Sentada em sua luxuosa cadeira de couro, em frente à mesa impecavelmente organizada de seu escritório, Simone tamborilava as unhas longas e bem cuidadas no tampo de madeira. Seu olhar pairava na tela de seu notebook, os pensamentos longes. Nem tão longe assim, concluiu franzindo o cenho, as íris azuladas se movendo para a parede, pensando no homem do outro lado. A frieza e desprezo atual de Guilherme tornou-se um espinho cravado em sua vaidade. Sensação piorada pelas saídas dele para acudir a “amiga” que todos no escritório achavam estar grávida dele.O toque intermitente do interfone tirou-a de seus devaneios.— O que foi? — perguntou, apertando o botão de contato com a recepção com impaciência.— Doutora Simone, o diretor da Saadi S/A, senhor Pierre Franklin Renoir, está aqui e pediu para falar com você.— Pierre Franklin Renoir? — repetiu lentamente, o cenho franzido. — Mande-o subir — decidiu antes de desligar o interfone e ajeitar o
Deslizando as mãos pelo vestido simples que usava, caminhou até o portão com passos hesitantes, parando próximo o suficiente para conversarem, mas sem intenção de abri-lo.— Posso ajudá-la? — perguntou, tentando soar neutra e não transparecer seu nervosismo.Simone Muller ergueu o rosto com um sorriso calculado, os olhos azuis analisando cada detalhe de Tábata através das grades do portão.— Boa tarde, Tábata. — Sua voz era doce, porém, carregando um tom que fazia Tábata se sentir pequena. — Posso entrar?— Guilherne está no trabalho — indicou, imaginando que a outra estava à procura dele.Simone inclinou levemente a cabeça.— Eu sei. Trabalhamos no mesmo escritório — disse com um ar casual, mas seus olhos cintilaram ao identificar a surpresa no rosto d
A sala estava levemente iluminada pelas cenas que se desenrolavam no televisor. Guilherme e Tábata estavam no sofá, abraçados, dividindo o cobertor macio. O som do filme preenchia o ambiente, mas a mente de Tábata estava longe. A visita de Simone mais cedo ainda reverberava em seus pensamentos. O olhar frio e calculista da ex-noiva de Guilherme, a proposta absurda e a ameaça velada mexeram com ela, mas decidiu que aquilo não estragaria os poucos momentos que ainda teria com Guilherme antes de sua viagem de negócios.Aconchegada nos braços dele, repousou a mão sobre o ventre, sentindo movimentos leves da bebê. Guilherme, com o braço estendido em volta dela, mantinha os olhos fixos na tela, mas sua mão fazia carinhos no cabelo dela, um toque casual e reconfortante.Ela suspirou e ajeitou o cobertor sobre as pernas.— Vai ficar quieto aqui sem você.&md
No espaçoso quarto de hotel, Guilherme revisava detalhes do contrato que apresentaria em poucas horas, pela janela recebia o sol intenso da tarde de Mumbai. No entanto, mesmo com tanto a fazer e uma reunião a sua espera, nada dissipava a nuvem de inquietação que o acompanhava desde que embarcou para essa viagem de trabalho. Sua mente insistia em vagar de volta para casa.Nos últimos três dias conversava com Tábata todos os dias, fazia vídeo chamadas e ela sempre garantia que estava bem. Também pediu para vizinhos ficarem atentos a ela, mas ainda assim seguia preocupado.Se levantou, necessitando esticar as pernas, e pegou o celular do bolso da calça. Hesitou por um momento antes de decidir. Paulina. Soube que ela estava trabalhando perto de onde ele morava. Embora não aprovasse o emprego dela, isso a tornava a pessoa certa para aliviar um pouco essa ansiedade.Discou o n&uacu
Acompanhando Paulina até a cozinha, Tábata lamentou:— Guilherme ainda esta em viagem.— Na verdade, estou aqui atendendo um pedido dele — Paulina contou se sentando na cadeira indicada por Tábata. — Ele quer ter certeza que está bem.Caminhando até a geladeira, Taby sorria.— Ele fez o mesmo pedido para o senhor Agostinho. O homem com quem eu conversava quando chegou — disse, pegando na geladeira suco e uma travessa com bolo para colocar na mesa antes de sentar. — É exagerado, mas aprecio o cuidado dele comigo e meu bebê.— Falta quanto?— Seis semanas — respondeu acariciando o topo do ventre avantajado. — E você, alguma novidade?Paulina corou e mostrou a mão com um brilhante magnifico.— Sim. Vou me casar. — Sua voz era baixa e carregava de felicidade.Tábata arregalou
O saguão do hotel exalava elegância em cada detalhe, o piso de mármore polido refletia as luzes douradas dos lustres, enquanto os sofás de couro macio criavam um ambiente aconchegante para os hóspedes. Guilherme entrou, carregando sacolas coloridas com o nome de lojas locais, o sorriso fácil denunciando o bom humor. O passeio por Mumbai tinha sido agradável, e ele estava satisfeito com os presentes que encontrou para Tábata e para a bebê.— Guilherme! — a voz de Simone no lugar de fazê-lo parar, apressou seu passo em direção aos elevadores. — Guilherme, espere!Uma mão se agarrou ao seu braço, o perfume envolvendo-o em uma conhecida nuvem adocicada. Ela estava impecável, como sempre, em um vestido justo de seda azul que realçava seus olhos.— Porque não parou? Não me ouviu te chamar? — ela questionou com um bico
De volta a sua casa, a porta mal havia se fechado quando Guilherme foi surpreendido por um abraço apertado. Tábata, com um sorriso que iluminava o rosto, jogou os braços ao redor dele, a barriga roçando contra o corpo de Guilherme.— Bem-vindo de volta, Gui! — ela o recebeu eufórica.Ele largou a mala no chão para retribuir o abraço, fechando os olhos por um instante e absorvendo a sensação reconfortante.— Que recepção... Agora fico me perguntando por que aceitei ficar tanto tempo fora — ele murmurou estreitando-a.— Eu também me pergunto! Sentimos muito a sua falta — ela disse afastando um pouco o rosto, mas mantendo as mãos em volta dele.Conduzindo ambos até a sala, Guilherme suspirou, passando a mão pelos cabelos enquanto se acomodava no sofá, puxando-a delicadamente para seu colo. 
O som dos saltos de Simone ecoava pelo estacionamento subterrâneo, um ruído forte ritmado que combinava perfeitamente com sua determinação. Guilherme estava encostado em uma pilastra, revisando mensagens no celular enquanto esperava o elevador. Ao ouvir os passos, ergueu os olhos, franzindo o cenho ao ver a figura alta e impecável da ex-namorada se aproximando.— Guilherme, precisamos conversar. — A voz era doce como o perfume que o alcançou instantes antes dela parar a sua frente.— Mande o que for por e-mail. — Foi direto e distante. — Respondo assim que possível.Voltou a se concentrar na tela do celular, implorando mentalmente para o elevador chegar logo. Podia ir pelas escadas, mas estava atrasado demais para a reunião daquela manhã.— Não é algo que se resolve por e-mail. É sobre a sua amiguinha, Tábata — el