No espaçoso quarto de hotel, Guilherme revisava detalhes do contrato que apresentaria em poucas horas, pela janela recebia o sol intenso da tarde de Mumbai. No entanto, mesmo com tanto a fazer e uma reunião a sua espera, nada dissipava a nuvem de inquietação que o acompanhava desde que embarcou para essa viagem de trabalho. Sua mente insistia em vagar de volta para casa.
Nos últimos três dias conversava com Tábata todos os dias, fazia vídeo chamadas e ela sempre garantia que estava bem. Também pediu para vizinhos ficarem atentos a ela, mas ainda assim seguia preocupado.
Se levantou, necessitando esticar as pernas, e pegou o celular do bolso da calça. Hesitou por um momento antes de decidir. Paulina. Soube que ela estava trabalhando perto de onde ele morava. Embora não aprovasse o emprego dela, isso a tornava a pessoa certa para aliviar um pouco essa ansiedade.
Discou o n&uacu
Acompanhando Paulina até a cozinha, Tábata lamentou:— Guilherme ainda esta em viagem.— Na verdade, estou aqui atendendo um pedido dele — Paulina contou se sentando na cadeira indicada por Tábata. — Ele quer ter certeza que está bem.Caminhando até a geladeira, Taby sorria.— Ele fez o mesmo pedido para o senhor Agostinho. O homem com quem eu conversava quando chegou — disse, pegando na geladeira suco e uma travessa com bolo para colocar na mesa antes de sentar. — É exagerado, mas aprecio o cuidado dele comigo e meu bebê.— Falta quanto?— Seis semanas — respondeu acariciando o topo do ventre avantajado. — E você, alguma novidade?Paulina corou e mostrou a mão com um brilhante magnifico.— Sim. Vou me casar. — Sua voz era baixa e carregava de felicidade.Tábata arregalou
O saguão do hotel exalava elegância em cada detalhe, o piso de mármore polido refletia as luzes douradas dos lustres, enquanto os sofás de couro macio criavam um ambiente aconchegante para os hóspedes. Guilherme entrou, carregando sacolas coloridas com o nome de lojas locais, o sorriso fácil denunciando o bom humor. O passeio por Mumbai tinha sido agradável, e ele estava satisfeito com os presentes que encontrou para Tábata e para a bebê.— Guilherme! — a voz de Simone no lugar de fazê-lo parar, apressou seu passo em direção aos elevadores. — Guilherme, espere!Uma mão se agarrou ao seu braço, o perfume envolvendo-o em uma conhecida nuvem adocicada. Ela estava impecável, como sempre, em um vestido justo de seda azul que realçava seus olhos.— Porque não parou? Não me ouviu te chamar? — ela questionou com um bico
De volta a sua casa, a porta mal havia se fechado quando Guilherme foi surpreendido por um abraço apertado. Tábata, com um sorriso que iluminava o rosto, jogou os braços ao redor dele, a barriga roçando contra o corpo de Guilherme.— Bem-vindo de volta, Gui! — ela o recebeu eufórica.Ele largou a mala no chão para retribuir o abraço, fechando os olhos por um instante e absorvendo a sensação reconfortante.— Que recepção... Agora fico me perguntando por que aceitei ficar tanto tempo fora — ele murmurou estreitando-a.— Eu também me pergunto! Sentimos muito a sua falta — ela disse afastando um pouco o rosto, mas mantendo as mãos em volta dele.Conduzindo ambos até a sala, Guilherme suspirou, passando a mão pelos cabelos enquanto se acomodava no sofá, puxando-a delicadamente para seu colo. 
O som dos saltos de Simone ecoava pelo estacionamento subterrâneo, um ruído forte ritmado que combinava perfeitamente com sua determinação. Guilherme estava encostado em uma pilastra, revisando mensagens no celular enquanto esperava o elevador. Ao ouvir os passos, ergueu os olhos, franzindo o cenho ao ver a figura alta e impecável da ex-namorada se aproximando.— Guilherme, precisamos conversar. — A voz era doce como o perfume que o alcançou instantes antes dela parar a sua frente.— Mande o que for por e-mail. — Foi direto e distante. — Respondo assim que possível.Voltou a se concentrar na tela do celular, implorando mentalmente para o elevador chegar logo. Podia ir pelas escadas, mas estava atrasado demais para a reunião daquela manhã.— Não é algo que se resolve por e-mail. É sobre a sua amiguinha, Tábata — el
Por mais que quisesse ignorar Simone, a curiosidade cresceu como uma erva daninha, necessitando ser arrancada. Com um suspiro pesado, Tábata abriu o portão, mas não fez qualquer movimentação para levar a visitante indesejada para dentro da casa. Com as mãos entrelaçadas sobre a barriga, se manteve em pé barrando a passagem em direção à porta da casa, observando Simone que andava lentamente pelo gramado, analisando o ambiente como se fosse uma especialista avaliando um imóvel.— Sabia que essa casa era pra ser um presente pra mim? — disse Simone encarando Tábata. — Guilherme a comprou pensando no nosso futuro. Isso, indiretamente, faz de mim a dona, não acha?Desviando o olhar para o imóvel, Tábata inspirou fundo e expirou devagar. Não deixaria a insegurança atingi-la, principalmente, não deixaria aquela mulhe
Mesmo após a partida de Simone, uma tensão opressora permaneceu cercando Tábata pelo resto do dia. A voz adocicada, ferina e carregada de ameaças davam voltas em sua mente, tirando a pouca confiança que tinha na relação que tinha com Guilherme.Desnorteada, andou até o quarto preparado por ela para a chegada da bebê. Pela primeira vez não sentiu a costumeira alegria ao entrar ali. O quarto exalava uma serenidade agridoce. Inspirou fundo, soltando o ar devagar, deslizando as mãos pelas laterais do ventre, sentindo a filha se remexer no interior.Caminhou devagar pelo quarto em tons de branco e amarelo, olhando para as pequeninas abelhinhas desenhadas ate chegar ao berço preparado para a chegada da bebê.— Abelhinha — começou em um sussurro —, todas as noites tento acreditar que vou ser forte o suficiente pra te proteger de tudo. E se eu não for
O maxilar de Guilherme se contraiu imediatamente, e ele desviou o olhar para as mãos, agora fechadas em punhos sobre as coxas. Inspirou fundo, o ar saindo aos poucos em um suspiro pesado. — Ódio... — repetiu num múrmurio, quase para si mesmo. — Não, não sinto ódio por ela. Levando a mão à nuca, massageou o local lentamente, enquanto a mente procurando as palavras certas para responder uma questão que nem ele compreendia por completo.— Mágoa descreve melhor. — Se recostou no sofá, deixando a cabeça tombar para trás, encarando o teto. — Ela nos deixou quando eu tinha pouco mais de sete anos. — Ele fechou os olhos por um momento, como se revivesse a cena. — Disse que precisava de uma vida melhor. Desde então, casou mais duas vezes e só entra em contato pra pedir algum favor ao meu pai. — Soltou um risco de riso, a amargura corroendo suas palavras. — Essa é a pior parte. Ela pode me ignorar como filho, estou habituado. Mas é cruel ao procurar meu pai quando está em dificuldade, ou resse
Tábata soltou um som breve e amargo, enquanto seus ombros se encolhiam.— Você diz isso agora...Ele se inclinou para frente, apoiando um antebraço no joelho, a mão acariciando o ventre com uma agitada bebê, sem tirar os olhos dos de Taby.— Taby, seja o que for, pode me contar.Tábata respirou fundo, sentindo o calor da mão de Guilherme ainda repousada sobre sua barriga. Era estranho como aquele simples toque lhe dava força e coragem, mesmo que a lembrança do que precisava dizer enchesse seu peito de um imenso peso.— Eu sempre me senti como um peso, uma peça deslocada... Descartável — engoliu em seco, empurrando sem sucesso o bolor doloroso se acumulando na garganta. — Além de não ser querida em casa, nunca fui o tipo de garota que os rapazes admiravam e escolhem. Sempre fui... — hesitou, buscando a