentiu sem titubear.Carlos olhou para ela, a expressão carregada de decepção.— Conheço você e Guilherme desde que estavam no ventre de suas mães. Aceitei ambos embaixo de minhas asas quando demonstraram gosto pela lei. Sei o tipo de pessoas se tornaram — pontuou olhando-a com firmeza. — Guilherme não é o tipo de homem que age por impulso, sem provas. Se ele está dizendo isso, é porque tem motivos de sobra. Por isso pergunto novamente: É verdade?— Ele está sendo irracional... Não vai deixar ele sair do escritório, vai?— Conversarei com ele.Ele saiu da sala, deixando Simone sozinha. Ela olhou para a porta fechada, sa
Guilherme empurrou a porta da sala de Simone com tanta força que ela bateu contra a parede com um estrondo e voltou, fazendo ela e o cliente que a acompanhava, erguerem os olhos assustados.— Guilherme?! — ela perguntou confusa, enquanto ele atravessava a sala em sua direção.Ignorando o homem sentado em frente à advogada, ele espalmou as mãos na escrivaninha dela.— Sua obsessão não tem moral, nem vergonha? — ele perguntou furioso. — Como pode financiar Mateus para tirar a guarda da Lean de mim e da Tábata?Simone piscou lentamente, como se digerisse a acusação, e então virou-se para o cliente com um sorriso calculado.— Senhor Silva — ela se virou para o cliente —, remarcarei nossa reunião em breve. Infelizmente, surgiu um imprevisto.O homem, visivelmente desconfortável, não esperou que ela repetisse. Pegando sua pasta, levantou-se às pressas, murmurando algo indistinto antes de desaparecer pela porta escancarada.Ela se ergueu e, depois de dar um olhar fulminante aos colegas que o
Na hora do jantar, enquanto Guilherme comia, Tábata alimentava Lean com papinha de legumes. Satisfazendo a fome da filha, Taby aproveitou que não tinha mais que se concentrar no perigo das mãozinhas agitadas baterem na colher, para falar sobre o ocorrido naquela tarde.— Paulina se encantou com o imóvel que vimos hoje — disse limpando a boca da filha.— Sim. Enfim a busca acabou — ele comemorou se erguendo para levar o prato vazio para a pia.— Ela tem muitas ideias. — Olhando para as costas dele, umedeceu os lábios e contou hesitante: — Paulina me convidou para trabalhar com ela... Na empresa que vai montar... E eu... aceitei...Guilherme moveu a atenção do prato que lavava, virando-se para olhá-la, a surpresa reluzindo nos olhos dourados.— Tem certeza de que quer trabalhar agora?Tábata travou, um nó se formando em sua garganta e o coração se apertando em um instante.— Acha que não devo?Ele se aproximou, ajoelhando na frente de Tábata, os dedos úmidos pela água da pia cobrindo a
O vento frio de fim de tarde carregava um aroma das folhagens próximas, enquanto Tábata esperava ao lado de Paulina e o corretor de imóveis, indicado por Guilherme, em frente ao prédio comercial que visitariam naquele dia. O local era praticamente deserto e a fachada nem um pouco atraente, mas tinham esperança de ser aquele o local para a realização do sonho de Paulina.Fugindo das declarações sobre sua filiação e da ansiedade com o processo de guarda, não hesitou em aceitar o convite para ajudar nas visitas ao futuro local que Paulina iniciaria sua empresa.— Tá tudo bem, abelhinha? — perguntou para a bebê, que se agitava no carrinho. Lean olhou para ela com aqueles olhinhos amendoados, cheios de curiosidade, e soltou um som alegre que a fez sorrir.— Espero que ela não demore — comentou Paulina, apertando a alça da bolsa. — Paola insistiu tanto para me encontrar que não tive alternativa... — lamentou.Tábata assentiu, balançando levemente a cabeça enquanto acariciava o cabelo filha.
Depois de colocar Lean adormecida no berço, Guilherme passou rapidamente pela cozinha antes de seguir para o quarto principal, levando uma xícara de chá de camomila que exalava um aroma suave. A luz do abajur criava uma atmosfera aconchegante, iluminando o espaço com uma tonalidade quente. Tábata estava sentada na beira da cama, usando uma leve camisola, que aumentava fragilidade que transparecia em seus olhos amendoados. Eles estavam vazios, fixos em um ponto distante, como se ela estivesse perdida em seus próprios pensamentos novamente. E ele sabia o que se passava na mente dela.Aproximou-se devagar, sentou-se ao seu lado e cuidadosamente colocou a xícara de chá entre as mãos dela.— Beba! É de camomila — explicou. — Vai te ajudar a esquentar o corpo e acalmar o coração.Tábata olhou para a xícara, os dedos se fechando ao redor do recipiente quente. Levou o chá à boca, bebendo lentamente, enquanto Guilherme a observava, os olhos âmbar cheios de preocupação. Quando ela terminou, peg
O Ford Ranger preto parou suavemente em frente ao imóvel onde o pai de Guilherme morava. A noite estava calma, apenas o farol do carro iluminava a fachada, criando sombras nas paredes. Guilherme desligou o motor, soltou o cinto e virou-se para Tábata, sentada ao seu lado. O moletom cinza largo emprestado por Alessandro a deixava pequena e frágil, mas os olhos amendoados agora estavam calmos.— Espere aqui, enquanto busco a Lean — pediu.Tábata ergueu o olhar.— Tem certeza? Posso ir com você...Guilherme sorriu, levando a mão ao cabelo dela e afastando uma mecha que caíra sobre seu rosto.— Melhor não. Assim que meu pai e Paola notarem a troca de roupas, vão fazer perguntas. — Ele deslizou o polegar pelo queixo dela. — E, sinceramente, não quero gastar meia hora criando respostas ou desviando das perguntas inconvenientes da minha prima.Ela assentiu, os dedos brincando com as mangas compridas do moletom, que cobriam suas mãos por completo. Sabia que ele estava certo. E, no fundo, tamb
Alessandro guiou Guilherme e Tábata por um corredor silencioso, longe do burburinho do salão de festas, até chegar a um quarto amplo e bem decorado. Ele abriu o armário embutido, revelando pilhas de toalhas macias e roupões de banho.— Aqui estão toalhas para vocês se secarem — disse Alessandro, com um gesto em direção ao armário. — Tomem um banho quente antes de saírem. Não quero que fiquem doentes por causa dessa chuva.Guilherme pegou duas toalhas, estendendo uma para Tábata. Ela a aceitou com as mãos trêmulas, os olhos amendoados ainda um tanto perdidos, como se estivesse tentando processar tudo o que havia acontecido.— Vá na frente, Taby — comandou, explicando para evitar negativas: — Vou com o Alessandro buscar algumas roupas secas para nós. Não vai demorar.Tábata assentiu com a cabeça, segurando a toalha contra o peito. Seus lábios estavam levemente entreabertos, como se quisesse falar, mas as palavras não saíam. Ela se virou e caminhou em direção ao banheiro, os passos lento
— Tábata... — Guilherme chamou novamente, a voz carregada de preocupação, a mão pousando em seu ombro trêmulo. — Vamos sair daqui.Ela não ergueu o olhar, os dedos se agarrados aos braços em volta das pernas, como se tentasse se proteger de algo que não podia ver. Estava estática, mergulhada em traumas passados, envernizados por uma conclusão amarga:— Não mereço ser amada... — sussurrava em um doloroso mantra. — Nunca vou merecer...Ele colocou as mãos em seu rosto, forçando-a a olhar para ele.— Escute — pediu, os polegares deslizando pelas bochechas molhadas. — Não importa o que foi dito naquele corredor. Eu te amo. Eu amo você e amo a nossa abelhinha, nossa filha. Escolhi estar ao lado de vocês, não por obrigação, mas porque as amo. Não consigo imaginar minha vida sem vocês.Tábata olhou para ele, os olhos brilhando com uma mistura de incredulidade e esperança. As lágrimas escorriam mais rápido agora, misturadas à fria chuva.— Não quero que você se arrependa, Gui — disse, a voz t
Desnorteada, Tábata correu. Seus pés mal tocavam o chão, o vestido dourado flamejando como um raio de sol em fuga. O salão de festas, com suas luzes brilhantes e risadas ecoantes, passou como um borrão. Pessoas uniformizadas tentaram interceptá-la, vozes se levantaram em questionamentos e alertas, mas ela não ouviu. Não podia ouvir. As palavras de Simone ecoavam em sua mente, cortantes como facas, dilacerando tudo o que sabia sobre si mesma.“Não tem uma gota do sangue da mulher que chama de mãe.”O ar fugiu de seus pulmões, um frio cortante atravessou sua espinha e sua mente se recusava a aceitar, mas algo dentro dela — um pressentimento profundo e obscuro de longa data — sussurrava que Simone dizia a verdade.Não sabia para onde ir, só sabia que precisava fugir. Fugir daquela revelação, daquela dor, da tempestade que se formava dentro dela. Atravessou portas, corredores, até que o ar fresco da noite a atingiu em cheio, junto das luzes noturnas e das lâmpadas distribuídas pelo local