Quero agradecer a leitora Daiana. Não imagina o quanto seu comentário me alegrou e motivou num momento que estava desanimada. Muito obrigada!!!
Tábata soltou um som breve e amargo, enquanto seus ombros se encolhiam.— Você diz isso agora...Ele se inclinou para frente, apoiando um antebraço no joelho, a mão acariciando o ventre com uma agitada bebê, sem tirar os olhos dos de Taby.— Taby, seja o que for, pode me contar.Tábata respirou fundo, sentindo o calor da mão de Guilherme ainda repousada sobre sua barriga. Era estranho como aquele simples toque lhe dava força e coragem, mesmo que a lembrança do que precisava dizer enchesse seu peito de um imenso peso.— Eu sempre me senti como um peso, uma peça deslocada... Descartável — engoliu em seco, empurrando sem sucesso o bolor doloroso se acumulando na garganta. — Além de não ser querida em casa, nunca fui o tipo de garota que os rapazes admiravam e escolhem. Sempre fui... — hesitou, buscando a
A penumbra do quarto era acolhedora, deitada ao lado de Guilherme, Tábata sentia o calor e segurança do braço dele em volta de sua cintura. Mesmo que não passassem de beijos e carinhos, estar assim com ele preenchia o vazio deixado por anos de abandono e incertezas.Aconchegou o rosto contra o tecido macio da camiseta dele, impregnada do perfume que associava a conforto e pertencimento. Guilherme respirava em um ritmo lento e constante, o som quase hipnótico, e Tábata tentava não se mover, para não quebrar aquele precioso momento.— Sem sono?Sobressaltou-se, erguendo o rosto para encará-lo na semiescuridão.— Como sabe que estou acordada?Mesmo com a pouca luz, ela pôde perceber o sorriso no canto dos lábios dele.— Você se mexe muito quando está realmente dormindo — ele respondeu, a voz
Exultante, ao meio dia em ponto Simone saiu de sua sala para sua hora de almoço, o salto de seus sapatos de grife ecoando pelo corredor. O cabelo dourado estava impecavelmente penteado e seu perfume caro deixava um rastro açucarado no ar, enquanto ignorava as saudações e a curiosidade dos colegas no caminho até os elevadores. Estava concentrada no celular, onde as mensagens de Guilherme preenchiam a tela.Amor (08:34): “Marquei hora no La Belle Vie. Melhor nos encontrarmos longe do escritório para evitar falatório.”Sorriu ao reler o nome do restaurante. Era um lugar especial, onde costumavam ir quando estavam juntos. A escolha não parecia casual, e isso apenas fortalecia sua confiança de que estava a caminho da reconciliação. Com o coração acelerado e esperançoso, digitou antes de entrar no elevador: “Estou a caminho do restaurante. Te encontro lá.”Marcou um lembrete mental para pedir o vinho que Guilherme costumava apreciar. Enquanto descia, olhou para o reflexo no espelho polido
Guilherme permaneceu em silêncio durante o tempo que o garçom colocou o pedido de Simone na mesa. Assim que o homem se virou para sair, voltou sua atenção para a bela mulher a sua frente, que nada mais que dor de cabeça lhe causava nos últimos meses.— Marquei esse encontro aqui pra minimizar danos — disse em voz baixa, mas firme, enquanto observava o garçom se afastar. — Não quero que nossos colegas nos vissem juntos e começassem a criar teorias. Muito menos que ouvissem o que tenho a dizer. — Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços, enquanto seus olhos âmbar se fixavam nela com seriedade. — Sendo repetitivo: é necessário deixarmos tudo claro entre nós de uma vez por todas. Simone franziu o cenho, temendo não ter conseguido decifrar a intenção dele. — Não entendo... — É simples. Jamais voltaremos a ter algo — declarou ele, as palavras cortando o ar como uma lâmina. — O que sinto por você é desprezo.Simone perdeu o fôlego por um instante. Abriu a boca para protestar, mas ne
O bairro da Liberdade estava um espetáculo. Lanternas vermelhas e douradas enfeitavam as ruas, o som ritmado dos tambores preenchia o ar, e os aromas das barracas de comida tradicional despertavam lembranças da infância de Tábata. Guilherme segurava sua mão ao atravessarem a multidão, desviando de crianças empolgadas e adultos sorridentes celebrando o Ano-Novo Chinês. — É incrível! — exclamou Tábata, os olhos brilhando ao ver os movimentos do dragão colorido deslizando graciosamente entre a multidão, as fitas douradas refletindo a luz do sol. — Tenho que gravar tudo pra enviar pro Lee e pro Tomás — disse pegando o celular. — Era o nosso dia favorito com a vovó — contou, sorrindo ao ver os bailarinos em trajes vibrantes ondulando como um único ser.— Gravo pra você — ele decidiu pegando o próprio aparelho, apontando a câmera para ela. — Fala alguma coisa pra ele.Ela riu, ajeitando o cabelo, o rosto iluminado pela felicidade. — Você tinha que estar aqui! Está maravilhoso, e o cheiro
Os dias que seguiram o Festival da Primavera passaram como uma névoa para Tábata. A intensidade no olhar, no beijo e no toque de Guilherme naquele dia, somando a declaração de desejo pairava como um enigma em sua mente acostumada as armadilhas das emoções. “Eu te desejo, Taby”, a voz dele rouca e baixa, ecoava em seu coração como uma melodia doce e convidativa pela qual esperou por anos. Mas, depois do festival, ele não tinha tentado nada no sentido que as palavras levavam, tendo o comportamento habitual que se tornou a rotina deles: Dormiam juntos, abraçados, como ele atrás dela envolvendo-a em seus braços com carinho, sem nenhum toque mais ousada, tão íntimo quanto casto. Ele a beijava sempre ao sair para o trabalho e ao voltar para casa, mas eram beijos suaves, simples, diferentes do turbilhão que havia sentido na noite do festival.Guilherme a desejava mesmo? Ou aquelas palavras ditas no festival haviam sido apenas um momento impulsivo? Ele parecia tão tranquilo, como se tudo es
O motor do Ford Ranger rugiu suavemente quando Guilherme começou a manobrar para fora da garagem. De pé na calçada, Tábata observava, ainda perdida nas implicações da conversa que tiveram na cozinha. Segurava a vassoura, que pegou para limpar a calçada, mas seus pensamentos estavam fixos no homem dentro do carro, imaginando a conversa que teriam quando ele voltasse do trabalho.O som de freios a despertou para outro carro parando perto dela. Moveu os olhos para o sedan preto de janelas escurecidas, reconhecendo-o imediatamente: era o veículo que sempre trazia Paulina. Apesar do retorno de Guilherme, a prima dele a visitava todos os dias pela manhã.Curvando-se com uma mão pousada no ventre, sorridente acenou para Paulina enquanto o carro terminava de estacionar. Deu um leve pulo ao sentir um abraço em seus ombros. Confusa, percebeu que o Ranger estava parcialmente para fora da garagem, a
A cozinha estava mergulhada em um silêncio sereno, quebrado apenas pelo som suave da colher que Tábata girava na xícara de chá. Seu olhar pairava sobre o pequeno vaso de hortelã no peitoril da janela. As folhas verdes pareciam brilhar sob o sol, contrastando com a opressão pesando em seu peito.A conversa com Paulina girava em sua mente. Era irônico e doloroso pensar que a prima de Guilherme tentou empurra-la para um quase estranho, mas nunca pareceu enxergá-la como uma opção para Guilherme, mesmo conhecendo a proximidade dos dois.— Deve me achar indigna — murmurou para si mesma, os dedos pousando instintivamente sobre o ventre arredondado.Os pensamentos lhe escapavam em fluxo desordenado. O que Paulina e a família Perez pensariam dela quando soubessem a verdade? Não sobre o bebê, uma luz pura em sua vida, mas sobre o homem que a deixou nessa s