Benjamin
Eu cresci numa família de diplomatas, em outras palavras nasci em berço de ouro e com a garantia de que iria herdar terras, empresas, lojas e muito mais. Mas não fui criado para ser um molenga, meu pai me apresentou de perto a dureza da vida, a fome, a pobre e principalmente a ignorância.Hoje vou adentrar na mesma escola em que meu pai estudou, o mesmo local aonde encontrou e se apaixonou por minha mãe. Mas ele me deixou avisado que ela mudou bastante ao longo dos anos, principalmente na gestão da nova diretora, ela é ganancioso e eu teria que saber como lidar com tudo a minha volta, pois meu título de herdeiro valia mais do que eu como pessoa. O nome William e mais importante do que eu mesmo, Benjamin.Com a ajuda da minha ama, em poucos minutos estou arrumado e tomado café.
- Ben seu carro já está pronto, apenas o esperando.
- Obrigada Maria, não sei o que seria de mim sem você. - Aproximome dela, e beijo lhe a bochecha, a mesma corra e me lança um sorriso carinho.
- Pega sua bolsa e vá meu querido, não vai querer se atrasar no primeiro dia.
Pego a bolsa em sua mão e seguimos juntos até a porta da frente, lá está Everton, marido da Maria, com um sorriso radiante no rosto, o mesmo abre a porta para que eu possa entrar e se vira para sua mulher.
- Hoje você está radiante querida. - Ele a beija a bochecha.
- Estou igual a quando acordei de manhã, deixa de bobeira e leve logo meu menino.
- Sim senhorita, seu desejo e uma ordem. - Ele adentra o carro e dar partida.
A Maria está comigo desde que me entendo por gente, ela é a pessoa mais próxima a mim, depois vem meus pais. Pelo que minha mãe me contou ela se tornou minha mãe de leite pelo fato da minha mãe não conseguir produzir. Eu cresci e não desgrudei mais dela, o que fez ela ter basicamente dois filhos da mesma idade.
A paisagem muda na janela do carro, agora estamos na cidade. Pessoas andam de um lado para o outro, vejo casais, mães com seus filhos. O que me faz pensar o que será que me aguarda nessa nova escola, pois afinal eu sempre estudei em casa, e meus pais vieram do nada com essa escola a qual estudaram. Tenho quase certeza que é um teste, espero passar com excelência.
Vejo os portões de entrada da escola, logo desânimo, sei que hoje não vai ser um bom dia. Everton para na entrada, vejo alguns alunos entrando e eles fingem que não se veem, passo a mão na nuca e abaixo a cabeça em negatividade - e sério isso pai, você quer que eu convivo com esse bando gente que se acham superior uns aos outros?
- Eu sei que você consegue garoto, isso não é nada que você já não tenha visto antes.
- Eu sei Everton, mas essas pessoas botam suas ganancias acima de qualquer coisa. E ver e totalmente diferente de conviver com eles.
- Vai dar tudo certo, você vai ver.
- Espero, até mais tarde. - Abro a porta do carro e saio, o ar que respiro me enjoa o estomago, junto todas as minhas forças e adentro a escola, alguns olharem me queimam a pele, mais eu os evito, sigo em direção a diretoria, uma mulher com sorriso largo me recebe.
- Olá meu jovem, em que posso ajudar? - Pego o papel que Maria havia colocado em meu bolso para eu não esquecer.
- Sou aluno novo.
- Ah, Benjamin - Ela ler meu nome no papel, se levanta, e da a volta no balcão - Venha vou te levar ao auditório, todos estão indo para lá.
- Ok. - Saímos da diretoria e seguimos pelo correr extenso e vazios.
- Está com o seu celular?
- Sim estou.
- Aqui tudo funciona através do aplicativo da escola, aonde você vai conseguir seu horário de hoje inclusive. - Ela gesticula para que virássemos no corredor. - Aqui temos o Wi-Fi liberados ao alunos, essa aqui é a senha do seu armário - Tira um papel da sua pasta e me entrega - Se caso a perder ou esquecer com o número do seu armário e seu cadastro realizado você pode conseguir a mesma ou muda-la.
Ela abre a porta e me dá passagem, ela entra e da a volta nas carteiras seguindo ao palco.
- Se precisar de qualquer coisa sabe aonde me encontrar, esse aqui é seu login e senha do aplicativo, aproveita agora que ela está falando para acessar. - Ela se afasta e segue em direção a mulher no centro do palco, lhe entrega alguns papéis e volta para trás da curtia. - Logo você será anunciado, e só ir até lá, não vai precisar dizer nada. Seja bem vindo e boa sorte. - Ela passa a mão em meu ombro e segue pelo mesmo caminho em que vivemos.
Faço meu login e ela tem razão e um aplicativo completo, vasculho mais um pouco e depois guardo o celular no bolso, olho para mulher no centro do palco, ela olha de sorrateiro para mim, tenho certeza que irá me anunciar.
- E esse ano teremos mais um novo aluno, para completar o nosso bom time, que é o Colégio Bernoulli. E com muito prazer que dou as boas vinda a Benjamin William. - Ela faz um sinal com a mão para que eu adentre o palco, vou em direção a ela é começa uma verdadeira feira, ouço muitas meninas gritarem, o que me deixa encabulado. Ainda não ganhei nenhum premio até aonde eu sei.
Assim que ela encerra sigo junto para fora do palco, e lá já se encontra algumas garotas e dois rapazes.
- Acredito que queira recepcionar nossa novo aluno Veronica. - A diretora basicamente me j**a no meio dos leões famintos, o que me desagrada muito.
- Sim, eu faço questão. Eu e meus amigos iremos te ajudar no que precisar não é pessoal? - Ela se vira para os amigos que concordam com uns sim, claro e outros balançam a cabeça.
- Ah, obriga.
- O prazer e todo meu querido. - Ela me pega pelo braço e se entrelaça nele.
- Cuide bem dele Veronica. - A diretora me larga com ela e vai embora.
- Claro.
Seguimos em direção a saída, e eu não poderia estar mais desconfortável. Até agora eu só sei o nome da Veronica, pois foi o único que a diretora falou.
- Então como vocês se chamam - Me viro para as outras pessoas do grupo.
- An...
- Eu me chamo Veronica, e esse são meu amigos.
- Sim, seu nome eu já sei, quero saber o deles. - Que garota sem nexo.
- Eles não são ninguém importantes.
- Mas claro que são - Quando me viro para ela e acabo esbarrando em alguém, suas coisas caeme eu vou ajudar a recolher - Me desculpa, eu não... - Veronica me puxa.
- Ei não peça desculpas a ela, ela não passa de uma escória, bisbórria e coisas desse tipo. - Não faço questão de olhar para ela, as coisas que ela diz me enoja o estômago como tudo nessa escola. Mas ela insiste em me puxar.
- Veronica quem você pensa que é para falar da Âmber assim? - Uma garota entra em defesa da que está no chão comigo.
- Ninguém menos que a prima linda e rica desta bastarda. - Todos começam a ri, mas eu acho graça. - Benjamin querido, - Ela me puxa do chão e eu trago a moça comigo - logo você se acostuma como as coisas funciona aqui, e verar que ela não passa de uma bisbórria.
- Eu não consigo compreender como você pode tratar sua própria prima assim, isso é desumano demais. - Me aproximo ao ver ela se encolher perto dos amigos - Está tudo bem? Você se machucou? - Ela apenas acena com a cabeça.
- Benjamin querido, se afasta dessas... - Ela me puxa novamente para seu lado, e isso me irrita - coisas.
- Coisas? Que coisas? Eu vejo pessoas aqui. - A risada que ela dá e os outros seguem, toca lá no fundo e eu começo a sentir a irritação queimar meu peito, e sinto o suco gástrico na minha boca, estou com nojo dela e dessa gente.
- O meu querido, e porque você é novo aqui. Deixa-me explicar a você, a nossa escola é mundialmente conhecida exatamente por colocarem as pessoas nos seus devidos lugares. - Ela me lança um olhar para a moça e sua amiga toma a sua frente como defesa. Ela dá a volta, e contorna seu braço em meu ombro - Pessoas como nós, nascemos para governar, e tem pessoas que nascem para ser governados que é o caso da Âmber.
- Você está louca? E onde fica o direito da igualdade? - Retiro o braço dela dos meus ombros e me afasto. - Isso não pode ficar assim.
- Mas que confusão e essa aqui? - Que ótimo a diretora, ela vai poder me ajudar . - Abram caminho. - Abrem caminho e ela vem até nós.
- Ah mamãe, que bom que chegou. - Ela é a mãe dela? Então… Isso tudo foi armado desde início, ela me jogou para sua filha. - A Âmber está incomodando meus amigos de novo, em especial nosso querido Benjamin. - Ela abre um sorriso de vitória, estou atordoado, sinto um amargo na boca.
- Âmber venha comigo até a diretoria.
- Si... - Ela se encolher mais ainda.
- Não, ela não fez nada que a faça merecer ser levada a diretoria. - Gente que mundo é esse que meu pai me jogou? As coisas aqui são resolvidas assim?
- Mas claro que fez Benjamin querido, você não ouviu o que a minha filha disse.
- Sim ouvi e quero deixar bem claro que não concordo. Quem causou toda essa confusão foi eu, não ela. - Sinto meu rosto ficar vermelho, estou com muita raiva e já ficando alterado.
- Ok, então Veronica, Bernardo e você garota para minha sala. O resto pode se encaminhar para as suas salas.
Caminhamos em silêncio, penso em maneiras de contornar essa situação, mas não tenho muitas alternativas. Chegamos a sua sala e ela nos abre a porta para que possamos entrar.
- Então queridos sente-se e me contêm o que aconteceu. - Veronica se j**a ao meu lado esquerdo, basicamente colando o seu corpo no meu, ao contrário da sua prima, que apesar do olhar perdido sentasse próxima, mas não o suficiente para me sufocar.
- Mamãe a Âmber se jogou na frente do Benjamin e começou toda essa confusão. Ela queria chamar atenção tenho certeza. - Alguém faz essa garota calar a boca.
- Isso é verdade ÂMBER ? - Até eu sinto a enfatização no nome dela, estão chantageando ela em silêncio.
- Não, não é - Sou obrigada a responder, consigo ver as mãos dela tremer facilmente, ela está apavorada.
- Claro que é Benjamin querido. Isso tudo não passa de um plano dessa aí, ela quer a qualquer custo conseguir um homem rico para sustentá-la. - Ela alisa meu antebraço e se vira para a prima - Não se engane com essa carinha de boa moça.
- Tenha modos Veronica.
- Desculpas mamãe. - Ela volta a se virar para a prima - E que essa daí me tira do sério e você sabe disso.
- Eu não consigo entender como podem tratar a própria família assim! - Minha cabeça dói, nunca vi tanta injustiça em um unico lugar.
- Eu já lhe expliquei bobinho, Reis e servos lembra? - Até a voz dela já está me dando nojo, isso tudo não passa de um teatro para me conquistar.
- Desculpa Veronica, mas isso não b**e com meus princípios básicos.
- Benjamin querid... - Querido uma ova, não aguento mais ser chamado assim.
- Parem de me chamar de querido, que só estão me deixando mais encabulado.
- Desculpa queri... só desculpa. - Ela leva a mão a boca como forma de correção, minha cabeça dói muito, tenho que sair daqui.
- Como essa conversa estou vendo que não vai acabar em nada, eu e a Âmber já vamos indo. - Me levanto e a puxo comigo para fora da sala. Como ela passa por isso sem dizer nada, uma única palavra? Ela me irrita também, como pode deixar tudo isso acontecer?
- O que foi àquilo? Porque você deixa isso acontecer? - Ela permanece em silêncio. Minha cabeça está estrelando, estou nervoso. - Ei me responda. - Aprendo contra a parede, ela tem que me dizer algo.
- Eu não sei. - É só isso que ela tem pra me dizer.
- O que você não sabe? - Acabo gritando, estou muito alterado, minhas mãos tremem.
- Eu... Eu... - Vejo seus olhos se encherem de lágrimas. Não era isso que eu queria. Não queria a fazer chorar. - Desculpa eu não queria te assustar. - Ela começa dar passos para trás se afastando de mim - Pelo que vi você já passa um barra. - tenho que contornar isso - Não foi minha intenção juro. - Ela começa a correr e começo a seguila - Âmber calma... Âmber espera eu não… - O sinal toca, todos começam a sair das suas sala, a perco no meio da multidão, droga.
Encosto na parede sentindo a frustação tomar conta de todo o meu corpo, minha cabeça está latejando, me sinto tonto. Acho que meu primeiro dia escola vai terminar mais cedo do que pensei. Pego o celular no meu bolso e ligo para o Everton. Não vejo a hora de chegar em casa.
O caminho até em casa foi um silêncio, o Everton percebeu logo que eu não estava bem, então me deixou no meu canto. Minha cabeça, nunca senti uma dor tão forte assim - O olhar de Âmber vem em minha mente - Me envolvo no banco do carro e vou lentamente perdendo os sentidos lembrando daquele olhar.
Algumas horas depois…
Sinto meu olhos arderam, minha cabeça ainda dói, me sento e percebo que estou na minha cama, a minha volta estava Maria e um homem de jaleco branco, que eu acredito se um médico, ele conversa com meu pai num canto mais afastado.
-Que bom que acordou, já estávamos ficando preocupados. Você está sentindo alguma dor?
-Sim, minha cabeça dói muito.
-A querido, você desmaiou dentro do carro, o Everton percebeu e veio para casa às pressas, e nos o trouxemos para seu quarto.
-Como é bom te ver acordado meu filho, ficamos muito preocupados, assim que se sentir melhor precisamos conversar. - Ele se vira para o homem de branco - Esse é o Dr. Claus, foi ele que te examinou.
-E um prazer te conhecer Benjamin, mesmo que não seja nas melhores circunstâncias. - Ele abre um sorriso.
- Eu… Eu..
- Não se force, você teve um colapso causado por estresse, suas plaquetas estão altas, o que fez sua pressão subir um pouco. O que deve está te causando um forte dor de cabeça. - Só consigo confirma com a cabeça. - estarei aplicando um remédio no seu soro que vai te ajudar. - Eu estava tão avoado que nem percebi que estava no soro. - Essa noite ficarei aqui para poder te monitorar, esse remédio que apliquei vai te dar sono, então descanse ok.
Maria veio e segurou a minha mão. O médico se sentou numa cadeira próxima, meu pai me cumprimentou com um aceno de cabeça. Meus olhos pesam, me sinto leve. Olho pra Maria que me lança um olhar preocupado e abre um sorriso. Apago.
Faz cinco dias desde que vi Benjamin. Ele virou a celebridade do momento, o príncipe encantado que desmaiou diante da escola inteira e, mesmo assim, conseguiu sair por cima. Já eu... continuo sendo ninguém.Minha tia, com sua criatividade habitual, decidiu me punir furando os pneus da minha caminhonete — junto com sua filhinha predileta. Sabem que estou juntando cada centavo para a faculdade, e me atingiram onde mais dói. Resultado: tive que trabalhar o dobro para repor o prejuízo.Hoje é dia de encarar mais um turno na lanchonete da empresa do pai do Théo. Não é o pior dos lugares... até os amigos dele aparecerem. A partir daí, começa o inferno: lanches no chão, bebidas derramadas em mim, e a palhaçada clássica de colocarem o pé para eu tropeçar enquanto sirvo os outros clientes.Não quero começar o dia já me irritando, então me levanto e me arrumo. O uniforme de garçonete não me cai tão mal, e por um segundo me pego pensando nisso — Droga, estou começando a pensar como aqueles idiota
— Maria, chame o Daniel para mim. — Peço, me sentando na cama.— Ei, o médico disse repouso absoluto. — Ela corre até mim, ajusta os travesseiros nas minhas costas com aquele jeito cuidadoso de sempre.— Ah, Maria… já não sou mais uma criança. Posso me cuidar.— Pode até não ser mais criança, mas quando o assunto é teimosia… você volta a ser um bebê de colo. — Ela revira os olhos. — Fica quietinho aí. Já volto com o Daniel.Assim que ela cruza a porta, pego meu laptop. Vou direto para a área de pesquisa. Tento encontrar qualquer informação sobre Amber… nada. Frustrado, fecho o laptop com um suspiro e me ajeito na cama novamente. Batem à porta.— Pode entrar.— Mandou me chamar, Ben? — Daniel entra e fecha a porta atrás de si.— Sim. Preciso de algumas informações. E você é o homem certo para isso.— O que tem de tão importante? — Ele leva a mão ao queixo, pensativo. — Está interessado em alguém, Ben?— Claro que não! O que vocês nessa casa pensam de mim?! — Jogo uma almofada nele.— Op
Meus olhos ardem, minha cabeça lateja. Não me lembro da última vez em que minha cama pareceu tão macia. Me levanto devagar, cambaleando até o que acredito ser o banheiro. Estendo as mãos procurando a pia, mas... nada. Esfrego os olhos com força.Droga. Esse não é o meu banheiro. Na verdade, isso nem parece um banheiro.Roupas masculinas estão jogadas por todos os cantos. Em que tipo de lugar eu vim parar?— Amber? Você está aqui?A voz feminina me paralisa. Dou passos leves até a porta e espreito pelo vão. Uma mulher que nunca vi antes me olha como se me conhecesse.— Aí está você — ela sorri, vindo em minha direção. Penso em fugir, mas é tarde. Fui sequestrada?— Estava procurando o banheiro? — pergunta ela gentilmente. Assinto em silêncio, e ela segura minha mão, guiando-me até uma porta mais afastada.Entro rápido e fecho a porta. Encosto nela, respirando fundo. Onde estou? Isso é mesmo um sequestro? Não... nada aqui parece ameaçador. O lugar é sofisticado, cheio de detalhes caros.
– Vamos entrar, queridos. A Maria já deve estar terminando o almoço. – Almoço? Já é esse horário? – pergunto, atordoada. – Está tudo bem, querida? Você está pálida.– Eu preciso ir embora. – A urgência explode dentro de mim. – Como fui demorar tanto pra lembrar? Eu preciso ir embora. Agora.– Mas você precisa comer, Amber. Mal tomou café... – Benjamin... se você pudesse ouvir meus pensamentos, por favor, pare de me manter aqui.– Você não entende. Eu não deveria estar aqui. Ela tem regras... e punições. Cada minuto aqui me complica ainda mais. A última coisa que lembro é de estar no trabalho. E eu devia estar lá hoje, no mesmo horário. Eu sei que vocês querem ser os heróis da minha história... mas a vida real não é um conto de fadas.– Querida, já entramos em contato com sua tia. Ela sabe onde você está. Não acho que ficar para almoçar será um problema. – A voz da mãe de Benjamin é doce, mas meu corpo treme. Minha garganta fecha. Vou chorar. – Vamos garantir que você chegue bem em
Acordei com uma dor de cabeça latejante e, instintivamente, amaldiçoei a Verônica. Me levantei sem vontade alguma. As marcas nas pernas ainda estavam visíveis, mas não me permiti lamentar. Tomei um banho rápido e vesti uma calça jeans no lugar da maldita saia do uniforme. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e encarei o arquivo em cima da cama. Sabia que não podia deixá-lo ali. Sem muitas opções, enfiei dentro da mochila e agradeci mentalmente por usar bolsas diferentes para o trabalho e para a escola — do contrário, não teria como levar meu material.Todas as minhas coisas, incluindo meu celular e meu carro, estavam na lanchonete. Suspirei fundo, irritada. Culpa do Benjamin, claro.— Senhorita Jons, posso usar seu celular? O meu ficou na lanchonete — disse enquanto passava por ela, depositando um beijo em sua bochecha.— Mas é claro, minha menina. Você sabe que não precisa pedir — respondeu com carinho, tirando o celular do bolso. — E como estão suas pernas? Você devia ficar em casa.—
Eu não tive coragem de entrar na aula. A Carla estava encrencada por minha causa e isso me corroía por dentro. Meus tênis gastos faziam um barulho irritante contra o piso enquanto eu andava de um lado para o outro no corredor vazio. O zumbido nos meus ouvidos e a palpitação no peito não me deixavam pensar em mais nada. Tudo era culpa minha. Se eu tivesse enfrentado Verônica, se não fosse tão submissa, agora seria eu lá dentro e não a Carla.— Sabia que ia te encontrar aqui. Como estão as coisas? — John surgiu ao meu lado, com a expressão preocupada. Ele devia ter me mandado mensagem, mas esqueceu que estou sem celular. Típico dele. — Aquela megera mexeu com você de novo? — Ele olha para meu uniforme, ainda manchado de suco seco.Eu não respondo. Só me viro e continuo andando, tentando fugir até da conversa.— Ei, Amber. Para com isso — ele diz antes de me puxar para um abraço apertado, que me prende no lugar.— É culpa minha… Se a Carla não tivesse me defendido, não estaria lá dentro a
Cheguei na loja muito antes do horário, ainda com o uniforme sujo da escola e uma sacola apertada nas mãos. Kevin correu em minha direção assim que cruzei a porta, seus olhos arregalados de pânico.— Amber, meu Deus, o que aconteceu com você? — Ele me segurou antes que eu desabasse. — Isso na sua calça é sangue?Tentei responder, mas minha garganta parecia fechada. Meu corpo tremia e minhas pernas fraquejaram. Me apoiei nele, mas estava tudo girando.— Amber, tá me ouvindo? Amber?! — Eu ouvia, sim. Mas era como se meu corpo tivesse se desconectado. Meu campo de visão ficou embaçado. Droga... vou desmaiar.3 horas depois – Hospital Cristina Clevis, particularO som agudo do monitor cardíaco me trouxe de volta. Senti o soro no braço e, ao lado da cama, Benjamin dormia numa cadeira desconfortável como se fosse um sofá de pelúcia. Seus cabelos estavam bagunçados, a expressão cansada, mas ainda assim... estranhamente tranquila.Meus olhos encontraram os dele bem no momento em que ele acordo
— Eu quero que vocês achem ela. Uma menina não desaparece assim! — Benjamin andava de um lado para o outro no corredor do hospital, transtornado.— Benjamin, meu filho, nós vamos encontrá-la — sua mãe tentava acalmá-lo. Nunca o vira tão abalado, muito menos por causa de uma garota. — Seu pai está vindo com o Victor.— Tudo que eu menos preciso agora é o Victor e suas piadinhas idiotas.— Ok... Vou pedir para o seu pai passar na casa dela. Vai que ela voltou pra lá.— Sim. Ela não sabe o que aconteceu. Deve ter voltado pra casa, achando que ainda é o único lugar dela no mundo.— Benjamin, espera. — A mãe o interrompeu, firme. — Você mesmo disse que ela não queria te ver. Se ela descobriu tudo que aconteceu... você vai ser a última pessoa que ela vai querer encontrar.Ele parou, como se tivesse levado um soco no estômago. A queimação na garganta o impediu de responder por alguns segundos.— Tem razão. Liga pro pai. Diz pra ele ir. Eu... eu vou pra casa. — A voz dele saiu baixa, derrotada