O caminho até minha casa foi completamente silencioso.
Clay estava com os olhos na estrada, ele odiava ser incomodado enquanto dirigia, tinha muito medo de perder a atenção e acabar provocando um acidente. Eva estava com seus fones de ouvido, cantarolando uma música qualquer e eu estava em um estado meio adormecido. Quando finalmente estacionamos na frente da minha casa, tomei coragem para me levantar, pegando minha bolsa e saindo do carro. Arrastei-me para dentro, largando minha mochila na sala mesmo e, olhando para os lados, chamei por minha mãe algumas vezes, constatando que a casa estava vazia. Caminhei até a cozinha e encontrei a mesa posta com alguns lanches, os pratos categoricamente embalados e dispostos no centro, como só dona Victória fazia. Encontrei um pequeno bilhete colado no plástico filme que embalava alguns sanduíches naturais. “Precisei sair urgentemente, tenho uma palestra de última hora para esta tarde e provavelmente chegarei só depois das nove. Comam direito e não façam besteira. Mamãe.” Não sentia fome alguma, as segundas eram sempre péssimas para mim e eu sempre acabava cansada demais. Por isso, somente subi as escadas, segui para meu quarto, abrindo a porta e tirando minha camiseta, minha calça e pegando minha toalha, precisava de um bom banho antes de dormir um pouco. Não demorou muito e eu logo estava na cama, havia fechado todas as cortinas, o quarto estava frio e escurinho, o clima perfeito para hibernar um pouco. Alguns instantes antes de adormecer de vez, senti um peso ao meu lado na cama, abri só um pouquinho os olhos e vi Clay deitado ao meu lado, já com os olhos fechados. Os cabelos dele estavam meio úmidos e ele vestia somente uma bermuda cheia de desenhos de doces. Depois disso eu apaguei. Quando acordei já era noite, olhei para o relógio que estava sobre a mesinha ao lado da minha cama e vi que já passava das nove. As pernas de Clay estavam em cima de mim e ele babava, abraçado a um travesseiro, ressonando bem baixo. Levantei com cuidado, bocejando e esticando o corpo. Caminhei silenciosamente para fora do quarto, descendo as escadas e parando perto da porta dos fundos, vendo uma cena que com certeza merecia ser apreciada e que me fez sorrir. Meus pais dançavam juntos, bem próximos, olhando nos olhos um do outro e com largos sorrisos. Ambos se moviam com delicadeza e leveza, seus olhares transmitiam o mesmo amor que sempre vi em seus rostos. Eles sempre pareciam um casal de adolescentes apaixonados, só que com quarenta anos de diferença e bem mais bonitos. Mamãe e papai eram a prova viva de que o amor atravessava o tempo e as barreiras, se ambas as partes estivessem dispostas a lutar por isso. Eles não eram iguais, tinham pensamentos divergentes e manias que irritavam um ao outro constantemente, mas sempre estavam dispostos a melhorar e aprender, tanto por si mesmos, quanto pelo seu casamento e pelo amor que cultivavam todos os dias. Dona Victoria tinha 16 anos quando conheceu o senhor Paul. Segundo ela, não foi amor à primeira vista e sim algo que foi construído, pedra por pedra, se tornando um belo castelo, que vez ou outra precisava de reparos. Meu pai insistia em dizer que a amou desde o primeiro dia em que a viu. Ele sempre reclamava sobre como foi difícil atrair sua atenção, mas também fazia questão de repetir várias e várias vezes que todas as tentativas valeram a pena. Olhei novamente para o jardim, eles estavam no meio de um beijo, cheio de amor e carinho, mas também intenso e muito feroz. Fiz uma careta por alguns instantes e me afastei, fechando as cortinas e saindo dali na ponta dos pés. Vê-los tão apaixonados só me fez pensar em como eram maravilhosos, não só como pais, mas como pessoas. Lembro-me da primeira vez que disse que queria que meus pais me ensinassem a ajudar as pessoas como eles faziam, eu tinha somente oito anos. Meu pai caiu no choro e minha mãe abriu um grande sorriso, desde então ambos me ensinam a tentar compreender até as pessoas mais complicadas. Quando fiz quatorze anos comecei a visitar mais o trabalho da minha mãe, já que antes eu era muito nova para “aprender sobre as obscenidades que a senhora Victoria chamava de profissão”, como ela mesma dizia. Olhando para mim hoje percebo que sou a mistura perfeita de Victoria e Paul, aprendi a compreender as pessoas com meus pais e me orgulho muito disso. O amor deles me inspira todos os dias.Acordei como todos os dias.Eva batia na porta do meu quarto insistentemente. Para que comprar um despertador se eu tinha uma irmã tão pontual? Não havia necessidade nenhuma. Respirei pesadamente e me virei, observando meu melhor amigo que dormia pesadamente ao meu lado na cama, enquanto babava em um dos meus travesseiros. Me apoiei em um dos cotovelos e o cutuquei com a mão livre, empurrando seu rosto.— Clay Acorda! — falei, alto o suficiente para fazê-lo resmungar. — Acorda, vamos nos atrasar!O empurrei com mais força, jogando-o para a ponta da grande cama e, quando o moreno tentou se erguer, perdeu o equilíbrio, caindo com um baque surdo. Ouvi alguns xingamentos antes de vê-lo se levantar e me encarar com uma expressão nada amigável.— Você é uma estraga prazeres Aura! — falou, passando a destra nos cabelos e bocejando em seguida, coçando os olhos antes de caminhar até o armário. — Não podia me acordar de forma mais delicada? Clay não me deu tempo para responder, pegou a toalh
DANTEAcordei com o irritante toque do meu celular. Sabia que não deveria ter saído e nem me lembrava direito da hora que havia chegado em casa. Provavelmente tia Tabatha havia me dado um belo e longo sermão sobre bebidas. Porém, eu não podia vir para Dakota e não falar para meus antigos amigos, nem festejar um pouco minha chegada nada desejada ou planejada.É claro que eu não imaginei que meus avós me jogariam realmente para tia Tabatha. Apesar das ameaças, eu fui o famoso Tomé, precisei ver para crer e aqui estava eu, sendo obrigado a acordar cedo, muito mais cedo que um aluno comum. Massageei minhas têmporas e me ergui, desligando o alarme do celular. Milagrosamente Amberthy não havia invadido meu quarto e me cobrindo de reclamações por encher o saco da sua querida mãe, já que minha prima sentia prazer em tentar fazer com que eu me sentisse mal por atrapalhar os planos da minha tia. Tomei um banho rápido e desci as escadas, chegando à cozinha e observando minha tia, que já estava
— Infelizmente — falou ela. Sua voz era melodiosa e me causou um estranho arrepio na nuca. — Vem comigo e tira esse sorrisinho da cara antes que eu te deixe plantado aqui.Ela me surpreendeu mais uma vez, quem diria que uma garota tão sorridente teria uma língua tão afiada? Caminhei ao lado dela enquanto seguíamos pelo grande corredor. A garota parecia um pouco aérea em sua tarefa e por um momento eu achei que ela tinha esquecido que estava me ajudando a encontrar meu armário. Tive a certeza que ela se distraiu por alguns instantes quando me encarou, piscando repetidas vezes e fazendo um bico discreto.— Qual seu nome? — perguntou em seguida, me fazendo sorrir novamente, vendo suas sobrancelhas se unirem, provavelmente imaginando que eu estava pensando besteira, e talvez eu estivesse mesmo. — Para encontrarmos seu armário — se justificou rapidamente. — Dante — respondi após alguns instantes, sorrindo levemente e recebendo um novo olhar irritado, acompanhado por passos rápidos.A gar
— Bem, a diretora me mandou falar com você, ela disse que veio com ótimas recomendações da sua antiga escola — falou ele, sem muita enrolação. Clay parecia tão retraído e desconfiado quanto eu. — Por isso, se quiser, estamos indo fazer um treino básico agora, pode fazer um teste, quem sabe entrar no time se tiver interesse.— Não me parece uma má ideia, eu acho.Clay não disse mais nada, ele só começou a caminhar para fora da sala e eu o segui em silêncio. Depois de passarmos por alguns corredores, finalmente chegamos a uma quadra interna. O local era grande, havia enormes arquibancadas e a estrutura era ótima para qualquer um que almejasse jogar algumas partidas ou um campeonato. Depois de me trocar e da chegada de mais seis garotos, Clay explicou como o treino funcionaria e me apresentou aos demais jogadores.Após dividir o time em duas equipes pequenas, o jogo começou. Apesar de ser um jogo de aquecimento ou, como o capitão havia dito, um treino leve, todos pareciam bastante compet
AURORA— Será que podemos estudar? — perguntou Emily, pela terceira vez. — Temos prova na segunda pessoal, se fosse para ficar de bobeira eu tinha ficado em casa. Eu entendia a irritação dela. Emily era, sem dúvidas, a maior CDF da turma de literatura e, para seu terror, a última coisa que queríamos fazer era estudar. Enquanto ela tentava nos convencer, Megan, Clay e eu estávamos perambulando pela cozinha. Megan estava ajoelhada de frente para o forno esperando pacientemente os cookies terminarem de assar, Clay decidia qual filme veríamos, e eu terminava de preparar nosso chocolate quente, afinal, a tarde estava um pouco fria.— Vocês são impossíveis! — Reclamou Emily, suspirando e passando as mãos nos seus cabelos escuros, que eram bem curtos e ondulados. — Nem sei por que acreditei que iríamos mesmo estudar dessa vez.— Cadê a Evangeline, Rora? — perguntou Megan, tirando a forma do forno e a colocando cuidadosamente no balcão de mármore.— Ela saiu com um amigo, não me lembro o nom
AURORALevando em conta o lado lógico da coisa, eu deveria ter tirado uma péssima nota na prova de biologia. Porém, graças ao ótimo sistema de ensino do Saint 's Louis, eu estava bastante contente com meu B +. O fim de semana foi agradável, depois da tarde de sábado regada a filmes de comédia romântica e bastante besteiras, tudo o que fiz foi dormir bastante e estudar um pouquinho para a prova na noite de domingo. Clay havia passado o domingo na casa da avó e eu acabei privada de sua maravilhosa companhia até a segunda pela manhã, quando ele foi me buscar em casa para irmos à escola. Tudo estava calmo demais, principalmente se eu levasse em conta que o baile estava próximo demais e a organização não estava nem um pouco organizada. Não havia nada oficialmente decidido e a única coisa que era de consenso era que o tema seria “Festa a fantasia”. Um pouco infantil? Talvez, mas vai ser bem divertido. Todos ainda estavam meio distraídos. As meninas ainda estavam “animadas” com a chegad
AURORA— Chegamos! — A voz de Clay ecoou por todo o ginásio e eu sabia que ele não estava sozinho.— Até que enfim! Meninas, mandem os meninos cuidarem das caixas com as estátuas e dos móveis, mostrem onde eles devem colocar cada coisa. — Falei, descendo da escada e tirando a caneta dos cabelos, o que fez com que os fios castanhos se soltassem do coque mal feito. — Ah! Acendam as luzes do túnel? Preciso ir verificar algumas coisas e colocar esses enfeites por lá.Dito isto peguei a caixa mediana e segui para o túnel escuro, era uma estrutura de papelão e malha preta. Por dentro haviam imitações de teia de aranha, pisca-pisca por todo lado e alguns retalhos de papel coloridos pelo chão. Quando eu cheguei o local ainda estava escuro, coloquei a caixa no chão e peguei meu celular, mandando uma mensagem para Tawny, lembrando das luzes.Estava segurando uma caixa com alguns morcegos, chaves envelhecidas com asinhas, bem parecidas com aquelas que aparecem em Harry Potter, e uma placa de Boa
Não podia negar que, inicialmente, a presença de Dante era incômoda. Não tinha nada contra ele, mas seu comportamento cheio de si era irritante e me trazia péssimas lembranças. Dante era muito parecido com um alguém que precisava, para o meu bem e de Aurora, se manter no passado.Mas não podia fazer nada além de mantê-lo sob o controle, ao menos com relação à Aura. Era claro que seu nome era sinônimo de confusões e a última coisa que precisávamos era de mais um cara encrenca por aqui. O dia passou rápido demais para tudo o que precisava ser feito, porém, o grande grupo de alunos deu conta da maior parte da arrumação, já que as líderes de torcida haviam adiantado boa parte do trabalho coordenadas por Aura, quando chegamos, havia somente os serviços mais pesados e partes da decoração. Desse modo, passei boa parte da tarde colando morcegos e corações, arrastando poltronas para áreas temáticas, no entanto, não me passou despercebido quando Dante seguiu em direção ao túnel com algumas cai