Na manhã de Natal um carro estacionou na garagem da casa de Guilherme. A ansiedade de Tábata bateu no teto, os dedos deslizando nervosos pela camiseta desgastada, enquanto era coberta pelo arrependimento de não ter comprado uma roupa nova.Com o coração retumbando nos ouvidos, parou ao lado de Guilherme em frente a porta que levava para a garagem, a agitação e vozes do outro lado dando um vislumbre do que a esperava.— Por Deus, controle a língua pelo menos hoje — uma voz masculina exigia.— Serei um anjo de candura — outra, feminina, declarou carregada de um sarcasmo descarado.— Paola, por favor, não provoque... — ouviu a súplica suave e feminina próxima da porta.Guilherme pousou a mão em suas costas, deslizando suavemente para cima e para baixo, o olhar e o sorriso doces como mel, diminuindo a onda de nervosismos percorrendo-a.— Preparada?— Acho que sim... — respondeu com um tenso e miúdo sorriso.Os primeiros a entrar foram Pedro e o irmão dele, Paulo, gêmeos idênticos na aparê
O almoço de Natal com a família Perez era simples, mas o ambiente era acolhedor. A mesa estava repleta de deliciosos pratos, risadas e conversas descontraídas se sobrepondo ao suave tilintar dos talheres.— Tem certeza de que não quer um pouco mais? — Pedro questionou, oferecendo uma nova porção de arroz à grega com uva passa para Tábata, que sorriu e negou com um aceno.— Muito obrigada, seu Pedro, estava delicioso, mas já comi bastante — respondeu, acariciando a barriga brincou: — A bebê também está cheia.— Ei, Taby! Como é o Natal na sua casa? — Paola questionou balançando o garfo com um pedaço de frango na direção de Tábata, sentada do outro lado da mesa.Guilherme imediatamente franziu o cenho, lançando um olhar repreensivo para a prima, mas foi Paulo a repreender a jovem.— Paola, não cansa de ser impertinente?— Só estou curiosa pra saber como são as festas pros asiáticos.— Tá tudo bem, senhor Paulo! — Tábata sorriu, mostrando que estava tranquila com o tema envolvendo sua fa
Simone Muller ajeitou a postura em frente à porta, o sorriso cuidadosamente sensual e calculado. Plantando uma mão na cintura, com a outra mão tocou a campainha e aguardou confiante. Passaram-se alguns segundos. Nada. Tocou novamente, desta vez mais insistente. Ainda sem resposta. Irritada, afundou o dedo na campainha, fazendo-a soar repetidas vezes.Uma porta no fim do corredor se abriu de repente, e uma senhora, de avental florido e expressão aborrecida, se inclinou para fora.— Ei, perdeu o dedo na campainha? — reclamou aos berros.Depois de um instante de surpresa pela reação, Simone encarou a mulher com aborrecimento, ajeitando o cabelo loiro.— Vim visitar os Perez — declarou ríspida.Diante dos frios e imperiosos olhos azulados, a mulher empalideceu.— Senhorita Muller... Ah, me desculpe! Não a reconheci... Desculpe...— Tá, tá! Viu os Perez hoje?— Paulo, Pedro e as meninas saíram cedinho, não sei dizer para onde — explicou, se inclinando em respeito, mas com um olhar furtivo
— Minha anjinho está no encontro de Natal da família dela — Nathaniel respondeu despreocupado.— É mesmo? — Sustentando o sorriso perfeitamente agradável, bebeu mais um pouco de sua bebida antes de comentar o mais casual que conseguia: — Interessante, passei pela casa dos Perez, pra desejar boas festas, e não encontrei ninguém.— Estão estreando a casa nova do Guilherme — ele explicou.As finas sobrancelhas de Simone ergueram-se involuntariamente, a frustração dominando-a e fazendo-a revirar os olhos, num raro momento em que baixou a guarda.— Claro! A casa nova... — resmungou consigo.Amaldiçoou o fato de não ter decorado o endereço quando foi ao local, nem ter prestado atenção no trajeto. Em sua defesa, pensou que a surpresa prometida por ele era um jantar romântico, não que tivesse vendido o apartamento elegante por uma casinha de bonecas, que só não taxava de suburbano por ser um condomínio residencial. Porém, não era nada parecido com o condomínio de luxo Delluna, em que foi cria
Tendo que se reunirem com as próprias famílias, Maya e Hana se levantaram cerca de uma hora depois de chegarem, anunciando que precisavam ir. Haviam passado pela casa de Guilherme apenas para uma rápida visita por amor e solidariedade a amiga, e também para deixar um presente especial para a bebê.Juntas entregaram uma pequena caixa, delicadamente decorada com laços e um cartão natalino.— Queríamos deixar esse mimo pra nossa sobrinha preferida — anunciou Maya ao tirar o presente de dentro de uma sacola.Abrindo a embalagem, Tábata tirou dois body. Um tinha a inscrição “Princesa da titia” e o outro era baseado na roupa da mulher maravilha.— Ah, meninas! — Tábata murmurou emocionada, lançando os braços para abraçar ambas. — Vocês são demais, de verdade! Muito obrigada mesmo, meninas. — Ela fez uma pausa, acariciando a barriga de forma carinhosa. — Esperamos as duas no chá de bebê, hein? Vai ser uma alegria ter vocês lá.As amigas sorriram, acenando afirmativamente.— Estaremos lá! — g
Tábata recuou, o corpo congelando e as mãos institivamente pousando em sua barriga enquanto a declaração reverberava como farpas em seus ouvidos.— Simone, vá embora! — Guilherme pediu com a voz firme e fria, que até aquele momento ela nunca o ouvira utilizar. — Não é bem-vinda na minha casa e nem na minha vida.— Me dê uma nova chance e vamos corrigir meu erro — a estranha disparou, o tom ferido mudando para adocicado. — Te amo!Com o coração apertado e a respiração falhando, sem pensar duas vezes, Tábata girou nos calcanhares e caminhou apressada para dentro da casa, não querendo saber o resultado da declaração da estranha. Assim que alcançou o sofá, diante dos olhares curiosos dos parentes dele, sentou-se tensa, se forçando a ocultar seu desconforto com o que ouviu.— E aí, Taby? Eram suas amigas? — Paola questionou ao seu ladoHesitante, Tábata piscou confusa, levando um minuto inteiro para processar e entender o motivo da pergunta, e outro para responder carregando os lábios com
Após a partida dos familiares de Guilherme e se retirar para dormir, Tábata deitou-se, mas o sono não a envolveu com facilidade. A mão descansava sobre a barriga, acariciando o ventre num movimento lento e reconfortante, os olhos fixos no teto, revivendo em meio às sombras o curto trecho de conversa.Queria questionar Guilherme sobre o que ouviu, saber sobre o filho que ele perde, entender como ela e sua bebê se encaixava nessa história. Mas estava há somente um mês na casa dele e não se sentia no direito de cobrar explicações.Por mais que tentasse esquecer, o comentário daquela mulher, de que Guilherme usava a filha dela como substituta do que perderam, a incomodava. Mas, ao lembrar-se da forma como Guilherme sempre tratava ela e a bebê, o incômodo enfraquecia.Disse a si mesma que o importante era que ele cuidava delas, se importava, a fazia sentir-se especial e protegida. Sua filha, que nem havia nascido, já recebia dele mais carinho e atenção do que ela mesma jamais recebeu da pr
Semanas depois, lidando com os últimos trabalhos antes da viagem para o maior cliente da Ramos Advogados Associados, Simone atravessou os corredores com o habitual ar de confiança, os saltos ecoando pelo piso.Estava prestes a passar pela sala de Carlos Ramos, quando algo chamou sua atenção. A porta entreaberta deixava vazar uma conversa. A voz grave de Carlos soava tranquila, mas o que ele dizia a fez retornar alguns passos.— Mirela convidou minha esposa e filhas para o chá de bebê — ele comentou casualmente. — Todas estão animadas, mas confesso que estou mais curioso. Guilherme, sabe quem é o pai da criança? Por acaso é seu?Simone sentiu o coração disparar no peito e se aproximou silenciosamente, o suficiente para ouvir melhor. Duvidava que fosse de Guilherme. Como ouviu certa vez: Os Perez são fieis como cães. No entanto, necessitava da confirmação.— Não o conheço, ele não faz parte da vida delas. — Houve uma breve pausa antes de Guilherme afirmar: — Tenho um grande carinho pela