Semanas depois, lidando com os últimos trabalhos antes da viagem para o maior cliente da Ramos Advogados Associados, Simone atravessou os corredores com o habitual ar de confiança, os saltos ecoando pelo piso.Estava prestes a passar pela sala de Carlos Ramos, quando algo chamou sua atenção. A porta entreaberta deixava vazar uma conversa. A voz grave de Carlos soava tranquila, mas o que ele dizia a fez retornar alguns passos.— Mirela convidou minha esposa e filhas para o chá de bebê — ele comentou casualmente. — Todas estão animadas, mas confesso que estou mais curioso. Guilherme, sabe quem é o pai da criança? Por acaso é seu?Simone sentiu o coração disparar no peito e se aproximou silenciosamente, o suficiente para ouvir melhor. Duvidava que fosse de Guilherme. Como ouviu certa vez: Os Perez são fieis como cães. No entanto, necessitava da confirmação.— Não o conheço, ele não faz parte da vida delas. — Houve uma breve pausa antes de Guilherme afirmar: — Tenho um grande carinho pela
O ambiente dentro da mansão dos Salvatore estava mais agitado do que Tábata esperava. Diferente da sala em que esteve anteriormente, foi levada a um grande salão, com várias cadeiras, mesas e decorado com cores em tons de rosa e branco. Risos altos e conversas animadas preenchia cada canto do luxuoso espaço, e as mulheres que chegavam traziam consigo uma aura de elegância que deixava Tábata completamente deslocada mesmo usando roupas novas, um vestido floral e delicadas rasteirinhas que ganhou de Guilherme.— Onde fui me meter... — Tábata murmurou para si mesma, observando as mulheres que chegavam e eram recepcionadas por Mirela.— Está tudo bem? — Paulina questionou.Por indicação da dona da casa, sentou entre as irmãs Perez na mesa principal, de frente para todas as demais. Na direita, Paola concentrada em uma conversa com uma das mulheres que Tábata esqueceu o nome em meio à maré de apresentações; na sua esquerda, estava Paulina, aguardando sua resposta.Ao contrário das outras mul
As mulheres se voltaram para a recém chegada, algumas com sorrisos abertos, outras com expressões de surpresa. Ela era impossível de ignorar. Tábata reparou imediatamente na mudança de atmosfera nas irmãs Perez. Paulina ficou visivelmente tensa, baixando os olhos, enquanto Paola, que até então estava alegre e despreocupada, franziu a testa, visivelmente irritada.Precisando fazer algo, e saber mais daquela mulher, Tábata levantou a mão de forma hesitante.Olhos podiam perfurar alguém? Os daquela mulher pareciam capazes de tal feito conforme ela se aproximava de Taby, encarando-a como uma fera pronta para atacar.— Ah, finalmente! — disse a mulher, pousando as mãos delicadas na mesa entre elas. Seu sorriso se transformou em algo levemente esquisito ao comentar: — Estou tão feliz em conhecer a mulher que o meu noivo abrigou!Tábata piscou, confusa, dominada pela desagradável sensação de déjà vu[1].— Noivo? — perguntou franzindo as sobrancelhas.— Sim, meu noivo: Guilherme Perez — a loi
Acostumada a ser alvo de desaprovação e comentários depreciativos, não se deixando abalar, Tábata devolveu serena:— Ah, não se preocupe com quem é o pai da minha filha. Garanto que ela terá tudo o que precisar. — Um sorriso sutil de determinação surgiu em seus lábios ao acrescentar mordaz: — Incluindo o carinho e cuidado do Guilherme.— E com o meu também — Paulina anunciou de repente, surpreendendo os demais, pois costumava não se envolver em discussões.— De todos os Perez — Paola concordou lançando um olhar desafiador para Simone.— E o nosso! — se incluíram as amigas de Taby.Tábata sorriu para todas, agradecida pelo apoio.A sala se encheu com murmúrios e olhares entre as convidadas. Alguns rostos exibiam surpresa, outros um sutil desconforto.Simone, no entanto, parecia imune ao mal-estar que causava. Ela continuou a sorrir, como se estivesse completamente no controle da situação. Para Tábata, cada segundo ao lado dela parecia uma eternidade, e até o simples ato de respirar o m
Tábata virou-se para se despedir de Mirela e as primas dele.— Obrigada por tudo, dona Mirela. — Tábata disse abraçando a Salvatore. — Foi tudo perfeito e bonito.— Imagina, querida.Paola deu um abraço apertado em Tábata, enquanto Paulina acenou discretamente, observando-a se afastar com Guilherme em direção ao carro.Dirigindo calmamente pelas ruas iluminadas artificialmente, Guilherme lançou um rápido olhar para Tábata, que olhava para a janela, quieta e absorta. Não era o comportamento animado que ele esperava após um evento como aquele.— Como foi o chá de bebê? — perguntou quebrando o silêncio.Tábata demorou alguns segundos para responder. Quando finalmente falou, sua voz era baixa e estranhamente desanimada.— Foi bom... Ganhei muita coisa para a bebê. Não precisarei me preocupar com fraldas tão cedo — comentou com um sorriso fraco.Logo depois, voltou a se calar, acariciando distraidamente a barriga arredondada, o olhar fixo novamente na janela, como se a paisagem noturna fos
O sol poente tingia o quintal da casa de Lee Mamoru com tons dourados, criando uma atmosfera acolhedora e tranquila. Sentada em um banquinho junto à parede, sua prima Tábata Mamoru sentia-se nervosa enquanto observava Guilherme Perez treinar kung fu com Lee. Seu coração batia descompassado, ansioso pelo momento de coragem, aquele que a faria chegar no rapaz e fazer o pedido que martelava em sua mente desde que acordou naquela manhã. Sendo sincera consigo, aquele pedido dominava seus sonhos desde que conheceu Guilherme.O vento suave brincava com os fios soltos dos coques duplos prendendo seu cabelo, quando, enfim, o treino acabou e Taby ergueu-se para colocar em ação seu desejo.Graças aos céus seu tio chamou seu primo, que correu para dentro da residência sem perceber as intenções dela. A presença dele inibiria sua intenção.Concentrado em tirar o suor do corpo, lavando o tórax fortificado e o rosto no tanque, Guilherme não reparou em sua aproximação, ou não se importou. Taby temia p
A primeira vez que recebeu uma amostra da raiva de sua mãe, Tábata Mamoru tinha sete anos. Era uma menina magrela, com longas madeixas marrons espremidas até as lágrimas em dois coques alto, feitos todas as manhãs por sua mãe a fim de evitar piolhos. Já naquela época notava que não era amada como os outros três irmãos e tentava, dentro das possibilidades de sua tenra idade, agradá-la e demonstrar que desejava ser aceita por ela.Do seu ponto de vista – que persistiria nos anos seguintes – era uma filha exemplar. Ajudava nos afazeres de casa, nunca respondia os mais velhos, respeitava todas as regras de comportamento e ordens de seus pais e, por mais que não gostasse em alguns momentos, ajudava nos cuidados de seu irmão seis anos mais novo.Mas nada satisfazia sua mãe. O desagrado e desaprovação sulcavam o rosto dela toda vez que olhava em sua direção. Por isso, em sua inocência infantil, achou que se maquiar como ela a faria perceber que a amava e queria ser igual a mãe. Entretanto, q
O celular vibrou sobre a escrivaninha, obrigando Guilherme Perez a tirar os olhos do documento que redigia. Sorriu ao ver a foto de seu amigo de infância preencher a tela.— Oi Lee! Como anda a vida?— Comigo tudo bem, cara. Estou nos Estados Unidos, participando de alguns eventos. Farei meu nome brilhar esse ano! — informou empolgado como sempre. — Mas não te liguei pra falar disso. Preciso da sua ajuda.— Jurídica? — Se endireitou em sua poltrona de couro marrom, intrigado com o pedido. Lee não costumava se meter em encrenca, não conseguia imagina-lo em uma situação que precisasse de um advogado.— Talvez... — O que você fez?— Eu? Nada. O problema é com a minha prima Tábata. Lembra-se dela? — Lembro...E como não lembrar? Sorriu nostálgico ao recordar da menina determinada, com constantes coques duplos, lembrando o penteado da personagem Pucca. A garota que seguia Lee e ele nos treinos de boxe e kung fu, sendo tão boa na luta quanto os dois. A jovem que lhe pediu um beijo de pres