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Capítulo 2 - parte 2

Sharon e Dillam eram o típico casal de status. De longe percebia-se que o relacionamento deles era tóxico, para ambos, na verdade. Poucos sabiam, mas Sharon abdicava de muitas coisas para estar ao lado de seu capitão e manter sua posição social na hierarquia escolar do Saint’s Paul. Eu só não entendia o porquê disso tudo, afinal, em breve o colegial não vai passar de uma mera lembrança divertida ou traumática.

— Claro — falei, forçando um sorriso. — Resolveremos tudo antes da sua festa. — Tinha vontade de correr, minha primeira aula logo começaria e minhas conversas com Sharon nunca eram as mais saudáveis. — Tenho que ir agora — falei para a garota, tentando não soar rude demais ou muito apressada.

— Até mais, querida — ela disse, beijando minhas bochechas novamente, se afastando e seguindo para um grupo de garotas que vinha logo atrás de mim.

— Merda! — resmunguei ao olhar no meu relógio e perceber que estava quase dez minutos atrasada.

Corri até meu armário jogando minhas coisas lá dentro e pegando o livro de matemática. Depois corri novamente para as escadas, subindo os degraus de dois em dois, quase caindo durante o caminho. Cheguei a minha sala cansada e ofegante, estava afobada e por isso abri a porta de uma vez e de forma nada discreta, pondo somente a cabeça para dentro e dando um sorriso para o professor.

Será que o senhor Franklin apreciaria meu sorriso e não me daria uma longa bronca, aliada a algumas horas de detenção por atraso? Eu esperava muito que sim.

— Posso entrar? — perguntei, recebendo um olhar severo do professor.

O Sr. Franklin deveria ter lá seus trinta e seis anos, mas, sem dúvida alguma, era incrivelmente bonito. Parecia aqueles galãs que aparecem bastante nos filmes de Hollywood. Andava sempre vestido de forma elegante, os ternos pretos normalmente escondiam, mas não completamente, seus músculos. Com uma pose séria e um olhar sereno, ao menos na maior parte das vezes, tinha uma pele levemente bronzeada, que revelava a atividade que ele praticava nos fins de semana, o surfe. Sr. Franklin sempre foi alguém muito simpático com todos, nunca se envolvia demais, mas estaria mentindo se dissesse que nunca ajudei nenhuma garota a flertar com ele. A mentira seria ainda maior se eu dissesse que alguma delas arrancou mais do que um olhar de escárnio do professor bonitão.

Ele fez uma cara feia, se levantando de sua mesa e parando em frente a porta, que estava escancarada. Após alguns instantes torturantes, o professor abriu espaço para que eu passasse, me fazendo soltar a respiração e dar um suspiro de alívio. Enquanto eu caminhava para minha mesa, sentia os olhares da turma sobre mim. Isso sempre acontecia quando qualquer um chegava atrasado, e posso afirmar que não era nada confortável ter 32 pares de olhos me encarando de forma questionadora. Caminhei rapidamente para meu assento, que ficava sempre no lado esquerdo, com uma visão privilegiada da janela, de onde podia ver o campo onde o time de futebol treinava. Assim que me acomodei, o professor seguiu em direção à lousa, começando a escrever a correção dos exercícios da aula anterior, me fazendo soltar um longo suspiro.

O dia ia ser bem longo.

***

Parecia que o tempo se arrastava, cinco minutos pareciam uma hora, uma hora parecia dois dias. Após uma aula de biologia maçante, finalmente eu estava livre. Não perdi tempo, arrumei meus livros na bolsa e saí da sala apressada, não queria conversar, nem brincar com ninguém, tudo o que eu queria era minha casa e minha cama.

— Apressada, nanica? — perguntou Clay, surgindo do nada ao meu lado no corredor, usando um dos apelidos “carinhosos” que havia me dado.

— Preciso da minha cama — resmunguei, continuando a caminhar e saindo do prédio escolar ao lado do meu amigo.

Seguimos sem pausas para o estacionamento e logo eu estava me jogando no Jipe, me acomodando no banco do carona e esticando as pernas, apoiando os pés no painel. Aquilo irritava Clay na maior parte das vezes, mas eu nunca deixava essa mania de lado, principalmente por que, por eu ser pequena, minhas pernas se encaixavam perfeitamente ali, tornando a posição muito confortável.

— Vamos logo, sua irmã deve estar à beira de um ataque cardíaco — falou Clay, ligando o carro, pisando no acelerador e saindo do estacionamento, deixando nossa escola para trás. — Vamos enfrentar a fera.

Não demorou mais do que alguns minutos para que chegássemos a Claremonth High School. Encontramos uma Evangeline extremamente irritada e emburrada de pé no meio fio, Clay parou o carro ao lado dela, destravando as portas. Eva entrou no carro ainda emburrada, cruzando os braços e nos fulminando com o olhar.

— Desculpa, Eva — Clay falou com voz manhosa, fazendo minha irmã revirar os olhos, mas eu sabia que ela já estava com o coração amolecido.

Clay olhou para mim e deu um risinho de canto discreto, ligando o carro novamente e acelerando, seguindo o trajeto para minha casa, onde provavelmente jantaríamos juntos, de novo.

Qualquer um poderia enxergar a queda que Evangeline tinha por Clay, queda esta que hoje em dia mais parecia um abismo, e perdurava desde seus treze anos de idade. Hoje, com quinze anos, Eva ainda não tinha coragem de declarar seus sentimentos. Eu não a culpava por isso, Clay tinha dezessete anos e era meu melhor amigo, praticamente a viu crescer e eu não sabia bem se havia reciprocidade.

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