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Capítulo 1 – Bem-vindos ao Inferno

A escola, para mim, sempre foi o próprio inferno. Mas este ano não é nem pelos motivos de sempre. É pior. Minha tia continua sendo a diretora — sim, a própria Cruella em carne, osso e maquiagem cara — e minha prima? Rainha do baile por três anos consecutivos. Três. E adivinha? Vai ganhar de novo esse ano, com certeza. A única coisa que muda são os jogadores de futebol que ela escolhe por temporada para chamar de “meu amor”.

Meu objetivo, como nos outros anos, é simples: sobreviver mais um dia e juntar grana pra faculdade. Nada de universidades de elite, claro. Meu sonho mesmo é qualquer canto bem longe da minha tia e do teatro que ela chama de família.

Parada em frente ao espelho, vejo a garota de sempre: cabelos longos e rebeldes, olhos claros, pele bronzeada — cortesia dos dias entregando panfletos sob o sol — e, claro, aquele uniforme horroroso que parece ter saído de um dorama genérico. Sainha, camisa social e a maldita gravatinha. O modelo foi escolha da minha tia, inspirada no surto adolescente da minha prima ao assistir Rebelde. Sim, tudo isso só porque ela se imaginou brilhando com aquele look nos corredores da escola.

Pego minha mochila, balanço a cabeça tentando espantar os pensamentos tóxicos e me despeço do senhor e da senhora Jones, os caseiros que me acolheram melhor do que qualquer parente de sangue. Corro até minha caminhonete velha, já prevendo a próxima tentativa de atentado da minha prima — ela tem uma fixação por jogar ovos podres em mim. E não para por aí. Já levei balão com urina (muito maduro, né?), suco, farinha... Enfim, qualquer coisa voadora que sirva pra humilhar alguém. Bem-vindo ao ensino médio de elite.

Entro no carro segundos antes da Barbie Satânica abrir a porta da mansão. Faço meu sinal de vitória. Ela responde com o dedo do meio. Um a um.

Sigo para a escola, ou como gosto de chamar: minha câmara de tortura. Passo pelos portões e vou caçar uma vaga no estacionamento. Quando acho uma, uma Ferrari rosa me corta na última hora. E, é claro, quem desce do carro é a própria prima diabólica com suas duas fiéis escudeiras. Sorrisinho vitorioso. Não posso atirar, infelizmente.

Encontro outro canto pra parar o carro. Saio batendo a porta — o barulho ecoa, porque o pobre coitado já viu dias melhores — e sigo em direção ao prédio principal. Nada mudou. Líderes de torcida desfilando suas saias microscópicas, jogadores de futebol analisando bundas como se fosse Olimpíada, grupinhos de sempre rindo pelos corredores... E eu, invisível como sempre. Só os que têm cérebro funcional me enxergam.

Carla é um desses seres raros. Filha de gente rica, mas com neurônios ativos. Me acena de longe e acelero até nosso armário compartilhado.

— E aí, como foram suas férias? — pergunta com aquele sorrisinho malicioso. — Não responde! Deixa eu adivinhar: Havaí, homem da sua vida, céu estrelado e muito amorzinho.

— Na boa, você precisa parar de ler esses romances melosos. Vai derreter seu cérebro.

— Ah, por favor! O mundo é podre, então eu preciso dos meus livros pra manter a sanidade.

— Ok, só não chora depois quando seu “príncipe” te largar por uma cheerleader de I*******m.

Rimos e seguimos em direção ao auditório.

— Agora é sua vez. Como foram as férias?

— Nem me lembra. Aventura total. Paris, cidade dos românticos e poetas. Meus pais estavam atolados em reuniões, então aproveitei pra comprar livros e ler em praças e cafés.

— Você tá me dizendo que foi pra PARIS e passou os dias LENDO?

— Minha vida é voltada pra leitura. Simplesmente aceite. — Faz uma pose dramática e rimos de novo.

No auditório, procuramos lugar até que John nos chama feito uma sirene de incêndio. Nosso amigo gay clássico. Aquele que dá conselhos amorosos e causa nos intervalos. Sentamos com ele e o falatório toma conta do ambiente até que o som estridente do microfone corta tudo.

Minha tia. Lá está ela, no centro da quadra, com seu olhar de superioridade nivelado a Deus.

— Meus queridos e amados alunos, é com muito prazer que dou as boas-vindas a mais um ano letivo...

Blá blá blá, vomito mentalmente. Cada palavra é uma facada no estômago. E o pior? Fui eu que escrevi esse discurso. Peguei da internet, adaptei e entreguei pra ela semanas atrás. Ela mal sabe usar o Word.

— Que este seja um ano produtivo, cheio de motivação... blá blá blá… felicidade no fim, sucesso, blá...

Reviro os olhos. Literalmente.

— E este ano temos um novo aluno para completar o nosso time de excelência... — continua ela. — Com muito prazer, dou as boas-vindas a Benjamin William.

Silêncio. O tempo desacelera como numa cena de filme ruim.

E lá está ele. Calça jeans escura, blusa polo preta e jaqueta de couro. Sorriso de quem nunca teve que lidar com boleto. Príncipe do baile. E provável futuro namorado da vadia da minha prima.

Meus olhos vacilam. E me odeio por encarar uma segunda vez.

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