Capítulo 2

AMÉLIA

Era difícil imaginar alguém com aquele semblante implacável atendendo por um nome tão... comum.

— Arthur... — murmurei para mim mesma, testando o nome em meus lábios.

Liliana me observava com uma mistura de preocupação e curiosidade.

— Você tá falando o nome dele por quê? — ela perguntou, franzindo a testa.

— Só achei curioso. — dei de ombros, mas minha mente continuava presa naquilo.

— Amélia, você tá brincando com fogo. — Ela alertou nem um pouco contente com aquilo. — Não é um cara com quem você deva ter "curiosidades".

Assenti, tentando ignorar a presença inquietante de Arthur. Mas minha mente não parava de questionar.

O que teria levado um homem chamado Arthur a se tornar o Pesadelo?

— Você já conversou com ele? — perguntei, minha curiosidade não deixando espaço para o bom senso.

Liliana me olhou como se eu estivesse louca.

— Claro que não, Amélia. Não se deve conversar com ele. Ele é perigoso. Melhor manter distância.

— Mas... você sabe alguma coisa sobre ele?

Liliana suspirou, percebendo que eu não iria desistir tão facilmente.

— Só sei que ele apareceu aqui há alguns anos e tomou rapidamente o controle do morro. Ninguém sabe muito sobre o passado dele, e quem sabe, não fala sobre isso. É melhor assim.

— Por quê?

— Porque quem se mete onde não deve desaparece.

Assenti novamente, tentando absorver suas palavras. Mas a curiosidade já estava plantada em minha mente, crescendo a cada segundo.

Havia algo em Arthur, ou Pesadelo, que me intrigava.

Algo que eu sentia que precisava entender, mesmo que isso fosse contra todos os avisos e instintos de autopreservação.

Tentando ignorar a presença inquietante de Arthur, voltei ao meu trabalho. Mas mesmo enquanto distribuía alimentos e conversava com as pessoas, a sombra de minha curiosidade sobre ele pairava sobre mim. Eu sabia que esse impulso de querer saber mais poderia ser perigoso, mas não conseguia evitar.

Como alguém tão assustador poderia ter um nome tão bonito? Mas, mesmo enquanto continuava meu trabalho, não conseguia me livrar da sensação de que algo profundo e irrevogável havia mudado naquele momento.

— Vamos terminar logo isso. — Liliana murmurou ao meu lado.

— Você acha que ele tá olhando pra cá? — perguntei, sem conseguir evitar.

— Você quer que eu olhe? — ela riu nervosa. — Eu não sou doida, Amélia.

O que estava acontecendo comigo? Eu não era assim, mas porque queria saber mais sobre ele?

Continuei distribuindo as cestas básicas, mas meus pensamentos estavam dispersos.

A presença de Arthur era uma sombra constante, e eu sentia seus olhos em mim o tempo todo.

Não sabia o que pensar dele. Parte de mim estava assustada, mas outra parte, uma que eu relutava em admitir, estava curiosa.

O que fazia um homem como ele ser tão temido? E por que ele parecia tão interessado em mim?

Enquanto nos preparávamos para ir embora, Liliana se aproximou de mim mais uma vez.

— Estou tão feliz que deu tudo certo. — abriu um sorriso largo. — Agora você tem meu número, pode me ligar sempre que precisar de uma amiga, viu?

— Pode deixar. — respondi, me sentindo feliz por encontrar uma nova amiga. — E você também, precisando de alguma coisa, liga!

PESADELO

O dia começava como qualquer outro. Acordei cedo, como de costume, e dei as minhas ordens para os rapazes.

Havia muitas coisas para resolver no morro, mas uma coisa chamou a minha atenção. Uma movimentação diferente na praça.

Um grupo de pessoas da igreja tinha vindo fazer uma ação social e eu decidi ficar observando de longe, curioso.

Meu olhar passeava pelos voluntários até que se fixou em uma garota. Ela não tinha nada de especial à primeira vista, mas algo nela me prendeu.

Branquinha. Cabelos pretos e longos. Pequena.

E vestida como uma senhora de oitenta anos.

Fiz uma careta.

— Quem é aquela? — perguntei a Maicon, que estava ao meu lado.

Maicon seguiu o meu olhar e identificou a garota.

— Ah, aquela é Amélia, líder do grupo de jovens de uma igrejinha aí. Ela vem de vez em quando com o pessoal da igreja. — disse. — Ela e o padre que vieram perguntar há uns meses se podiam fazer essa parada de doação.

Eu não consegui desviar os olhos dela. Amélia distribuía cestas básicas, sorrindo e conversando com as pessoas, como se realmente se importasse. E, de alguma forma, aquilo me incomodava e me atraía ao mesmo tempo.

Ela estava tão feliz só por estar ajudando alguém? Assim, sem ter nada em troca?

Caminhei até um ponto onde podia observar ela mais de perto, mas mantendo uma certa distância. Não queria assustar ela, pelo menos não ainda.

Eu percebia que ela sentia o meu olhar sobre ela e isso me fazia repetir isso várias e várias vezes.

Vi quando ela levantou os olhos e os nossos olhares se cruzaram.

Liliana, que eu já tinha visto pelo morro, estava ao lado de Amélia. Acho até que ela já teve um rolo com o Maicon, mas eu não tinha certeza.

Vi Liliana cochichar algo para ela e percebi que Amélia tentava evitar me olhar. Isso apenas aumentava meu interesse.

A maioria das pessoas evitava meu olhar por medo, mas nela havia algo diferente, algo que eu queria entender. Continuei observando enquanto eles trabalhavam.

O dia passava e eu não conseguia desviar a atenção dela e quando a ação social estava chegando ao fim, vi Amélia se despedir de Liliana e começar a caminhar de volta para casa. Senti uma necessidade de seguir ela, de saber mais sobre ela, mas me contive. Haveria tempo para isso. Eu sabia que aquele não era um encontro qualquer.

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