Verdades são duras, foi o que Evelyne Dixon aprendeu desde que se entende por gente, então ela sempre preferiu mentir. Não importa se ela esconde o fato de que se sente deslocada, ou que odeia ser comparada à sua impecável progenitora, Dionne. Também não importa se ela finge não ligar que sua meia-irmã, Cassidy, combina muito mais com sua mãe, transformando-se na filha perfeita; afinal, se existe uma coisa que Eve mais desejou, além de ser reconhecida pelo amor que tem pela arte, é a aprovação da sua mãe e ex "Abelha-Rainha" do Joe Bixby, o renomado Instituto de música de Trempton City. Padrões de Abelhas-Rainhas são difíceis de alcançar, mas Evelyne vê sua chance mudar quando encontra a oportunidade de ingressar na irmandade mais rigorosa e tradicional do Joe Bixby, as famosas Ravens. Esta seria a chance perfeita para ela, finalmente, se transformar na garota popular que ela sempre achou que deveria ser; no entanto, há um detalhe irritante: Eve não se encaixa em nada nos padrões exigidos pelo grupo, e para provar sua lealdade terá que aceitar um desafio: "dar uma lição" no mais infame bad boy do Joe Bixby, Aaron Ditt, e assim ganhar a confiança delas. Todavia, essa tarefa talvez não seja tão fácil quanto parece. Se as Ravens são as rainhas do Joe Bixby, Aaron Ditt é o rei. Ele também é bonito, talentoso e um verdadeiro mulherengo. A ideia mais prudente seria não se aproximar, caso deseje manter sua paz de espírito intacta, mas tudo foge do controle e quando um encontro desastroso se transforma em uma ligação estranha entre desconhecidos que não se batem, as coisas ficam complicadas. Polos tão opostos não poderiam dar certo, mas conforme ambos vão se conhecendo melhor, uma conexão inesperada vai surgindo.
Ler maisEVELYNE— Eu não acho que isso deva ficar aí — eu digo, e Aaron rola os olhos.— Já tentamos todos os lugares nessa sala, amor. Você não quer que o quadro fique em lugar algum.— Então vamos apenas deixá-lo no chão.Ele me puxa para o sofá, o único móvel deste apartamento que conseguimos arrumar sem discutir sobre isso, e se senta, arrastando-me para o seu colo.— Irritante — me provoca, apertando a ponta do meu nariz. — Eu acho que você precisa de um descanso. Para falar a verdade, nós dois precisamos de um descanso. Estamos arrumando essas coisas desde o início da manhã e já passa do meio-dia.— Esse o preço que se paga por me convidar para morar com você.Solto um pequeno gemido ao me recostar contra seu peito. Meus músculos relaxam conforme ele massageia os meus ombros cansados. Realmente, estamos focados nessa mudança há horas, e sequer arrumamos metade da bagunça.Decidimos morar juntos, um mês atrás, quando oficializamos dois anos de namoro. Ainda estou na metade da minha gradu
Eu a puxo para mais perto de mim, colando nossos corpos debaixo da névoa suja do The Purge. Alguma música punk está tocando muito alto, mas nada disso importa, porque eu a tenho em meus braços, e não preciso de mais nada além dela.— Vou sentir sua falta quando você estiver estudando em outro lugar.— São apenas alguns minutos da sua casa. Não seja dramático.— Eu sei, mas você vai ter que me prometer que nos veremos todos os dias. Eu sou um cara apaixonado. Preciso de atenção.Ela rola os olhos.— Você tem sorte de ser tão atraente. Eu posso abrir algumas exceções na minha agenda por você.— Que engraçada. — Roubo um beijo. — Tenho uma surpresa pra você.— Surpresa?— Sim. — Eu seguro em seus ombros, até movê-la em direção ao palco. — Não saia daqui.Ela chama meu nome, mas a ignoro quando me afasto e corro em direção aos fundos do bar. Poucos minutos depois, a música para, e então os holofotes do palco me revelam junto com os Hawks. Evelyne sorri quando me vê aqui em cima.Ela balan
AARONHá uma sensação de nostalgia me seguindo enquanto caminho pelo piso de assoalho do The Purge, um dos pubs mais antigos de Trempton City. Para os poucos moradores desta cidade, este lugar pode ter significados e despertar sensações diversas, mas só há um sentimento se sobressaindo para mim agora: a felicidade diante da perspectiva de um recomeço.Há muitas pessoas amontoadas ao nosso redor. Mesmo com o fim da atração especial, os clientes bêbados não se dispersaram. Os Dimples decidiram dar um show antes da próxima turnê no lugar onde tudo começou. Foi aqui que eles tocaram pela primeira vez. Também era aqui que minha mãe vinha para observá-los tocar no comecinho da carreira. O cheiro de bebida e cigarro já me é familiar. Estive em lugares como esse diversas vezes enquanto crescia. Por mais que James nunca quisesse exatamente que eu me atirasse neste mundo desde pequeno, ele era um pai solteiro em tempo integral. É difícil, às vezes, conciliar carreira e vida pessoal.— Est
AARONNão sei que horas são, mas a julgar pelo barulho em algum lugar da casa, todos já estão acordados. Algo cai à minha direita e eu ouço apenas uma maldição baixa antes de abrir os olhos e observar Evelyne terminar de vestir o seu moletom, os olhos expandidos enquanto me observa, como se tivesse sido pega em flagrante. Aos seus pés, um jarro de decoração estilhaçado.— O que você está fazendo?— Eu... esbarrei na cômoda e o jarro simplesmente caiu — responde. — Vou pedir desculpas ao Trent mais tarde. Não se preocupe.— Não é sobre isso que estou...— E tentar recompensá-lo, é claro. Espero que não seja um jarro muito caro.— Evelyne, nós precisam...— Bom, é isso — ela me corta uma segunda vez. — Estou de saída.Ela simplesmente me dá as costas e sai do quarto, como se estivesse fugindo de uma assombração.— Evelyne! — chamo por ela, mas a tentativa é inútil.Passo as mãos pelos cabelos, me perguntando o que diabos aconteceu para ela sair daqui tão depressa depois de tudo o que fi
Ele suspira e se senta, até estar recostado contra a cabeceira da cama.— Eu também, agora que você me acordou.— Por que você se deitou comigo?— Não é óbvio? Eu estava cuidando de você.Claro. Porque não tinha mais ninguém pra fazer isso. Me sinto incomodada com o fato de que ele está fazendo tudo isso apenas por obrigação.— Você não precisa se preocupar mais comigo.— Quer que eu vá embora?— Não foi o que quis dizer... — digo. — Mas... se você quiser ir, eu...— Quer ver um filme?Meu coração está batendo tão forte. Por que ele está fazendo isso? Por que está se esforçando tanto para ficar perto de mim?Não se iluda, Evelyne, sua estúpida! Meu subconsciente me alerta. Aaron Ditt não quer voltar com você.No entanto, é impossível não ficar mexida. Não me lembro da última vez em que vimos um filme quando estávamos juntos. A gente já chegou a fazer isso?— Que filme você sugere?Ele dá de ombros, pegando o controle ao lado do móvel da minha cama e apontando para a TV acoplada em um
Quando chegamos na cozinha, eu vou direto no freezer, apenas para me certificar de que Aaron estava certo e não temos comida decente, apenas pizza, lasanha e hamburguer. Há também macarrão com queijo, que eu tiro da embalagem, na tentativa de salvar o nosso jantar. Nunca fui muito boa na cozinha, mas gostava de arriscar alguns pratos em casa.— Então... — Aaron diz. — Nós colocamos isso no micro-ondas?— Eu vou fazer um molho e tentar tornar essa coisa um pouco mais comestível. Você me ajuda?— Eu não sei cozinhar muito bem.Rolo os olhos.— Apenas me traga queijo e creme de leite.Ele abre a geladeira e pega os itens que pedi. Durante todo o processo, Aaron fica do meu lado, me observando.— O que há de errado? — indago.— Como assim? — ele parece confuso.— Você está quieto e me observando o tempo todo. É estranho.— Estou apenas aprendendo como fazer um macarrão com queijo congelado.Eu dou risada.— Que engraçado. Por que não aproveita e pega uma aspirina pra mim na minha bolsa? E
EVELYNEO início do inverno em Trempton City é como um evento.Eu costumava ficar animada para isso quando era mais nova. Eu e Cass tínhamos um ritual de nos juntar do lado de fora e fazíamos bonecos de neve, sempre competindo com os nossos vizinhos pomposos. Posso me gabar em relação aos bonecos de neve, porque os nossos sempre eram os mais bonitos e bem-feitos. Até decorávamos os narizes deles com mini cenouras e os vestíamos com cachecóis e chapéus. As férias de fim de ano sempre foram a minha época favorita, mesmo que eu costumasse passar a maior parte do tempo no sofá tomando chocolate quente e assistindo a filmes da Disney. Quando Cass foi ficando mais velha e, consequentemente, mais popular, essas atividades eram feitas somente por mim e pela minha mãe. Foi com ela que eu aprendi a fazer, talvez, a única receita que me arrisco a dizer que funciona comigo: biscoitos de gengibre decorados. Eu até inventei minha própria variação com chocolate e nozes.Me inclino sobre o balcão, se
AARONHurts é a música que eu mais gosto dos Dimples.Também é a pior música para se ouvir neste momento, levando em consideração a minha triste realidade. Não posso dizer que estou exatamente me dando bem com uma música que fala sobre almas que se amam loucamente, mas jamais poderão ficar juntas.É Dia de Ação de Graças. Todos os membros da banda do meu pai estão reunidos ao redor de uma mesa com comida suficiente para uma pequena cidade. Esta é nossa família, a gente querendo ou não. Eles também são como James. Alguns solitários desde sempre, mas há aqueles que tiveram um destino diferente. Noah, por exemplo, está casado há mais de vinte anos e seus dois filhos possuem mais ou menos a minha idade. Morgan e sua esposa nunca tiveram filhos, mas não desistiram de tentar. Já Louis não foi apelidado de papai-coelho atoa. O cara já tem cinco; e Lori, sua atual esposa, dará em breve à luz ao sexto.Eu me lembro bem da época em que conheci estes homens. Cresci com eles, os ouvindo cantar, t
AARONHá uma parte no diário da minha mãe que diz que a vida é injusta. Que não faz sentido sermos obrigados a batalhar tanto para conquistar a felicidade que tanto ansiamos, quando, em questão de segundos, um momento triste pode bater em você sem aviso prévio e derrubar tudo de bom que você construiu. Infelizmente, não há um sinal de alerta para a desgraça. Uma hora você está bem e, na outra, você é apenas um grão de areia no meio de todo este caos.No entanto, pela primeira vez, eu percebi que a desgraça pode, sim, te dar um sinal de iminência.Está chovendo. Essa deveria ser a premissa de um dia de merda, não é mesmo? Eu deveria ter interpretado melhor os sinais. Não sou supersticioso, mas deveria ter aberto mão do meu ceticismo ao menos uma única vez nesta minha vida de merda, e buscado um significado no que considerei estúpido.Eu olho para a última mensagem que ela me enviou — aquela que eu li e fiz questão de não responder — e sinto algo dentro de mim se apertar. Teria sido dif