Sozinha e grávida, Tábata Mamoru jamais imaginaria que sua antiga paixão adolescente seria aquele que lhe estenderia a mão. Muito menos que os sentimentos por ele retornariam atrapalhando seu plano de partir assim que seu bebê nascesse. Uma ajuda inesperada indicou o caminho para a vida que sempre desejou — Como vai Tábata? Há quanto tempo... Dez anos de completo silêncio teve vontade de falar, mas, em seu estado, sua última preocupação seria a rejeição de sua primeira paixão adolescente. — Oi... — Apertou a alça da mochila, olhando um ponto atrás dele como se estivesse à procura de uma escapatória. De certa forma estava. — Hum... O que faz por aqui? — Lee me telefonou — ele respondeu. — Você ficará hospedada na minha casa enquanto ele estiver fora do país. Fazendo seu plano de partir ruir frente ao despertar de sentimentos antigos — Nunca imaginei que o senhor “perfeição” se arrependeria de algo — brincou, mas Guilherme a observou sério em vez de rir como o esperado. — Me arrependo de várias coisas — deslizou o torso da mão pela face dela até seu queixo, aproximando-se com os olhos fixos em seus lábios —, entre elas, todas as vezes que contive a vontade de te beijar. Com o coração aos pulos, Tábata segurou o rosto de Guilherme e inclinou-se para cima, acabando com a distância entre suas bocas.
Ler maisOs dias ao lado de Guilherme passaram a ter um ritmo gostoso para Tábata. Se entendiam com perfeição e ela não tinha dúvidas sobre os sentimentos dele, tão pouco sobre os próprios. A única razão para não aceitar expor que estavam juntos era o temor de como seria a aceitação dos parentes dele, principalmente quando soubessem do passado dela.Ele dizia para não se preocupar, mas Tábata não conseguia. Sabia que Guilherme valorizava a família e queria fazer parte dela junto com sua filha. No entanto, não era boba de achar que Simone desistiu de afastá-la de Guilherme, e era bem capaz de contar de um jeito deturbado seu passado para os parentes dele se soubesse que estavam juntos.Preferia ir com calma. Com essa intenção, além de aproveitar as visitas matinais de Paulina para firmar uma amizade com a prima dele, sempre ia com Gui
Na consulta com a obstetra, Guilherme estava sentado ao lado de Tábata, segurando sua mão, enquanto ela olhava os quadros com imagens de bebês e mensagens sobre maternidade preenchendo as paredes brancas.— Está se sentindo bem? — ele perguntou apertando de leve a mão dela, sentindo o nervosismo dela desde que entraram na sala.— Sempre sinto um pouco de receio nas consultas — admitiu acariciando a barriga. — É como se estivesse prestes a fazer uma prova, mas o resultado é a saúde dela.Compreendendo o motivo da insegurança, visto que tinham passado por momentos delicados na primeira consulta a respeito da saúde da bebê, ele inclinou-se beijando a testa dela com carinho.— Estou aqui por vocês! — garantiu recebendo um beijo doce em retorno.A porta se abriu e a Dra. Mariana entrou com o costumeiro sorriso calmo, os olhos verdes
Tábata despertou lentamente, os olhos piscando preguiçosos enquanto o calor familiar do corpo de Guilherme a envolvia por trás. O braço dele estava sobre sua cintura, aconchegando-a, a mão grande cobrindo seu ventre de uma forma que a fazia sentir-se protegida.Sorriu, um sorriso cheio de uma felicidade serena e infinita. Deslizou os dedos delicadamente pela mão dele, sentindo a textura da pele, os calos que denunciavam sua dedicação ao treino de artes marciais e, ao mesmo tempo, tinham uma suavidade ao tocá-la.Era difícil acreditar que fosse real. Que, depois de tantas reviravoltas, estavam juntos. Mesmo que em segredo.Inspirou fundo, recordando que sua relação anterior, com o pai de sua bebê, quando passou do flerte para namoro, também foi segredo, porém, por decisão dele.Havia se permitido sonhar naquela época, acreditando nas promessas vazias de casamento, de que ele precisava de tempo para apresenta-la aos pais, por morarem em outro es
A cozinha estava mergulhada em um silêncio sereno, quebrado apenas pelo som suave da colher que Tábata girava na xícara de chá. Seu olhar pairava sobre o pequeno vaso de hortelã no peitoril da janela. As folhas verdes pareciam brilhar sob o sol, contrastando com a opressão pesando em seu peito.A conversa com Paulina girava em sua mente. Era irônico e doloroso pensar que a prima de Guilherme tentou empurra-la para um quase estranho, mas nunca pareceu enxergá-la como uma opção para Guilherme, mesmo conhecendo a proximidade dos dois.— Deve me achar indigna — murmurou para si mesma, os dedos pousando instintivamente sobre o ventre arredondado.Os pensamentos lhe escapavam em fluxo desordenado. O que Paulina e a família Perez pensariam dela quando soubessem a verdade? Não sobre o bebê, uma luz pura em sua vida, mas sobre o homem que a deixou nessa s
O motor do Ford Ranger rugiu suavemente quando Guilherme começou a manobrar para fora da garagem. De pé na calçada, Tábata observava, ainda perdida nas implicações da conversa que tiveram na cozinha. Segurava a vassoura, que pegou para limpar a calçada, mas seus pensamentos estavam fixos no homem dentro do carro, imaginando a conversa que teriam quando ele voltasse do trabalho.O som de freios a despertou para outro carro parando perto dela. Moveu os olhos para o sedan preto de janelas escurecidas, reconhecendo-o imediatamente: era o veículo que sempre trazia Paulina. Apesar do retorno de Guilherme, a prima dele a visitava todos os dias pela manhã.Curvando-se com uma mão pousada no ventre, sorridente acenou para Paulina enquanto o carro terminava de estacionar. Deu um leve pulo ao sentir um abraço em seus ombros. Confusa, percebeu que o Ranger estava parcialmente para fora da garagem, a
Os dias que seguiram o Festival da Primavera passaram como uma névoa para Tábata. A intensidade no olhar, no beijo e no toque de Guilherme naquele dia, somando a declaração de desejo pairava como um enigma em sua mente acostumada as armadilhas das emoções. “Eu te desejo, Taby”, a voz dele rouca e baixa, ecoava em seu coração como uma melodia doce e convidativa pela qual esperou por anos. Mas, depois do festival, ele não tinha tentado nada no sentido que as palavras levavam, tendo o comportamento habitual que se tornou a rotina deles: Dormiam juntos, abraçados, como ele atrás dela envolvendo-a em seus braços com carinho, sem nenhum toque mais ousada, tão íntimo quanto casto. Ele a beijava sempre ao sair para o trabalho e ao voltar para casa, mas eram beijos suaves, simples, diferentes do turbilhão que havia sentido na noite do festival.Guilherme a desejava mesmo? Ou aquelas palavras ditas no festival haviam sido apenas um momento impulsivo? Ele parecia tão tranquilo, como se tudo es
O bairro da Liberdade estava um espetáculo. Lanternas vermelhas e douradas enfeitavam as ruas, o som ritmado dos tambores preenchia o ar, e os aromas das barracas de comida tradicional despertavam lembranças da infância de Tábata. Guilherme segurava sua mão ao atravessarem a multidão, desviando de crianças empolgadas e adultos sorridentes celebrando o Ano-Novo Chinês. — É incrível! — exclamou Tábata, os olhos brilhando ao ver os movimentos do dragão colorido deslizando graciosamente entre a multidão, as fitas douradas refletindo a luz do sol. — Tenho que gravar tudo pra enviar pro Lee e pro Tomás — disse pegando o celular. — Era o nosso dia favorito com a vovó — contou, sorrindo ao ver os bailarinos em trajes vibrantes ondulando como um único ser.— Gravo pra você — ele decidiu pegando o próprio aparelho, apontando a câmera para ela. — Fala alguma coisa pra ele.Ela riu, ajeitando o cabelo, o rosto iluminado pela felicidade. — Você tinha que estar aqui! Está maravilhoso, e o cheiro
Guilherme permaneceu em silêncio durante o tempo que o garçom colocou o pedido de Simone na mesa. Assim que o homem se virou para sair, voltou sua atenção para a bela mulher a sua frente, que nada mais que dor de cabeça lhe causava nos últimos meses.— Marquei esse encontro aqui pra minimizar danos — disse em voz baixa, mas firme, enquanto observava o garçom se afastar. — Não quero que nossos colegas nos vissem juntos e começassem a criar teorias. Muito menos que ouvissem o que tenho a dizer. — Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços, enquanto seus olhos âmbar se fixavam nela com seriedade. — Sendo repetitivo: é necessário deixarmos tudo claro entre nós de uma vez por todas. Simone franziu o cenho, temendo não ter conseguido decifrar a intenção dele. — Não entendo... — É simples. Jamais voltaremos a ter algo — declarou ele, as palavras cortando o ar como uma lâmina. — O que sinto por você é desprezo.Simone perdeu o fôlego por um instante. Abriu a boca para protestar, mas ne
Exultante, ao meio dia em ponto Simone saiu de sua sala para sua hora de almoço, o salto de seus sapatos de grife ecoando pelo corredor. O cabelo dourado estava impecavelmente penteado e seu perfume caro deixava um rastro açucarado no ar, enquanto ignorava as saudações e a curiosidade dos colegas no caminho até os elevadores. Estava concentrada no celular, onde as mensagens de Guilherme preenchiam a tela.Amor (08:34): “Marquei hora no La Belle Vie. Melhor nos encontrarmos longe do escritório para evitar falatório.”Sorriu ao reler o nome do restaurante. Era um lugar especial, onde costumavam ir quando estavam juntos. A escolha não parecia casual, e isso apenas fortalecia sua confiança de que estava a caminho da reconciliação. Com o coração acelerado e esperançoso, digitou antes de entrar no elevador: “Estou a caminho do restaurante. Te encontro lá.”Marcou um lembrete mental para pedir o vinho que Guilherme costumava apreciar. Enquanto descia, olhou para o reflexo no espelho polido