As Retas, as Voltas, as Curvas

As Retas, as Voltas, as CurvasPT

Romance
Déborah de Souza  concluído
goodnovel16goodnovel
10
1 Classificação
25Capítulos
2.0Kleituras
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Adicionado
Resumo
Índice

Eu sou o cara comum. O homem das 9 às 5. O Sr. Rotina. Todo sábado de manhã, acordo cedo, bebo um café forte, calço o tênis e vou correr até às pernas latejarem e a cabeça esvaziar. Era para ser mais uma corrida qualquer.... Mas, ela apareceu, do nada. Tinha um rosto de boneca, uns olhos perdidos e um sorriso que não era. Chegou me ajudando, me instigando, me preocupando. Havia algo de fundamentalmente errado naquela linda misteriosa. Na verdade, não era mistério, era? Ela disse com toda honestidade: "Quero morrer". Mas, isso era um absurdo! Ou não era? A partir daí, nada foi o mesmo. A realidade dela se juntou a minha e, de repente, o Sr. Rotina e a Garota Mistério corriam juntos. Não só uma corrida de sábado de sol e tênis no pé, mas uma legítima fuga de coisas como culpa, depressão e suicidio. O tipo de coisa que nos afeta de longe, quando acontece com gente de longe, mas que nos atropela e nos quebra em mil pedaços, quando acontece com quem a gente ama.

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Último capítulo

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Manuel Oxte
juanabautista
2021-09-16 04:30:24
0
25 chapters
Sr. Rotina: Conhecendo a Garota Mistério
1 Hoje acordei com os pés suados. Mal abria os olhos naquele descolar de cílios que, eu sei, dura uma fração de segundo, mas, em momentos nos quais o corpo ainda não chegou ao ponto de expurgar o sono, parece que se perpetua no infinito, e logo notei aquela sensação familiar de pés pegajosos. Um friozinho característico de suor secando na pele em meio ao ar gelado da manhã, invadindo o quarto através de uma pequena fresta na janela, foi o suficiente para arrancar-me da nebulosidade para o despertamento. Num movimento a muito tornado uma segunda natureza, chuto a coberta para o mais longe possível do corpo e, ao deparar-me com os pés enroscados nela, atino para o motivo do suor.Dormi de pés cobertos. Odeio quando isso acontece.Nunca tentei descobrir significados profundos em tal hábito, no entanto, permanece o fato de que para que eu tenha uma
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Sr. Rotina: Chorão
1 O céu sabe ter seus momentos de clichê, chorando copiosamente nesta preguicenta manhã de domingo. Se eu me descolar da realidade desenrolando-se diante dos meus olhos, da identidade daquela sendo velada por família e amigos, posso até me imaginar habitando uma dessas cenas fúnebres de um drama das oito qualquer. Lá fora a chuva cai torrencialmente; nuvens barulhentas, vento que uiva, ar gélido. Aqui dentro da capela as paredes esquentam os corpos vivos, nos enfiando num bolso seco e protegido de uma cidade inexoravelmente molhada. O céu chora junto com aqueles deixados pela jovem Marjorie. Mais clichê, impossível. Talvez seja esse ar de cafonice o responsável pelo descolamento. Sei que estou aqui, sentado, assistindo o serviço como todos os outros, mas não é essa a sensação... Ao menos, não é a sensação c
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Sr. Rotina: Do topo
1 Aí está você, céu! Colorido de muitas cores, desta vez encontra-se léguas de um momento clichê. Evolução, suponho. Os laranjas, amarelos e rosáceos se esticam em grandes tiras intermináveis, se enfrentam, se agridem, fazem as pazes quando chegam perto demais dos diversos tipos de azul que monitoram toda a brincadeira. Na verdade, este céu não parece um, mas uma fornalha em pintura de duas dimensões. Há uma distinta falta de profundidade a este teto solar. Aperto os braços contra o peito ao sentir o crescente gelar de uma brisa que já nasceu anormal, sem a suavidade das brisas. Talvez o frio me atinja mais porque estou nu do quadril para cima. Onde foi parar minha camisa? Será que eu vestia uma, em primeiro lugar? Onde estou afinal? Por que o céu parece maior do que o normal?_ Quem fica de pé do alto de um prédio de v
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Sr. Rotina: Para dentro do baú
1 Para toda ação há uma reação. Quem diria que sair correndo pela chuva e, sucessivamente, deitar na lama por não sei quanto tempo iria me deixar de cama, portando um resfriado que quase chegou às vias da pneumonia? Ontem, ainda no meio daquele domingo enlameado interminável, lutava contra a lacuna em branco que teimava desordenar meus pensamentos. O barro molhado do parque parecia querer invadir meu cérebro e soterrar todo e qualquer raciocínio. Nos escombros que restaram do singelo colapso mental, veio-me uma única noção: Amanhã é segunda-feira, dia de encarar a tela do computador e mergulhar no alívio da vida banal e insossa. Quem diria que um mero fim de semana cheio de insólitos acontecimentos poderia despertar em mim a sede por aquela vidinha mais ou menos? Uma saudade das paredes cinza-claro, do ar condicionado que, religiosamente, pifava
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Sr. Rotina: O presente
1 Minhas aventuras tentando reviver o conto do quase finado Felix provaram-se tão esmorecidas quanto meu desventurado protagonista. Na verdade, Felix ainda está lá, o coitado, pendurado naquele elevador, já faz uns dez anos, senão mais. A única diferença de lá para cá é que eu decidi arejar sua situação de confinamento. Desde a noite em que reabri o baú, permiti que Felix afrouxasse a gravata e tirasse o terno. Quem sabe amanhã, com sorte, eu consigo fazê-lo tirar a camisa e libertar seu estômago peludo e branquelo. Ele perderá em dignidade, por certo, mas ganhará em conforto. Na hora da morte, deve ser preferível que o último prevaleça sobre a primeira. De qualquer forma, a situação basicamente estática de Felix é refletora da minha produção escrita, a qual atingiu incrí
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Sr. Rotina: Sobre quota moral
1 Sou tomado por aquela sensação de olhos seguindo cada ação minha; olhos perfuradores de nuca. Para ser justo, não há muito a ser seguido, pois todos os meus movimentos também são feitos apenas com o olhar, voltado para a folha de papel pregada na parede do cubículo, cabeça inclinada ligeiramente para cima. O perseguidor, por sua vez, não passa de Chris, provavelmente de saco cheio da minha contemplação._ É um belo desenho. _ Ele suspira de seu cubículo, bem ao lado do meu. Atribuo o acaso de nossa amizade ao fato de que sempre fomos vizinhos aqui no setor. Um belo dia, entre os cliques do mouse e o brilho dos monitores, Chris, o mais novo funcionário da empresa, interrompeu a música da monotonia e perguntou as horas. Uma coisa estúpida de se perguntar visto que ele poderia ter se informado apenas checando o canto in
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Sr. Rotina: Unhappy hour
1 Sempre observei o vai-e-vem da rotina de um casamento; cortesia de meus pais. Lembro-me de que durante a infância e a adolescência, boa parte de meus amigos não dispunham desse luxo, tendo seus pais separados ou em processo de divórcio. Eu ia à casa de um amigo e ele poderia não estar lá porque era fim de semana, e nos fins de semana ele ficava com o pai. Houve, inclusive, uma ocasião em que saí da cidade para visitá-lo num desses típicos fins de semana com o pai. A razão para esse deslocamento não poderia ser outra se não o fato de que o pai do meu amigo morava no litoral, e era uma excelente desculpa para irmos juntos à praia. Lá, entre os mergulhos e o sol quente na cabeça, era comum ouvir o pai separado desfiar uma série de reclamações contra a esposa, involuntariamente envenenando a cabeça do filho. A mesma coisa
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Sr. Rotina: Os torcedores
1 _ Agora que sua mãe não está em casa... Desde quando você fuma, filho? _ Tenho que congratular meu pai, afinal ele esperou não apenas que minha mãe saísse de casa como também aguardou o intervalo entre o primeiro e o segundo tempo da partida de futebol que estamos assistindo pela televisão. Pelo bem da verdade, suspeito que ele já esteja nessa espera há bem mais do que quarenta e cinco minutos. Muito cortês de você, meu caro velho._ Desde quando Marjorie... _ Desnecessário dar a esta declaração complementos. Passo a me sentir culpado por uma vez mais, usar a morte de Marjorie assim, com o puro intento de desencorajar conversas inconvenientes pra mim. Ainda não consigo simplesmente me abrir e confessar que, naquela ocasião do velório, meus instintos imploraram por aquele trago venenoso porque eu tinha esperança de que
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Garota Mistério: Em poucas frases.
 1 Max acaba de me beijar. Não sei o que fazer disso, que não seja me apavorar. Talvez, não deva fazer nada. É minha resposta para tudo nessa vida: desistir antes mesmo de começar. Não posso negar que senti algo quando seus lábios tocaram os meus. Não por que o beijo já não faz parte da minha vida há muito tempo. Simplesmente porque o beijo veio dele. O coração acelerou por motivos que nada tinham a ver com o assalto. Eu me vi num misto tenebroso de culpa e prazer. Max... Seu nome, seu sorriso de covinhas, seus lábios ressecados pela noite...Preciso fugir. Preciso correr.
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Sr. Rotina: O menino e seu caderno de tristezas
1 Vou voltar um pouco no tempo, os dias anteriores à minha tensa conversa com Chris, na qual revelei detalhes de um encontro quase casual com a morte, que ainda me faz parar de pensar só para sentir o medo, a fim de contar o que aconteceu depois de uma das piores noites da minha vida. No dia seguinte, sábado de manhã, eu corri. Fazia uma bela manhã e, após tomar a medicação prescrita, acreditei que meu problema de circulação estava acabado. Acordei cheio de disposição, embora apenas no corpo, com os primeiros raios do sol me convocando para uma corrida no parque. Motivado, acatei ao chamado, calcei o tênis, bebi café, surpreso com o fato de que a máquina anciã ainda vive, me despedi de Seu Agnaldo e fui. Não fosse por um detalhe aqui e outro acolá, teria sido uma corrida de sábado como todas as corridas de sábado costumam ser
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