PrólogoAs Ravens gostavam de afirmar que ele era o pior cara que haviam conhecido na vida. Elas também o chamavam de muitas coisas, como “babaca”, “desalmado” e “quebrador de corações”. Aquelas garotas eram lei no Joe Bixby, e elas certamente conseguiam fazer com que alguns apelidos maldosos pegassem quando queriam, o que não acontecia quando se tratava de Aaron, é claro. Se Kendall Vallen e suas amigas eram as rainhas do Joe Bixby, Aaron Ditt era o rei. Um rei muito bonito e arrogante. Nem estou exagerando. O que faltava em sua personalidade duvidosa, ele compensava em beleza. Quase como se uma estrela do Rock e uma diva dos anos cinquenta houvessem tido um filho. Suas roupas legais, cabelo estiloso e a postura de quem sempre estava um passo à frente dos demais faziam um contraste interessante quando você parava para observar as inúmeras tatuagens e o olhar atento de lobo que ele sempre te dirigia enquanto analisava você. E era exatamente isso o que eu achava interessante nele. Embo
Capítulo 1Há esse lugar encantado no centro de Trempton City. Uma livraria empoeirada e vazia, com uma cafeteria nada movimentada e um sino enferrujado na porta. Assim como as paredes descascadas, os móveis são velhos e o cheiro de couro se mistura ao aroma do café e ao papel dos livros. Nos seus melhores dias, você verá um grupo apaixonado de leitores ávidos em busca de algum entretenimento. Nos piores, as gotas da chuva de verão pingarão em suas cabeças através das inúmeras rachaduras no teto, enquanto você tenta se acomodar numa poltrona, servido de um bom café.Seu nome é Coelho Branco, como em Alice no País das Maravilhas, e ao contrário do que a maioria das pessoas nessa cidade costuma pensar, este é um dos melhores lugares do mundo.Foi aqui onde me refugiei nos meus piores momentos. Foi em meio aos livros e edições de mangás variados que eu encontrei conforto quando meu pai me disse que moraria fora do país, quando sofri minha primeira decepção amorosa e quando descobri que t
Capítulo 2Se tem uma coisa que eu detesto em salas de espera é a maneira como elas são frias. Além do tempo lá fora não ajudar em nada, o ar seco deste ar-condicionado me deixa impaciente. Puxo as mangas do meu moletom escuro e enfio as mãos nos bolsos da calça. Além da janela, uma fina poeira de chuva começa a chapiscar o vidro limpo.Você já parou para observar uma tempestade? Quando o céu fica escuro e uma grossa camada de nuvem o cobre. O vento fica mais gelado, o ambiente mais triste. Eu não gosto de tempestades ou de dias frios. Eles são irritantes porque fazem eu me sentir mais solitário do que costumo ser normalmente, o que é engraçado de se dizer se você convivesse comigo. Eu sou alguém que vive cercado de pessoas que se dizem minhas amigas, vou a festas com mais frequência do que posso contar e recebo números de garotas aleatórias como se fosse uma celebridade, mas há momentos em que me questiono se isso significa que não estou sozinho ou se tudo não passa de uma distração
EVELINEO Mercedes da minha mãe para em frente aos portões de ferro do Joe Bixby. Pelo vidro molhado do carro, observo a fachada cor creme da universidade de música em que passarei quatro anos da minha vida. Um certo nervosismo, misturado ao desespero, se acopla dentro de mim. Tudo na vida tem consequências, essa é a da minha covardia. Tentando não pensar muito nisso, volto minha atenção para mamãe, que está com um sorriso tão grande que tira um pouquinho da minha tristeza.— Bem, aqui estamos — diz. — Hoje é um dia muito importante para nossa Eve. Então, Cass, será sua a missão, como veterana, guiar nossa garota em seu primeiro dia de aula.Cassidy, sentada no banco traseiro do carro, abre um sorriso.— Pode deixar, Di. Vou fazer o meu melhor para situar Evelyne no Joe Bixby. Ela vai amar o lugar.— Obrigada, gente, mas acho que não precisamos de tudo isso — eu digo. — Basta dar uma passada na reitoria, descobrir onde fica meu dormitório, e vou me sentir em casa.Minha mãe sorri.— S
— Ei, Cass — diz a loira número um, porque há outra.— Olá, Kendall — Cassidy cumprimenta. Há pelo menos mais três delas, mas as outras não parecem falar. — Oh, deixe-me apresentar. Está é Evelyne, minha irmã. Estas são Kendall, Monroe, Tessa e Violet, as Ravens.Então essas são as famosas garotas de irmandade? Eu confesso que imaginava algo diferente. Onde estão as meninas de olhares calorosos e que não discriminavam os outros pelas suas roupas, como minha mãe sempre descreveu? Me chame de precipitada se quiser, mas eu não me engano quando vejo Kendall me encarar de cima a baixo, focando no moletom largo sobre a saia plissada, ou no meu par de meias de cores diferentes, e torce o nariz.— Hum... essa é sua irmã? — ela pergunta. — Eu imaginava algo diferente.— Tipo o que? — eu digo.Ela dá de ombros.— Alguém mais como Cass.Claro. Eu já deveria ter imaginado isso vindo. Por que não viria? Apenas mais um grupo de pessoas para me comparar com Cassidy. Isso sempre foi tão cansativo.Cr
Após fazer todos os procedimentos iniciais, eu pego as minhas chaves e sigo em direção aos dormitórios. O prédio onde vou me instalar é de fácil acesso, e não demoro a encontrar o meu quarto. Me foi informado que vou dividir o quarto com uma veterana, já que sua colega de quarto desistiu do curso um pouco antes de completar um ano, o que é engraçado, porque me pergunto se não serei capaz de fazer exatamente isso depois de apenas alguns meses no Joe Bixby.Encaro a porta com o número treze nela. Não sou supersticiosa, mas não dizem que isso é um número de sorte ou algo do tipo? Bato, recebendo apenas um ruído do lado de dentro, que traduzo como uma autorização e então empurro a porta. Minha colega de quarto está de costas para mim, mas reconheço de imediato os cabelos vermelhos e as roupas pretas que Eleanor estava usando quando a vi lá fora. Congelo no mesmo instante.— Hum... olá — eu digo, meio desajeitada, conforme olho para Cass em busca de alguma ajuda.Minha irmã simplesmente fe
EVELYNEQuando finalmente me dirijo até a sala em que terei a primeira aula, já se passou muito tempo e mesmo assim não tive oportunidade de analisar o Joe Bixby como um todo. No entanto, conforme caminho pelos corredores da minha divisão, noto a variação de estilo das pessoas daqui. O código de vestimenta também é um negócio engraçado. A maioria está dividida entre se vestir como se fosse para um evento em Hollywood ou para uma audiência no tribunal mais próximo. Eu não os julgo, porque eles também não estão me julgando. Não como Kendall e suas garotas fizeram. Eu, particularmente, tenho uma maneira própria de encarar a moda. Não vejo problema algum em sair de casa com a roupa amarrotada se ela estiver limpa. Não está achando o outro pé da sua meia? Faça como eu e use duas de cores diferentes. Sua camisa não deixa de ser uma camisa por estar amarrotada e suas meias não deixam de cumprir sua função só porque não combinam. Há tantas coisas mais importantes com as quais se preocupar na
Eu sufoco um lamento e me levanto. Todos estão me observando, e eu odeio isso. Odeio o olhar de expectativa e curiosidade no rosto de cada um deles. Odeio estar me submetendo a isso. Simplesmente odeio.Eu me sento diante do piano elétrico, observando as teclas brancas e pretas como se fossem amigas de longa data. Uma amizade tóxica que só me consome, só exige de mim e nunca me dá nada em troca. Ignoro a gota de suor que desliza pela minha espinha e afasto os pensamentos estranhos da minha cabeça. Somos apenas eu, este piano maldito e Allegro Cantabile. É o tema de abertura de um dos meus Animes de música favoritos. Não estou nem aí se eles não conhecerem, esta é a única maneira de fazer essa coisa dar certo. Deslizo meus dedos pela tecla do piano, imersa nas notas que decorei há anos. Fecho os meus olhos, ignorando todos ao meu redor, e simplesmente me entrego.Aproximadamente um minuto depois, eu encerro minha apresentação, abrindo os olhos finalmente. Um silêncio sepulcral preenche