Na copa do escritório Ramos Advogados Associado, Mila, a recepcionista, e Zuleide, a copeira, conversavam enquanto a primeira esquentava o almoço. Ignoraram a presença de Simone, que entrou silenciosamente e estava de costas para elas, enchendo um copo de plástico no bebedouro.— Você viu que o doutor Guilherme saiu mais cedo hoje? — comentou Zuleide, observando Mila pegar sua marmita. — Vi, sim! Ele foi participar de um curso para casais grávidos. — Mila deu um sorriso largo. — Com certeza deve estar muito apaixonado. Meu marido não quis me ajudar em nada na criação dos nossos filhos, nem mesmo nos primeiros dias — Zuleide queixou-se.— Ah, o senhor Guilherme é todo certinho, com certeza pretende ser um pai exemplar. Simone parou de encher o copo, as mãos tensas amassando o copo, os nós dos dedos embranquecendo. O sangue fervia em suas veias diante dos comentários. "Casais grávidos. Apaixonado. Pai exemplar". Era como se cada palavra fosse uma facada em seu orgulho.Irada, bateu o
Sentada em sua luxuosa cadeira de couro, em frente à mesa impecavelmente organizada de seu escritório, Simone tamborilava as unhas longas e bem cuidadas no tampo de madeira. Seu olhar pairava na tela de seu notebook, os pensamentos longes. Nem tão longe assim, concluiu franzindo o cenho, as íris azuladas se movendo para a parede, pensando no homem do outro lado. A frieza e desprezo atual de Guilherme tornou-se um espinho cravado em sua vaidade. Sensação piorada pelas saídas dele para acudir a “amiga” que todos no escritório achavam estar grávida dele.O toque intermitente do interfone tirou-a de seus devaneios.— O que foi? — perguntou, apertando o botão de contato com a recepção com impaciência.— Doutora Simone, o diretor da Saadi S/A, senhor Pierre Franklin Renoir, está aqui e pediu para falar com você.— Pierre Franklin Renoir? — repetiu lentamente, o cenho franzido. — Mande-o subir — decidiu antes de desligar o interfone e ajeitar o
Deslizando as mãos pelo vestido simples que usava, caminhou até o portão com passos hesitantes, parando próximo o suficiente para conversarem, mas sem intenção de abri-lo.— Posso ajudá-la? — perguntou, tentando soar neutra e não transparecer seu nervosismo.Simone Muller ergueu o rosto com um sorriso calculado, os olhos azuis analisando cada detalhe de Tábata através das grades do portão.— Boa tarde, Tábata. — Sua voz era doce, porém, carregando um tom que fazia Tábata se sentir pequena. — Posso entrar?— Guilherne está no trabalho — indicou, imaginando que a outra estava à procura dele.Simone inclinou levemente a cabeça.— Eu sei. Trabalhamos no mesmo escritório — disse com um ar casual, mas seus olhos cintilaram ao identificar a surpresa no rosto d
A sala estava levemente iluminada pelas cenas que se desenrolavam no televisor. Guilherme e Tábata estavam no sofá, abraçados, dividindo o cobertor macio. O som do filme preenchia o ambiente, mas a mente de Tábata estava longe. A visita de Simone mais cedo ainda reverberava em seus pensamentos. O olhar frio e calculista da ex-noiva de Guilherme, a proposta absurda e a ameaça velada mexeram com ela, mas decidiu que aquilo não estragaria os poucos momentos que ainda teria com Guilherme antes de sua viagem de negócios.Aconchegada nos braços dele, repousou a mão sobre o ventre, sentindo movimentos leves da bebê. Guilherme, com o braço estendido em volta dela, mantinha os olhos fixos na tela, mas sua mão fazia carinhos no cabelo dela, um toque casual e reconfortante.Ela suspirou e ajeitou o cobertor sobre as pernas.— Vai ficar quieto aqui sem você.&md
No espaçoso quarto de hotel, Guilherme revisava detalhes do contrato que apresentaria em poucas horas, pela janela recebia o sol intenso da tarde de Mumbai. No entanto, mesmo com tanto a fazer e uma reunião a sua espera, nada dissipava a nuvem de inquietação que o acompanhava desde que embarcou para essa viagem de trabalho. Sua mente insistia em vagar de volta para casa.Nos últimos três dias conversava com Tábata todos os dias, fazia vídeo chamadas e ela sempre garantia que estava bem. Também pediu para vizinhos ficarem atentos a ela, mas ainda assim seguia preocupado.Se levantou, necessitando esticar as pernas, e pegou o celular do bolso da calça. Hesitou por um momento antes de decidir. Paulina. Soube que ela estava trabalhando perto de onde ele morava. Embora não aprovasse o emprego dela, isso a tornava a pessoa certa para aliviar um pouco essa ansiedade.Discou o n&uacu
Acompanhando Paulina até a cozinha, Tábata lamentou:— Guilherme ainda esta em viagem.— Na verdade, estou aqui atendendo um pedido dele — Paulina contou se sentando na cadeira indicada por Tábata. — Ele quer ter certeza que está bem.Caminhando até a geladeira, Taby sorria.— Ele fez o mesmo pedido para o senhor Agostinho. O homem com quem eu conversava quando chegou — disse, pegando na geladeira suco e uma travessa com bolo para colocar na mesa antes de sentar. — É exagerado, mas aprecio o cuidado dele comigo e meu bebê.— Falta quanto?— Seis semanas — respondeu acariciando o topo do ventre avantajado. — E você, alguma novidade?Paulina corou e mostrou a mão com um brilhante magnifico.— Sim. Vou me casar. — Sua voz era baixa e carregava de felicidade.Tábata arregalou
O saguão do hotel exalava elegância em cada detalhe, o piso de mármore polido refletia as luzes douradas dos lustres, enquanto os sofás de couro macio criavam um ambiente aconchegante para os hóspedes. Guilherme entrou, carregando sacolas coloridas com o nome de lojas locais, o sorriso fácil denunciando o bom humor. O passeio por Mumbai tinha sido agradável, e ele estava satisfeito com os presentes que encontrou para Tábata e para a bebê.— Guilherme! — a voz de Simone no lugar de fazê-lo parar, apressou seu passo em direção aos elevadores. — Guilherme, espere!Uma mão se agarrou ao seu braço, o perfume envolvendo-o em uma conhecida nuvem adocicada. Ela estava impecável, como sempre, em um vestido justo de seda azul que realçava seus olhos.— Porque não parou? Não me ouviu te chamar? — ela questionou com um bico
De volta a sua casa, a porta mal havia se fechado quando Guilherme foi surpreendido por um abraço apertado. Tábata, com um sorriso que iluminava o rosto, jogou os braços ao redor dele, a barriga roçando contra o corpo de Guilherme.— Bem-vindo de volta, Gui! — ela o recebeu eufórica.Ele largou a mala no chão para retribuir o abraço, fechando os olhos por um instante e absorvendo a sensação reconfortante.— Que recepção... Agora fico me perguntando por que aceitei ficar tanto tempo fora — ele murmurou estreitando-a.— Eu também me pergunto! Sentimos muito a sua falta — ela disse afastando um pouco o rosto, mas mantendo as mãos em volta dele.Conduzindo ambos até a sala, Guilherme suspirou, passando a mão pelos cabelos enquanto se acomodava no sofá, puxando-a delicadamente para seu colo.