Sharon e Dillam eram o típico casal de status. De longe percebia-se que o relacionamento deles era tóxico, para ambos, na verdade. Poucos sabiam, mas Sharon abdicava de muitas coisas para estar ao lado de seu capitão e manter sua posição social na hierarquia escolar do Saint’s Paul. Eu só não entendia o porquê disso tudo, afinal, em breve o colegial não vai passar de uma mera lembrança divertida ou traumática.
— Claro — falei, forçando um sorriso. — Resolveremos tudo antes da sua festa. — Tinha vontade de correr, minha primeira aula logo começaria e minhas conversas com Sharon nunca eram as mais saudáveis. — Tenho que ir agora — falei para a garota, tentando não soar rude demais ou muito apressada. — Até mais, querida — ela disse, beijando minhas bochechas novamente, se afastando e seguindo para um grupo de garotas que vinha logo atrás de mim. — Merda! — resmunguei ao olhar no meu relógio e perceber que estava quase dez minutos atrasada. Corri até meu armário jogando minhas coisas lá dentro e pegando o livro de matemática. Depois corri novamente para as escadas, subindo os degraus de dois em dois, quase caindo durante o caminho. Cheguei a minha sala cansada e ofegante, estava afobada e por isso abri a porta de uma vez e de forma nada discreta, pondo somente a cabeça para dentro e dando um sorriso para o professor. Será que o senhor Franklin apreciaria meu sorriso e não me daria uma longa bronca, aliada a algumas horas de detenção por atraso? Eu esperava muito que sim. — Posso entrar? — perguntei, recebendo um olhar severo do professor. O Sr. Franklin deveria ter lá seus trinta e seis anos, mas, sem dúvida alguma, era incrivelmente bonito. Parecia aqueles galãs que aparecem bastante nos filmes de Hollywood. Andava sempre vestido de forma elegante, os ternos pretos normalmente escondiam, mas não completamente, seus músculos. Com uma pose séria e um olhar sereno, ao menos na maior parte das vezes, tinha uma pele levemente bronzeada, que revelava a atividade que ele praticava nos fins de semana, o surfe. Sr. Franklin sempre foi alguém muito simpático com todos, nunca se envolvia demais, mas estaria mentindo se dissesse que nunca ajudei nenhuma garota a flertar com ele. A mentira seria ainda maior se eu dissesse que alguma delas arrancou mais do que um olhar de escárnio do professor bonitão. Ele fez uma cara feia, se levantando de sua mesa e parando em frente a porta, que estava escancarada. Após alguns instantes torturantes, o professor abriu espaço para que eu passasse, me fazendo soltar a respiração e dar um suspiro de alívio. Enquanto eu caminhava para minha mesa, sentia os olhares da turma sobre mim. Isso sempre acontecia quando qualquer um chegava atrasado, e posso afirmar que não era nada confortável ter 32 pares de olhos me encarando de forma questionadora. Caminhei rapidamente para meu assento, que ficava sempre no lado esquerdo, com uma visão privilegiada da janela, de onde podia ver o campo onde o time de futebol treinava. Assim que me acomodei, o professor seguiu em direção à lousa, começando a escrever a correção dos exercícios da aula anterior, me fazendo soltar um longo suspiro. O dia ia ser bem longo. *** Parecia que o tempo se arrastava, cinco minutos pareciam uma hora, uma hora parecia dois dias. Após uma aula de biologia maçante, finalmente eu estava livre. Não perdi tempo, arrumei meus livros na bolsa e saí da sala apressada, não queria conversar, nem brincar com ninguém, tudo o que eu queria era minha casa e minha cama. — Apressada, nanica? — perguntou Clay, surgindo do nada ao meu lado no corredor, usando um dos apelidos “carinhosos” que havia me dado. — Preciso da minha cama — resmunguei, continuando a caminhar e saindo do prédio escolar ao lado do meu amigo. Seguimos sem pausas para o estacionamento e logo eu estava me jogando no Jipe, me acomodando no banco do carona e esticando as pernas, apoiando os pés no painel. Aquilo irritava Clay na maior parte das vezes, mas eu nunca deixava essa mania de lado, principalmente por que, por eu ser pequena, minhas pernas se encaixavam perfeitamente ali, tornando a posição muito confortável. — Vamos logo, sua irmã deve estar à beira de um ataque cardíaco — falou Clay, ligando o carro, pisando no acelerador e saindo do estacionamento, deixando nossa escola para trás. — Vamos enfrentar a fera. Não demorou mais do que alguns minutos para que chegássemos a Claremonth High School. Encontramos uma Evangeline extremamente irritada e emburrada de pé no meio fio, Clay parou o carro ao lado dela, destravando as portas. Eva entrou no carro ainda emburrada, cruzando os braços e nos fulminando com o olhar. — Desculpa, Eva — Clay falou com voz manhosa, fazendo minha irmã revirar os olhos, mas eu sabia que ela já estava com o coração amolecido. Clay olhou para mim e deu um risinho de canto discreto, ligando o carro novamente e acelerando, seguindo o trajeto para minha casa, onde provavelmente jantaríamos juntos, de novo. Qualquer um poderia enxergar a queda que Evangeline tinha por Clay, queda esta que hoje em dia mais parecia um abismo, e perdurava desde seus treze anos de idade. Hoje, com quinze anos, Eva ainda não tinha coragem de declarar seus sentimentos. Eu não a culpava por isso, Clay tinha dezessete anos e era meu melhor amigo, praticamente a viu crescer e eu não sabia bem se havia reciprocidade.O caminho até minha casa foi completamente silencioso.Clay estava com os olhos na estrada, ele odiava ser incomodado enquanto dirigia, tinha muito medo de perder a atenção e acabar provocando um acidente. Eva estava com seus fones de ouvido, cantarolando uma música qualquer e eu estava em um estado meio adormecido. Quando finalmente estacionamos na frente da minha casa, tomei coragem para me levantar, pegando minha bolsa e saindo do carro. Arrastei-me para dentro, largando minha mochila na sala mesmo e, olhando para os lados, chamei por minha mãe algumas vezes, constatando que a casa estava vazia. Caminhei até a cozinha e encontrei a mesa posta com alguns lanches, os pratos categoricamente embalados e dispostos no centro, como só dona Victória fazia. Encontrei um pequeno bilhete colado no plástico filme que embalava alguns sanduíches naturais.“Precisei sair urgentemente, tenho uma palestra de última hora para esta tarde e provavelmente chegarei só depois das nove. Comam direito e nã
Acordei como todos os dias.Eva batia na porta do meu quarto insistentemente. Para que comprar um despertador se eu tinha uma irmã tão pontual? Não havia necessidade nenhuma. Respirei pesadamente e me virei, observando meu melhor amigo que dormia pesadamente ao meu lado na cama, enquanto babava em um dos meus travesseiros. Me apoiei em um dos cotovelos e o cutuquei com a mão livre, empurrando seu rosto.— Clay Acorda! — falei, alto o suficiente para fazê-lo resmungar. — Acorda, vamos nos atrasar!O empurrei com mais força, jogando-o para a ponta da grande cama e, quando o moreno tentou se erguer, perdeu o equilíbrio, caindo com um baque surdo. Ouvi alguns xingamentos antes de vê-lo se levantar e me encarar com uma expressão nada amigável.— Você é uma estraga prazeres Aura! — falou, passando a destra nos cabelos e bocejando em seguida, coçando os olhos antes de caminhar até o armário. — Não podia me acordar de forma mais delicada? Clay não me deu tempo para responder, pegou a toalh
DANTEAcordei com o irritante toque do meu celular. Sabia que não deveria ter saído e nem me lembrava direito da hora que havia chegado em casa. Provavelmente tia Tabatha havia me dado um belo e longo sermão sobre bebidas. Porém, eu não podia vir para Dakota e não falar para meus antigos amigos, nem festejar um pouco minha chegada nada desejada ou planejada.É claro que eu não imaginei que meus avós me jogariam realmente para tia Tabatha. Apesar das ameaças, eu fui o famoso Tomé, precisei ver para crer e aqui estava eu, sendo obrigado a acordar cedo, muito mais cedo que um aluno comum. Massageei minhas têmporas e me ergui, desligando o alarme do celular. Milagrosamente Amberthy não havia invadido meu quarto e me cobrindo de reclamações por encher o saco da sua querida mãe, já que minha prima sentia prazer em tentar fazer com que eu me sentisse mal por atrapalhar os planos da minha tia. Tomei um banho rápido e desci as escadas, chegando à cozinha e observando minha tia, que já estava
— Infelizmente — falou ela. Sua voz era melodiosa e me causou um estranho arrepio na nuca. — Vem comigo e tira esse sorrisinho da cara antes que eu te deixe plantado aqui.Ela me surpreendeu mais uma vez, quem diria que uma garota tão sorridente teria uma língua tão afiada? Caminhei ao lado dela enquanto seguíamos pelo grande corredor. A garota parecia um pouco aérea em sua tarefa e por um momento eu achei que ela tinha esquecido que estava me ajudando a encontrar meu armário. Tive a certeza que ela se distraiu por alguns instantes quando me encarou, piscando repetidas vezes e fazendo um bico discreto.— Qual seu nome? — perguntou em seguida, me fazendo sorrir novamente, vendo suas sobrancelhas se unirem, provavelmente imaginando que eu estava pensando besteira, e talvez eu estivesse mesmo. — Para encontrarmos seu armário — se justificou rapidamente. — Dante — respondi após alguns instantes, sorrindo levemente e recebendo um novo olhar irritado, acompanhado por passos rápidos.A gar
— Bem, a diretora me mandou falar com você, ela disse que veio com ótimas recomendações da sua antiga escola — falou ele, sem muita enrolação. Clay parecia tão retraído e desconfiado quanto eu. — Por isso, se quiser, estamos indo fazer um treino básico agora, pode fazer um teste, quem sabe entrar no time se tiver interesse.— Não me parece uma má ideia, eu acho.Clay não disse mais nada, ele só começou a caminhar para fora da sala e eu o segui em silêncio. Depois de passarmos por alguns corredores, finalmente chegamos a uma quadra interna. O local era grande, havia enormes arquibancadas e a estrutura era ótima para qualquer um que almejasse jogar algumas partidas ou um campeonato. Depois de me trocar e da chegada de mais seis garotos, Clay explicou como o treino funcionaria e me apresentou aos demais jogadores.Após dividir o time em duas equipes pequenas, o jogo começou. Apesar de ser um jogo de aquecimento ou, como o capitão havia dito, um treino leve, todos pareciam bastante compet
AURORA— Será que podemos estudar? — perguntou Emily, pela terceira vez. — Temos prova na segunda pessoal, se fosse para ficar de bobeira eu tinha ficado em casa. Eu entendia a irritação dela. Emily era, sem dúvidas, a maior CDF da turma de literatura e, para seu terror, a última coisa que queríamos fazer era estudar. Enquanto ela tentava nos convencer, Megan, Clay e eu estávamos perambulando pela cozinha. Megan estava ajoelhada de frente para o forno esperando pacientemente os cookies terminarem de assar, Clay decidia qual filme veríamos, e eu terminava de preparar nosso chocolate quente, afinal, a tarde estava um pouco fria.— Vocês são impossíveis! — Reclamou Emily, suspirando e passando as mãos nos seus cabelos escuros, que eram bem curtos e ondulados. — Nem sei por que acreditei que iríamos mesmo estudar dessa vez.— Cadê a Evangeline, Rora? — perguntou Megan, tirando a forma do forno e a colocando cuidadosamente no balcão de mármore.— Ela saiu com um amigo, não me lembro o nom
AURORALevando em conta o lado lógico da coisa, eu deveria ter tirado uma péssima nota na prova de biologia. Porém, graças ao ótimo sistema de ensino do Saint 's Louis, eu estava bastante contente com meu B +. O fim de semana foi agradável, depois da tarde de sábado regada a filmes de comédia romântica e bastante besteiras, tudo o que fiz foi dormir bastante e estudar um pouquinho para a prova na noite de domingo. Clay havia passado o domingo na casa da avó e eu acabei privada de sua maravilhosa companhia até a segunda pela manhã, quando ele foi me buscar em casa para irmos à escola. Tudo estava calmo demais, principalmente se eu levasse em conta que o baile estava próximo demais e a organização não estava nem um pouco organizada. Não havia nada oficialmente decidido e a única coisa que era de consenso era que o tema seria “Festa a fantasia”. Um pouco infantil? Talvez, mas vai ser bem divertido. Todos ainda estavam meio distraídos. As meninas ainda estavam “animadas” com a chegad
AURORA— Chegamos! — A voz de Clay ecoou por todo o ginásio e eu sabia que ele não estava sozinho.— Até que enfim! Meninas, mandem os meninos cuidarem das caixas com as estátuas e dos móveis, mostrem onde eles devem colocar cada coisa. — Falei, descendo da escada e tirando a caneta dos cabelos, o que fez com que os fios castanhos se soltassem do coque mal feito. — Ah! Acendam as luzes do túnel? Preciso ir verificar algumas coisas e colocar esses enfeites por lá.Dito isto peguei a caixa mediana e segui para o túnel escuro, era uma estrutura de papelão e malha preta. Por dentro haviam imitações de teia de aranha, pisca-pisca por todo lado e alguns retalhos de papel coloridos pelo chão. Quando eu cheguei o local ainda estava escuro, coloquei a caixa no chão e peguei meu celular, mandando uma mensagem para Tawny, lembrando das luzes.Estava segurando uma caixa com alguns morcegos, chaves envelhecidas com asinhas, bem parecidas com aquelas que aparecem em Harry Potter, e uma placa de Boa