DANTEEstava nos jardins dos fundos da escola, dando uma última olhada em tudo que ia deixar para trás daqui a algumas horas, e apesar de tentar, meus pensamentos nunca paravam de vaguear até os olhos castanho e o sorriso fácil de Aurora, e era nessas horas que eu tentava ao máximo não voltar atrás, não me jogar aos pés dela e pedir perdão, um perdão que eu não merecia.Senti as gotas de chuva começarem a cair e suspirei, dando as costas, procurando voltar para dentro para pegar minhas coisas, não podia mais ficar por ali. Então, uma voz ecoou em meio ao barulho da chuva. Ouvi a voz dela me fez estremecer, só de vê-la, todo meu corpo pesou com a culpa infeliz que carregava nas costas.Vamos lá, Dante, ela é só uma garota. Mas eu sabia muito bem que Aurora não era "só uma garota" e por isso eu estava fazendo isso, ela não merecia estar com alguém como eu, Aurora merecia muito mais do que eu podia lhe dar e eu tinha plena consciência disso.— Me diz — ela gritou assim que me alcanço
DANTE Os dias passaram rápido, mais rápido do que eu imaginei que seriam, porém, mais vazios do que eu achei que poderia suportar. Já faziam quase dois meses desde que parti, desde que deixei tudo para trás, desde que deixei Aurora para trás, e não me arrependo nem um segundo sequer. Eu sinto sua falta, porém sei que mais cedo ou mais tarde ela irá me esquecer, e vai viver sua vida com alguém melhor que eu, ao menos eu espero isso. Precisei de alguns dias para convencer Tabatha a me deixar ir, ela sabia que algo havia acontecido e tentou de todas as formas tirar a verdade de mim, mas insistir em dizer que apenas precisava voltar para a casa do meu tio por parte de pai, onde morei a maior parte do tempo desde que meus pais se foram. Inventei a desculpa de que a cidade lembrava muito minha mãe e que não estava me fazendo bem, então, depois de deixar bem claro que a casa dela estaria sempre de portas abertas para mim, me comprou uma passagem e me embarcou. Deixei minha moto na casa de
— Aurora! — A voz de Evangeline, que agora me parecia extremamente irritante, me obrigou a abrir os olhos. — Aurora, acorda! — Ela chamou novamente, batendo insistentemente na porta do meu quarto, me fazendo cobrir a cabeça com a grossa coberta e afundar meu rosto nos travesseiros.Evangeline era minha irmã mais nova e, apesar da sua idade, costumava ser muito madura. Na maioria das vezes, era madura demais. Tinha somente quinze anos, porém, às vezes, parecia que ela era a mais velha e eu a adolescente.— Você vai se atrasar. — Ouvi um suspiro do lado de fora, provavelmente ela estaria passando as mãos nos cabelos agora, irritada com a minha demora. — Não vou te chamar mais. — O som de seus passos foi ficando cada vez mais distante, até que tudo ficou silencioso novamente, então me levantei. Esse era o nosso ritual matinal, ela vinha me acordar todos os dias, eu me recusava a levantar, ela ia embora e só então eu me levantava. Saí de baixo dos cobertores a contragosto, o clima estava
Meu pai abaixou o jornal, sorrindo para mim e voltando a ler. Ele nunca foi um homem de muitas palavras, o senhor Becker expressava as coisas da forma dele. Normalmente era bem quieto, talvez fosse culpa de sua profissão, ele escutava tanto as pessoas, que talvez isso tenha o deixado muito introvertido. Assim como minha mãe, ele era conhecido e renomado, mas como psicólogo. Os dois eram o casal perfeito e costumavam trabalhar juntos, haviam até lançado um livro há algum tempo. Costumavam fazer longas viagens durante o ano, então, momentos como esses não eram tão comuns. — Achei que ia casar, gracinha. — Olhei para o fogão e vi Clay com um pedaço de pão a caminho da boca e um sorriso despojado.Ele era meu melhor amigo, todos os dias vinha me buscar em casa para irmos para escola e sempre chegava mais cedo para tomar café com minha família. Sentia como se o conhecesse desde sempre, porém, não era bem assim. Nos conhecemos quando eu tinha nove anos e ele oito, Clay foi se consultar com
— Diferente de você, Aurora, seu amigo é pontual — provocou Eva, rindo enquanto terminava seu café. — Agora anda, não quero me atrasar por sua causa, de novo. — Ela revirou os olhos para mim, ajeitando a mochila sobre os ombros.— Calada, praga — falei para minha irmã, rindo em seguida e recebendo um olhar de reprovação da minha mãe. — É só um apelido carinhoso mamãe — disse, observando dona Victoria unir as sobrancelhas e me encarar com desconfiança por alguns instantes.Evangeline sempre ia conosco para a escola e normalmente, ela se atrasava por isso. Eu nunca fui uma pessoa muito pontual. Ela odiava minha falta de talento e vontade de seguir os horários, mas como tinha uma “quedinha” pelo Clay desde que começou a se interessar por garotos, o que não tinha muito tempo, valia o esforço e o estresse.— Sua irmã tem razão — Clay falou, tomando seu último gole de suco e ajeitando sua mochila nos ombros, enquanto eu bebia sem pressa uma xícara de café. — Precisamos ir.— Que foi beija-f
AURORAAs garotas falavam todas juntas, e eu não entendia nem dez por cento do que elas queriam realmente dizer. Clay me olhava e ria da minha desgraça, mas logo fez uma careta ao ser arrastado por um grupo de garotos. Os meninos me deram um bom dia em um coro meio desorganizado e levaram meu amigo para longe. Voltei a prestar atenção nas garotas, olhando-as enquanto conversavam, falando algo sobre alunos novos, festas e sobre os acontecimentos do fim de semana. Seguimos pelos corredores e, enquanto eu caminhava em direção ao meu armário, o grupo de meninas tagarelava sobre o baile e sobre como estavam ansiosas para o evento. Claro que aquele assunto renderia conversas para toda a manhã, por sorte, logo o sinal tocaria e todas nós precisaríamos ir para nossas respectivas salas, o que era um grande alívio no momento.— Aurora! — Ouvi uma voz bem conhecida me chamar, me virei para poder olhá-la e, como sempre, ela estava completamente exagerada.Quem usa um salto tão fino às oito da ma
Sharon e Dillam eram o típico casal de status. De longe percebia-se que o relacionamento deles era tóxico, para ambos, na verdade. Poucos sabiam, mas Sharon abdicava de muitas coisas para estar ao lado de seu capitão e manter sua posição social na hierarquia escolar do Saint’s Paul. Eu só não entendia o porquê disso tudo, afinal, em breve o colegial não vai passar de uma mera lembrança divertida ou traumática. — Claro — falei, forçando um sorriso. — Resolveremos tudo antes da sua festa. — Tinha vontade de correr, minha primeira aula logo começaria e minhas conversas com Sharon nunca eram as mais saudáveis. — Tenho que ir agora — falei para a garota, tentando não soar rude demais ou muito apressada.— Até mais, querida — ela disse, beijando minhas bochechas novamente, se afastando e seguindo para um grupo de garotas que vinha logo atrás de mim. — Merda! — resmunguei ao olhar no meu relógio e perceber que estava quase dez minutos atrasada.Corri até meu armário jogando minhas coisas
O caminho até minha casa foi completamente silencioso.Clay estava com os olhos na estrada, ele odiava ser incomodado enquanto dirigia, tinha muito medo de perder a atenção e acabar provocando um acidente. Eva estava com seus fones de ouvido, cantarolando uma música qualquer e eu estava em um estado meio adormecido. Quando finalmente estacionamos na frente da minha casa, tomei coragem para me levantar, pegando minha bolsa e saindo do carro. Arrastei-me para dentro, largando minha mochila na sala mesmo e, olhando para os lados, chamei por minha mãe algumas vezes, constatando que a casa estava vazia. Caminhei até a cozinha e encontrei a mesa posta com alguns lanches, os pratos categoricamente embalados e dispostos no centro, como só dona Victória fazia. Encontrei um pequeno bilhete colado no plástico filme que embalava alguns sanduíches naturais.“Precisei sair urgentemente, tenho uma palestra de última hora para esta tarde e provavelmente chegarei só depois das nove. Comam direito e nã