Após fazer todos os procedimentos iniciais, eu pego as minhas chaves e sigo em direção aos dormitórios. O prédio onde vou me instalar é de fácil acesso, e não demoro a encontrar o meu quarto. Me foi informado que vou dividir o quarto com uma veterana, já que sua colega de quarto desistiu do curso um pouco antes de completar um ano, o que é engraçado, porque me pergunto se não serei capaz de fazer exatamente isso depois de apenas alguns meses no Joe Bixby.
Encaro a porta com o número treze nela. Não sou supersticiosa, mas não dizem que isso é um número de sorte ou algo do tipo? Bato, recebendo apenas um ruído do lado de dentro, que traduzo como uma autorização e então empurro a porta. Minha colega de quarto está de costas para mim, mas reconheço de imediato os cabelos vermelhos e as roupas pretas que Eleanor estava usando quando a vi lá fora. Congelo no mesmo instante.
— Hum... olá — eu digo, meio desajeitada, conforme olho para Cass em busca de alguma ajuda.
Minha irmã simplesmente fecha a cara e cruza os braços. Diante do silêncio, Eleanor se vira para nós, e então sua expressão se fecha.
— O que fazem aqui?
— Bem... hum... esse é o meu quarto — digo. — Eu sou Evelyne.
Ela parece ainda mais irritada com essa declaração.
— Estou certa de que suas amigas já devem ter dito quem eu sou, então não acho que precise me apresentar.
— Elas não são minhas...
Antes que eu possa terminar, Cassidy me corta:
— Evelyne é a minha irmã mais nova, Eleanor, e vai ser uma de nós em breve, então não se meta com ela.
Ela estreita os olhos, mas não rebate. Eu quero dizer qualquer coisa para deixar esse clima menos tenso, mas Eleanor não me dá brecha quando pega algo de sua bolsa e me olha de maneira impaciente, dizendo:
— Me dê licença, por favor?
Eu saio do seu caminho, e ela caminha em direção à porta.
— Não deixe roupas sujas no chão, tá legal? — complementa. — A última que dividiu o quarto comigo tinha essa mania irritante, e eu não vou ser sua empregada.
Antes que eu possa responder que ela não precisa se preocupar com isso, ela abre a porta e sai.
— Nossa — eu digo. — Acho que vamos ser ótimas amigas.
Cassidy ignora meu comentário irônico enquanto caminha para o lado destinado a mim no quarto.
— Você pode trocar de dormitório se quiser — ela diz. — Posso tentar ajudar.
— Relaxa — falo. — Não vou morrer por dormir no mesmo quarto que ela. Tenho quase certeza de que mal vamos nos cruzar.
Cassidy bufa, ainda muito irritada.
— É bom que ela não tenha gostado de você. Não quero que seja amiga dessa chata.
Balanço a cabeça.
— Estou mais surpresa com o fato de que nossa adorável Cass já criou inimizades pelo Joe Bixby.
— Eu não criei inimizade com ela. Essa garota que sempre gosta de me provocar. O problema dela é com Kendall, e mesmo assim ela me trata mal.
Por que será? Tenho vontade de perguntar sarcasticamente, mas não vou jogar na cara de Cassidy que é isso o que acontece quando você anda com alguém que chama as pessoas por nomes horríveis e as constrange em público.
— Certo, certo. Eu vou saber lidar com Eleanor. Não se preocupe — falo. — Agora, vá para seu dormitório. Termine de arrumar suas coisas e depois a gente se encontra lá fora. Tudo bem?
Ela assente relutantemente.
— Se cuida — diz. — E não se esqueça de me consultar se precisar de alguma coisa!
— Okay, mamãe, eu já entendi.
Ela faz menção de sair, mas volta rapidamente para dizer mais algo:
— E não se meta em problemas!
Eu rolo os olhos dramaticamente.
— Jesus, Cassidy. Apenas saia.
EVELYNEQuando finalmente me dirijo até a sala em que terei a primeira aula, já se passou muito tempo e mesmo assim não tive oportunidade de analisar o Joe Bixby como um todo. No entanto, conforme caminho pelos corredores da minha divisão, noto a variação de estilo das pessoas daqui. O código de vestimenta também é um negócio engraçado. A maioria está dividida entre se vestir como se fosse para um evento em Hollywood ou para uma audiência no tribunal mais próximo. Eu não os julgo, porque eles também não estão me julgando. Não como Kendall e suas garotas fizeram. Eu, particularmente, tenho uma maneira própria de encarar a moda. Não vejo problema algum em sair de casa com a roupa amarrotada se ela estiver limpa. Não está achando o outro pé da sua meia? Faça como eu e use duas de cores diferentes. Sua camisa não deixa de ser uma camisa por estar amarrotada e suas meias não deixam de cumprir sua função só porque não combinam. Há tantas coisas mais importantes com as quais se preocupar na
Eu sufoco um lamento e me levanto. Todos estão me observando, e eu odeio isso. Odeio o olhar de expectativa e curiosidade no rosto de cada um deles. Odeio estar me submetendo a isso. Simplesmente odeio.Eu me sento diante do piano elétrico, observando as teclas brancas e pretas como se fossem amigas de longa data. Uma amizade tóxica que só me consome, só exige de mim e nunca me dá nada em troca. Ignoro a gota de suor que desliza pela minha espinha e afasto os pensamentos estranhos da minha cabeça. Somos apenas eu, este piano maldito e Allegro Cantabile. É o tema de abertura de um dos meus Animes de música favoritos. Não estou nem aí se eles não conhecerem, esta é a única maneira de fazer essa coisa dar certo. Deslizo meus dedos pela tecla do piano, imersa nas notas que decorei há anos. Fecho os meus olhos, ignorando todos ao meu redor, e simplesmente me entrego.Aproximadamente um minuto depois, eu encerro minha apresentação, abrindo os olhos finalmente. Um silêncio sepulcral preenche
EVELYNE— Como foi a minha garotinha em seu primeiro dia de aula?— Pai, é a faculdade — eu digo enquanto faço manobras mirabolantes para não deixar o telefone cair com a quantidade de livros que carrego. Acabei de passar na biblioteca e peguei uma porção de apostilas. Ainda falta um monte que deixei para trás. — Não há muito o que se comemorar.— Eu e sua mãe nos divertimos muito na época da faculdade — diz ele. — Você sabe, eu não sou um pai careta que impede a filha de namorar e se divertir. Quero que estude, mas que também aproveite esta fase, querida.— Obrigada, pai, mas pelo que sei, foi durante a faculdade que vocês me conceberam, então prefiro não seguir tais passos — brinco, já imaginando seus olhos verdes se estreitando enquanto ele passa a mão pela cabeça agora calva, mas que já carregou uma massa de cabelos loiros.Meu pai sempre foi um homem muito bonito. Assim como a minha mãe, ele era um dos mais adorados na época da faculdade. A estrela do curso de teatro conhece a be
Enquanto atravessamos o Campus para ir em direção ao dormitório da irmandade, eu tento ignorar a ideia do quão errado parece tudo isso. Não era para eu estar aqui, em primeiro lugar, então o que diabos estou fazendo?Chegamos no alojamento das meninas e Cass abre a porta, me puxando para dentro com ela. Dou de cara com uma decoração muito bonita em tons pasteis. Tudo neste lugar é organizado, desde as estantes de livros até o pequeno aparelho de som portátil tocando alguma música da Taylor Swift em volume baixo.Passos na escada me tiram de meus devaneios e vejo Kendall descer as escadas, primeiro seus mocassins de salto, até a meia-calça transparente, saia plissada e um suéter rosa-bebê. Encaro seu rosto sorridente, retesando quando ela vem em minha direção e me abraça.— Evelyne! É uma honra receber você em nosso dormitório.Eu tento não franzir a testa para o quão estranho tudo isso é. Meio minuto depois, surge Monroe, Violet e Tessa. Todas parecendo impecáveis em sua casinha de bo
Eu pestanejo, ainda estática, esperando pelo momento em que as risadas vão começar e elas vão dizer que tudo isso é uma piada, porque só pode ser uma brincadeira, mas quando ninguém diz nada, eu entro em desespero.— Espere... o que está acontecendo aqui? Quem é Aaron Ditt, e o que diabos ele tem a ver com as Ravens?— Aaron é o líder dos Hawks, a fraternidade mista do Joe Bixby que te falei — explica Cass. — Eles possuem uma banda e são... digamos, complicados.— Apenas um cara clichê que retrata a maioria dos heróis que eu leio o tempo todo nos livros. Qual o problema disso?— Ele não é apenas um cara clichê, Evelyne. Ele é um porco desgraçado que ilude meninas inocentes — Kendall diz, como se eu a houvesse ofendido ao banalizar sua acusação.— E um babaca que nos odeia — complementa Monroe. — Os Hawks já declararam guerra às Ravens, e é por isso que não suportamos esta banda de mau gosto. São todos uns selvagens.— Aaron Ditt não tem coração — minha irmã fala. — Encontrei Gwyneth P
AARONTrent me passa uma garrafa de cerveja e se senta ao meu lado, o único lugar vazio no sofá da minha sala. Seu olhar desvia para as escadas, onde Ginger está sugando alguma bebida nojenta e sem álcool por um canudinho enquanto se balança desajeitadamente ao som da música alta. Tão estranha, mas a amo.— Ela cresceu, cara — Trent diz, encarando minha irmãzinha. — Está bem bonita.Viro meu rosto para ele e estreito os olhos.— Nem pense nisso.Ele ergue as mãos.— Ei, relaxe, ok? Só estou comentando.— É bom que você comente com seu pau longe dela.Ele rola os olhos.— Você é um hipócrita. Sabia que Devon Miller está puto depois de descobrir que você transou com a namorada dele?— Eu não ligo, ele é um babaca — digo. — E não tenho culpa de foder melhor que ele.— Eca. — Vanessa faz uma careta. — Vocês são nojentos.Trent ri.— Você fala como se nunca tivesse transado com ele também.Eu olho para meu amigo.— Sério, cara?Ele encolhe os ombros, como se não tivesse dito nada de mais.
EvelyneTenho sorte de estar sozinha no quarto quando Cassidy aparece com uma mochila cor de rosa que eu tenho certeza de que tem quase o mesmo peso que ela.— Resolveu se mudar para o meu quarto ou isso aí dentro é um cadáver? — questiono, conseguindo aquele revirar de olhos habitual de quando ela se depara com algum comentário sarcástico meu.— Estou aqui como sua fada madrinha. — Se inclina para espreitar atrás de mim. — Eleanor não está aí, né?— Ela saiu um pouco antes de você aparecer, então fique tranquila.— Ufa! — Ela respira de alívio quando entra no meu dormitório. — O clima fica bem mais leve quando ela não está.— Isso é um bom sinal, considerando que estamos aqui para armar um plano contra seu amigo de fraternidade, certo?Minha irmã faz uma careta.— Ainda não posso acreditar que Kendall te propôs algo assim — diz. — Tipo... fazer Aaron Ditt se apaixonar por alguém é uma loucura. Estou aqui porque sou uma irmã fiel e te amo, apesar de você tomar péssimas decisões, mas a
Ela levanta uma sobrancelha.— Estou ouvindo.Eu me sento na cadeira da minha escrivaninha, agora bastante concentrada em colocar em palavras o plano que passei horas bolando, e agora parece a ideia mais ridícula do mundo.— Certo, digamos que... eu vá me vestir de maneira bem sexy hoje.— De maneira sexy? — ela repete.— Sim, apenas para chamar a atenção do cara.— Claro. E depois que você chamar a atenção dele?— Eu vou me aproximar — continuo. — E em seguida, eu vou propor a ele um esquema.Cassidy faz uma pausa. Uma pausa longa, que diz muito sobre sua opinião em relação ao meu relato.— Que tipo de esquema, Evelyne?— Vou pedir para que ele saia comigo — respondo. — Ele vai querer recusar no começo, achando que sou uma fã, obviamente, mas então eu vou ser sincera com ele. Que preciso que saia comigo para impressionar algumas “amigas”. Em seguida, quando ele aceitar...— Espere... — Cassidy me interrompe. — Evelyne, não é querendo jogar água no seu castelinho de areia, mas você ou