Os dias que se seguiram foram angustiantes para Tábata. Cada minuto parecia se arrastar, como se o tempo tivesse decidido torturá-la pela decisão tomada. A saudade de Guilherme era uma dor constante, mas o que mais a consumia era o choro de Lean. A bebê, que normalmente era tranquila, agora chorava sem parar. Supôs que a filha também sentia falta dele. Aquele cheiro familiar, a voz calma que a acalmava, os braços fortes que a embalavam. Tudo isso fazia falta a ambas.Os amigos de Paulina, que a acolheram em sua casa, não demonstravam incômodo com a situação. Eram gentis e pacientes, mas Tábata sabia que não podia abusar da hospitalidade. Toda vez que acordava no meio da noite com o choro alto de Lean, sentia um nó na garganta. Lamentava não poder ficar com suas amigas, que não tinham espaço nem para si mesmas. E pedir ajuda ao primo e o tio? Nem pensar. Tinham a própria vida para resolver. O último que precisavam era ser envolvidos no caos em que a vida dela se transformou. Além disso
Seu olhar, até então confiante, congelou ao ver Guilherme e Tábata sentados lado a lado, de mãos dadas. A cena era tão inesperada que parou abruptamente, olhos azuis arregalados, em choque. — O que ela está fazendo aqui? — perguntou, indignação e incredulidade bailando em sua voz, o dedo em riste apontado para Tábata.Carlos sentou atrás de sua mesa de mogno imponente, encarou Simone e apontou para uma cadeira distante do casal.— Sente-se, Simone! — pediu calmo, mas firme. — Teremos uma longa conversa.Ela cruzou os braços, o rosto endurecido.— Não vou me sentar enquanto essa intrusa estiver no recinto — respondeu, lançando um olhar de desprezo para Tábata.O advogado mentor da jovem loira, inspirou fundo, alisando a barba grisalha com os dedos.— Se não quiser sentar, não sente. Mas estamos aqui para colocar um ponto final nas ameaças e coações que você fez a todos nesta sala — declarou, mantendo o olhar fixo nela.Simone soltou uma risada curta e seca.— Ameaças? Coações? Não fa
Longe de recuar, se surpreender ou lamentar, Simone riu, um som baixo e desdenhoso, enquanto cruzava as pernas com elegância.— Se me desligar do escritório, perderá imediatamente a conta da Essenz — previu, com tom e pose de superioridade, ao mencionar a empresa de sua família. — Todos sabem o quanto essa conta é importante para o escritório.Calmo, Carlos não mostrou qualquer preocupação com a nova ameaça da jovem advogada.— Já conversei com Nathaniel — respondeu ele, mencionando o primo de Simone e atual CEO da empresa da família Muller. — Apresentei todas as provas da sua falta de ética, da coação que exerceu sobre Tábata, parceira de seu colega deste escritório — contou, acrescentando com um meio sorriso. — Ele decidiu passar a conta para as mãos de Guilherme.Simone ficou imóvel por um momento, seus olhos azuis-celeste estreitando-se em uma expressão de fúria contida.— Ele fez o quê?! Não podem simplesmente me expulsar.— Não está sendo expulsa, apenas arca com as consequência
Retornando da casa em que ficou durante a armação contra Simone, Tábata ajeitou a bebê no colo, incapaz de apagar o sorriso que iluminava seu rosto. Estar de volta ao lar, ao lugar onde seu coração pertencia, era como respirar fundo após muito tempo submersa prendendo o ar. Cada detalhe da casa, cada cheiro familiar, parecia gritar que ela estava em seu lar, de onde nunca mais sairia. E, mais importante, que Guilherme e Lean estavam ali, completando-a.Guilherme, por sua vez, colocou as mochilas que Tábata havia levado ao partir no sofá, sentindo como se estivesse depositando ali um peso que carregou por dias. O que de fato ocorreu. Foram os piores dias de sua vida adulta. Voltou-se para elas, os olhos cor de mel, focados em Tábata segurando Lean, precisando confirmar que não era um sonho. Elas estavam realmente ali, de onde nunca deveriam ter saído.— Senti muita falta de vocês — disse ele, a voz embargada por uma emoção que não conseguia disfarçar. — O tempo longe só reafirmou o que
O tempo passou em uma nuvem de felicidade, trazendo consigo uma felicidade que Tábata nunca imaginou possível. Estava, finalmente, completa e verdadeiramente feliz ao lado de Guilherme e Lean. A pequena, agora com dez meses, era um raio de luz em suas vidas, engatinhando pela casa e tentando suas primeiras palavras. Vez ou outra, balbuciava "papa", o que derretia Guilherme em sorrisos largos e olhos brilhantes. Tábata tentava se convencer de que era apenas a comida que a menina queria, mas Lean não ajudava quando estendia as mãozinhas para ele ao pronunciar a palavra. Embora com uma leve inveja, era impossível não se emocionar ao ver a conexão entre pai e filha crescendo a cada dia.Para sua tranquilidade emocional, Simone deixou o país e nunca mais ouviu falar de Mateus. Decidiu que, quando Lean fosse mais velha, seria a própria filha a entrar em contato, ou não, com o pai biológico. Não falaria mal dele, mas também não o queria por perto.O tempo também trouxe um frágil, porém neces
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia p
A primeira vez que recebeu uma amostra da raiva de sua mãe, Tábata Mamoru tinha sete anos. Era uma menina magrela, com longas madeixas marrons espremidas até as lágrimas em dois coques alto, feitos todas as manhãs por sua mãe a fim de evitar piolhos. Já naquela época notava que não era amada como os outros três irmãos e tentava, dentro das possibilidades de sua tenra idade, agradá-la e demonstrar que desejava ser aceita por ela.Do seu ponto de vista – que persistiria nos anos seguintes – era uma filha exemplar. Ajudava nos afazeres de casa, nunca respondia os mais velhos, respeitava todas as regras de comportamento e ordens de seus pais e, por mais que não gostasse em alguns momentos, ajudava nos cuidados de seu irmão seis anos mais novo.Mas nada satisfazia sua mãe. O desagrado e desaprovação sulcavam o rosto dela toda vez que olhava em sua direção. Por isso, em sua inocência infantil, achou que se maquiar como ela a faria perceber que a amava e queria ser igual a mãe. Entretanto, q
O celular vibrou sobre a escrivaninha, obrigando Guilherme Perez a tirar os olhos do documento que redigia. Sorriu ao ver a foto de seu amigo de infância preencher a tela.— Oi Lee! Como anda a vida?— Comigo tudo bem, cara. Estou nos Estados Unidos, participando de alguns eventos. Farei meu nome brilhar esse ano! — informou empolgado como sempre. — Mas não te liguei pra falar disso. Preciso da sua ajuda.— Jurídica? — Se endireitou em sua poltrona de couro marrom, intrigado com o pedido. Lee não costumava se meter em encrenca, não conseguia imagina-lo em uma situação que precisasse de um advogado.— Talvez... — O que você fez?— Eu? Nada. O problema é com a minha prima Tábata. Lembra-se dela? — Lembro...E como não lembrar? Sorriu nostálgico ao recordar da menina determinada, com constantes coques duplos, lembrando o penteado da personagem Pucca. A garota que seguia Lee e ele nos treinos de boxe e kung fu, sendo tão boa na luta quanto os dois. A jovem que lhe pediu um beijo de pres