Simplesmente Aconteceu
Simplesmente Aconteceu
Por: Lua Ataide
Prólogo

Muitas histórias começam com um “Era uma vez” ou se passam em um lugar “tão, tão distante”. Mas não essa. Essa é a minha história — e posso te garantir que ela está bem longe de terminar com um “felizes para sempre”.

Prazer, meu nome é Amber. E eu sou o motivo pelo qual você vai começar a duvidar que contos de fadas realmente funcionem fora dos livros.

Estou no último ano do ensino médio, mas diferente da maioria dos veteranos que brilham pelos corredores da escola, eu passo despercebida. Quer dizer... se desconsiderarmos o apelido “a órfã” que carrego desde que minha adorável prima resolveu transformar minha tragédia pessoal em fofoca de corredor.

Minha escola é um teatro, dividido entre classes sociais e padrões de beleza. E eu? Eu não me encaixo em nenhuma dessas categorias. Estudo ali apenas porque minha tia Olga, além de diretora da escola, também é — para minha total infelicidade — minha guardiã legal. Mas não me entenda mal. A ingratidão é recíproca.

Meus pais morreram quando eu tinha doze anos. Passei um ano pulando de lar em lar até que alguém descobriu que eu não vinha sozinha — junto comigo, uma bela herança. Foi o bastante para até os tios mais distantes brigarem por mim na justiça. No fim, minha tia venceu. Confesso que quase acreditei naquele teatrinho diante do juiz: "Vou me esforçar para dar o melhor a ela, como faço com todas as crianças da escola." Se eu pudesse voltar no tempo, daria um tapa na minha própria cara por ter acreditado.

Hoje, moro nos fundos da casa dela, na antiga casa do caseiro. Um casal simpático me recebeu bem, mesmo com o espaço sendo minúsculo. Trabalho em dois empregos de meio período — enquanto ela torra minha herança com o novo marido e a filha perfeita de comercial de margarina.

O novo ano letivo começa amanhã, e com ele, minha paciência desaparece. Durante as férias, dobrei minha carga horária pra juntar dinheiro. Faculdade é meu único objetivo. E quanto mais longe daqui, melhor. Já tenho o suficiente pra matrícula e alojamento — só falta atravessar o último desafio: o inferno chamado terceiro ano.

Antes de dormir, abro o pingente que carrego no pescoço. A foto dos meus pais me encara, e eu falo baixinho:

— Pai, mãe… sei que essa não era a vida que vocês imaginaram pra mim. Mas estou tentando. Tô juntando dinheiro, quero ser advogada como a mamãe foi. Quero defender as minhas ideias. E sei que vocês ainda estão me guardando aí de cima.

Beijo o pingente, fecho os olhos e tento acreditar que o pior já passou.


Do outro lado da cidade...

Amanhã começa algo pelo qual lutei muito: vou finalmente estudar em uma escola.

Parece exagero? Talvez seja. Mas meu pai me colocou à prova. Tenho um mês para mostrar que sou capaz de viver fora da redoma em que fui criado. E tudo isso só porque quero... estudar. Surreal, né?

Ah, me chamo Benjamin. Filho único, herdeiro da terceira família mais rica da cidade — os Willivam. Cresci cercado por muros, câmeras e seguranças. Três tentativas de sequestro me renderam uma infância protegida demais, quase isolada. Minha ama de leite foi mais mãe do que qualquer outra figura por perto. Maria. Sou oficialmente o segundo filho dela.

Não me leve a mal. Meus pais sempre estiveram presentes. Presentes até demais. Cada encontro com eles virou uma agenda formal, com hora marcada e sorrisos obrigatórios. Ser filho único tem suas vantagens… e seus pesos. Toda expectativa familiar recai sobre mim.

Essa escola é o meu teste. Eles dizem que é de elite, mas também onde estão as pessoas mais perigosas — não com armas, mas com sorrisos falsos, ambição e sede por status. E, sinceramente, essa é a parte que mais me assusta.

Nunca pisei em uma sala de aula de verdade. Mas estou determinado. Faço 18 anos este ano e, com isso, quero escolher o rumo da minha vida. Faculdade, profissão, futuro. Talvez eu acabe mesmo assumindo os negócios da família, mas, se for, vai ser porque eu escolhi — não porque foi imposto.

Amanhã eu começo essa nova etapa. Uma escola comum, pessoas comuns… ou pelo menos é o que estou tentando acreditar. É hora de sair do meu mundo dourado e descobrir quem eu realmente sou.

Boa noite, mundo lá fora. Nos vemos em breve.

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