Após a partida dos familiares de Guilherme e se retirar para dormir, Tábata deitou-se, mas o sono não a envolveu com facilidade. A mão descansava sobre a barriga, acariciando o ventre num movimento lento e reconfortante, os olhos fixos no teto, revivendo em meio às sombras o curto trecho de conversa.Queria questionar Guilherme sobre o que ouviu, saber sobre o filho que ele perde, entender como ela e sua bebê se encaixava nessa história. Mas estava há somente um mês na casa dele e não se sentia no direito de cobrar explicações.Por mais que tentasse esquecer, o comentário daquela mulher, de que Guilherme usava a filha dela como substituta do que perderam, a incomodava. Mas, ao lembrar-se da forma como Guilherme sempre tratava ela e a bebê, o incômodo enfraquecia.Disse a si mesma que o importante era que ele cuidava delas, se importava, a fazia sentir-se especial e protegida. Sua filha, que nem havia nascido, já recebia dele mais carinho e atenção do que ela mesma jamais recebeu da pr
Semanas depois, lidando com os últimos trabalhos antes da viagem para o maior cliente da Ramos Advogados Associados, Simone atravessou os corredores com o habitual ar de confiança, os saltos ecoando pelo piso.Estava prestes a passar pela sala de Carlos Ramos, quando algo chamou sua atenção. A porta entreaberta deixava vazar uma conversa. A voz grave de Carlos soava tranquila, mas o que ele dizia a fez retornar alguns passos.— Mirela convidou minha esposa e filhas para o chá de bebê — ele comentou casualmente. — Todas estão animadas, mas confesso que estou mais curioso. Guilherme, sabe quem é o pai da criança? Por acaso é seu?Simone sentiu o coração disparar no peito e se aproximou silenciosamente, o suficiente para ouvir melhor. Duvidava que fosse de Guilherme. Como ouviu certa vez: Os Perez são fieis como cães. No entanto, necessitava da confirmação.— Não o conheço, ele não faz parte da vida delas. — Houve uma breve pausa antes de Guilherme afirmar: — Tenho um grande carinho pela
O ambiente dentro da mansão dos Salvatore estava mais agitado do que Tábata esperava. Diferente da sala em que esteve anteriormente, foi levada a um grande salão, com várias cadeiras, mesas e decorado com cores em tons de rosa e branco. Risos altos e conversas animadas preenchia cada canto do luxuoso espaço, e as mulheres que chegavam traziam consigo uma aura de elegância que deixava Tábata completamente deslocada mesmo usando roupas novas, um vestido floral e delicadas rasteirinhas que ganhou de Guilherme.— Onde fui me meter... — Tábata murmurou para si mesma, observando as mulheres que chegavam e eram recepcionadas por Mirela.— Está tudo bem? — Paulina questionou.Por indicação da dona da casa, sentou entre as irmãs Perez na mesa principal, de frente para todas as demais. Na direita, Paola concentrada em uma conversa com uma das mulheres que Tábata esqueceu o nome em meio à maré de apresentações; na sua esquerda, estava Paulina, aguardando sua resposta.Ao contrário das outras mul
As mulheres se voltaram para a recém chegada, algumas com sorrisos abertos, outras com expressões de surpresa. Ela era impossível de ignorar. Tábata reparou imediatamente na mudança de atmosfera nas irmãs Perez. Paulina ficou visivelmente tensa, baixando os olhos, enquanto Paola, que até então estava alegre e despreocupada, franziu a testa, visivelmente irritada.Precisando fazer algo, e saber mais daquela mulher, Tábata levantou a mão de forma hesitante.Olhos podiam perfurar alguém? Os daquela mulher pareciam capazes de tal feito conforme ela se aproximava de Taby, encarando-a como uma fera pronta para atacar.— Ah, finalmente! — disse a mulher, pousando as mãos delicadas na mesa entre elas. Seu sorriso se transformou em algo levemente esquisito ao comentar: — Estou tão feliz em conhecer a mulher que o meu noivo abrigou!Tábata piscou, confusa, dominada pela desagradável sensação de déjà vu[1].— Noivo? — perguntou franzindo as sobrancelhas.— Sim, meu noivo: Guilherme Perez — a loi
Acostumada a ser alvo de desaprovação e comentários depreciativos, não se deixando abalar, Tábata devolveu serena:— Ah, não se preocupe com quem é o pai da minha filha. Garanto que ela terá tudo o que precisar. — Um sorriso sutil de determinação surgiu em seus lábios ao acrescentar mordaz: — Incluindo o carinho e cuidado do Guilherme.— E com o meu também — Paulina anunciou de repente, surpreendendo os demais, pois costumava não se envolver em discussões.— De todos os Perez — Paola concordou lançando um olhar desafiador para Simone.— E o nosso! — se incluíram as amigas de Taby.Tábata sorriu para todas, agradecida pelo apoio.A sala se encheu com murmúrios e olhares entre as convidadas. Alguns rostos exibiam surpresa, outros um sutil desconforto.Simone, no entanto, parecia imune ao mal-estar que causava. Ela continuou a sorrir, como se estivesse completamente no controle da situação. Para Tábata, cada segundo ao lado dela parecia uma eternidade, e até o simples ato de respirar o m
Tábata virou-se para se despedir de Mirela e as primas dele.— Obrigada por tudo, dona Mirela. — Tábata disse abraçando a Salvatore. — Foi tudo perfeito e bonito.— Imagina, querida.Paola deu um abraço apertado em Tábata, enquanto Paulina acenou discretamente, observando-a se afastar com Guilherme em direção ao carro.Dirigindo calmamente pelas ruas iluminadas artificialmente, Guilherme lançou um rápido olhar para Tábata, que olhava para a janela, quieta e absorta. Não era o comportamento animado que ele esperava após um evento como aquele.— Como foi o chá de bebê? — perguntou quebrando o silêncio.Tábata demorou alguns segundos para responder. Quando finalmente falou, sua voz era baixa e estranhamente desanimada.— Foi bom... Ganhei muita coisa para a bebê. Não precisarei me preocupar com fraldas tão cedo — comentou com um sorriso fraco.Logo depois, voltou a se calar, acariciando distraidamente a barriga arredondada, o olhar fixo novamente na janela, como se a paisagem noturna fos
Ao contrário do beijo acidental de tempos atrás, em que ele se afastou rapidamente como no passado, aquele foi diferente. Guilherme encaixou a mão na nuca dela, puxando-a para mais perto, a língua escorregando por entre os lábios macios.Amargando duas frustrantes tentativas dez anos atrás, Taby sonhou com aquele momento diversas vezes, mas nada a preparou para o sabor e paixão dos beijos dele.O beijo foi intenso, apaixonado, e seus corações batiam em ritmo acelerado. A língua de Guilherme explorou a boca de Tábata, que o recebia e correspondia sem reservas.O mundo ao redor desapareceu. Ela passou as mãos ao redor do pescoço dele, se mantendo nas pontas dos pés, gemendo contra os lábios beijando-a com voracidade.— Taby... — chamou entre beijos, a voz rouca e cheia de algo que ela não conseguiu definir.Guilherme aprofundou o beijo, inclinando-se levemente para acomodar o corpo menor dela contra o seu. O perfume amadeirado dele a envolvia, fazendo os bicos de seus seios endurecer co
— O que você quer dizer? — Guilherme questionou, duvidando da resposta que lhe vinha à mente.Ela hesitou por um momento, mas então soltou as palavras de uma vez. — É uma cama grande. E, francamente, seria mais confortável do que você dormir espremido do sofá. Houve um instante de completo silêncio. Guilherme ficou parado, encarando-a, em uma mão um prato ensaboado e na outra a esponja, tentando processar o que ela havia acabado de dizer. — Dividir a cama? — repetiu, incapaz de manter a mente fria e a analítica que o tornou conhecido em sua área, precisando confirmar que tinha ouvido direito. Tábata corou violentamente, mas manteve o queixo erguido e a voz firme. — Não faz sentido você dormir no sofá e ir trabalhar todo quebrado de manhã.— Tábata, não sei se isso seria... apropriado — indicou desconfortável com a ideia. Ela revirou os olhos, optando por adotar um ar brincalhão na esperança de diminuir o constrangimento. — Gui, somos adultos. E você tem sido incrível comigo e