AURORA
As garotas falavam todas juntas, e eu não entendia nem dez por cento do que elas queriam realmente dizer. Clay me olhava e ria da minha desgraça, mas logo fez uma careta ao ser arrastado por um grupo de garotos. Os meninos me deram um bom dia em um coro meio desorganizado e levaram meu amigo para longe. Voltei a prestar atenção nas garotas, olhando-as enquanto conversavam, falando algo sobre alunos novos, festas e sobre os acontecimentos do fim de semana. Seguimos pelos corredores e, enquanto eu caminhava em direção ao meu armário, o grupo de meninas tagarelava sobre o baile e sobre como estavam ansiosas para o evento. Claro que aquele assunto renderia conversas para toda a manhã, por sorte, logo o sinal tocaria e todas nós precisaríamos ir para nossas respectivas salas, o que era um grande alívio no momento. — Aurora! — Ouvi uma voz bem conhecida me chamar, me virei para poder olhá-la e, como sempre, ela estava completamente exagerada. Quem usa um salto tão fino às oito da manhã? A morena, personificação do padrão latino-americano, atravessou a curta distância que nos separava, ao passo que ela caminhava, seus saltos faziam um barulho irritante contra o chão. As outras meninas estavam em silêncio, era como se ela calasse a boca de todo e qualquer ser com sua presença, afinal ela era, sem sombra de dúvidas, a garota mais popular da escola. A maioria dos alunos se dividiam em três grupos quando se tratava de Sharon, o grupo das pessoas que queriam ser seus amigos, os que a invejavam e aqueles que tentavam ficar fora do seu caminho. Eu fazia parte do terceiro grupo, Sharon sabia ser irritante quando queria e a melhor forma de evitar estresse era me mantendo longe dela. — Bom dia, querida — disse Sharon, me cumprimentando com beijinhos estalados nas bochechas. Sempre achava essa sua mania de proximidade estranha, mas não a culpava, ela era estrangeira e parecia que isso era bem comum no seu país, mesmo com pessoas com as quais não se tinha muita intimidade. Eu não a odiava, na verdade, eu mal a conhecia, mas sentia uma grande antipatia pela pessoa que Sharon havia se tornado. Ela era preconceituosa e egoísta, deixava claro para todos o que achava sobre a riqueza e a pobreza, se colocando sempre no centro de tudo por possuir uma fortuna. Mas eu não a culpava, Sharon era a cópia de sua mãe, e não somente na aparência. Os cabelos eram escuros, ondulados e longos, seus olhos castanhos eram encantadores e ela tinha traços muito bonitos e chamativos. Porém, sua beleza não era o suficiente para esconder sua personalidade elitista e soberba, isso me dava ânsia às vezes. — Como está, meu bem? — Perguntou, me olhando visivelmente incomodada com minha aparência desleixada, dando um sorriso que mais parecia uma expressão de reprovação. — Estou ótima — respondi, da forma mais natural que conseguia. — E você, como vai? — Maravilhosa — Sua voz melodiosa soou bastante animada. — Oh! Quase me esqueci. — Sharon abriu sua Prada cor-de-rosa e tirou de lá um envelope carmim, com renda branca e um grande “S” dourado como selo. — Sei que ainda falta muito tempo — ela continuou, me estendendo o envelope —, mas achei melhor distribuir de uma vez, a lista é grande e eu não quero me esquecer de ninguém. — Peguei o envelope e o olhei por alguns instantes. — Quero que esteja presente meu bem, os melhores estarão lá. — Sharon parecia estar prestes a dar pulinhos e gritinhos de animação, mas se conteve. — Por falar em melhores, depois quero conversar com você! Preciso de um par para minha própria festa. — Fez uma careta de desgosto. — Dillam está fazendo birra novamente — seu tom demonstrava irritação e ela suspirou de forma dramática.Sharon e Dillam eram o típico casal de status. De longe percebia-se que o relacionamento deles era tóxico, para ambos, na verdade. Poucos sabiam, mas Sharon abdicava de muitas coisas para estar ao lado de seu capitão e manter sua posição social na hierarquia escolar do Saint’s Paul. Eu só não entendia o porquê disso tudo, afinal, em breve o colegial não vai passar de uma mera lembrança divertida ou traumática. — Claro — falei, forçando um sorriso. — Resolveremos tudo antes da sua festa. — Tinha vontade de correr, minha primeira aula logo começaria e minhas conversas com Sharon nunca eram as mais saudáveis. — Tenho que ir agora — falei para a garota, tentando não soar rude demais ou muito apressada.— Até mais, querida — ela disse, beijando minhas bochechas novamente, se afastando e seguindo para um grupo de garotas que vinha logo atrás de mim. — Merda! — resmunguei ao olhar no meu relógio e perceber que estava quase dez minutos atrasada.Corri até meu armário jogando minhas coisas
O caminho até minha casa foi completamente silencioso.Clay estava com os olhos na estrada, ele odiava ser incomodado enquanto dirigia, tinha muito medo de perder a atenção e acabar provocando um acidente. Eva estava com seus fones de ouvido, cantarolando uma música qualquer e eu estava em um estado meio adormecido. Quando finalmente estacionamos na frente da minha casa, tomei coragem para me levantar, pegando minha bolsa e saindo do carro. Arrastei-me para dentro, largando minha mochila na sala mesmo e, olhando para os lados, chamei por minha mãe algumas vezes, constatando que a casa estava vazia. Caminhei até a cozinha e encontrei a mesa posta com alguns lanches, os pratos categoricamente embalados e dispostos no centro, como só dona Victória fazia. Encontrei um pequeno bilhete colado no plástico filme que embalava alguns sanduíches naturais.“Precisei sair urgentemente, tenho uma palestra de última hora para esta tarde e provavelmente chegarei só depois das nove. Comam direito e nã
Acordei como todos os dias.Eva batia na porta do meu quarto insistentemente. Para que comprar um despertador se eu tinha uma irmã tão pontual? Não havia necessidade nenhuma. Respirei pesadamente e me virei, observando meu melhor amigo que dormia pesadamente ao meu lado na cama, enquanto babava em um dos meus travesseiros. Me apoiei em um dos cotovelos e o cutuquei com a mão livre, empurrando seu rosto.— Clay Acorda! — falei, alto o suficiente para fazê-lo resmungar. — Acorda, vamos nos atrasar!O empurrei com mais força, jogando-o para a ponta da grande cama e, quando o moreno tentou se erguer, perdeu o equilíbrio, caindo com um baque surdo. Ouvi alguns xingamentos antes de vê-lo se levantar e me encarar com uma expressão nada amigável.— Você é uma estraga prazeres Aura! — falou, passando a destra nos cabelos e bocejando em seguida, coçando os olhos antes de caminhar até o armário. — Não podia me acordar de forma mais delicada? Clay não me deu tempo para responder, pegou a toalh
DANTEAcordei com o irritante toque do meu celular. Sabia que não deveria ter saído e nem me lembrava direito da hora que havia chegado em casa. Provavelmente tia Tabatha havia me dado um belo e longo sermão sobre bebidas. Porém, eu não podia vir para Dakota e não falar para meus antigos amigos, nem festejar um pouco minha chegada nada desejada ou planejada.É claro que eu não imaginei que meus avós me jogariam realmente para tia Tabatha. Apesar das ameaças, eu fui o famoso Tomé, precisei ver para crer e aqui estava eu, sendo obrigado a acordar cedo, muito mais cedo que um aluno comum. Massageei minhas têmporas e me ergui, desligando o alarme do celular. Milagrosamente Amberthy não havia invadido meu quarto e me cobrindo de reclamações por encher o saco da sua querida mãe, já que minha prima sentia prazer em tentar fazer com que eu me sentisse mal por atrapalhar os planos da minha tia. Tomei um banho rápido e desci as escadas, chegando à cozinha e observando minha tia, que já estava
— Infelizmente — falou ela. Sua voz era melodiosa e me causou um estranho arrepio na nuca. — Vem comigo e tira esse sorrisinho da cara antes que eu te deixe plantado aqui.Ela me surpreendeu mais uma vez, quem diria que uma garota tão sorridente teria uma língua tão afiada? Caminhei ao lado dela enquanto seguíamos pelo grande corredor. A garota parecia um pouco aérea em sua tarefa e por um momento eu achei que ela tinha esquecido que estava me ajudando a encontrar meu armário. Tive a certeza que ela se distraiu por alguns instantes quando me encarou, piscando repetidas vezes e fazendo um bico discreto.— Qual seu nome? — perguntou em seguida, me fazendo sorrir novamente, vendo suas sobrancelhas se unirem, provavelmente imaginando que eu estava pensando besteira, e talvez eu estivesse mesmo. — Para encontrarmos seu armário — se justificou rapidamente. — Dante — respondi após alguns instantes, sorrindo levemente e recebendo um novo olhar irritado, acompanhado por passos rápidos.A gar
— Bem, a diretora me mandou falar com você, ela disse que veio com ótimas recomendações da sua antiga escola — falou ele, sem muita enrolação. Clay parecia tão retraído e desconfiado quanto eu. — Por isso, se quiser, estamos indo fazer um treino básico agora, pode fazer um teste, quem sabe entrar no time se tiver interesse.— Não me parece uma má ideia, eu acho.Clay não disse mais nada, ele só começou a caminhar para fora da sala e eu o segui em silêncio. Depois de passarmos por alguns corredores, finalmente chegamos a uma quadra interna. O local era grande, havia enormes arquibancadas e a estrutura era ótima para qualquer um que almejasse jogar algumas partidas ou um campeonato. Depois de me trocar e da chegada de mais seis garotos, Clay explicou como o treino funcionaria e me apresentou aos demais jogadores.Após dividir o time em duas equipes pequenas, o jogo começou. Apesar de ser um jogo de aquecimento ou, como o capitão havia dito, um treino leve, todos pareciam bastante compet
AURORA— Será que podemos estudar? — perguntou Emily, pela terceira vez. — Temos prova na segunda pessoal, se fosse para ficar de bobeira eu tinha ficado em casa. Eu entendia a irritação dela. Emily era, sem dúvidas, a maior CDF da turma de literatura e, para seu terror, a última coisa que queríamos fazer era estudar. Enquanto ela tentava nos convencer, Megan, Clay e eu estávamos perambulando pela cozinha. Megan estava ajoelhada de frente para o forno esperando pacientemente os cookies terminarem de assar, Clay decidia qual filme veríamos, e eu terminava de preparar nosso chocolate quente, afinal, a tarde estava um pouco fria.— Vocês são impossíveis! — Reclamou Emily, suspirando e passando as mãos nos seus cabelos escuros, que eram bem curtos e ondulados. — Nem sei por que acreditei que iríamos mesmo estudar dessa vez.— Cadê a Evangeline, Rora? — perguntou Megan, tirando a forma do forno e a colocando cuidadosamente no balcão de mármore.— Ela saiu com um amigo, não me lembro o nom
AURORALevando em conta o lado lógico da coisa, eu deveria ter tirado uma péssima nota na prova de biologia. Porém, graças ao ótimo sistema de ensino do Saint 's Louis, eu estava bastante contente com meu B +. O fim de semana foi agradável, depois da tarde de sábado regada a filmes de comédia romântica e bastante besteiras, tudo o que fiz foi dormir bastante e estudar um pouquinho para a prova na noite de domingo. Clay havia passado o domingo na casa da avó e eu acabei privada de sua maravilhosa companhia até a segunda pela manhã, quando ele foi me buscar em casa para irmos à escola. Tudo estava calmo demais, principalmente se eu levasse em conta que o baile estava próximo demais e a organização não estava nem um pouco organizada. Não havia nada oficialmente decidido e a única coisa que era de consenso era que o tema seria “Festa a fantasia”. Um pouco infantil? Talvez, mas vai ser bem divertido. Todos ainda estavam meio distraídos. As meninas ainda estavam “animadas” com a chegad