Amélia sempre viveu uma vida simples, guiada pela fé e pelos valores religiosos. Mas tudo muda quando, durante uma ação social na comunidade, ela cruza o caminho de Arthur, o homem mais temido do morro, conhecido como Pesadelo. Obcecado por sua beleza e inocência, Arthur decide que Amélia será dele, queira ela ou não. Entre a razão e o desejo, o certo e o proibido, Amélia tenta resistir, mas a atração entre eles é avassaladora. Presa em um mundo perigoso, onde amor e obsessão se confundem, Amélia precisará enfrentar seus medos para não perder a si mesma. Afinal, um homem como Pesadelo nunca aceita um "não" como resposta.
Ler maisAMÉLIAEu cheguei à comunidade com um nó apertado na garganta, os olhos ainda inchados de tanto chorar. O peso da discussão com minha mãe e Agenor ainda estava fresco em minha mente, uma ferida aberta que doía profundamente. Ao virar a esquina, esbarrei em Pesadelo, acompanhado por um homem que eu já tinha visto algumas vezes na comunidade, sempre ao lado dele. Uma mulher que eu nunca tinha visto antes também estava lá. Pesadelo deixou ela de lado rapidamente quando seus olhos encontraram os meus, percebendo imediatamente a aflição em meu rosto.Eu podia sentir meu coração batendo mais rápido ao vê-lo tão perto de outra mulher, e uma onda de ciúmes e desconforto me invadiu.Quem era ela?Ela era uma mulher esbelta e alta, com cabelos longos e pretos que caíam em ondas até o meio de suas costas. Os seus olhos escuros eram intensos, adornados por cílios longos e curvos, consequência do alojamento que ela tinha. A mulher também tinha lábios cheios e vermelhos, que pareciam sempre pront
AMÉLIAEu estava deitada na cama, soluçando baixinho enquanto tentava entender tudo o que havia acontecido. Cada lágrima que escapava dos meus olhos era como um peso a mais sobre meus ombros já cansados. A dor da discussão com a minha mãe ainda ressoava na minha mente.Eu não conseguia acreditar que ela não acreditava em mim, que ela estava disposta a me expulsar de casa em vez de ouvir o que eu tinha a dizer. Eu me sentia traída, magoada e incrivelmente sozinha.Eu não tinha ninguém em quem me apoiar. Todos os que eu conhecia faziam parte da igreja que minha mãe, Agenor e eu frequentávamos. Aos olhos de todos, erámos a família ideal, sem defeitos, sem problemas... Era tudo mentira.Pedir ajuda a algum deles não ia adiantar.A discussão com minha mãe foi um golpe profundo. Sua recusa em acreditar em mim, sua escolha em apoiar Agenor ao invés de me proteger, me deixava em um estado de desespero.Eu sempre pensei que minha mãe estaria ao meu lado, não importava o que acontecesse, mas su
AMÉLIAQuando cheguei em casa após mais um dia de trabalho na comunidade, encontrei Agenor sentado na sala, o olhar frio fixo em mim. Sabia que ele estava esperando uma oportunidade para me intimidar, e hoje não seria diferente.— Está tarde, Amélia. Onde você estava? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo.— Estava na ação social, ajudando quem precisa — respondi, tentando manter a calma.Ele levantou-se devagar e caminhou até mim, seus olhos brilhando com uma malícia que me deixava enjoada.— Ação social... — ele repetiu, cada palavra carregada de desdém. — Sempre a mesma historinha... Só a Jussara para acreditar nesse seu papinho.— Não estou me mentindo, Agenor. Estou ajudando as pessoas. Algo que você nunca entenderia — rebati, sem conseguir esconder minha irritação.Ele riu, um som seco e cruel, e deu mais um passo na minha direção, me encurralando contra a parede.— Você acha que é melhor que todo mundo, não é? A boa samaritana, a menina perfeita. Mas eu sei quem você r
AMÉLIADesde o dia em que vi Pesadelo na ação social, sabia que minha vida não seria mais a mesma. Ele parecia surgir em todos os lugares que eu frequentava na comunidade. Liliana estava cada vez mais preocupada e insistia que eu tomasse cuidado, mas havia algo dentro de mim que não conseguia ignorar a presença de Arthur.Ele estava lá quando ajudávamos a reconstruir a escola comunitária, observando de longe. Ele aparecia quando distribuíamos alimentos nas ruas mais carentes, sempre à distância, mas nunca longe demais.Liliana e eu conversávamos frequentemente sobre ele. Ela estava cada vez mais preocupada com minha segurança.Porém, por mais que fosse estranho, eu não tinha tanto medo quanto eu deveria ter de Arthur.— Amélia, você precisa tomar cuidado com esse homem. — ela dizia repetidamente.— Eu sei, Liliana. Mas não posso evitar o fato de que ele está sempre por perto. Ele não fez nada até agora, apenas observa.— Isso é o que me preocupa, amiga...Eu sabia que Liliana tinha r
AMÉLIA— O Agenor me disse que você tá muito estressada e que anda muito nervosa, filha. — minha mãe começou, me observando. — Ele acha que talvez seja melhor você passar um tempo em casa, longe dessas ações sociais.Claro que Agenor diria algo assim. Ele estava tentando me afastar de tudo que me fazia feliz, me isolando de tudo e de todos.— Eu só quero ajudar as pessoas. Isso me faz feliz. — tentei explicar, limpando o resto das lágrimas.Minha mãe suspirou.— Eu entendo, Amélia. Mas você precisa entender que estamos preocupados com a sua segurança. — ela insistiu, colocando a mão sobre a minha. O gesto deveria ser reconfortante, mas me senti ainda mais sufocada. — E com seu futuro. Você precisa pensar em se preparar para um bom casamento, ter uma família. Não pode se distrair com essas coisas.Como se tudo que importasse fosse casar e seguir o caminho que esperavam de mim.— Mas, mãe, as ações são importantes para mim. — repliquei, frustrada.— Eu sei, mas você precisa confiar em n
AMÉLIAJá estava escuro quando voltei da ação social, me sentindo exausta, mas satisfeita.Passei o dia ajudando a distribuir alimentos e brinquedos para as crianças da comunidade. No entanto, uma sensação de inquietação ainda pairava sobre mim, a presença de Arthur ainda fresca na minha mente.É melhor eu tirar ele da cabeça. Afinal, eu não voltaria a vê-lo nunca.Ao chegar em casa, fui recebida pelo olhar severo da minha mãe, Jussara, e pelo semblante carrancudo do meu padrasto, Agenor.— Onde você estava até essa hora, Amélia? — perguntou, as mãos na cintura, o rosto marcado por linhas de preocupação e frustração.— Eu estava na ação social com o pessoal da igreja, mãe. — respondi, tentando manter a calma. — Eu falei com a senhora ontem.— Você devia passar mais tempo em casa e sair apenas conosco. — Agenor acrescentou, a voz grave e autoritária. — O mundo está perigoso demais, ainda mais para uma jovem como você, Amélia.Eu sentia nojo em escutar a voz de Agenor.Será que minha mã
AMÉLIAEra difícil imaginar alguém com aquele semblante implacável atendendo por um nome tão... comum.— Arthur... — murmurei para mim mesma, testando o nome em meus lábios.Liliana me observava com uma mistura de preocupação e curiosidade.— Você tá falando o nome dele por quê? — ela perguntou, franzindo a testa.— Só achei curioso. — dei de ombros, mas minha mente continuava presa naquilo.— Amélia, você tá brincando com fogo. — Ela alertou nem um pouco contente com aquilo. — Não é um cara com quem você deva ter "curiosidades".Assenti, tentando ignorar a presença inquietante de Arthur. Mas minha mente não parava de questionar.O que teria levado um homem chamado Arthur a se tornar o Pesadelo?— Você já conversou com ele? — perguntei, minha curiosidade não deixando espaço para o bom senso.Liliana me olhou como se eu estivesse louca.— Claro que não, Amélia. Não se deve conversar com ele. Ele é perigoso. Melhor manter distância.— Mas... você sabe alguma coisa sobre ele?Liliana sus
AMÉLIAO sol ainda nem tinha dado as caras quando acordei naquela manhã fria, mas mesmo assim senti que o dia seria um dia abençoado. Sempre gostei dessas manhãs tranquilas, quando o mundo ainda está despertando e tudo parece mais calmo.Vesti minha camiseta de voluntária, combinei com a saia jeans longa e joguei a mochila cheia de suprimentos nas costas. Meu destino era a comunidade onde a igreja realizaria mais uma ação social. O caminho era esburacado, cheio de subidas e ladeiras, mas eu estava feliz. Minha mente estava focada na missão do dia: ajudar, servir, fazer a diferença, nem que fosse só um pouco.Ajudar as pessoas era mais do que uma missão, era uma forma de demonstrar amor. Minha mãe sempre dizia que um coração generoso nunca volta vazio, e eu acreditava nisso com cada parte de mim.Meus olhos passeavam pelos barracos humildes, e eu imaginava famílias inteiras lutando todos os dias, sonhando com um futuro melhor. Se eu pudesse, faria muito mais por eles.Ao chegar à praça