— Ei, Cass — diz a loira número um, porque há outra.
— Olá, Kendall — Cassidy cumprimenta. Há pelo menos mais três delas, mas as outras não parecem falar. — Oh, deixe-me apresentar. Está é Evelyne, minha irmã. Estas são Kendall, Monroe, Tessa e Violet, as Ravens.
Então essas são as famosas garotas de irmandade? Eu confesso que imaginava algo diferente. Onde estão as meninas de olhares calorosos e que não discriminavam os outros pelas suas roupas, como minha mãe sempre descreveu? Me chame de precipitada se quiser, mas eu não me engano quando vejo Kendall me encarar de cima a baixo, focando no moletom largo sobre a saia plissada, ou no meu par de meias de cores diferentes, e torce o nariz.
— Hum... essa é sua irmã? — ela pergunta. — Eu imaginava algo diferente.
— Tipo o que? — eu digo.
Ela dá de ombros.
— Alguém mais como Cass.
Claro. Eu já deveria ter imaginado isso vindo. Por que não viria? Apenas mais um grupo de pessoas para me comparar com Cassidy. Isso sempre foi tão cansativo.
Cruzo os braços, fazendo-me de desentendida.
— E o que me faria ser como Cass? Estou curiosa.
— Ela está falando sobre o seu... gosto por roupas. — Se prontifica Monroe. — Não que você se vista mal, mas... a sua irmã é uma deusa da moda.
Essa cadela acabou de dizer que me visto mal? Sinto Cassidy ficar tensa ao meu lado, mas não perco a compostura quando ataco:
— Não sabia que estava no código de vestimenta agradar vocês.
Os lábios de Kendall se contraem com meu comentário, mas ela simplesmente sorri docemente.
— Ah, boba, não se ofenda com Monroe. Ela sempre esquece o filtro em casa. Só gostaria de dizer que Cassidy é uma de nós, Evelyne, e a amamos como uma irmã. Queremos que você seja também, é claro, por isso nos preocupamos com o seu estilo. — Duvido que ela realmente queira isso, mas vou precisar trabalhar melhor meus impulsos, se quiser continuar com meu plano. Kendall tira seu olhar de mim quando algo chama sua atenção em um ponto além de nós. — Ugh. Ela está de volta, meninas.
Eu encaro o ponto para o qual elas estão olhando e observo uma menina de estatura mediana, cabelos tingidos de vermelho e cortados até os ombros. Ela é pálida como papel e está vestida de preto desde a camiseta com mangas baby look até as botas de combate. Seu fone de ouvido está ao redor da sua nuca, então eu sei que ela escuta quando Kendall aumenta o tom de voz e diz:
— Ei, Eleanor, esquisita. Te expulsaram do cemitério em que você se hospedou nas férias?
Monroe e Tessa dão uma risadinha do comentário, mas pelo visto só elas acharam graça.
Eleanor apenas encara Kendall com uma expressão de tédio e eleva o dedo do meio, dizendo:
— Vai se foder, cadela.
E então ela se vira e sai, como se nada tivesse acontecido.
— Uou — murmuro para Cassidy. — O que foi isso?
— Eleanor é uma Hawk — ela explica. — Cenas assim são mais comuns do que você imagina.
Monroe torce o nariz.
— Ela é sempre tão rude conosco. — Sério?
— Essa garota tem sorte de ser uma protegida daquele cretino — Kendall complementa.
Gostaria de perguntar a Cass sobre que “cretino” sua amiga está falando, mas isso estenderia o meu tempo aqui com elas, algo que eu não faço a mínima questão.
— Bem, eu preciso ir — digo.
Cass toca meu braço.
— Eu vou com você.
— Não precisa, sério. Fique com suas amigas.
Ela sorri e insiste:
— Eu quero te acompanhar, ok?
Aceito a oferta enquanto sorrio de volta e me despeço das Ravens com um aceno antes de me afastar. Cass adianta o passo para me acompanhar.
— Eu sei que as coisas não foram muito boas com as Ravens no início, mas quando você as conhecer melhor vai acabar gostando delas — diz minha meia-irmã.
Reviro os olhos.
— Pouco provável. Você viu o que elas fizeram lá fora? — digo.
— É claro que vi, e não concordo com esse tipo de atitude delas, mas não é como se Eleanor não falasse merda da gente também.
— E isso é justificativa para falar todas aquelas coisas em público? Eu achei que essa fosse uma irmandade que prega o amor, pratica boas ações e toda essa merda.
Cass para e me segura pelos ombros.
— Eu tentei avisar a você que não seria fácil lidar com elas — ela fala. — Além do mais, não estaríamos nessa situação se você não tivesse inventado essa mentira pra sua mãe em primeiro lugar, certo?
Meus ombros caem quando relembro o que eu disse para a minha mãe no domingo. Deus, onde estava com a cabeça? Em contrapartida, ela ficou tão feliz com a informação falsa. Segundo ela, sua fase como uma Raven havia sido algo muito especial e gratificante. Ela gostaria que tivéssemos a mesma experiência. Dormi na noite passada repassando toda aquela conversa e me perguntando como diabos eu resolveria tudo isso. O pensamento de entrar para as Ravens não pareceu tão ruim até eu realmente conhecê-las. Mas talvez eu esteja julgando precipitadamente, certo? Eu assisti a tantos filmes adolescentes que talvez esteja estereotipando demais as meninas? Pelo poder do feminismo e toda essa coisa de sororidade, eu decido dar mais uma chance às Ravens. Não posso basear meu conhecimento em uma interação muito estranha da qual estou por fora. Além disso, confio em Cass, então vou fazer isso por ela.
— Eu ainda quero participar da irmandade — digo. — Só espero que suas amigas não olhem para as minhas roupas daquele jeito de novo. Estou muito bem com elas, obrigada, e não vou mudar o meu jeito de vestir.
Cass revira os olhos, um sorrisinho espreitando.
— Kendall é meio difícil de lidar, mas amo as outras meninas. Você também vai gostar muito delas, Evelyne. Eu prometo!
Diante dessa promessa, eu decido acreditar nela.
Após fazer todos os procedimentos iniciais, eu pego as minhas chaves e sigo em direção aos dormitórios. O prédio onde vou me instalar é de fácil acesso, e não demoro a encontrar o meu quarto. Me foi informado que vou dividir o quarto com uma veterana, já que sua colega de quarto desistiu do curso um pouco antes de completar um ano, o que é engraçado, porque me pergunto se não serei capaz de fazer exatamente isso depois de apenas alguns meses no Joe Bixby.Encaro a porta com o número treze nela. Não sou supersticiosa, mas não dizem que isso é um número de sorte ou algo do tipo? Bato, recebendo apenas um ruído do lado de dentro, que traduzo como uma autorização e então empurro a porta. Minha colega de quarto está de costas para mim, mas reconheço de imediato os cabelos vermelhos e as roupas pretas que Eleanor estava usando quando a vi lá fora. Congelo no mesmo instante.— Hum... olá — eu digo, meio desajeitada, conforme olho para Cass em busca de alguma ajuda.Minha irmã simplesmente fe
EVELYNEQuando finalmente me dirijo até a sala em que terei a primeira aula, já se passou muito tempo e mesmo assim não tive oportunidade de analisar o Joe Bixby como um todo. No entanto, conforme caminho pelos corredores da minha divisão, noto a variação de estilo das pessoas daqui. O código de vestimenta também é um negócio engraçado. A maioria está dividida entre se vestir como se fosse para um evento em Hollywood ou para uma audiência no tribunal mais próximo. Eu não os julgo, porque eles também não estão me julgando. Não como Kendall e suas garotas fizeram. Eu, particularmente, tenho uma maneira própria de encarar a moda. Não vejo problema algum em sair de casa com a roupa amarrotada se ela estiver limpa. Não está achando o outro pé da sua meia? Faça como eu e use duas de cores diferentes. Sua camisa não deixa de ser uma camisa por estar amarrotada e suas meias não deixam de cumprir sua função só porque não combinam. Há tantas coisas mais importantes com as quais se preocupar na
Eu sufoco um lamento e me levanto. Todos estão me observando, e eu odeio isso. Odeio o olhar de expectativa e curiosidade no rosto de cada um deles. Odeio estar me submetendo a isso. Simplesmente odeio.Eu me sento diante do piano elétrico, observando as teclas brancas e pretas como se fossem amigas de longa data. Uma amizade tóxica que só me consome, só exige de mim e nunca me dá nada em troca. Ignoro a gota de suor que desliza pela minha espinha e afasto os pensamentos estranhos da minha cabeça. Somos apenas eu, este piano maldito e Allegro Cantabile. É o tema de abertura de um dos meus Animes de música favoritos. Não estou nem aí se eles não conhecerem, esta é a única maneira de fazer essa coisa dar certo. Deslizo meus dedos pela tecla do piano, imersa nas notas que decorei há anos. Fecho os meus olhos, ignorando todos ao meu redor, e simplesmente me entrego.Aproximadamente um minuto depois, eu encerro minha apresentação, abrindo os olhos finalmente. Um silêncio sepulcral preenche
EVELYNE— Como foi a minha garotinha em seu primeiro dia de aula?— Pai, é a faculdade — eu digo enquanto faço manobras mirabolantes para não deixar o telefone cair com a quantidade de livros que carrego. Acabei de passar na biblioteca e peguei uma porção de apostilas. Ainda falta um monte que deixei para trás. — Não há muito o que se comemorar.— Eu e sua mãe nos divertimos muito na época da faculdade — diz ele. — Você sabe, eu não sou um pai careta que impede a filha de namorar e se divertir. Quero que estude, mas que também aproveite esta fase, querida.— Obrigada, pai, mas pelo que sei, foi durante a faculdade que vocês me conceberam, então prefiro não seguir tais passos — brinco, já imaginando seus olhos verdes se estreitando enquanto ele passa a mão pela cabeça agora calva, mas que já carregou uma massa de cabelos loiros.Meu pai sempre foi um homem muito bonito. Assim como a minha mãe, ele era um dos mais adorados na época da faculdade. A estrela do curso de teatro conhece a be
Enquanto atravessamos o Campus para ir em direção ao dormitório da irmandade, eu tento ignorar a ideia do quão errado parece tudo isso. Não era para eu estar aqui, em primeiro lugar, então o que diabos estou fazendo?Chegamos no alojamento das meninas e Cass abre a porta, me puxando para dentro com ela. Dou de cara com uma decoração muito bonita em tons pasteis. Tudo neste lugar é organizado, desde as estantes de livros até o pequeno aparelho de som portátil tocando alguma música da Taylor Swift em volume baixo.Passos na escada me tiram de meus devaneios e vejo Kendall descer as escadas, primeiro seus mocassins de salto, até a meia-calça transparente, saia plissada e um suéter rosa-bebê. Encaro seu rosto sorridente, retesando quando ela vem em minha direção e me abraça.— Evelyne! É uma honra receber você em nosso dormitório.Eu tento não franzir a testa para o quão estranho tudo isso é. Meio minuto depois, surge Monroe, Violet e Tessa. Todas parecendo impecáveis em sua casinha de bo
Eu pestanejo, ainda estática, esperando pelo momento em que as risadas vão começar e elas vão dizer que tudo isso é uma piada, porque só pode ser uma brincadeira, mas quando ninguém diz nada, eu entro em desespero.— Espere... o que está acontecendo aqui? Quem é Aaron Ditt, e o que diabos ele tem a ver com as Ravens?— Aaron é o líder dos Hawks, a fraternidade mista do Joe Bixby que te falei — explica Cass. — Eles possuem uma banda e são... digamos, complicados.— Apenas um cara clichê que retrata a maioria dos heróis que eu leio o tempo todo nos livros. Qual o problema disso?— Ele não é apenas um cara clichê, Evelyne. Ele é um porco desgraçado que ilude meninas inocentes — Kendall diz, como se eu a houvesse ofendido ao banalizar sua acusação.— E um babaca que nos odeia — complementa Monroe. — Os Hawks já declararam guerra às Ravens, e é por isso que não suportamos esta banda de mau gosto. São todos uns selvagens.— Aaron Ditt não tem coração — minha irmã fala. — Encontrei Gwyneth P
AARONTrent me passa uma garrafa de cerveja e se senta ao meu lado, o único lugar vazio no sofá da minha sala. Seu olhar desvia para as escadas, onde Ginger está sugando alguma bebida nojenta e sem álcool por um canudinho enquanto se balança desajeitadamente ao som da música alta. Tão estranha, mas a amo.— Ela cresceu, cara — Trent diz, encarando minha irmãzinha. — Está bem bonita.Viro meu rosto para ele e estreito os olhos.— Nem pense nisso.Ele ergue as mãos.— Ei, relaxe, ok? Só estou comentando.— É bom que você comente com seu pau longe dela.Ele rola os olhos.— Você é um hipócrita. Sabia que Devon Miller está puto depois de descobrir que você transou com a namorada dele?— Eu não ligo, ele é um babaca — digo. — E não tenho culpa de foder melhor que ele.— Eca. — Vanessa faz uma careta. — Vocês são nojentos.Trent ri.— Você fala como se nunca tivesse transado com ele também.Eu olho para meu amigo.— Sério, cara?Ele encolhe os ombros, como se não tivesse dito nada de mais.
EvelyneTenho sorte de estar sozinha no quarto quando Cassidy aparece com uma mochila cor de rosa que eu tenho certeza de que tem quase o mesmo peso que ela.— Resolveu se mudar para o meu quarto ou isso aí dentro é um cadáver? — questiono, conseguindo aquele revirar de olhos habitual de quando ela se depara com algum comentário sarcástico meu.— Estou aqui como sua fada madrinha. — Se inclina para espreitar atrás de mim. — Eleanor não está aí, né?— Ela saiu um pouco antes de você aparecer, então fique tranquila.— Ufa! — Ela respira de alívio quando entra no meu dormitório. — O clima fica bem mais leve quando ela não está.— Isso é um bom sinal, considerando que estamos aqui para armar um plano contra seu amigo de fraternidade, certo?Minha irmã faz uma careta.— Ainda não posso acreditar que Kendall te propôs algo assim — diz. — Tipo... fazer Aaron Ditt se apaixonar por alguém é uma loucura. Estou aqui porque sou uma irmã fiel e te amo, apesar de você tomar péssimas decisões, mas a