Imagina acordar num dia comum, levantar da cama, e descobrir que o garoto mais rico da cidade decidiu montar um cavalo branco (sim, literalmente!) e aparecer na sua porta achando que é o seu salvador. Parece coisa de filme ruim, né? Também achei. Até o dia em que Benjamin resolveu entrar — ou melhor, invadir — a minha vida. Um playboy adolescente que renega o mundo de luxo onde nasceu e, por algum motivo completamente inexplicável, cismou que precisa me salvar. O problema? Ele nunca perguntou se eu queria ser salva. — E se eu estivesse perguntando se podia te ajudar? — Eu teria dito não. — Então é por isso que eu vou fazer assim mesmo. Intrometido, insistente, irritante. E, pra piorar, carismático. A gente discute mais do que respira, o que leva minha melhor amiga a soltar pérolas como: — Vocês dois deviam namorar logo, porque esse teatrinho já deu. Mas isso aqui não é um romance clichê. Pelo menos não pra mim. Se eu pudesse, mandava o Benjamin pra outra cidade. Pena que a família dele é dona dessa. Depois que meus pais morreram num acidente de carro — e eu sobrevivi por estar sem cinto, ironicamente —, tudo na minha vida saiu dos trilhos. E agora, cada boa intenção do Benjamin parece só piorar as coisas. Ele me deu uma carta, mas o que não estava escrito nela é tudo o que eu venho sentindo desde então. Tem coisas que palavras não explicam. E tem feridas que nem um cavaleiro branco pode curar. Mas talvez… só talvez… ele esteja disposto a tentar.
Leer másrespiração ofegante ainda doía no peito. Minhas mãos tremiam. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, e meus joelhos mal sustentavam o corpo. Mas eu continuei andando. Sem rumo. Só queria sair de perto daquela escola, daquela vida.Virei duas esquinas, cortei caminho por um beco que eu conhecia desde pequena, e fui parar no único lugar que me trazia um pouco de paz: a velha lanchonete da dona Cida.Era um lugar simples, mas tinha cheiro de infância. Meus pais costumavam me levar lá aos sábados, antes de tudo desmoronar. Abri a porta de vidro com esforço e fui recebida pelo sino pendurado que tilintou como um sussurro de “bem-vinda de volta”.— Amber? — a voz surpresa veio de trás do balcão. — Minha nossa, menina... você está um caco.— Eu sei — murmurei, sem conseguir encará-la.— Senta aí, vou fazer um chocolate quente. Daquele que você gosta, com marshmallow e tudo.Sentei na mesa do canto, a mesma de sempre. Minhas mãos tocaram o tampo de madeira riscado, como se buscassem uma
De volta à mansão, o céu começava a se tingir de tons alaranjados, prenunciando o fim de mais um dia arrastado. A rotina tinha se tornado silenciosa demais, pesada demais. Victor e Benjamin continuavam com seus turnos alternados, como se fossem dois estranhos obrigados a viver sob o mesmo teto. Maria me deixou na esquina, para evitar que alguém percebesse nossa saída. Prometi que contaria tudo a ela depois do retorno da consulta, mas, na verdade, nem eu sabia o que havia acontecido de verdade.O exame de sangue só teria resultado nos próximos dias, e a médica havia sido cuidadosa em não tirar conclusões precipitadas. Mas a palavra "ultrassom invasivo" ainda martelava na minha cabeça. Me perguntei se eu conseguiria aguentar até lá sem surtar.Entrei pela porta dos fundos, subindo direto para o quarto. Maria, que havia chegado antes de mim, deixara uma bandeja com lanche sobre a escrivaninha e um bilhete carinhoso: "Se precisar conversar, estarei no quarto ao lado. Com amor, M." Sorri d
De volta à mansão, o céu começava a se tingir de tons alaranjados, prenunciando o fim de mais um dia arrastado. A rotina tinha se tornado silenciosa demais, pesada demais. Victor e Benjamin continuavam com seus turnos alternados, como se fossem dois estranhos obrigados a viver sob o mesmo teto. Maria me deixou na esquina, para evitar que alguém percebesse nossa saída. Prometi que contaria tudo a ela depois do retorno da consulta, mas, na verdade, nem eu sabia o que havia acontecido de verdade.O exame de sangue só teria resultado nos próximos dias, e a médica havia sido cuidadosa em não tirar conclusões precipitadas. Mas a palavra "ultrassom invasivo" ainda martelava na minha cabeça. Me perguntei se eu conseguiria aguentar até lá sem surtar.Entrei pela porta dos fundos, subindo direto para o quarto. Maria, que havia chegado antes de mim, deixara uma bandeja com lanche sobre a escrivaninha e um bilhete carinhoso: "Se precisar conversar, estarei no quarto ao lado. Com amor, M." Sorri d
A respiração ofegante ainda doía no peito. Minhas mãos tremiam. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, e meus joelhos mal sustentavam o corpo. Mas eu continuei andando. Sem rumo. Só queria sair de perto daquela escola, daquela vida.Virei duas esquinas, cortei caminho por um beco que eu conhecia desde pequena, e fui parar no único lugar que me trazia um pouco de paz: a velha lanchonete da dona Cida.Era um lugar simples, mas tinha cheiro de infância. Meus pais costumavam me levar lá aos sábados, antes de tudo desmoronar. Abri a porta de vidro com esforço e fui recebida pelo sino pendurado que tilintou como um sussurro de “bem-vinda de volta”.— Amber? — a voz surpresa veio de trás do balcão. — Minha nossa, menina... você está um caco.— Eu sei — murmurei, sem conseguir encará-la.— Senta aí, vou fazer um chocolate quente. Daquele que você gosta, com marshmallow e tudo.Sentei na mesa do canto, a mesma de sempre. Minhas mãos tocaram o tampo de madeira riscado, como se buscassem um
Já haviam se passado semanas desde a briga. Um novo mês começava, mas o clima na mansão permanecia pesado. Aos poucos, os meninos se organizaram para evitar se cruzar — mesmo com tanto espaço, revezavam os horários das refeições para não estarem no mesmo cômodo. Benjamin passou a ir de moto para a escola. Já Victor arranjava desculpas para não ir de carro comigo, o que o fazia se atrasar com frequência.Eu me sentia cada vez mais culpada. Mesmo com todos dizendo que era questão de tempo para tudo voltar ao normal, era visível que aquela confusão tinha deixado marcas em todos.Os Willivam sempre fizeram questão de jantarem juntos, mas agora Maria precisava arrumar a mesa duas vezes. Everton, além de fazer duas viagens para nos levar à escola, ainda precisava sair para abastecer a moto de Benjamin. Isso o fazia passar menos tempo com Maria, que parecia sentir falta dessa rotina.Na escola, não demorou para que todos notassem os hematomas e os rostos marcados pelos socos. Além de John e C
Na mansão, Victor se sentava sozinho na sala, o copo de whisky girando em sua mão. O sabor amargo da bebida nem se comparava ao gosto da decepção que queimava por dentro. Ele se sentia como um homem traído, ainda que uma parte de sua mente insistisse: “vocês nunca tiveram nada.” Mesmo assim, virou o restante do copo de uma só vez.As horas foram passando, um silêncio denso tomava a casa. Todos já haviam se recolhido, exceto ele. Victor já não contava o tempo em minutos, mas em copos. Quando a primeira luz surgiu do lado de fora, a garrafa estava quase vazia, e o relógio ao seu lado marcava 2h55 da manhã. Cambaleando, ele se levantou. Estava pronto para confrontá-los... mas sua voz desapareceu assim que os viu entrar.Amber estava com o rosto corado, o cabelo bagunçado. Benjamin ajeitava os próprios fios, num gesto inútil. As roupas dos dois estavam amassadas e o clima entre eles parecia... íntimo demais.— Ainda acordado, Victor? — Benjamin perguntou ao entrar, colocando o capacete sob
Amber finalmente despertou. A mente ainda nebulosa tentava juntar os pedaços dos últimos acontecimentos. Sentia-se zonza, mas determinada, forçou-se a se sentar.— Deixa que eu te ajudo — disse Maria, sua voz surgindo do escuro.Amber gritou de susto.Maria correu e acendeu as luzes da sala.— O que houve? Está tudo bem?— Sim, só me assustei — respondeu envergonhada, passando a mão pelo rosto. — Onde estão todos?— Na sala de jantar. E você? Como está se sentindo? — Maria a observava com cuidado, como quem procura rachaduras invisíveis.— Estou bem — garantiu Amber, levantando-se de imediato para reforçar sua fala.Maria sabia que não adiantava insistir. Limitou-se a acompanhá-la em silêncio até a sala onde todos estavam reunidos.— Eu não vou ficar esperando! Quero saber quem está por trás disso! — dizia uma voz exaltada, interrompida ao notar Amber na porta.— Podem continuar — ela disse com ironia, erguendo as mãos como quem se rende. Caminhou até uma cadeira próxima e se sentou. E
— Amber, está tudo bem? Você está muito quieta hoje. Não está doente, está? — Kevin já não aguentava mais vê-la parada, encarando o nada com aquele olhar distante.— Estou bem. Não estou doente. — Amber pegou um pano e foi limpar uma das mesas, apenas para escapar da próxima leva de perguntas.A conversa com a diretora ainda ecoava em sua mente. Ela se lembrava de todos os amigos dos pais, mas nunca tinha ouvido falar daquela mulher. Mesmo assim, a foto era real — seus pais estavam nela. Mas... algo ainda não se encaixava.— Ora, ora... se não é a falsa rainha do baile. — Amber revirou os olhos ao ouvir aquela voz.— O que você quer, Verônica? — murmurou, sem sequer olhar para a garota, que se sentou com o grupinho na mesma mesa que Amber limpava.— Nada demais. Só vim avisar pra você cair fora e desistir da eleição. Ninguém aqui quer você como rainha.— Por que isso é tão importante pra todo mundo? É só uma coroa de plástico ridícula.— Ridícula é você. E vai pagar por ter atrapalhado
Amber já não aguentava mais. Depois de ser seguida por toda a manhã, sentia-se sufocada. Ofegante, parou diante do armário e bateu a porta com força.— Sério isso? — Ela exclamou, encarando o grupo. — Vocês não têm nada melhor pra fazer?— Até que não, viu? — Victor respondeu com um sorriso debochado, o primeiro a se manifestar, como sempre. Ele claramente era o que mais se divertia com a brincadeira de “perseguir a Amber”.— Amiga, para de ser mal-agradecida. A gente só tá cuidando de você — disse Jhon, abraçando-a de lado.— Eu sei... — Amber se desvencilhou dos braços dele. — Mas vocês estão me sufocando. E mais: tão fazendo todo mundo achar que eu sou maluca. A intenção é boa, eu sei. Mas agora virei o centro das atenções, e isso me deixa desconfortável. Jhon, Carla... Qual é o meu lema?— “A melhor forma de sobreviver ao ensino médio é sendo invisível” — responderam os dois, em coro.— Pois então, seu plano foi por água abaixo, marrentinha. — Victor riu e virou o celular na direçã