De manhã, na véspera de Natal, Tábata acordou com o aroma de pão fresco e café invadindo o quarto.— Vamos te alimentar, bebê — sussurrou deslizando as mãos carinhosamente pelo ventre volumoso ao ir ao banheiro.Minutos depois, seguindo o olfato e o brado do estômago, seguiu para a cozinha.Ao passar pela sala, olhou para os vários presentes sob a árvore, colocados por Guilherme no noite anterior. Ele não tinha comentado para quem eram, mas pela quantidade, seis, era óbvio que comprou um para cada pessoa que estaria no almoço de Natal, incluindo a bebê.Observando os embrulhos, envergonhou-se. Não tinha nada para dar a ele, nem a ninguém que estaria lá. Mesmo tendo pouco dinheiro, precisava sair e comprar algo especial para as pessoas que estavam cuidando dela e de sua bebê. No entanto, tinha um problema: o próprio Guilherme. Certeza que insistiria em ir junto.— Bom dia, Gui! — Tábata disse ao entrar na cozinha, tentando soar natural enquanto pegava uma caneca no armário.Ele ergueu
Tábata parou diante da casa de sua família, o local em que cresceu e morou até pouco tempo atrás, quando foi expulsa. Observou a pintura branca desgastada, as rachaduras, o portão enferrujado, que rangia ao menor toque, enquanto sua mão flutuava a centímetros da campainha. Ajeitou o corpo, respirou fundo e, enquanto uma mão pousava sobre sua barriga em um gesto carinhoso, enfim tocou a campainha.Aguardou ansiosa. A brisa fria fez seu cabelo cair sobre o rosto, o afastou com os olhos se revezando atentos da porta para à janela. Era costume olharem discretamente pela janela antes de atender. Logo, viu a cortina ser puxada minimamente, revelando apenas a sombra de alguém espiando. Por um instante, seus olhos brilharam com uma esperança quase infantil de estar perto de resgatar o laço familiar.No entanto, em um segundo, a cortina foi solta e voltou ao seu lugar, como se nada tivesse acontecido. Tábata esperou, fingindo para si mesma que eles só precisavam de um pouco mais de tempo e log
Tábata ajeitou-se desconfortável na cadeira, olhou revoltada para Maya, antes de se voltar novamente para Guilherme, em pé segurando uma sacola.— Gui, pensei que só viria quando te ligasse... — comentou tentando disfarçar o constrangimento.— Estava comprando umas coisinhas pro encontro de Natal aqui perto — ele explicou, mostrando a sacola com algo grande embrulhado em jornal. — Imagino que essas sejam as amigas que me falou — disse lançando um sorriso amistoso para as mulheres ao lado dela.— Ah, sim. Essas são Maya Rajab e Hana Mori — apresentou apontando para cada um das amigas. — Meninas, esse é Guilherme Perez, o amigo que está me ajudando.— É um prazer conhecê-las!Ele puxou uma cadeira no lado esquerdo de Tábata, sentando-se próximo, o braço relaxando sobre o encosto dela. As amigas, percebendo a proximidade natural, se entreolharam com expressões divertidas, que não passaram despercebidas por Tábata, deixando-a sem jeito.Maya inclinou-se, animada:— Ah, já tínhamos ouvido
Na manhã de Natal um carro estacionou na garagem da casa de Guilherme. A ansiedade de Tábata bateu no teto, os dedos deslizando nervosos pela camiseta desgastada, enquanto era coberta pelo arrependimento de não ter comprado uma roupa nova.Com o coração retumbando nos ouvidos, parou ao lado de Guilherme em frente a porta que levava para a garagem, a agitação e vozes do outro lado dando um vislumbre do que a esperava.— Por Deus, controle a língua pelo menos hoje — uma voz masculina exigia.— Serei um anjo de candura — outra, feminina, declarou carregada de um sarcasmo descarado.— Paola, por favor, não provoque... — ouviu a súplica suave e feminina próxima da porta.Guilherme pousou a mão em suas costas, deslizando suavemente para cima e para baixo, o olhar e o sorriso doces como mel, diminuindo a onda de nervosismos percorrendo-a.— Preparada?— Acho que sim... — respondeu com um tenso e miúdo sorriso.Os primeiros a entrar foram Pedro e o irmão dele, Paulo, gêmeos idênticos na aparê
O almoço de Natal com a família Perez era simples, mas o ambiente era acolhedor. A mesa estava repleta de deliciosos pratos, risadas e conversas descontraídas se sobrepondo ao suave tilintar dos talheres.— Tem certeza de que não quer um pouco mais? — Pedro questionou, oferecendo uma nova porção de arroz à grega com uva passa para Tábata, que sorriu e negou com um aceno.— Muito obrigada, seu Pedro, estava delicioso, mas já comi bastante — respondeu, acariciando a barriga brincou: — A bebê também está cheia.— Ei, Taby! Como é o Natal na sua casa? — Paola questionou balançando o garfo com um pedaço de frango na direção de Tábata, sentada do outro lado da mesa.Guilherme imediatamente franziu o cenho, lançando um olhar repreensivo para a prima, mas foi Paulo a repreender a jovem.— Paola, não cansa de ser impertinente?— Só estou curiosa pra saber como são as festas pros asiáticos.— Tá tudo bem, senhor Paulo! — Tábata sorriu, mostrando que estava tranquila com o tema envolvendo sua fa
Simone Muller ajeitou a postura em frente à porta, o sorriso cuidadosamente sensual e calculado. Plantando uma mão na cintura, com a outra mão tocou a campainha e aguardou confiante. Passaram-se alguns segundos. Nada. Tocou novamente, desta vez mais insistente. Ainda sem resposta. Irritada, afundou o dedo na campainha, fazendo-a soar repetidas vezes.Uma porta no fim do corredor se abriu de repente, e uma senhora, de avental florido e expressão aborrecida, se inclinou para fora.— Ei, perdeu o dedo na campainha? — reclamou aos berros.Depois de um instante de surpresa pela reação, Simone encarou a mulher com aborrecimento, ajeitando o cabelo loiro.— Vim visitar os Perez — declarou ríspida.Diante dos frios e imperiosos olhos azulados, a mulher empalideceu.— Senhorita Muller... Ah, me desculpe! Não a reconheci... Desculpe...— Tá, tá! Viu os Perez hoje?— Paulo, Pedro e as meninas saíram cedinho, não sei dizer para onde — explicou, se inclinando em respeito, mas com um olhar furtivo
— Minha anjinho está no encontro de Natal da família dela — Nathaniel respondeu despreocupado.— É mesmo? — Sustentando o sorriso perfeitamente agradável, bebeu mais um pouco de sua bebida antes de comentar o mais casual que conseguia: — Interessante, passei pela casa dos Perez, pra desejar boas festas, e não encontrei ninguém.— Estão estreando a casa nova do Guilherme — ele explicou.As finas sobrancelhas de Simone ergueram-se involuntariamente, a frustração dominando-a e fazendo-a revirar os olhos, num raro momento em que baixou a guarda.— Claro! A casa nova... — resmungou consigo.Amaldiçoou o fato de não ter decorado o endereço quando foi ao local, nem ter prestado atenção no trajeto. Em sua defesa, pensou que a surpresa prometida por ele era um jantar romântico, não que tivesse vendido o apartamento elegante por uma casinha de bonecas, que só não taxava de suburbano por ser um condomínio residencial. Porém, não era nada parecido com o condomínio de luxo Delluna, em que foi cria
Tendo que se reunirem com as próprias famílias, Maya e Hana se levantaram cerca de uma hora depois de chegarem, anunciando que precisavam ir. Haviam passado pela casa de Guilherme apenas para uma rápida visita por amor e solidariedade a amiga, e também para deixar um presente especial para a bebê.Juntas entregaram uma pequena caixa, delicadamente decorada com laços e um cartão natalino.— Queríamos deixar esse mimo pra nossa sobrinha preferida — anunciou Maya ao tirar o presente de dentro de uma sacola.Abrindo a embalagem, Tábata tirou dois body. Um tinha a inscrição “Princesa da titia” e o outro era baseado na roupa da mulher maravilha.— Ah, meninas! — Tábata murmurou emocionada, lançando os braços para abraçar ambas. — Vocês são demais, de verdade! Muito obrigada mesmo, meninas. — Ela fez uma pausa, acariciando a barriga de forma carinhosa. — Esperamos as duas no chá de bebê, hein? Vai ser uma alegria ter vocês lá.As amigas sorriram, acenando afirmativamente.— Estaremos lá! — g