Capítulo 2 - parte 1

AURORA

As garotas falavam todas juntas, e eu não entendia nem dez por cento do que elas queriam realmente dizer. Clay me olhava e ria da minha desgraça, mas logo fez uma careta ao ser arrastado por um grupo de garotos. Os meninos me deram um bom dia em um coro meio desorganizado e levaram meu amigo para longe. Voltei a prestar atenção nas garotas, olhando-as enquanto conversavam, falando algo sobre alunos novos, festas e sobre os acontecimentos do fim de semana.

Seguimos pelos corredores e, enquanto eu caminhava em direção ao meu armário, o grupo de meninas tagarelava sobre o baile e sobre como estavam ansiosas para o evento. Claro que aquele assunto renderia conversas para toda a manhã, por sorte, logo o sinal tocaria e todas nós precisaríamos ir para nossas respectivas salas, o que era um grande alívio no momento.

— Aurora! — Ouvi uma voz bem conhecida me chamar, me virei para poder olhá-la e, como sempre, ela estava completamente exagerada.

Quem usa um salto tão fino às oito da manhã?

A morena, personificação do padrão latino-americano, atravessou a curta distância que nos separava, ao passo que ela caminhava, seus saltos faziam um barulho irritante contra o chão. As outras meninas estavam em silêncio, era como se ela calasse a boca de todo e qualquer ser com sua presença, afinal ela era, sem sombra de dúvidas, a garota mais popular da escola. A maioria dos alunos se dividiam em três grupos quando se tratava de Sharon, o grupo das pessoas que queriam ser seus amigos, os que a invejavam e aqueles que tentavam ficar fora do seu caminho. Eu fazia parte do terceiro grupo, Sharon sabia ser irritante quando queria e a melhor forma de evitar estresse era me mantendo longe dela.

— Bom dia, querida — disse Sharon, me cumprimentando com beijinhos estalados nas bochechas.

Sempre achava essa sua mania de proximidade estranha, mas não a culpava, ela era estrangeira e parecia que isso era bem comum no seu país, mesmo com pessoas com as quais não se tinha muita intimidade.

Eu não a odiava, na verdade, eu mal a conhecia, mas sentia uma grande antipatia pela pessoa que Sharon havia se tornado. Ela era preconceituosa e egoísta, deixava claro para todos o que achava sobre a riqueza e a pobreza, se colocando sempre no centro de tudo por possuir uma fortuna. Mas eu não a culpava, Sharon era a cópia de sua mãe, e não somente na aparência. Os cabelos eram escuros, ondulados e longos, seus olhos castanhos eram encantadores e ela tinha traços muito bonitos e chamativos. Porém, sua beleza não era o suficiente para esconder sua personalidade elitista e soberba, isso me dava ânsia às vezes.

— Como está, meu bem? — Perguntou, me olhando visivelmente incomodada com minha aparência desleixada, dando um sorriso que mais parecia uma expressão de reprovação.

— Estou ótima — respondi, da forma mais natural que conseguia. — E você, como vai?

— Maravilhosa — Sua voz melodiosa soou bastante animada. — Oh! Quase me esqueci. — Sharon abriu sua Prada cor-de-rosa e tirou de lá um envelope carmim, com renda branca e um grande “S” dourado como selo. — Sei que ainda falta muito tempo — ela continuou, me estendendo o envelope —, mas achei melhor distribuir de uma vez, a lista é grande e eu não quero me esquecer de ninguém. — Peguei o envelope e o olhei por alguns instantes. — Quero que esteja presente meu bem, os melhores estarão lá. — Sharon parecia estar prestes a dar pulinhos e gritinhos de animação, mas se conteve. — Por falar em melhores, depois quero conversar com você! Preciso de um par para minha própria festa. — Fez uma careta de desgosto. — Dillam está fazendo birra novamente — seu tom demonstrava irritação e ela suspirou de forma dramática.

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