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Capítulo 1 - parte 3

— Diferente de você, Aurora, seu amigo é pontual — provocou Eva, rindo enquanto terminava seu café. — Agora anda, não quero me atrasar por sua causa, de novo. — Ela revirou os olhos para mim, ajeitando a mochila sobre os ombros.

— Calada, praga — falei para minha irmã, rindo em seguida e recebendo um olhar de reprovação da minha mãe. — É só um apelido carinhoso mamãe — disse, observando dona Victoria unir as sobrancelhas e me encarar com desconfiança por alguns instantes.

Evangeline sempre ia conosco para a escola e normalmente, ela se atrasava por isso. Eu nunca fui uma pessoa muito pontual. Ela odiava minha falta de talento e vontade de seguir os horários, mas como tinha uma “quedinha” pelo Clay desde que começou a se interessar por garotos, o que não tinha muito tempo, valia o esforço e o estresse.

— Sua irmã tem razão — Clay falou, tomando seu último gole de suco e ajeitando sua mochila nos ombros, enquanto eu bebia sem pressa uma xícara de café. — Precisamos ir.

— Que foi beija-flor? — Perguntei, deixando a xícara de lado na mesa. — A Dayanne te mandou uma mensagem logo de manhã, foi? — indaguei, rindo levemente e erguendo uma das sobrancelhas, Clay fez uma careta e eu aproveitei o momento para terminar meu café.

Dayanne era perdidamente apaixonada pelo Clay, porém ela era completamente indiscreta e deixava-o constrangido constantemente. Eles dois tiveram um pequeno envolvimento no começo do ensino médio, Clay deu seu primeiro beijo com ela, mas Day infelizmente não entendeu quando ele disse que não queria um relacionamento, então o sufocava na maior parte do tempo.

— Acha mesmo que, se eu tivesse visto a Day, eu estaria com todo esse bom humor? — ele perguntou.

— Ela realmente não te larga — falei, pegando meu celular e olhando para Eva, que estava um pouco emburrada.

— Já para o meu carro, quero esse seu traseiro no banco do jipe agora mesmo. — Clay me puxou da cadeira pelos ombros e começou a me empurrar para fora.

A cena fez meus pais rirem, pude escutá-los enquanto era arrastada para fora. Ambos já estavam acostumados com nossa rotina matinal, que consistia naquele mesmo ritual todos os dias.

Eva se levantou também, murmurando um “até que enfim” meio mal-humorado e nos seguindo para fora.

— Tenham um bom dia, crianças — minha mãe gritou da cozinha, enquanto Clay me empurrava para dentro do seu Jeep verde musgo.

— Obrigado, mãe — gritamos os três em uníssono.

— Vamos chegar atrasados de novo — Clay reclamou, ligando o carro.

Levantei a manga do moletom e olhei as horas no relógio de pulso.

— Não vamos, não, ainda temos vinte minutos — falei, pondo o cinto de segurança.

Então Eva me encarou, erguendo as sobrancelhas.

— Correção, vocês têm dez minutos. Ainda tem que me deixar na escola — disse a loira, arrumando seus cabelos antes de pôr o cinto.

— Isso, com certeza, não é o suficiente — murmurou Clay, dando a partida e ligando o som do carro.

Demi Lovato encheu o ambiente e me fez acordar um pouco mais, afinal, era impossível não cantar e dançar ao som de Confident. O caminho até a escola de Eva foi muito mais rápido que o normal, estávamos com pressa e Clay ultrapassou alguns sinais vermelhos no percurso. Quando a deixamos, saímos ainda mais apressados e não levou mais que dez minutos para eu avistar o estacionamento, lotado de alunos, ao longe.

— Pronta para mais um dia de estudos, ou melhor, de trabalho, conselheira? — Perguntou meu amigo, enquanto entrava no estacionamento.

Eu respirei fundo e ajeitei a mochila no ombro esquerdo, fechando os olhos por alguns instantes e só os abrindo quando o carro parou, estacionado na vaga de sempre.

— Tenho que estar, não é? Sabe que a sociedade escolar não funciona sem mim! — respondi com um sorriso, saindo do carro.

Assim que saímos, um grupo de garotas sorridentes e animadas se aproximaram de nós dois, dando um bom dia animado, que não combinava muito com meu estado de espírito. Elas falavam alto demais, me perguntavam coisas que eu não conseguia entender e criavam uma grande confusão de vozes que fazia minha cabeça girar.

— Acalmem-se meninas! Acabei de acordar, falem uma de cada vez ou não conseguirei ouvir ninguém. — O silêncio se fez, mas somente por alguns instantes, então logo o falatório se iniciou novamente.

É isso, meu dia finalmente começou.

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