Acostumada a ser alvo de desaprovação e comentários depreciativos, não se deixando abalar, Tábata devolveu serena:— Ah, não se preocupe com quem é o pai da minha filha. Garanto que ela terá tudo o que precisar. — Um sorriso sutil de determinação surgiu em seus lábios ao acrescentar mordaz: — Incluindo o carinho e cuidado do Guilherme.— E com o meu também — Paulina anunciou de repente, surpreendendo os demais, pois costumava não se envolver em discussões.— De todos os Perez — Paola concordou lançando um olhar desafiador para Simone.— E o nosso! — se incluíram as amigas de Taby.Tábata sorriu para todas, agradecida pelo apoio.A sala se encheu com murmúrios e olhares entre as convidadas. Alguns rostos exibiam surpresa, outros um sutil desconforto.Simone, no entanto, parecia imune ao mal-estar que causava. Ela continuou a sorrir, como se estivesse completamente no controle da situação. Para Tábata, cada segundo ao lado dela parecia uma eternidade, e até o simples ato de respirar o m
Tábata virou-se para se despedir de Mirela e as primas dele.— Obrigada por tudo, dona Mirela. — Tábata disse abraçando a Salvatore. — Foi tudo perfeito e bonito.— Imagina, querida.Paola deu um abraço apertado em Tábata, enquanto Paulina acenou discretamente, observando-a se afastar com Guilherme em direção ao carro.Dirigindo calmamente pelas ruas iluminadas artificialmente, Guilherme lançou um rápido olhar para Tábata, que olhava para a janela, quieta e absorta. Não era o comportamento animado que ele esperava após um evento como aquele.— Como foi o chá de bebê? — perguntou quebrando o silêncio.Tábata demorou alguns segundos para responder. Quando finalmente falou, sua voz era baixa e estranhamente desanimada.— Foi bom... Ganhei muita coisa para a bebê. Não precisarei me preocupar com fraldas tão cedo — comentou com um sorriso fraco.Logo depois, voltou a se calar, acariciando distraidamente a barriga arredondada, o olhar fixo novamente na janela, como se a paisagem noturna fos
Ao contrário do beijo acidental de tempos atrás, em que ele se afastou rapidamente como no passado, aquele foi diferente. Guilherme encaixou a mão na nuca dela, puxando-a para mais perto, a língua escorregando por entre os lábios macios.Amargando duas frustrantes tentativas dez anos atrás, Taby sonhou com aquele momento diversas vezes, mas nada a preparou para o sabor e paixão dos beijos dele.O beijo foi intenso, apaixonado, e seus corações batiam em ritmo acelerado. A língua de Guilherme explorou a boca de Tábata, que o recebia e correspondia sem reservas.O mundo ao redor desapareceu. Ela passou as mãos ao redor do pescoço dele, se mantendo nas pontas dos pés, gemendo contra os lábios beijando-a com voracidade.— Taby... — chamou entre beijos, a voz rouca e cheia de algo que ela não conseguiu definir.Guilherme aprofundou o beijo, inclinando-se levemente para acomodar o corpo menor dela contra o seu. O perfume amadeirado dele a envolvia, fazendo os bicos de seus seios endurecer co
— O que você quer dizer? — Guilherme questionou, duvidando da resposta que lhe vinha à mente.Ela hesitou por um momento, mas então soltou as palavras de uma vez. — É uma cama grande. E, francamente, seria mais confortável do que você dormir espremido do sofá. Houve um instante de completo silêncio. Guilherme ficou parado, encarando-a, em uma mão um prato ensaboado e na outra a esponja, tentando processar o que ela havia acabado de dizer. — Dividir a cama? — repetiu, incapaz de manter a mente fria e a analítica que o tornou conhecido em sua área, precisando confirmar que tinha ouvido direito. Tábata corou violentamente, mas manteve o queixo erguido e a voz firme. — Não faz sentido você dormir no sofá e ir trabalhar todo quebrado de manhã.— Tábata, não sei se isso seria... apropriado — indicou desconfortável com a ideia. Ela revirou os olhos, optando por adotar um ar brincalhão na esperança de diminuir o constrangimento. — Gui, somos adultos. E você tem sido incrível comigo e
Na copa do escritório Ramos Advogados Associado, Mila, a recepcionista, e Zuleide, a copeira, conversavam enquanto a primeira esquentava o almoço. Ignoraram a presença de Simone, que entrou silenciosamente e estava de costas para elas, enchendo um copo de plástico no bebedouro.— Você viu que o doutor Guilherme saiu mais cedo hoje? — comentou Zuleide, observando Mila pegar sua marmita. — Vi, sim! Ele foi participar de um curso para casais grávidos. — Mila deu um sorriso largo. — Com certeza deve estar muito apaixonado. Meu marido não quis me ajudar em nada na criação dos nossos filhos, nem mesmo nos primeiros dias — Zuleide queixou-se.— Ah, o senhor Guilherme é todo certinho, com certeza pretende ser um pai exemplar. Simone parou de encher o copo, as mãos tensas amassando o copo, os nós dos dedos embranquecendo. O sangue fervia em suas veias diante dos comentários. "Casais grávidos. Apaixonado. Pai exemplar". Era como se cada palavra fosse uma facada em seu orgulho.Irada, bateu o
Sentada em sua luxuosa cadeira de couro, em frente à mesa impecavelmente organizada de seu escritório, Simone tamborilava as unhas longas e bem cuidadas no tampo de madeira. Seu olhar pairava na tela de seu notebook, os pensamentos longes. Nem tão longe assim, concluiu franzindo o cenho, as íris azuladas se movendo para a parede, pensando no homem do outro lado. A frieza e desprezo atual de Guilherme tornou-se um espinho cravado em sua vaidade. Sensação piorada pelas saídas dele para acudir a “amiga” que todos no escritório achavam estar grávida dele.O toque intermitente do interfone tirou-a de seus devaneios.— O que foi? — perguntou, apertando o botão de contato com a recepção com impaciência.— Doutora Simone, o diretor da Saadi S/A, senhor Pierre Franklin Renoir, está aqui e pediu para falar com você.— Pierre Franklin Renoir? — repetiu lentamente, o cenho franzido. — Mande-o subir — decidiu antes de desligar o interfone e ajeitar o
Deslizando as mãos pelo vestido simples que usava, caminhou até o portão com passos hesitantes, parando próximo o suficiente para conversarem, mas sem intenção de abri-lo.— Posso ajudá-la? — perguntou, tentando soar neutra e não transparecer seu nervosismo.Simone Muller ergueu o rosto com um sorriso calculado, os olhos azuis analisando cada detalhe de Tábata através das grades do portão.— Boa tarde, Tábata. — Sua voz era doce, porém, carregando um tom que fazia Tábata se sentir pequena. — Posso entrar?— Guilherne está no trabalho — indicou, imaginando que a outra estava à procura dele.Simone inclinou levemente a cabeça.— Eu sei. Trabalhamos no mesmo escritório — disse com um ar casual, mas seus olhos cintilaram ao identificar a surpresa no rosto d
A sala estava levemente iluminada pelas cenas que se desenrolavam no televisor. Guilherme e Tábata estavam no sofá, abraçados, dividindo o cobertor macio. O som do filme preenchia o ambiente, mas a mente de Tábata estava longe. A visita de Simone mais cedo ainda reverberava em seus pensamentos. O olhar frio e calculista da ex-noiva de Guilherme, a proposta absurda e a ameaça velada mexeram com ela, mas decidiu que aquilo não estragaria os poucos momentos que ainda teria com Guilherme antes de sua viagem de negócios.Aconchegada nos braços dele, repousou a mão sobre o ventre, sentindo movimentos leves da bebê. Guilherme, com o braço estendido em volta dela, mantinha os olhos fixos na tela, mas sua mão fazia carinhos no cabelo dela, um toque casual e reconfortante.Ela suspirou e ajeitou o cobertor sobre as pernas.— Vai ficar quieto aqui sem você.&md