Ah, o ensino médio! Que época da vida consegue ser mais caótica e incrivelmente bela que a adolescência? Aurora não sabia essa resposta, mas seguia acreditando que estava cumprindo seu papel e que aquele período de sua vida seria muito proveitoso, ao menos para os outros. Filha de um psicólogo e de uma sexóloga, Aurora Backer sempre mostrou um talento excepcional para compreender pessoas, principalmente quando se tratava de relacionamentos amorosos. Essa habilidade singular lhe deu uma fama que não esperava quando ingressou no ensino médio, ela se tornou a conselheira amorosa. Seu nome era conhecido por todos os alunos de sua escola e também por alguns fora dela. Sempre cuidando dos outros, sempre arrumando a vida amorosa alheia. Porém, seu coração trazia uma grande cicatriz, sua vida amorosa estava em frangalhos desde a aparição de um rapaz que a levou ao céu e ao inferno em menos de seis meses. Depois da dor da traição e da humilhação, decidida a deixar de lado seu próprio coração, algo inesperado acontece. Seu nome era Dante e, certamente, ele a levaria ao inferno, pela segunda vez. Mas, talvez, estar no inferno não fosse tão ruim.
Ler maisAURORA Voltar à escola foi mais tranquilo do que achei que seria. Sabia que as fofocas ainda estavam rolando, que todos ainda estavam comentando sobre o que aconteceu no baile, mas não me importava mais, Theo não apareceria de novo e eu ficaria bem, com toda certeza eu ficaria bem. Mal prestei atenção nas aulas, estava aérea e distraída, então, mal percebi o tempo passar. Quando o sinal soou, avisando que era hora de ir para casa, não demorei a sair ainda recebia alguns olhares e, apesar de todos se esforçarem para fingir que nada estava acontecendo, eu sabia que todos estavam curiosos. Uma curiosidade que se arrastava desde o primeiro ano. Segui pelas escadas e caminhei em direção ao meu armário, enfiando meus livros lá dentro e pegando minha bolsa, colocando-a nas costas e batendo a porca com certa força, me virando somente para encontrar Dante atrás de mim, algo que me assustou. — Caralho! O que está fazendo atrás de mim como se fosse um fantasma? — perguntei, meio mal
DANTE Quando a semana seguinte chegou, a primeira pessoa que vi foi Clay. Enquanto eu seguia para meu armário, o vi caminhando em minha direção, já quase que completamente curado dos hematomas que, com certeza, a briga havia deixado. Ele parecia muito à vontade, mesmo que o assunto “briga” ainda fervilhava pelos corredores. O vi acenar para mim e, quando achei que ele passaria direto, o capitão do time de basquete parou ao meu lado, se encostando no armário que havia à minha direita e suspirando. O encarei por alguns minutos, percebendo a indecisão estampada no rosto dele e suspirando, não entendia o porquê dele desconfiar tanto de mim. — E aí — Clay começou, acertando um soquinho em meu ombro. — Queria falar com você, podemos ir lá fora? Acho que te devo explicações. O capitão parecia tímido e sem jeito, pela primeira vez, estava vendo os traços da pessoa tímida que todos diziam que ele era. Suspirei pesadamente, encarando-o por alguns instantes antes de indicar a saída com
Depois da briga, tanto eu como Aura ficamos alguns dias em casa. Apesar do choque inicial, Tia Victoria insistiu que nós precisávamos de um descanso, e ela não estava errada. Apesar dos meus pais estarem muito menos irritados, as coisas na minha casa ainda estavam um pouco estranhas e na casa de Aurora não era diferente. Além do clima tenso e pesado que a volta de Theo gerou, Evangeline e eu estávamos estranhos, estranhos demais. A irmã de Aurora mal me olhava, me ignorava boa parte do tempo e eu não conseguia entender o porquê dela estar chateada, mas sabia que aquilo não era só por causa da briga. Então, decidi deixar que Eva viesse falar comigo quando estivesse pronta, apesar de estar me corroendo por dentro, completamente nervoso com a possibilidade da garota que eu gostava de verdade decidir nunca mais falar comigo de forma decente, já que tudo o que trocamos nos últimos nove dias se resumiam a cumprimentos secos e sem vida. — Será que você pode pelo menos fingir que gosta d
THEO— Você só pode ser idiota! — Lenna reclamou assim que me viu caminhando pelos corredores, quase quinze dias depois da briga. — Todo mundo ficou sabendo, Theo! Você enlouqueceu? Por que foi até lá ver aquela garota? Achei que já tinha superado!— Eu fui matar a saudade dos meus amigos, Lenna — brinquei, dando de ombros enquanto recebia um tapa na nuca, sentindo minha pele arder com a força dela. Lenna era uma garota alta e muito extrovertida, eramos amigos há quase três anos, a conheci por acaso no shopping e quando cheguei a esta escola, ela foi a pessoa que melhor me recebeu. Tinha cabelos curtos e ruivos, seus olhos eram amendoados e ela quase não usava maquiagem, preferia deixar as pequenas pintinhas, sardas, que cobriam bastante da sua pele, a mostra sempre disse ser um charme seu. — Que amigos, Theodoro? Aqueles caras só faltaram te quebrar no meio! Filmaram a porra da briga, se aquele cara não tivesse separado vocês, você estaria no hospital agora! — ela falava com um to
DANTEDepois da briga, não havia clima para mais nada. Marcela parecia extremamente incomodada, assim como todo o resto, e a única coisa que fiz foi dar uma carona para ela, que ficou silenciosa por todo o caminho. Na semana seguinte, Clay não apareceu nas aulas, nem nos treinos. O capitão desapareceu como fumaça e, enquanto ele estava fora, Marck coordenava todos os jogadores nos treinos, afinal, a temporada de jogos logo começaria e precisávamos estar preparados, ninguém queria perder. Mas a falta do nosso capitão não era o que me incomodava, depois de uma briga daquelas eu também iria querer dar um tempo. Durante toda aquela semana eu percebi outra ausência, essa muito mais gritante para mim, mesmo que eu fingisse que não. Aurora não apareceu durante toda a semana, não a vi pelos corredores, nem nas aulas que tínhamos juntos. Todos pareciam meio tensos e ouvi alguns cochichos pelos corredores, o nome do cara da briga estava sempre aqui e ali, isso me deixou ainda mais curioso. Q
— Por acaso valeu a pena? — Eva perguntou ainda de braços cruzados, enquanto fazia um curativo acima da minha sobrancelha. — Eu sei que ele é um idiota, mas se aquele garoto não tivesse te parado, você poderia estar na delegacia agora, Clay! — Posso responder sinceramente ou você prefere não ouvir? — perguntei, recebendo um olhar bravo como resposta. Sabia que aquela não havia sido a melhor decisão, provavelmente meus pais saberiam e minha psicóloga voltaria a falar sobre surtos de raiva e descontrole por um bom tempo, mas não me arrependi, nem um pouco. Theo merecia, merecia muito mais.Porém, a intromissão de Dante foi algo que me surpreendeu. Não gosto dele, não me inspira nem um pouco de confiança, mas vê-lo tentar apartar a briga e me trazer de volta a razão me fez repensar um pouco minha posição sobre ele, mas não muito. Eva não falou nada, provavelmente percebeu que eu não mudaria de ideia quanto a minhas motivações mais que válidas para quebrar a cara daquele desgraçado. S
DANTEAssim que coloquei os pés fora do ginásio me deparei com a confusão. Boa parte do time estava reunido em uma parte do jardim e, de frente para eles, estava um cara que nunca havia visto por ali, ele parecia extremamente a vontade, mesmo com toda a tensão que crepitava no ar. Marcela tencionou o corpo ao meu lado e, assim que viu o rapaz, parou de falar seja lá o que era que estava tagarelando desde que saímos. — Quem é ele? — perguntei, sem olhar para a loira ao meu lado. Ao longe, pude ver Clay encabeçando o grupo de rapazes, que parecia tentar intimidar o estranho, no entanto, ele não parecia se importar nem um pouco com a clara ofensiva dos seis garotos que o encarava com ódio.— Poxa, Clay, é assim que me recebe depois de todo esse tempo? Éramos tão amigos — o ouvi dizer, com sarcasmo, fazendo o avançar um passo para frente. Marcela não respondeu, ela encarava abismada a cena, como se estivesse vendo uma assombração. Seja lá quem for, com certeza, não é desejado por aqui
AURORAIr andando até em casa não era uma opção, apesar da festa ainda estar agitada, já passava das nove da noite e andar sozinha a essa hora não seria nada seguro, por isso, chamei um táxi.Estava aérea, minha mente viajava entre o passado e o presente enquanto eu torcia para que a aparição de Theo fosse somente momentânea, para que ele sumisse novamente e me deixasse em paz. Ficar tão fragilizada com um diálogo de dois minutos só provou, mais uma vez, que eu não havia superado e isso me deixava ainda pior.Assim que o táxi chegou à minha casa eu desci, caminhando o mais silenciosamente que pude, passando pelo portão de entrada e fazendo a volta até chegar à porta dos fundos. Torcia para que meus pais já estivessem dormindo, já que, com toda certeza, perceberiam que eu não estava em um dos meus melhores dias. Abri a porta lentamente, caminhando na ponta dos pés em direção às escadas, porém, antes que eu chegasse até elas, ouvi a voz da minha mãe ecoando pela sala e só então perceb
Sem nos dar tempo para responder, ela seguiu em direção a Sharon, que parecia reclamar de algo com um grupo de meninas. Não prestei atenção na confusão, somente guiei Eva até uma das mesas e me sentei ali com ela, um pouco sem jeito, não sabia o que fazer.Eva parecia tão sem jeito quanto eu, então, coloquei a mão sobre a dela, que estava apoiada na mesa, e, acariciando seus dedos delicadamente, me levantei, apontando para a mesa de bebidas.— Vou pegar algo para a gente, já volto! — Expliquei, vendo-a assentir. Me distanciei rapidamente me aproximando da mesa de bebidas e escolhendo com o barman dois coquetéis de frutas vermelhas. Enquanto esperava, a observei de longe. Estava um tanto quanto encolhida na cadeira, ainda um pouco tímida diante do ambiente novo e das pessoas desconhecidas. Ao longe, notei Aura, Emily e Megan cochichando em um canto, me encarando e fazendo caras e bocas enquanto riam. Certamente, meu par e eu éramos o assunto da noite das três. Aura e eu éramos próxi