Meus olhos ardem, minha cabeça lateja. Não me lembro da última vez em que minha cama pareceu tão macia. Me levanto devagar, cambaleando até o que acredito ser o banheiro. Estendo as mãos procurando a pia, mas... nada. Esfrego os olhos com força.Droga. Esse não é o meu banheiro. Na verdade, isso nem parece um banheiro.Roupas masculinas estão jogadas por todos os cantos. Em que tipo de lugar eu vim parar?— Amber? Você está aqui?A voz feminina me paralisa. Dou passos leves até a porta e espreito pelo vão. Uma mulher que nunca vi antes me olha como se me conhecesse.— Aí está você — ela sorri, vindo em minha direção. Penso em fugir, mas é tarde. Fui sequestrada?— Estava procurando o banheiro? — pergunta ela gentilmente. Assinto em silêncio, e ela segura minha mão, guiando-me até uma porta mais afastada.Entro rápido e fecho a porta. Encosto nela, respirando fundo. Onde estou? Isso é mesmo um sequestro? Não... nada aqui parece ameaçador. O lugar é sofisticado, cheio de detalhes caros.
– Vamos entrar, queridos. A Maria já deve estar terminando o almoço. – Almoço? Já é esse horário? – pergunto, atordoada. – Está tudo bem, querida? Você está pálida.– Eu preciso ir embora. – A urgência explode dentro de mim. – Como fui demorar tanto pra lembrar? Eu preciso ir embora. Agora.– Mas você precisa comer, Amber. Mal tomou café... – Benjamin... se você pudesse ouvir meus pensamentos, por favor, pare de me manter aqui.– Você não entende. Eu não deveria estar aqui. Ela tem regras... e punições. Cada minuto aqui me complica ainda mais. A última coisa que lembro é de estar no trabalho. E eu devia estar lá hoje, no mesmo horário. Eu sei que vocês querem ser os heróis da minha história... mas a vida real não é um conto de fadas.– Querida, já entramos em contato com sua tia. Ela sabe onde você está. Não acho que ficar para almoçar será um problema. – A voz da mãe de Benjamin é doce, mas meu corpo treme. Minha garganta fecha. Vou chorar. – Vamos garantir que você chegue bem em
Acordei com uma dor de cabeça latejante e, instintivamente, amaldiçoei a Verônica. Me levantei sem vontade alguma. As marcas nas pernas ainda estavam visíveis, mas não me permiti lamentar. Tomei um banho rápido e vesti uma calça jeans no lugar da maldita saia do uniforme. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e encarei o arquivo em cima da cama. Sabia que não podia deixá-lo ali. Sem muitas opções, enfiei dentro da mochila e agradeci mentalmente por usar bolsas diferentes para o trabalho e para a escola — do contrário, não teria como levar meu material.Todas as minhas coisas, incluindo meu celular e meu carro, estavam na lanchonete. Suspirei fundo, irritada. Culpa do Benjamin, claro.— Senhorita Jons, posso usar seu celular? O meu ficou na lanchonete — disse enquanto passava por ela, depositando um beijo em sua bochecha.— Mas é claro, minha menina. Você sabe que não precisa pedir — respondeu com carinho, tirando o celular do bolso. — E como estão suas pernas? Você devia ficar em casa.—
Eu não tive coragem de entrar na aula. A Carla estava encrencada por minha causa e isso me corroía por dentro. Meus tênis gastos faziam um barulho irritante contra o piso enquanto eu andava de um lado para o outro no corredor vazio. O zumbido nos meus ouvidos e a palpitação no peito não me deixavam pensar em mais nada. Tudo era culpa minha. Se eu tivesse enfrentado Verônica, se não fosse tão submissa, agora seria eu lá dentro e não a Carla.— Sabia que ia te encontrar aqui. Como estão as coisas? — John surgiu ao meu lado, com a expressão preocupada. Ele devia ter me mandado mensagem, mas esqueceu que estou sem celular. Típico dele. — Aquela megera mexeu com você de novo? — Ele olha para meu uniforme, ainda manchado de suco seco.Eu não respondo. Só me viro e continuo andando, tentando fugir até da conversa.— Ei, Amber. Para com isso — ele diz antes de me puxar para um abraço apertado, que me prende no lugar.— É culpa minha… Se a Carla não tivesse me defendido, não estaria lá dentro a
Cheguei na loja muito antes do horário, ainda com o uniforme sujo da escola e uma sacola apertada nas mãos. Kevin correu em minha direção assim que cruzei a porta, seus olhos arregalados de pânico.— Amber, meu Deus, o que aconteceu com você? — Ele me segurou antes que eu desabasse. — Isso na sua calça é sangue?Tentei responder, mas minha garganta parecia fechada. Meu corpo tremia e minhas pernas fraquejaram. Me apoiei nele, mas estava tudo girando.— Amber, tá me ouvindo? Amber?! — Eu ouvia, sim. Mas era como se meu corpo tivesse se desconectado. Meu campo de visão ficou embaçado. Droga... vou desmaiar.3 horas depois – Hospital Cristina Clevis, particularO som agudo do monitor cardíaco me trouxe de volta. Senti o soro no braço e, ao lado da cama, Benjamin dormia numa cadeira desconfortável como se fosse um sofá de pelúcia. Seus cabelos estavam bagunçados, a expressão cansada, mas ainda assim... estranhamente tranquila.Meus olhos encontraram os dele bem no momento em que ele acordo
— Eu quero que vocês achem ela. Uma menina não desaparece assim! — Benjamin andava de um lado para o outro no corredor do hospital, transtornado.— Benjamin, meu filho, nós vamos encontrá-la — sua mãe tentava acalmá-lo. Nunca o vira tão abalado, muito menos por causa de uma garota. — Seu pai está vindo com o Victor.— Tudo que eu menos preciso agora é o Victor e suas piadinhas idiotas.— Ok... Vou pedir para o seu pai passar na casa dela. Vai que ela voltou pra lá.— Sim. Ela não sabe o que aconteceu. Deve ter voltado pra casa, achando que ainda é o único lugar dela no mundo.— Benjamin, espera. — A mãe o interrompeu, firme. — Você mesmo disse que ela não queria te ver. Se ela descobriu tudo que aconteceu... você vai ser a última pessoa que ela vai querer encontrar.Ele parou, como se tivesse levado um soco no estômago. A queimação na garganta o impediu de responder por alguns segundos.— Tem razão. Liga pro pai. Diz pra ele ir. Eu... eu vou pra casa. — A voz dele saiu baixa, derrotada
A atmosfera dentro do carro era densa, sufocante. Nenhum dos três ousava romper o silêncio. Benjamin mantinha os olhos voltados para a janela, mas sua mente fervilhava com as lembranças do que acabara de acontecer. Amber, encolhida no banco de trás, brincava com os próprios dedos como uma criança perdida no caos dos próprios pensamentos. Victor, sentado no banco da frente, ainda processava o fato de ter levado um tapa. Um tapa. Ele, que sempre fora tratado como rei por todas as garotas. Mas não por ela.Mesmo assim, não conseguia tirar os olhos dela. Quando a viu prestes a se jogar do penhasco, seu corpo egoísta reagiu antes da mente. E agora, mesmo ferido no orgulho, tudo o que ele conseguia fazer era olhar para o rosto dela – um rosto manchado por lágrimas.Eram três jovens, três mundos em colisão, três silêncios diferentes. E permaneceram assim até o carro estacionar diante da mansão.Assim que o motor se calou, os três praticamente saltaram do carro, ansiosos por distância uns dos
— Ela já ligou. O médico... — A cena à sua frente o fez congelar onde estava. — Acho que não precisa mais.Victor deu um passo para trás ao ver Amber e Benjamin se beijando no corredor da mansão. O olhar dele escureceu. Ele saiu dali em silêncio, os passos firmes o levando até o saguão. Parou sem saber para onde ir. Sentia-se sufocado, mas não queria voltar para dentro. Ao avistar a porta, decidiu sair. Do lado de fora, procurou por Everton, mas o mordomo devia estar em algum canto da mansão. Victor não queria cruzar mais nenhuma porta. Preferiu o jardim.Caminhou sem rumo por alguns minutos até finalmente se dar conta do que estava sentindo.— Mas que merda eu tô fazendo?Aquilo não era ele. Foi enviado para aquela cidade para "endireitar-se", mas todo mundo sabia a verdade: festas, bebida, mulheres... nunca dormira sozinho desde a primeira vez. Então por que agora parecia que alguém havia enfiado um punho em seu estômago?A resposta era tão irritante quanto óbvia.Amber.Ela o fazia