O sábado amanheceu com um sol tímido, desanimado e escondido entre nuvens, refletindo perfeitamente o estado emocional de Tábata. Mesmo que às vezes sua família fosse opressiva, a agitação de sua antiga rotina fazia falta. Não ter nada para fazer o dia todo conseguia a proeza de deixa-la esgotada.
Bocejando e com os cabelos desalinhados, arrastou-se até a cozinha, onde foi recebida pelo cheiro de café fresco.
Diferente dela, que se sentia um lixo ambulante, Guilherme estava insuportavelmente bonito e impecável, o cabelo tocando os ombros largos, um sorriso leve na boca atraente.
— Bom dia, Taby! — ele disse, o sorriso como um girassol saudando o calor do sol. — Preparei um café reforçado — anunciou apontando para a mesa com pães, bolo, frutas, café e suco de cor roxa que supôs ser de uva.
— Bom dia! — respondeu
Ao chegarem à casa do pai de Guilherme, o nervosismo de Tábata aumentou. Não conhecia muito da família dele, por isso estava curiosa e tensa. A porta de madeira rangeu quando Guilherme a destrancou, revelando uma casa modesta, com traços rústicos e aconchegantes. Ela olhou ao redor, observando a pequena sala e duas portas mais adiante.— Ele não está em casa — Guilherme comentou após chamar o pai e não obter respostas. — Hoje é folga dele, mas não duvido que está cuidando dos jardins. Vem, vamos procurá-lo — ele pediu segurando a mão dela ao saírem da casa.Por um momento, querendo evitar a direção iludida que sua mente tomava sempre que estava ao lado dele, Tábata pensou em soltar sua mão, mesmo gostando do calor de encontro a sua palma. Porém, conforme avançavam pelo caminho de pedras, consid
Sentada no sofá, Tábata observava Pedro Perez preparar o café enquanto contava ao filho, sentado ao lado dela, como tinha sido os últimos dias.A residência de Pedro era simples e tinha aparência de um apartamento, pequena e aconchegante, a sala e a cozinha divididas por meio dos móveis, uma porta levava ao quarto e outra ao banheiro. Tábata imaginou que quando morava ali Guilherme dormia no sofá cama da sala, pois o quarto era pequeno e com uma única cama.Minutos depois Pedro servia café com bolo de fubá para eles, pousando tudo na mesinha de centro antes de puxar uma cadeira para si. Provando o lanche, Guilherme contou para Tábata o motivo da visita ao pai, ajudar na compra de suprimentos para as festas de fim de ano.— Todo ano revezamos quem irá preparar a ceia de Natal. Esse ano é minha vez e combinei de buscar a decoração tradicional dos Perez hoje — explicou pousando a xícara na perna.— Também vamos ao Galpão — Pedro recordou recebendo a confirmação do filho, antes de se volt
Ao caminharem de volta para o Ford Ranger, cada um empurrando carrinhos carregados de plantas, Tábata notou a utilidade da escolha do veículo de Guilherme. Tinha estranhado a picape enorme desde que a viu. O Perez combinava mais com um conversível, em que a capota removível deixasse o vento acariciar amorosamente os fios longos do cabelo dele. Agora, vendo-o ajeitar os vários itens na caçamba, era óbvia a prioridade dele.— A caçamba é perfeita para carregar as plantas — comentou admirada.Ele sorriu de canto, arrumando as mudas de forma que não sofressem danos como exigindo por seu pai, que arrumava algumas sacolas nos bancos de passageiro.— Escolhi pensando no meu pai. Ele sempre precisa de ajuda com essas coisas. Facilita para todo mundo.A admiração de Taby por Guilherme só crescia. Ele não precisava estar ali, empurrando carrinhos em meio a plantas e enchendo o carro de suprimentos de jardinagem. Era um advogado de sucesso, podia muito bem pagar alguém para fazer aquele tipo de
Tensa, Tábata soltou a mão de Guilherme e se ergueu observando a dona da propriedade se aproximar.Diferente da jardineira desbotada e do chapéu de palha que usava na horda, Mirela Salvatore se aproximou em trajes elegantes, calça de alfaiataria branca e blusa de cetim azul, o cabelo solto em ondas pouco abaixo dos ombros. O que permanecia intocável era o sorriso caloroso.— Que bom que passaram aqui como pedi — Mirela exclamou ao se aproximar, abrindo os braços para abraçar cada um deles. — Pedi suco e algumas guloseimas — informou indicando a empregada que trazia uma bandeja com suco fresco e uma variedade de doces delicados, que foram cuidadosamente dispostos na mesa de centro à frente deles.— Acabamos de almoçar, mas agradecemos a gentileza — Guilherme comentou voltando a se sentar assim que Mirela o fez.— Ah, imagino! — respondeu Mirela, um brilho maroto nos olhos. — Mas quem disse que a sobremesa precisa de hora certa, não é, Tábata?Tábata soltou uma risadinha, um tanto encab
O carro de Guilherme deslizava suavemente pela estrada, o silêncio no interior da cabine só interrompido pelo ruído do motor da Ranger. Sentada ao lado dele, processando a empolgação de Mirela, uma mulher rica, com seu bebê, Tábata olhava distraída à paisagem.— Te incomodou a oferta da dona Mirela? — ele questionou ao ouvir o centésimo suspiro desde que saíram da mansão Salvatore.— Não, jamais! Achei inesperado e adorável... Não esperava que ficasse tão animada com o bebê de uma completa estranha — confessou.— Dona Mirela é intensa quando o assunto é família. — Os dedos dele se fecharam com mais força no volante. Hesitou um pouco, escolhendo bem as palavras ao alertá-la. — Tenha cuidado! Ela tem boas intenções, mas também está à caça de uma esposa para o filho, um galinha sem futuro.Tábata virou-se rapidamente para ele, os olhos arregalados de surpresa.— O quê?!— Ela realmente adora planejar festas, principalmente casamentos, e o foco dela nos últimos anos tem sido o filho mais
Se Tábata achava que uma boa noite de sono resolveria a confusão de seus sentimentos por Guilherme, logo perceberia que não seria suficiente, sendo ele o maior culpado.Um barulho abafado a despertou no domingo, se revirando na cama, pegou o celular na mesinha e verificou as horas, vendo que passava das onze. Nunca tinha dormido até tão tarde, mas, não tendo nada a fazer, hesitou em se levantar. Foi o barulho insistente de batidas que a fez abandonar a cama e seguir sonolenta para o banheiro.Usou o vaso, lavou mãos, rosto, escovou os dentes, penteou o cabelo e trocou a camiseta velha, que usava para dormir, por uma em melhor estado e calça moletom. Durante o tempo todo o barulho preencheu o ambiente.Curiosa, saiu atrás do ruído, percebendo que a origem era no quarto ao lado, escritório dele. A porta tinha uma pequena fresta aberta, ao empurrar a porta um pouco mais, ficou totalmente paralisada.Guilherme estava de costas para ela, de pé, sem camisa, concentrado em algo na escrivanin
Na sala de Guilherme, envolta pelo emaranhado de luzes e enfeites de Natal, Tábata e ele montavam a árvore de um metro que seria o centro da comemoração de fim de ano da família dele. Ambos ocupavam as mãos na tarefa de colocar nos galhos, luzinhas, sininhos, laços e vários enfeites coloridos que estavam na mala que ele pegou na casa do pai.— Sempre gostei de apreciar as decorações de Natal — Tábata comentou, segurando um anjinho dourado. — Desde que fiquei responsável pelo antiquário, separo as peças mais bonitas, que tenham um ar natalino, para enfeitar a vitrine principal — comentou encaixando o anjo na lateral da árvore de plástico verde. — Tinha uma caixinha de música linda, com uma delicada bailarina de porcelana e arabescos em vermelho, que separei pra esse ano...A voz de Tábata morreu, deixando apenas a expressão melancólica e os dedos trêmulos buscando o próximo enfeite.Notando, Guilherme se enfureceu com a falta de consideração dos pais dela. Era difícil imaginar a dor qu
— Guilherme — ela começou, fechando a porta atrás de si com um clique suave —, vamos tomar uma bebida para comemorar as férias coletivas!— Não tenho tempo para isso — ele respondeu sem tirar os olhos da tela.Sem intenção de desistir, Simone aproximou-se, sentando na mesa ao lado dele, a barra da saia subindo e expondo a coxa.— É só uma bebidinha rápida, para alinharmos ideias sobre nossa viagem de trabalho no próximo mês.Ele ergueu o olhar, a observando com expressão neutra. Sabia o que ela estava fazendo. Não era a primeira vez que Simone forçava uma aproximação desde o término.— Todos os detalhes já foram resolvidos. O que precisar ser ajustado, discutiremos na volta das férias — respondeu com firmeza, controlando-se para não ser ríspido. — Se for urgente, mande para o grupo da viagem. Assim, todos ficam informados, e não apenas nós dois.Fazendo um beicinho, ela retrucou:— Ah, mas, entre um drinque e outro, poderíamos aproveitar o clima de fim de ano para... — inclinou-se lig