— Diferente de você, Aurora, seu amigo é pontual — provocou Eva, rindo enquanto terminava seu café. — Agora anda, não quero me atrasar por sua causa, de novo. — Ela revirou os olhos para mim, ajeitando a mochila sobre os ombros.
— Calada, praga — falei para minha irmã, rindo em seguida e recebendo um olhar de reprovação da minha mãe. — É só um apelido carinhoso mamãe — disse, observando dona Victoria unir as sobrancelhas e me encarar com desconfiança por alguns instantes. Evangeline sempre ia conosco para a escola e normalmente, ela se atrasava por isso. Eu nunca fui uma pessoa muito pontual. Ela odiava minha falta de talento e vontade de seguir os horários, mas como tinha uma “quedinha” pelo Clay desde que começou a se interessar por garotos, o que não tinha muito tempo, valia o esforço e o estresse. — Sua irmã tem razão — Clay falou, tomando seu último gole de suco e ajeitando sua mochila nos ombros, enquanto eu bebia sem pressa uma xícara de café. — Precisamos ir. — Que foi beija-flor? — Perguntei, deixando a xícara de lado na mesa. — A Dayanne te mandou uma mensagem logo de manhã, foi? — indaguei, rindo levemente e erguendo uma das sobrancelhas, Clay fez uma careta e eu aproveitei o momento para terminar meu café. Dayanne era perdidamente apaixonada pelo Clay, porém ela era completamente indiscreta e deixava-o constrangido constantemente. Eles dois tiveram um pequeno envolvimento no começo do ensino médio, Clay deu seu primeiro beijo com ela, mas Day infelizmente não entendeu quando ele disse que não queria um relacionamento, então o sufocava na maior parte do tempo. — Acha mesmo que, se eu tivesse visto a Day, eu estaria com todo esse bom humor? — ele perguntou. — Ela realmente não te larga — falei, pegando meu celular e olhando para Eva, que estava um pouco emburrada. — Já para o meu carro, quero esse seu traseiro no banco do jipe agora mesmo. — Clay me puxou da cadeira pelos ombros e começou a me empurrar para fora. A cena fez meus pais rirem, pude escutá-los enquanto era arrastada para fora. Ambos já estavam acostumados com nossa rotina matinal, que consistia naquele mesmo ritual todos os dias. Eva se levantou também, murmurando um “até que enfim” meio mal-humorado e nos seguindo para fora. — Tenham um bom dia, crianças — minha mãe gritou da cozinha, enquanto Clay me empurrava para dentro do seu Jeep verde musgo. — Obrigado, mãe — gritamos os três em uníssono. — Vamos chegar atrasados de novo — Clay reclamou, ligando o carro. Levantei a manga do moletom e olhei as horas no relógio de pulso. — Não vamos, não, ainda temos vinte minutos — falei, pondo o cinto de segurança. Então Eva me encarou, erguendo as sobrancelhas. — Correção, vocês têm dez minutos. Ainda tem que me deixar na escola — disse a loira, arrumando seus cabelos antes de pôr o cinto. — Isso, com certeza, não é o suficiente — murmurou Clay, dando a partida e ligando o som do carro. Demi Lovato encheu o ambiente e me fez acordar um pouco mais, afinal, era impossível não cantar e dançar ao som de Confident. O caminho até a escola de Eva foi muito mais rápido que o normal, estávamos com pressa e Clay ultrapassou alguns sinais vermelhos no percurso. Quando a deixamos, saímos ainda mais apressados e não levou mais que dez minutos para eu avistar o estacionamento, lotado de alunos, ao longe. — Pronta para mais um dia de estudos, ou melhor, de trabalho, conselheira? — Perguntou meu amigo, enquanto entrava no estacionamento. Eu respirei fundo e ajeitei a mochila no ombro esquerdo, fechando os olhos por alguns instantes e só os abrindo quando o carro parou, estacionado na vaga de sempre. — Tenho que estar, não é? Sabe que a sociedade escolar não funciona sem mim! — respondi com um sorriso, saindo do carro. Assim que saímos, um grupo de garotas sorridentes e animadas se aproximaram de nós dois, dando um bom dia animado, que não combinava muito com meu estado de espírito. Elas falavam alto demais, me perguntavam coisas que eu não conseguia entender e criavam uma grande confusão de vozes que fazia minha cabeça girar. — Acalmem-se meninas! Acabei de acordar, falem uma de cada vez ou não conseguirei ouvir ninguém. — O silêncio se fez, mas somente por alguns instantes, então logo o falatório se iniciou novamente. É isso, meu dia finalmente começou.AURORAAs garotas falavam todas juntas, e eu não entendia nem dez por cento do que elas queriam realmente dizer. Clay me olhava e ria da minha desgraça, mas logo fez uma careta ao ser arrastado por um grupo de garotos. Os meninos me deram um bom dia em um coro meio desorganizado e levaram meu amigo para longe. Voltei a prestar atenção nas garotas, olhando-as enquanto conversavam, falando algo sobre alunos novos, festas e sobre os acontecimentos do fim de semana. Seguimos pelos corredores e, enquanto eu caminhava em direção ao meu armário, o grupo de meninas tagarelava sobre o baile e sobre como estavam ansiosas para o evento. Claro que aquele assunto renderia conversas para toda a manhã, por sorte, logo o sinal tocaria e todas nós precisaríamos ir para nossas respectivas salas, o que era um grande alívio no momento.— Aurora! — Ouvi uma voz bem conhecida me chamar, me virei para poder olhá-la e, como sempre, ela estava completamente exagerada.Quem usa um salto tão fino às oito da ma
Sharon e Dillam eram o típico casal de status. De longe percebia-se que o relacionamento deles era tóxico, para ambos, na verdade. Poucos sabiam, mas Sharon abdicava de muitas coisas para estar ao lado de seu capitão e manter sua posição social na hierarquia escolar do Saint’s Paul. Eu só não entendia o porquê disso tudo, afinal, em breve o colegial não vai passar de uma mera lembrança divertida ou traumática. — Claro — falei, forçando um sorriso. — Resolveremos tudo antes da sua festa. — Tinha vontade de correr, minha primeira aula logo começaria e minhas conversas com Sharon nunca eram as mais saudáveis. — Tenho que ir agora — falei para a garota, tentando não soar rude demais ou muito apressada.— Até mais, querida — ela disse, beijando minhas bochechas novamente, se afastando e seguindo para um grupo de garotas que vinha logo atrás de mim. — Merda! — resmunguei ao olhar no meu relógio e perceber que estava quase dez minutos atrasada.Corri até meu armário jogando minhas coisas
O caminho até minha casa foi completamente silencioso.Clay estava com os olhos na estrada, ele odiava ser incomodado enquanto dirigia, tinha muito medo de perder a atenção e acabar provocando um acidente. Eva estava com seus fones de ouvido, cantarolando uma música qualquer e eu estava em um estado meio adormecido. Quando finalmente estacionamos na frente da minha casa, tomei coragem para me levantar, pegando minha bolsa e saindo do carro. Arrastei-me para dentro, largando minha mochila na sala mesmo e, olhando para os lados, chamei por minha mãe algumas vezes, constatando que a casa estava vazia. Caminhei até a cozinha e encontrei a mesa posta com alguns lanches, os pratos categoricamente embalados e dispostos no centro, como só dona Victória fazia. Encontrei um pequeno bilhete colado no plástico filme que embalava alguns sanduíches naturais.“Precisei sair urgentemente, tenho uma palestra de última hora para esta tarde e provavelmente chegarei só depois das nove. Comam direito e nã
Acordei como todos os dias.Eva batia na porta do meu quarto insistentemente. Para que comprar um despertador se eu tinha uma irmã tão pontual? Não havia necessidade nenhuma. Respirei pesadamente e me virei, observando meu melhor amigo que dormia pesadamente ao meu lado na cama, enquanto babava em um dos meus travesseiros. Me apoiei em um dos cotovelos e o cutuquei com a mão livre, empurrando seu rosto.— Clay Acorda! — falei, alto o suficiente para fazê-lo resmungar. — Acorda, vamos nos atrasar!O empurrei com mais força, jogando-o para a ponta da grande cama e, quando o moreno tentou se erguer, perdeu o equilíbrio, caindo com um baque surdo. Ouvi alguns xingamentos antes de vê-lo se levantar e me encarar com uma expressão nada amigável.— Você é uma estraga prazeres Aura! — falou, passando a destra nos cabelos e bocejando em seguida, coçando os olhos antes de caminhar até o armário. — Não podia me acordar de forma mais delicada? Clay não me deu tempo para responder, pegou a toalh
DANTEAcordei com o irritante toque do meu celular. Sabia que não deveria ter saído e nem me lembrava direito da hora que havia chegado em casa. Provavelmente tia Tabatha havia me dado um belo e longo sermão sobre bebidas. Porém, eu não podia vir para Dakota e não falar para meus antigos amigos, nem festejar um pouco minha chegada nada desejada ou planejada.É claro que eu não imaginei que meus avós me jogariam realmente para tia Tabatha. Apesar das ameaças, eu fui o famoso Tomé, precisei ver para crer e aqui estava eu, sendo obrigado a acordar cedo, muito mais cedo que um aluno comum. Massageei minhas têmporas e me ergui, desligando o alarme do celular. Milagrosamente Amberthy não havia invadido meu quarto e me cobrindo de reclamações por encher o saco da sua querida mãe, já que minha prima sentia prazer em tentar fazer com que eu me sentisse mal por atrapalhar os planos da minha tia. Tomei um banho rápido e desci as escadas, chegando à cozinha e observando minha tia, que já estava
— Infelizmente — falou ela. Sua voz era melodiosa e me causou um estranho arrepio na nuca. — Vem comigo e tira esse sorrisinho da cara antes que eu te deixe plantado aqui.Ela me surpreendeu mais uma vez, quem diria que uma garota tão sorridente teria uma língua tão afiada? Caminhei ao lado dela enquanto seguíamos pelo grande corredor. A garota parecia um pouco aérea em sua tarefa e por um momento eu achei que ela tinha esquecido que estava me ajudando a encontrar meu armário. Tive a certeza que ela se distraiu por alguns instantes quando me encarou, piscando repetidas vezes e fazendo um bico discreto.— Qual seu nome? — perguntou em seguida, me fazendo sorrir novamente, vendo suas sobrancelhas se unirem, provavelmente imaginando que eu estava pensando besteira, e talvez eu estivesse mesmo. — Para encontrarmos seu armário — se justificou rapidamente. — Dante — respondi após alguns instantes, sorrindo levemente e recebendo um novo olhar irritado, acompanhado por passos rápidos.A gar
— Bem, a diretora me mandou falar com você, ela disse que veio com ótimas recomendações da sua antiga escola — falou ele, sem muita enrolação. Clay parecia tão retraído e desconfiado quanto eu. — Por isso, se quiser, estamos indo fazer um treino básico agora, pode fazer um teste, quem sabe entrar no time se tiver interesse.— Não me parece uma má ideia, eu acho.Clay não disse mais nada, ele só começou a caminhar para fora da sala e eu o segui em silêncio. Depois de passarmos por alguns corredores, finalmente chegamos a uma quadra interna. O local era grande, havia enormes arquibancadas e a estrutura era ótima para qualquer um que almejasse jogar algumas partidas ou um campeonato. Depois de me trocar e da chegada de mais seis garotos, Clay explicou como o treino funcionaria e me apresentou aos demais jogadores.Após dividir o time em duas equipes pequenas, o jogo começou. Apesar de ser um jogo de aquecimento ou, como o capitão havia dito, um treino leve, todos pareciam bastante compet
AURORA— Será que podemos estudar? — perguntou Emily, pela terceira vez. — Temos prova na segunda pessoal, se fosse para ficar de bobeira eu tinha ficado em casa. Eu entendia a irritação dela. Emily era, sem dúvidas, a maior CDF da turma de literatura e, para seu terror, a última coisa que queríamos fazer era estudar. Enquanto ela tentava nos convencer, Megan, Clay e eu estávamos perambulando pela cozinha. Megan estava ajoelhada de frente para o forno esperando pacientemente os cookies terminarem de assar, Clay decidia qual filme veríamos, e eu terminava de preparar nosso chocolate quente, afinal, a tarde estava um pouco fria.— Vocês são impossíveis! — Reclamou Emily, suspirando e passando as mãos nos seus cabelos escuros, que eram bem curtos e ondulados. — Nem sei por que acreditei que iríamos mesmo estudar dessa vez.— Cadê a Evangeline, Rora? — perguntou Megan, tirando a forma do forno e a colocando cuidadosamente no balcão de mármore.— Ela saiu com um amigo, não me lembro o nom