respiração ofegante ainda doía no peito. Minhas mãos tremiam. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, e meus joelhos mal sustentavam o corpo. Mas eu continuei andando. Sem rumo. Só queria sair de perto daquela escola, daquela vida.Virei duas esquinas, cortei caminho por um beco que eu conhecia desde pequena, e fui parar no único lugar que me trazia um pouco de paz: a velha lanchonete da dona Cida.Era um lugar simples, mas tinha cheiro de infância. Meus pais costumavam me levar lá aos sábados, antes de tudo desmoronar. Abri a porta de vidro com esforço e fui recebida pelo sino pendurado que tilintou como um sussurro de “bem-vinda de volta”.— Amber? — a voz surpresa veio de trás do balcão. — Minha nossa, menina... você está um caco.— Eu sei — murmurei, sem conseguir encará-la.— Senta aí, vou fazer um chocolate quente. Daquele que você gosta, com marshmallow e tudo.Sentei na mesa do canto, a mesma de sempre. Minhas mãos tocaram o tampo de madeira riscado, como se buscassem uma
Muitas histórias começam com um “Era uma vez” ou se passam em um lugar “tão, tão distante”. Mas não essa. Essa é a minha história — e posso te garantir que ela está bem longe de terminar com um “felizes para sempre”.Prazer, meu nome é Amber. E eu sou o motivo pelo qual você vai começar a duvidar que contos de fadas realmente funcionem fora dos livros.Estou no último ano do ensino médio, mas diferente da maioria dos veteranos que brilham pelos corredores da escola, eu passo despercebida. Quer dizer... se desconsiderarmos o apelido “a órfã” que carrego desde que minha adorável prima resolveu transformar minha tragédia pessoal em fofoca de corredor.Minha escola é um teatro, dividido entre classes sociais e padrões de beleza. E eu? Eu não me encaixo em nenhuma dessas categorias. Estudo ali apenas porque minha tia Olga, além de diretora da escola, também é — para minha total infelicidade — minha guardiã legal. Mas não me entenda mal. A ingratidão é recíproca.Meus pais morreram quando eu
A escola, para mim, sempre foi o próprio inferno. Mas este ano não é nem pelos motivos de sempre. É pior. Minha tia continua sendo a diretora — sim, a própria Cruella em carne, osso e maquiagem cara — e minha prima? Rainha do baile por três anos consecutivos. Três. E adivinha? Vai ganhar de novo esse ano, com certeza. A única coisa que muda são os jogadores de futebol que ela escolhe por temporada para chamar de “meu amor”.Meu objetivo, como nos outros anos, é simples: sobreviver mais um dia e juntar grana pra faculdade. Nada de universidades de elite, claro. Meu sonho mesmo é qualquer canto bem longe da minha tia e do teatro que ela chama de família.Parada em frente ao espelho, vejo a garota de sempre: cabelos longos e rebeldes, olhos claros, pele bronzeada — cortesia dos dias entregando panfletos sob o sol — e, claro, aquele uniforme horroroso que parece ter saído de um dorama genérico. Sainha, camisa social e a maldita gravatinha. O modelo foi escolha da minha tia, inspirada no su
— E esse ano, teremos mais um novo aluno para completar o nosso time de estrelas que é o Colégio Bernoulli. É com muito prazer que dou as boas-vindas a Benjamin William.E lá estava ele. Jaqueta de couro, calça justa e um sorriso que faria até a Madre Teresa repensar seus votos. Uma onda percorreu meu corpo. O auditório virou uma arena, gritos por todos os lados. As meninas quase desmaiando. Era como assistir à eleição relâmpago do novo rei do baile. Minha tia, a broaca oficial, ainda falou mais umas bobagens antes de nos liberar. Saí em direção ao meu armário. Como num passe de mágica, os celulares apitaram em sincronia com o início das aulas. Nossa escola tem um aplicativo próprio — dá pra fazer de tudo por ali, de reclamações sobre professores a pedidos de transferência. Um clique e voilà. Carla e John se aproximaram.— Garota, tu viu aquele espetáculo de homem? — John disse, se abanando com a própria mão.— Para com isso, John, você sabe que ele não é do nosso nível — Carla abriu o
BenjaminEu cresci numa família de diplomatas, em outras palavras nasci em berço de ouro e com a garantia de que iria herdar terras, empresas, lojas e muito mais. Mas não fui criado para ser um molenga, meu pai me apresentou de perto a dureza da vida, a fome, a pobre e principalmente a ignorância.Hoje vou adentrar na mesma escola em que meu pai estudou, o mesmo local aonde encontrou e se apaixonou por minha mãe. Mas ele me deixou avisado que ela mudou bastante ao longo dos anos, principalmente na gestão da nova diretora, ela é ganancioso e eu teria que saber como lidar com tudo a minha volta, pois meu título de herdeiro valia mais do que eu como pessoa. O nome William e mais importante do que eu mesmo, Benjamin.Com a ajuda da minha ama, em poucos minutos estou arrumado e tomado café.
Faz cinco dias desde que vi Benjamin. Ele virou a celebridade do momento, o príncipe encantado que desmaiou diante da escola inteira e, mesmo assim, conseguiu sair por cima. Já eu... continuo sendo ninguém.Minha tia, com sua criatividade habitual, decidiu me punir furando os pneus da minha caminhonete — junto com sua filhinha predileta. Sabem que estou juntando cada centavo para a faculdade, e me atingiram onde mais dói. Resultado: tive que trabalhar o dobro para repor o prejuízo.Hoje é dia de encarar mais um turno na lanchonete da empresa do pai do Théo. Não é o pior dos lugares... até os amigos dele aparecerem. A partir daí, começa o inferno: lanches no chão, bebidas derramadas em mim, e a palhaçada clássica de colocarem o pé para eu tropeçar enquanto sirvo os outros clientes.Não quero começar o dia já me irritando, então me levanto e me arrumo. O uniforme de garçonete não me cai tão mal, e por um segundo me pego pensando nisso — Droga, estou começando a pensar como aqueles idiota
— Maria, chame o Daniel para mim. — Peço, me sentando na cama.— Ei, o médico disse repouso absoluto. — Ela corre até mim, ajusta os travesseiros nas minhas costas com aquele jeito cuidadoso de sempre.— Ah, Maria… já não sou mais uma criança. Posso me cuidar.— Pode até não ser mais criança, mas quando o assunto é teimosia… você volta a ser um bebê de colo. — Ela revira os olhos. — Fica quietinho aí. Já volto com o Daniel.Assim que ela cruza a porta, pego meu laptop. Vou direto para a área de pesquisa. Tento encontrar qualquer informação sobre Amber… nada. Frustrado, fecho o laptop com um suspiro e me ajeito na cama novamente. Batem à porta.— Pode entrar.— Mandou me chamar, Ben? — Daniel entra e fecha a porta atrás de si.— Sim. Preciso de algumas informações. E você é o homem certo para isso.— O que tem de tão importante? — Ele leva a mão ao queixo, pensativo. — Está interessado em alguém, Ben?— Claro que não! O que vocês nessa casa pensam de mim?! — Jogo uma almofada nele.— Op
Meus olhos ardem, minha cabeça lateja. Não me lembro da última vez em que minha cama pareceu tão macia. Me levanto devagar, cambaleando até o que acredito ser o banheiro. Estendo as mãos procurando a pia, mas... nada. Esfrego os olhos com força.Droga. Esse não é o meu banheiro. Na verdade, isso nem parece um banheiro.Roupas masculinas estão jogadas por todos os cantos. Em que tipo de lugar eu vim parar?— Amber? Você está aqui?A voz feminina me paralisa. Dou passos leves até a porta e espreito pelo vão. Uma mulher que nunca vi antes me olha como se me conhecesse.— Aí está você — ela sorri, vindo em minha direção. Penso em fugir, mas é tarde. Fui sequestrada?— Estava procurando o banheiro? — pergunta ela gentilmente. Assinto em silêncio, e ela segura minha mão, guiando-me até uma porta mais afastada.Entro rápido e fecho a porta. Encosto nela, respirando fundo. Onde estou? Isso é mesmo um sequestro? Não... nada aqui parece ameaçador. O lugar é sofisticado, cheio de detalhes caros.