Simone Muller ajeitou a postura em frente à porta, o sorriso cuidadosamente sensual e calculado. Plantando uma mão na cintura, com a outra mão tocou a campainha e aguardou confiante. Passaram-se alguns segundos. Nada. Tocou novamente, desta vez mais insistente. Ainda sem resposta. Irritada, afundou o dedo na campainha, fazendo-a soar repetidas vezes.Uma porta no fim do corredor se abriu de repente, e uma senhora, de avental florido e expressão aborrecida, se inclinou para fora.— Ei, perdeu o dedo na campainha? — reclamou aos berros.Depois de um instante de surpresa pela reação, Simone encarou a mulher com aborrecimento, ajeitando o cabelo loiro.— Vim visitar os Perez — declarou ríspida.Diante dos frios e imperiosos olhos azulados, a mulher empalideceu.— Senhorita Muller... Ah, me desculpe! Não a reconheci... Desculpe...— Tá, tá! Viu os Perez hoje?— Paulo, Pedro e as meninas saíram cedinho, não sei dizer para onde — explicou, se inclinando em respeito, mas com um olhar furtivo
— Minha anjinho está no encontro de Natal da família dela — Nathaniel respondeu despreocupado.— É mesmo? — Sustentando o sorriso perfeitamente agradável, bebeu mais um pouco de sua bebida antes de comentar o mais casual que conseguia: — Interessante, passei pela casa dos Perez, pra desejar boas festas, e não encontrei ninguém.— Estão estreando a casa nova do Guilherme — ele explicou.As finas sobrancelhas de Simone ergueram-se involuntariamente, a frustração dominando-a e fazendo-a revirar os olhos, num raro momento em que baixou a guarda.— Claro! A casa nova... — resmungou consigo.Amaldiçoou o fato de não ter decorado o endereço quando foi ao local, nem ter prestado atenção no trajeto. Em sua defesa, pensou que a surpresa prometida por ele era um jantar romântico, não que tivesse vendido o apartamento elegante por uma casinha de bonecas, que só não taxava de suburbano por ser um condomínio residencial. Porém, não era nada parecido com o condomínio de luxo Delluna, em que foi cria
Tendo que se reunirem com as próprias famílias, Maya e Hana se levantaram cerca de uma hora depois de chegarem, anunciando que precisavam ir. Haviam passado pela casa de Guilherme apenas para uma rápida visita por amor e solidariedade a amiga, e também para deixar um presente especial para a bebê.Juntas entregaram uma pequena caixa, delicadamente decorada com laços e um cartão natalino.— Queríamos deixar esse mimo pra nossa sobrinha preferida — anunciou Maya ao tirar o presente de dentro de uma sacola.Abrindo a embalagem, Tábata tirou dois body. Um tinha a inscrição “Princesa da titia” e o outro era baseado na roupa da mulher maravilha.— Ah, meninas! — Tábata murmurou emocionada, lançando os braços para abraçar ambas. — Vocês são demais, de verdade! Muito obrigada mesmo, meninas. — Ela fez uma pausa, acariciando a barriga de forma carinhosa. — Esperamos as duas no chá de bebê, hein? Vai ser uma alegria ter vocês lá.As amigas sorriram, acenando afirmativamente.— Estaremos lá! — g
Tábata recuou, o corpo congelando e as mãos institivamente pousando em sua barriga enquanto a declaração reverberava como farpas em seus ouvidos.— Simone, vá embora! — Guilherme pediu com a voz firme e fria, que até aquele momento ela nunca o ouvira utilizar. — Não é bem-vinda na minha casa e nem na minha vida.— Me dê uma nova chance e vamos corrigir meu erro — a estranha disparou, o tom ferido mudando para adocicado. — Te amo!Com o coração apertado e a respiração falhando, sem pensar duas vezes, Tábata girou nos calcanhares e caminhou apressada para dentro da casa, não querendo saber o resultado da declaração da estranha. Assim que alcançou o sofá, diante dos olhares curiosos dos parentes dele, sentou-se tensa, se forçando a ocultar seu desconforto com o que ouviu.— E aí, Taby? Eram suas amigas? — Paola questionou ao seu ladoHesitante, Tábata piscou confusa, levando um minuto inteiro para processar e entender o motivo da pergunta, e outro para responder carregando os lábios com
Após a partida dos familiares de Guilherme e se retirar para dormir, Tábata deitou-se, mas o sono não a envolveu com facilidade. A mão descansava sobre a barriga, acariciando o ventre num movimento lento e reconfortante, os olhos fixos no teto, revivendo em meio às sombras o curto trecho de conversa.Queria questionar Guilherme sobre o que ouviu, saber sobre o filho que ele perde, entender como ela e sua bebê se encaixava nessa história. Mas estava há somente um mês na casa dele e não se sentia no direito de cobrar explicações.Por mais que tentasse esquecer, o comentário daquela mulher, de que Guilherme usava a filha dela como substituta do que perderam, a incomodava. Mas, ao lembrar-se da forma como Guilherme sempre tratava ela e a bebê, o incômodo enfraquecia.Disse a si mesma que o importante era que ele cuidava delas, se importava, a fazia sentir-se especial e protegida. Sua filha, que nem havia nascido, já recebia dele mais carinho e atenção do que ela mesma jamais recebeu da pr
Semanas depois, lidando com os últimos trabalhos antes da viagem para o maior cliente da Ramos Advogados Associados, Simone atravessou os corredores com o habitual ar de confiança, os saltos ecoando pelo piso.Estava prestes a passar pela sala de Carlos Ramos, quando algo chamou sua atenção. A porta entreaberta deixava vazar uma conversa. A voz grave de Carlos soava tranquila, mas o que ele dizia a fez retornar alguns passos.— Mirela convidou minha esposa e filhas para o chá de bebê — ele comentou casualmente. — Todas estão animadas, mas confesso que estou mais curioso. Guilherme, sabe quem é o pai da criança? Por acaso é seu?Simone sentiu o coração disparar no peito e se aproximou silenciosamente, o suficiente para ouvir melhor. Duvidava que fosse de Guilherme. Como ouviu certa vez: Os Perez são fieis como cães. No entanto, necessitava da confirmação.— Não o conheço, ele não faz parte da vida delas. — Houve uma breve pausa antes de Guilherme afirmar: — Tenho um grande carinho pela
O ambiente dentro da mansão dos Salvatore estava mais agitado do que Tábata esperava. Diferente da sala em que esteve anteriormente, foi levada a um grande salão, com várias cadeiras, mesas e decorado com cores em tons de rosa e branco. Risos altos e conversas animadas preenchia cada canto do luxuoso espaço, e as mulheres que chegavam traziam consigo uma aura de elegância que deixava Tábata completamente deslocada mesmo usando roupas novas, um vestido floral e delicadas rasteirinhas que ganhou de Guilherme.— Onde fui me meter... — Tábata murmurou para si mesma, observando as mulheres que chegavam e eram recepcionadas por Mirela.— Está tudo bem? — Paulina questionou.Por indicação da dona da casa, sentou entre as irmãs Perez na mesa principal, de frente para todas as demais. Na direita, Paola concentrada em uma conversa com uma das mulheres que Tábata esqueceu o nome em meio à maré de apresentações; na sua esquerda, estava Paulina, aguardando sua resposta.Ao contrário das outras mul
As mulheres se voltaram para a recém chegada, algumas com sorrisos abertos, outras com expressões de surpresa. Ela era impossível de ignorar. Tábata reparou imediatamente na mudança de atmosfera nas irmãs Perez. Paulina ficou visivelmente tensa, baixando os olhos, enquanto Paola, que até então estava alegre e despreocupada, franziu a testa, visivelmente irritada.Precisando fazer algo, e saber mais daquela mulher, Tábata levantou a mão de forma hesitante.Olhos podiam perfurar alguém? Os daquela mulher pareciam capazes de tal feito conforme ela se aproximava de Taby, encarando-a como uma fera pronta para atacar.— Ah, finalmente! — disse a mulher, pousando as mãos delicadas na mesa entre elas. Seu sorriso se transformou em algo levemente esquisito ao comentar: — Estou tão feliz em conhecer a mulher que o meu noivo abrigou!Tábata piscou, confusa, dominada pela desagradável sensação de déjà vu[1].— Noivo? — perguntou franzindo as sobrancelhas.— Sim, meu noivo: Guilherme Perez — a loi