Faz cinco dias desde que vi Benjamin. Ele virou a celebridade do momento, o príncipe encantado que desmaiou diante da escola inteira e, mesmo assim, conseguiu sair por cima. Já eu... continuo sendo ninguém.
Minha tia, com sua criatividade habitual, decidiu me punir furando os pneus da minha caminhonete — junto com sua filhinha predileta. Sabem que estou juntando cada centavo para a faculdade, e me atingiram onde mais dói. Resultado: tive que trabalhar o dobro para repor o prejuízo.
Hoje é dia de encarar mais um turno na lanchonete da empresa do pai do Théo. Não é o pior dos lugares... até os amigos dele aparecerem. A partir daí, começa o inferno: lanches no chão, bebidas derramadas em mim, e a palhaçada clássica de colocarem o pé para eu tropeçar enquanto sirvo os outros clientes.
Não quero começar o dia já me irritando, então me levanto e me arrumo. O uniforme de garçonete não me cai tão mal, e por um segundo me pego pensando nisso — Droga, estou começando a pensar como aqueles idiotas. Prendo o cabelo num rabo bagunçado, pego minha bolsa e o celular, e saio.
Os Jons já estão trabalhando na casa, então não me despeço. Entro na caminhonete e sigo rumo à cidade. Paro do outro lado da rua, em frente à loja de penhores. Respiro fundo ao ver a lanchonete abarrotada. Tiro a chave da ignição, pego minha bolsa e vou — já sei o que me espera lá dentro. Até trouxe um uniforme reserva.
Kevin me cumprimenta com um aceno quando entro. Respondo com um sorriso cansado e vou direto para a entrada dos funcionários. Meu armário nem porta tem mais — já arrombaram tantas vezes só pra jogarem molho nas minhas coisas.
Volto para o balcão e assumo meu posto ao lado do Kevin.
— Tá tão linda hoje... Pena que os caras do suco já estão aqui. Queria contemplar mais um pouco — ele ri, debochado.
— Isso, faz piada mesmo — digo, enquanto faço login no sistema de comanda. — Qualquer dia uso você de escudo humano.
— Você não faria isso com seu melhor amigo, né? — Ele faz aquela cara de cachorro pidão que sempre me arranca um riso. E pela primeira vez no dia, minha expressão cansada cede um pouco.
— Bom... lá vem o primeiro cliente — ele diz, vendo uma moça entrar. Mas ela vai direto ao banheiro.
— Ué, e os caras do suco?
— Pelo amor, Amber... cinco anos aqui e ainda não percebeu? Eles só fazem pedido depois que você chega.
Reviro os olhos.
— O que me irrita é que o gerente te obriga a ir lá vinte vezes perguntar se já querem pedir.
— Imagina, já que são os únicos que a gente atende na mesa — murmuro, massageando as têmporas. Respiro fundo. Hora de enfrentar a mesa dos ogros.
Dou a volta no balcão. Kevin me dá um sinal de positivo. Pego o bloco de notas e a caneta e caminho até o fundo da lanchonete. Conto oito cabeças. Oito? Tem alguém a mais.
E claro… é ela.
Verônica.
O dia acaba de virar uma tragédia completa.
— Boa tarde, gostariam de fazer o pedido? — pergunto, caneta e bloco prontos.
Silêncio.
Eles seguem conversando como se eu fosse invisível.
— Vocês vão pedir ou...?
Nada.
Bufo, me viro para sair.
— Alguém te deu autorização pra ir embora? — diz uma voz seca às minhas costas.
Paro. Respiro. Junto forças.
— Achei que estavam ocupados demais fofocando sobre a vida alheia, então resolvi voltar mais tarde — me viro com meu melhor olhar sonsa. — Quando estiverem menos ocupados.
— Tu esqueceste quem tu és, bastarda?
Acertei um ponto fraco. Um bônus inesperado.
— Nunquinha, querida prima. Você repete isso tanto que virou trilha sonora da minha vida. Então… vão pedir?
Ignoro o olhar raivoso dela e me volto para os garotos.
Seria um sonho passar batida anotando os pedidos… mas claro, tenho que escutar piadinhas e obscenidades disfarçadas de "brincadeira". Volto para o balcão me arrastando.
— Como foi lá? — Kevin pergunta, olhando minha cara.
— Na média. Só fiquei pensando em quando vou conseguir me livrar desse lugar. Quero ir embora de Springfield o quanto antes.
— Dezembro, Amber. Você se forma e dá adeus a tudo isso — ele gesticula ao redor. — Inclusive a mim, à Carla, ao John...
— Para com isso. Vai poder me visitar sempre.
— Com o salário que a gente ganha aqui? Uma vez por ano se eu economizar tudo. Vou morrer de saudade antes disso.
— Kevin Alstin Da Gama, sem drama, por favor.
— Só você e minha mãe me chamam pelo nome completo — ele diz, ofendido de brincadeira.
— Os pedidos estão prontos, casal! — Danila aparece do nada, do outro lado do vidro. — Kevin, você me dá nojo. Beija logo ela e acaba com isso.
— Infelizmente, Danila, ela não é meu tipo — digo, fingindo sussurrar. Ela ri. Pego os pratos e passo voando por Kevin.
— Ei! Como assim eu não sou seu tipo?
— Conversamos depois. Agora vou encarar meu pesadelo pessoal.
Caminho até a mesa. Eles estão animados, vivendo suas vidas perfeitas de gente rica e vazia. Vida garantida. Nada os preocupa. Quase invejável.
— Finalmente, achei que ia morrer de fome, bastarda — diz Verônica.
— Ah, tadinha. Ia morrer por não comer sua saladinha com suco diet — coloco os pratos com mais força que deveria.
— É claro. Pobres como você têm mais resistência à fome. Não entenderia. — Ela dá um gole. — Eca. Está horrível. Acho que combina com você.
Fecho os olhos, esperando o impacto do suco no meu rosto.
Nada.
Abro os olhos. Benjamin está ali, a centímetros do meu rosto. Seu cabelo está molhado, a jaqueta pingando.
— Você tá bem? Se molhou? — ele pergunta, preocupado.
Dou um passo para trás, atônita.
— Ben, querido, me desculpa! Eu... — Verônica tenta secá-lo, mas ele afasta suas mãos.
— Você queria acertar a Amber. Isso é pior.
Kevin se aproxima com uma toalha. Me olha confuso. Entrego a toalha para Benjamin.
— Ben, eu posso explicar... — Verônica tenta se reaproximar.
— Não quero você perto de mim. Você me enoja.
O clima congela. Os meninos se levantam.
— Quem você pensa que é pra falar assim com ela? — Jordan avança.
— Cala a boca, Jordan. — Verônica se antecipa. — Não encosta nele.
— Você já escolheu, então? É isso?
— Do que você tá falando, Théo? Quem é esse cara? — pergunta Jordan, tenso.
Théo se aproxima, o rosto endurecido.
— Ele é o filho do dono disso tudo. Dos Willivam. Vocês não reconheceram o sobrenome?
Silêncio. Todos digerem a bomba.
— É verdade, Verônica? — Jordan a segura pelo braço.
— Me larga! — ela grita. — Sim, é verdade! Minha mãe me contou logo que ele foi matriculado. Vocês queriam que eu desperdiçasse isso?
— Você só enxerga pessoas como contas bancárias — murmuro, sem conseguir evitar.
— Cala a boca, sua bastarda! — Ela vem pra cima. — Isso tudo é culpa sua! Se você tivesse morrido com seus pais, eu não estaria nessa confusão!
Estalo.
Minha bochecha arde. Mas é meu peito que queima mais.
Alguém me envolve num abraço quente. As vozes ao redor viram ruído. Me puxam, me levam. O sino da porta toca. Estou sendo levada para fora.
O carro está aberto. Benjamin segura a porta.
— Está tudo bem. Vou te tirar daqui.
Ele me acomoda no banco. Tento limpar o rosto, mas as lágrimas continuam. Ele segura meu rosto, gentil.
— Pode chorar.
E eu desabo. Nos braços dele, sem saber por quanto tempo. Nem quando adormeci.
Olá pessoal, sou a Lua muito prazer. Eu gostaria de está com vocês a cada capitulo que leem para eu poder saber se estão gostando ou se está faltando algo, mas infelizmente não posso. A única coisa que posso esperar e um comentário, que me diga se estou indo no caminho certo ou já me perdi na historia. Conto com o apoio de vocês para que meu primeiro livro publicado não seja mais um de muitos outros que escrevi e não terminei. Espero que gostem desse novo capítulo, muita coisa vai mudar para a Amber a partir daqui. Boa leitura.
— Maria, chame o Daniel para mim. — Peço, me sentando na cama.— Ei, o médico disse repouso absoluto. — Ela corre até mim, ajusta os travesseiros nas minhas costas com aquele jeito cuidadoso de sempre.— Ah, Maria… já não sou mais uma criança. Posso me cuidar.— Pode até não ser mais criança, mas quando o assunto é teimosia… você volta a ser um bebê de colo. — Ela revira os olhos. — Fica quietinho aí. Já volto com o Daniel.Assim que ela cruza a porta, pego meu laptop. Vou direto para a área de pesquisa. Tento encontrar qualquer informação sobre Amber… nada. Frustrado, fecho o laptop com um suspiro e me ajeito na cama novamente. Batem à porta.— Pode entrar.— Mandou me chamar, Ben? — Daniel entra e fecha a porta atrás de si.— Sim. Preciso de algumas informações. E você é o homem certo para isso.— O que tem de tão importante? — Ele leva a mão ao queixo, pensativo. — Está interessado em alguém, Ben?— Claro que não! O que vocês nessa casa pensam de mim?! — Jogo uma almofada nele.— Op
Meus olhos ardem, minha cabeça lateja. Não me lembro da última vez em que minha cama pareceu tão macia. Me levanto devagar, cambaleando até o que acredito ser o banheiro. Estendo as mãos procurando a pia, mas... nada. Esfrego os olhos com força.Droga. Esse não é o meu banheiro. Na verdade, isso nem parece um banheiro.Roupas masculinas estão jogadas por todos os cantos. Em que tipo de lugar eu vim parar?— Amber? Você está aqui?A voz feminina me paralisa. Dou passos leves até a porta e espreito pelo vão. Uma mulher que nunca vi antes me olha como se me conhecesse.— Aí está você — ela sorri, vindo em minha direção. Penso em fugir, mas é tarde. Fui sequestrada?— Estava procurando o banheiro? — pergunta ela gentilmente. Assinto em silêncio, e ela segura minha mão, guiando-me até uma porta mais afastada.Entro rápido e fecho a porta. Encosto nela, respirando fundo. Onde estou? Isso é mesmo um sequestro? Não... nada aqui parece ameaçador. O lugar é sofisticado, cheio de detalhes caros.
– Vamos entrar, queridos. A Maria já deve estar terminando o almoço. – Almoço? Já é esse horário? – pergunto, atordoada. – Está tudo bem, querida? Você está pálida.– Eu preciso ir embora. – A urgência explode dentro de mim. – Como fui demorar tanto pra lembrar? Eu preciso ir embora. Agora.– Mas você precisa comer, Amber. Mal tomou café... – Benjamin... se você pudesse ouvir meus pensamentos, por favor, pare de me manter aqui.– Você não entende. Eu não deveria estar aqui. Ela tem regras... e punições. Cada minuto aqui me complica ainda mais. A última coisa que lembro é de estar no trabalho. E eu devia estar lá hoje, no mesmo horário. Eu sei que vocês querem ser os heróis da minha história... mas a vida real não é um conto de fadas.– Querida, já entramos em contato com sua tia. Ela sabe onde você está. Não acho que ficar para almoçar será um problema. – A voz da mãe de Benjamin é doce, mas meu corpo treme. Minha garganta fecha. Vou chorar. – Vamos garantir que você chegue bem em
Acordei com uma dor de cabeça latejante e, instintivamente, amaldiçoei a Verônica. Me levantei sem vontade alguma. As marcas nas pernas ainda estavam visíveis, mas não me permiti lamentar. Tomei um banho rápido e vesti uma calça jeans no lugar da maldita saia do uniforme. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e encarei o arquivo em cima da cama. Sabia que não podia deixá-lo ali. Sem muitas opções, enfiei dentro da mochila e agradeci mentalmente por usar bolsas diferentes para o trabalho e para a escola — do contrário, não teria como levar meu material.Todas as minhas coisas, incluindo meu celular e meu carro, estavam na lanchonete. Suspirei fundo, irritada. Culpa do Benjamin, claro.— Senhorita Jons, posso usar seu celular? O meu ficou na lanchonete — disse enquanto passava por ela, depositando um beijo em sua bochecha.— Mas é claro, minha menina. Você sabe que não precisa pedir — respondeu com carinho, tirando o celular do bolso. — E como estão suas pernas? Você devia ficar em casa.—
Eu não tive coragem de entrar na aula. A Carla estava encrencada por minha causa e isso me corroía por dentro. Meus tênis gastos faziam um barulho irritante contra o piso enquanto eu andava de um lado para o outro no corredor vazio. O zumbido nos meus ouvidos e a palpitação no peito não me deixavam pensar em mais nada. Tudo era culpa minha. Se eu tivesse enfrentado Verônica, se não fosse tão submissa, agora seria eu lá dentro e não a Carla.— Sabia que ia te encontrar aqui. Como estão as coisas? — John surgiu ao meu lado, com a expressão preocupada. Ele devia ter me mandado mensagem, mas esqueceu que estou sem celular. Típico dele. — Aquela megera mexeu com você de novo? — Ele olha para meu uniforme, ainda manchado de suco seco.Eu não respondo. Só me viro e continuo andando, tentando fugir até da conversa.— Ei, Amber. Para com isso — ele diz antes de me puxar para um abraço apertado, que me prende no lugar.— É culpa minha… Se a Carla não tivesse me defendido, não estaria lá dentro a
Cheguei na loja muito antes do horário, ainda com o uniforme sujo da escola e uma sacola apertada nas mãos. Kevin correu em minha direção assim que cruzei a porta, seus olhos arregalados de pânico.— Amber, meu Deus, o que aconteceu com você? — Ele me segurou antes que eu desabasse. — Isso na sua calça é sangue?Tentei responder, mas minha garganta parecia fechada. Meu corpo tremia e minhas pernas fraquejaram. Me apoiei nele, mas estava tudo girando.— Amber, tá me ouvindo? Amber?! — Eu ouvia, sim. Mas era como se meu corpo tivesse se desconectado. Meu campo de visão ficou embaçado. Droga... vou desmaiar.3 horas depois – Hospital Cristina Clevis, particularO som agudo do monitor cardíaco me trouxe de volta. Senti o soro no braço e, ao lado da cama, Benjamin dormia numa cadeira desconfortável como se fosse um sofá de pelúcia. Seus cabelos estavam bagunçados, a expressão cansada, mas ainda assim... estranhamente tranquila.Meus olhos encontraram os dele bem no momento em que ele acordo
— Eu quero que vocês achem ela. Uma menina não desaparece assim! — Benjamin andava de um lado para o outro no corredor do hospital, transtornado.— Benjamin, meu filho, nós vamos encontrá-la — sua mãe tentava acalmá-lo. Nunca o vira tão abalado, muito menos por causa de uma garota. — Seu pai está vindo com o Victor.— Tudo que eu menos preciso agora é o Victor e suas piadinhas idiotas.— Ok... Vou pedir para o seu pai passar na casa dela. Vai que ela voltou pra lá.— Sim. Ela não sabe o que aconteceu. Deve ter voltado pra casa, achando que ainda é o único lugar dela no mundo.— Benjamin, espera. — A mãe o interrompeu, firme. — Você mesmo disse que ela não queria te ver. Se ela descobriu tudo que aconteceu... você vai ser a última pessoa que ela vai querer encontrar.Ele parou, como se tivesse levado um soco no estômago. A queimação na garganta o impediu de responder por alguns segundos.— Tem razão. Liga pro pai. Diz pra ele ir. Eu... eu vou pra casa. — A voz dele saiu baixa, derrotada
A atmosfera dentro do carro era densa, sufocante. Nenhum dos três ousava romper o silêncio. Benjamin mantinha os olhos voltados para a janela, mas sua mente fervilhava com as lembranças do que acabara de acontecer. Amber, encolhida no banco de trás, brincava com os próprios dedos como uma criança perdida no caos dos próprios pensamentos. Victor, sentado no banco da frente, ainda processava o fato de ter levado um tapa. Um tapa. Ele, que sempre fora tratado como rei por todas as garotas. Mas não por ela.Mesmo assim, não conseguia tirar os olhos dela. Quando a viu prestes a se jogar do penhasco, seu corpo egoísta reagiu antes da mente. E agora, mesmo ferido no orgulho, tudo o que ele conseguia fazer era olhar para o rosto dela – um rosto manchado por lágrimas.Eram três jovens, três mundos em colisão, três silêncios diferentes. E permaneceram assim até o carro estacionar diante da mansão.Assim que o motor se calou, os três praticamente saltaram do carro, ansiosos por distância uns dos