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Capítulo 2 - parte 4

Acordei como todos os dias.

Eva batia na porta do meu quarto insistentemente. Para que comprar um despertador se eu tinha uma irmã tão pontual? Não havia necessidade nenhuma. Respirei pesadamente e me virei, observando meu melhor amigo que dormia pesadamente ao meu lado na cama, enquanto babava em um dos meus travesseiros. Me apoiei em um dos cotovelos e o cutuquei com a mão livre, empurrando seu rosto.

— Clay Acorda! — falei, alto o suficiente para fazê-lo resmungar. — Acorda, vamos nos atrasar!

O empurrei com mais força, jogando-o para a ponta da grande cama e, quando o moreno tentou se erguer, perdeu o equilíbrio, caindo com um baque surdo. Ouvi alguns xingamentos antes de vê-lo se levantar e me encarar com uma expressão nada amigável.

— Você é uma estraga prazeres Aura! — falou, passando a destra nos cabelos e bocejando em seguida, coçando os olhos antes de caminhar até o armário. — Não podia me acordar de forma mais delicada?

Clay não me deu tempo para responder, pegou a toalha e algumas roupas, se trancando no banheiro e ficando no local por pelo menos quinze minutos. Quando saiu, estava mais apresentável, os fios castanhos estavam úmidos e, apesar de mais arrumado, ainda estava com o rosto sonolento.

— Anda logo ou sua irmã vai nos matar — resmungou, saindo do quarto e me deixando ali, ainda deitada e sem a menor vontade de me levantar.

Que o dia comece.

Não demorou para que estivéssemos novamente reunidos na mesa do café, eu ainda estava sonolenta, mas isso logo mudou após um café quente e forte. Minutos depois estávamos a caminho da escola, Eva estava quieta hoje, estranhamente quieta, mas eu não percebi isso até que ela saiu sem se despedir. Minha irmã entrou na escola sem sequer falar com as colegas que a esperavam na porta, mas neste momento já era tarde, teria que esperar para descobrir o que estava acontecendo com ela quando viesse buscá-la.

Quando chegamos a escola, Clay foi levado para longe de mim novamente e eu segui o mais rápido que consegui para dentro do prédio de salas, passando pela mesma rotina matinal. Porém, havia algo diferente hoje. As garotas estavam divididas em grupinhos, cochichos e sorrisinhos estavam por todo lado e, quando pisei os pés no corredor dos armários, as meninas me encararam por alguns instantes antes de desfazerem suas rodinhas e correrem para meu armário. Elas pareciam animadas. Animadas demais.

— Você já o viu, Rora? — perguntou uma das meninas, não me recordava de seu nome.

— Ele é tão lindo — falaram três, em um coro digno do grupo de música da escola.

— Eu não faço ideia do que estão falando meninas. — Admito que estava me divertindo com aquele alvoroço todo, não sabia quem havia provocado toda aquela agitação, ainda mais tão perto assim do baile. — Não me digam que estamos recebendo a visita do Ian Somerhalder e eu não fiquei sabendo!

A maior parte das meninas estava sorrindo, era bom ter um momento tão descontraído aquela manhã. Porém, lentamente, os sorrisos foram morrendo e dando lugar a expressões bobas, até que Julliet, uma das cheerleaders cutucou meu ombro, apontando para minhas costas. Me virei lentamente e entendi as expressões que estava julgando instantes atrás.

Meus olhos estavam grudados em uma réplica perfeita e adolescente de Eros, deus grego da paixão, ao menos era assim que eu o imaginava. Os olhos castanhos que chegavam a um tom de mel, lábios bem desenhados e cheios esbanjando um sorriso banhado por malícia, uma pele clara, levemente bronzeada e cabelos negros.

O desconhecido olhava para o grupo de garotas como se fossem uma grande e divertida piada.

— Bom dia, meninas, alguém pode me ajudar a encontrar meu armário? — perguntou ele, seus olhos percorrendo os rostos de todas, um por um, e seu tom demonstrava que ele sabia bem o efeito que causava.

Senti um leve empurrão em minhas costas, que foi o suficiente para me jogar alguns passos para frente e me fazer quase cair nos braços do garoto. Eu me senti na quinta série.

— Temos uma voluntária? — perguntou o Eros adolescente, com um ar zombeteiro.

Naquele momento a beleza dele não me importou muito, o baque de encontrá-lo passou e eu logo percebi que ele me lembrava alguém, uma pessoa que eu lutava para esquecer todos os dias. Por isso, automaticamente minha expressão se fechou e eu uni as sobrancelhas, suspirando pesadamente.

— Infelizmente — murmurei, o fazendo erguer ambas as sobrancelhas, parecendo surpreso com minha reação. — Vem e, por favor, tira esse sorrisinho da cara antes que eu te deixe plantado aqui.

Os armários eram organizados por ordem alfabética. No térreo ficavam os armários do A ao F e os demais no andar de cima. Ouvia os passos dele acompanhando os meus, mas não o olhei, apesar de irritante, ele ainda era muito bonito.

— Qual seu nome? — perguntei, voltando meus olhos para ele, que estava com a mesma expressão irritantemente bonita de quem estava zombando da minha cara. — Para acharmos seu armário.

— Dante.

Era estranho como nomes tinham poder. Dante era um nome forte, poderoso e parecia extremamente sexy saindo dos lábios carnudos. Me lembrou do livro “O inferno de Dante”, aquele garoto com certeza poderia fazer um inferno na vida de alguém com aquele sorriso.

— Ótimo. — Mudei de direção e, chegando a um corredor perto das escadas que levavam para o andar de cima, olhei para as delicadas placas metálicas que ficavam sob os armários.

Essas placas indicavam a quem pertenciam os armários, portanto não foi difícil encontrar o dele. Na verdade, ele poderia fazer isso sozinho, provavelmente só pediu ajuda para causar mais inquietação. Agradeci mentalmente por finalizar a tarefa, que praticamente havia sido imposta para mim.

Parei de frente para o armário e o olhei uma vez mais, indicando a placa e dando um breve sorriso, sem muito humor.

— Aqui está. — Apontei para o armário, pronta para dar as costas e seguir para minha sala, mas antes que eu me afastasse o suficiente, senti dedos quentes e firmes se agarrarem ao meu braço, me fazendo unir as sobrancelhas, confusa com a aproximação repentina. — O que você…

— Não acha injusto sair sem se apresentar? Onde está a receptividade que tanto falam dos cidadãos do estado de Minnesota? — Seu tom era um pouco sarcástico e ele parecia se divertir com minha expressão de confusão. — Qual seu nome?

— Aurora — falei, após alguns segundos digerindo aquela situação estranha.

Então, sem esperar por uma resposta, puxei meu braço e virei as costas, caminhando em direção ao meu próprio armário.

Eu, definitivamente, ficaria bem longe desse tal de Dante.

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