AARONHá uma sensação de nostalgia me seguindo enquanto caminho pelo piso de assoalho do The Purge, um dos pubs mais antigos de Trempton City. Para os poucos moradores desta cidade, este lugar pode ter significados e despertar sensações diversas, mas só há um sentimento se sobressaindo para mim agora: a felicidade diante da perspectiva de um recomeço.Há muitas pessoas amontoadas ao nosso redor. Mesmo com o fim da atração especial, os clientes bêbados não se dispersaram. Os Dimples decidiram dar um show antes da próxima turnê no lugar onde tudo começou. Foi aqui que eles tocaram pela primeira vez. Também era aqui que minha mãe vinha para observá-los tocar no comecinho da carreira. O cheiro de bebida e cigarro já me é familiar. Estive em lugares como esse diversas vezes enquanto crescia. Por mais que James nunca quisesse exatamente que eu me atirasse neste mundo desde pequeno, ele era um pai solteiro em tempo integral. É difícil, às vezes, conciliar carreira e vida pessoal.— Est
Eu a puxo para mais perto de mim, colando nossos corpos debaixo da névoa suja do The Purge. Alguma música punk está tocando muito alto, mas nada disso importa, porque eu a tenho em meus braços, e não preciso de mais nada além dela.— Vou sentir sua falta quando você estiver estudando em outro lugar.— São apenas alguns minutos da sua casa. Não seja dramático.— Eu sei, mas você vai ter que me prometer que nos veremos todos os dias. Eu sou um cara apaixonado. Preciso de atenção.Ela rola os olhos.— Você tem sorte de ser tão atraente. Eu posso abrir algumas exceções na minha agenda por você.— Que engraçada. — Roubo um beijo. — Tenho uma surpresa pra você.— Surpresa?— Sim. — Eu seguro em seus ombros, até movê-la em direção ao palco. — Não saia daqui.Ela chama meu nome, mas a ignoro quando me afasto e corro em direção aos fundos do bar. Poucos minutos depois, a música para, e então os holofotes do palco me revelam junto com os Hawks. Evelyne sorri quando me vê aqui em cima.Ela balan
EVELYNE— Eu não acho que isso deva ficar aí — eu digo, e Aaron rola os olhos.— Já tentamos todos os lugares nessa sala, amor. Você não quer que o quadro fique em lugar algum.— Então vamos apenas deixá-lo no chão.Ele me puxa para o sofá, o único móvel deste apartamento que conseguimos arrumar sem discutir sobre isso, e se senta, arrastando-me para o seu colo.— Irritante — me provoca, apertando a ponta do meu nariz. — Eu acho que você precisa de um descanso. Para falar a verdade, nós dois precisamos de um descanso. Estamos arrumando essas coisas desde o início da manhã e já passa do meio-dia.— Esse o preço que se paga por me convidar para morar com você.Solto um pequeno gemido ao me recostar contra seu peito. Meus músculos relaxam conforme ele massageia os meus ombros cansados. Realmente, estamos focados nessa mudança há horas, e sequer arrumamos metade da bagunça.Decidimos morar juntos, um mês atrás, quando oficializamos dois anos de namoro. Ainda estou na metade da minha gradu
PrólogoAs Ravens gostavam de afirmar que ele era o pior cara que haviam conhecido na vida. Elas também o chamavam de muitas coisas, como “babaca”, “desalmado” e “quebrador de corações”. Aquelas garotas eram lei no Joe Bixby, e elas certamente conseguiam fazer com que alguns apelidos maldosos pegassem quando queriam, o que não acontecia quando se tratava de Aaron, é claro. Se Kendall Vallen e suas amigas eram as rainhas do Joe Bixby, Aaron Ditt era o rei. Um rei muito bonito e arrogante. Nem estou exagerando. O que faltava em sua personalidade duvidosa, ele compensava em beleza. Quase como se uma estrela do Rock e uma diva dos anos cinquenta houvessem tido um filho. Suas roupas legais, cabelo estiloso e a postura de quem sempre estava um passo à frente dos demais faziam um contraste interessante quando você parava para observar as inúmeras tatuagens e o olhar atento de lobo que ele sempre te dirigia enquanto analisava você. E era exatamente isso o que eu achava interessante nele. Embo
Capítulo 1Há esse lugar encantado no centro de Trempton City. Uma livraria empoeirada e vazia, com uma cafeteria nada movimentada e um sino enferrujado na porta. Assim como as paredes descascadas, os móveis são velhos e o cheiro de couro se mistura ao aroma do café e ao papel dos livros. Nos seus melhores dias, você verá um grupo apaixonado de leitores ávidos em busca de algum entretenimento. Nos piores, as gotas da chuva de verão pingarão em suas cabeças através das inúmeras rachaduras no teto, enquanto você tenta se acomodar numa poltrona, servido de um bom café.Seu nome é Coelho Branco, como em Alice no País das Maravilhas, e ao contrário do que a maioria das pessoas nessa cidade costuma pensar, este é um dos melhores lugares do mundo.Foi aqui onde me refugiei nos meus piores momentos. Foi em meio aos livros e edições de mangás variados que eu encontrei conforto quando meu pai me disse que moraria fora do país, quando sofri minha primeira decepção amorosa e quando descobri que t
Capítulo 2Se tem uma coisa que eu detesto em salas de espera é a maneira como elas são frias. Além do tempo lá fora não ajudar em nada, o ar seco deste ar-condicionado me deixa impaciente. Puxo as mangas do meu moletom escuro e enfio as mãos nos bolsos da calça. Além da janela, uma fina poeira de chuva começa a chapiscar o vidro limpo.Você já parou para observar uma tempestade? Quando o céu fica escuro e uma grossa camada de nuvem o cobre. O vento fica mais gelado, o ambiente mais triste. Eu não gosto de tempestades ou de dias frios. Eles são irritantes porque fazem eu me sentir mais solitário do que costumo ser normalmente, o que é engraçado de se dizer se você convivesse comigo. Eu sou alguém que vive cercado de pessoas que se dizem minhas amigas, vou a festas com mais frequência do que posso contar e recebo números de garotas aleatórias como se fosse uma celebridade, mas há momentos em que me questiono se isso significa que não estou sozinho ou se tudo não passa de uma distração
EVELINEO Mercedes da minha mãe para em frente aos portões de ferro do Joe Bixby. Pelo vidro molhado do carro, observo a fachada cor creme da universidade de música em que passarei quatro anos da minha vida. Um certo nervosismo, misturado ao desespero, se acopla dentro de mim. Tudo na vida tem consequências, essa é a da minha covardia. Tentando não pensar muito nisso, volto minha atenção para mamãe, que está com um sorriso tão grande que tira um pouquinho da minha tristeza.— Bem, aqui estamos — diz. — Hoje é um dia muito importante para nossa Eve. Então, Cass, será sua a missão, como veterana, guiar nossa garota em seu primeiro dia de aula.Cassidy, sentada no banco traseiro do carro, abre um sorriso.— Pode deixar, Di. Vou fazer o meu melhor para situar Evelyne no Joe Bixby. Ela vai amar o lugar.— Obrigada, gente, mas acho que não precisamos de tudo isso — eu digo. — Basta dar uma passada na reitoria, descobrir onde fica meu dormitório, e vou me sentir em casa.Minha mãe sorri.— S
— Ei, Cass — diz a loira número um, porque há outra.— Olá, Kendall — Cassidy cumprimenta. Há pelo menos mais três delas, mas as outras não parecem falar. — Oh, deixe-me apresentar. Está é Evelyne, minha irmã. Estas são Kendall, Monroe, Tessa e Violet, as Ravens.Então essas são as famosas garotas de irmandade? Eu confesso que imaginava algo diferente. Onde estão as meninas de olhares calorosos e que não discriminavam os outros pelas suas roupas, como minha mãe sempre descreveu? Me chame de precipitada se quiser, mas eu não me engano quando vejo Kendall me encarar de cima a baixo, focando no moletom largo sobre a saia plissada, ou no meu par de meias de cores diferentes, e torce o nariz.— Hum... essa é sua irmã? — ela pergunta. — Eu imaginava algo diferente.— Tipo o que? — eu digo.Ela dá de ombros.— Alguém mais como Cass.Claro. Eu já deveria ter imaginado isso vindo. Por que não viria? Apenas mais um grupo de pessoas para me comparar com Cassidy. Isso sempre foi tão cansativo.Cr