A chegada de Guilherme para almoçar não surpreendeu Tábata, supôs ser parte da rotina dele, o que causou estranheza foi que ele parecia mais preocupado em alimentá-la do que comer.
Desde que pisou os pés na casa, encontrando-a assistindo televisão, Guilherme esquentou a comida do dia anterior e a chamou para comerem juntos. Tábata teve a ligeira impressão que não fez o prato dela, porque se antecipou montando-o.
— Vai comer só isso? — ele questionou olhando com reprovação a comida em seu prato
— Tem bem mais do que no seu — afirmou apontando para o dele com o garfo
— Mesmo grávida está muito magra. Não parece se alimentar direito.
Ela o encarou irritada.
— Apesar do que insinua, me alimento bem, é o estresse... e você bancando o meu pai não vai ajudar em nada.
— N&
Quando Guilherme chegou em casa, Tábata sentiu imediatamente o cheiro irresistível que emanava das sacolas em suas mãos. Seus olhos brilharam enquanto o seguia até a cozinha, a curiosidade aguçada pelo aroma saboroso.— Nossa, que cheiro bom! O que é? — perguntou seguindo-o até a cozinha.Ele pousou as sacolas na mesa e, sem responder imediatamente, abriu as embalagens, revelando os pratos que comprou no caminho.— Chow mein [1]com molho de ostra, legumes e carne de porco — disse, sorrindo satisfeito ao abrir a segunda embalagem antes de olhar para ela. — Ah, e tem guioza[2] também.O estômago de Tábata pulou eufórico de felicidade e seus olhos salivaram diante dos pratos.— São os meus favoritos!— Eu sei — ele disse com um sorriso de puro orgulhoso por sua façanha. — Pode comer à vontade, &e
Depois de tomarem o café da manhã juntos, Guilherme e Tábata caminharam lado a lado até a garagem. Girando as chaves do carro na mão, ele olhou para ela de soslaio ao parar ao lado do veículo, um pequeno sorriso brincando em seus lábios.— Não exagere limpando a casa, está bem? — pediu. — Tenta descansar um pouco e, por favor, se alimente direito.Bem-humorada, ela deu uma risadinha e balançou a cabeça.— Como é que eu vou me desgastar em uma casa onde cada coisa está no seu perfeito lugar? — retrucou, estendendo um dedo em direção as ferramentas alinhadas em uma das paredes da garagem. — A casa de um verdadeiro perfeccionista. — provocou. Mas, ao lembrar-se de algo, observou cautelosa: — Bom, com exceção do seu escritório…Guilherme ergueu uma sobrancelha, surpreso com a men&c
O consultório da obstetra estava silencioso, apenas o som suave do ar-condicionado preenchendo o ambiente. Deitada na maca, Tábata olhava para o monitor ao lado, onde o ultrassom exibia borrões indefinidos para seus olhos destreinados. Guilherme estava ao seu lado.Depois dos exames iniciais, ela não queria ficar sozinha e, como se captando isso, ele se ofereceu para acompanha-la no ultrassom. Foi natural ter a ajuda dele para se ajeitar na maca, assim como segurar a mão masculina em busca de conforto.Mesmo tendo dito várias vezes que estava bem, temia que ele estivesse certo sobre o modo com que lidou com a gravidez até ali, que algo estivesse errado com seu bebê por sua culpa.O ambiente ficou silencioso, exceto pelo som suave do aparelho de ultrassom, enquanto a obstetra, uma mulher de meia idade de nome Mariana de sorriso gentil, movimentava o transdutor pelo gel espalhado no ventre de Tábata com
Tábata e Guilherme caminharam em silêncio até o estacionamento do hospital, cada um envolvido em seus pensamentos. A noite preenchia o céu e um vento fresco balançava suavemente o cabelo dela, que observava ele pelo canto do olho ainda pensando no que ocorreu ao fim da consulta.Estava confusa, perdida entre a preocupação pela bebê e o novo envolvimento de Guilherme naquilo tudo. Ele parecia tão natural, tão à vontade com a ideia de participar de algo que ela achava que seria apenas responsabilidade sua.Parecendo despreocupado, ele girava a chave da Ford Ranger no dedo até chegarem à vaga. Quando se acomodaram no carro, ele enfim explicou sua atitude.— Só pra esclarecer, não vi necessidade de corrigir a médica quando presumiu que eu fosse o pai da bebê por achar desnecessário. — Guilherme ligou o veículo. — E &eacu
O sábado amanheceu com um sol tímido, desanimado e escondido entre nuvens, refletindo perfeitamente o estado emocional de Tábata. Mesmo que às vezes sua família fosse opressiva, a agitação de sua antiga rotina fazia falta. Não ter nada para fazer o dia todo conseguia a proeza de deixa-la esgotada.Bocejando e com os cabelos desalinhados, arrastou-se até a cozinha, onde foi recebida pelo cheiro de café fresco.Diferente dela, que se sentia um lixo ambulante, Guilherme estava insuportavelmente bonito e impecável, o cabelo tocando os ombros largos, um sorriso leve na boca atraente.— Bom dia, Taby! — ele disse, o sorriso como um girassol saudando o calor do sol. — Preparei um café reforçado — anunciou apontando para a mesa com pães, bolo, frutas, café e suco de cor roxa que supôs ser de uva.— Bom dia! — respondeu
Ao chegarem à casa do pai de Guilherme, o nervosismo de Tábata aumentou. Não conhecia muito da família dele, por isso estava curiosa e tensa. A porta de madeira rangeu quando Guilherme a destrancou, revelando uma casa modesta, com traços rústicos e aconchegantes. Ela olhou ao redor, observando a pequena sala e duas portas mais adiante.— Ele não está em casa — Guilherme comentou após chamar o pai e não obter respostas. — Hoje é folga dele, mas não duvido que está cuidando dos jardins. Vem, vamos procurá-lo — ele pediu segurando a mão dela ao saírem da casa.Por um momento, querendo evitar a direção iludida que sua mente tomava sempre que estava ao lado dele, Tábata pensou em soltar sua mão, mesmo gostando do calor de encontro a sua palma. Porém, conforme avançavam pelo caminho de pedras, consid
Sentada no sofá, Tábata observava Pedro Perez preparar o café enquanto contava ao filho, sentado ao lado dela, como tinha sido os últimos dias.A residência de Pedro era simples e tinha aparência de um apartamento, pequena e aconchegante, a sala e a cozinha divididas por meio dos móveis, uma porta levava ao quarto e outra ao banheiro. Tábata imaginou que quando morava ali Guilherme dormia no sofá cama da sala, pois o quarto era pequeno e com uma única cama.Minutos depois Pedro servia café com bolo de fubá para eles, pousando tudo na mesinha de centro antes de puxar uma cadeira para si. Provando o lanche, Guilherme contou para Tábata o motivo da visita ao pai, ajudar na compra de suprimentos para as festas de fim de ano.— Todo ano revezamos quem irá preparar a ceia de Natal. Esse ano é minha vez e combinei de buscar a decoração tradicional dos Perez hoje — explicou pousando a xícara na perna.— Também vamos ao Galpão — Pedro recordou recebendo a confirmação do filho, antes de se volt
Ao caminharem de volta para o Ford Ranger, cada um empurrando carrinhos carregados de plantas, Tábata notou a utilidade da escolha do veículo de Guilherme. Tinha estranhado a picape enorme desde que a viu. O Perez combinava mais com um conversível, em que a capota removível deixasse o vento acariciar amorosamente os fios longos do cabelo dele. Agora, vendo-o ajeitar os vários itens na caçamba, era óbvia a prioridade dele.— A caçamba é perfeita para carregar as plantas — comentou admirada.Ele sorriu de canto, arrumando as mudas de forma que não sofressem danos como exigindo por seu pai, que arrumava algumas sacolas nos bancos de passageiro.— Escolhi pensando no meu pai. Ele sempre precisa de ajuda com essas coisas. Facilita para todo mundo.A admiração de Taby por Guilherme só crescia. Ele não precisava estar ali, empurrando carrinhos em meio a plantas e enchendo o carro de suprimentos de jardinagem. Era um advogado de sucesso, podia muito bem pagar alguém para fazer aquele tipo de