Seduzida por Ele: Dono do Morro
Seduzida por Ele: Dono do Morro
Por: Ella Ortiz
Capítulo 1

AMÉLIA

O sol ainda nem tinha dado as caras quando acordei naquela manhã fria, mas mesmo assim senti que o dia seria um dia abençoado. Sempre gostei dessas manhãs tranquilas, quando o mundo ainda está despertando e tudo parece mais calmo.

Vesti minha camiseta de voluntária, combinei com a saia jeans longa e joguei a mochila cheia de suprimentos nas costas. Meu destino era a comunidade onde a igreja realizaria mais uma ação social. O caminho era esburacado, cheio de subidas e ladeiras, mas eu estava feliz. Minha mente estava focada na missão do dia: ajudar, servir, fazer a diferença, nem que fosse só um pouco.

Ajudar as pessoas era mais do que uma missão, era uma forma de demonstrar amor. Minha mãe sempre dizia que um coração generoso nunca volta vazio, e eu acreditava nisso com cada parte de mim.

Meus olhos passeavam pelos barracos humildes, e eu imaginava famílias inteiras lutando todos os dias, sonhando com um futuro melhor. Se eu pudesse, faria muito mais por eles.

Ao chegar à praça central da comunidade, encontrei os outros voluntários já reunidos, descarregando caixas de um caminhão e organizando as mesas de distribuição.

Foi quando meus olhos encontraram Liliana.

Ela era uma colega da igreja que parecia nunca estar triste, sempre sorridente. Talvez eu devesse ser mais assim, mais aberta, mais confiante. Mas eu sempre fui reservada, sempre tive medo de me aproximar demais e acabar me machucando.

— Bom dia, Liliana! — cumprimentei, sorrindo.

— Bom dia, Amélia! — Ela me olhou com os olhos brilhantes. — Graças a Deus, conseguimos muitas doações hoje!

Fazíamos parte do grupo de voluntariado há alguns anos, mas nuncaa tivemos um contato mais próximo. Enquanto ajudávamos a organizar as roupas doadas, Liliana puxou assunto:

— Você tá nesse grupo há quanto tempo, Amélia?

— Uns três anos, desde que me mudei pro Rio. — Respondi enquanto dobrava uma blusa de frio e a colocava sobre a mesa de distribuição.

Ela sorriu.

— Sempre te vi dedicada, sabe? Mas nunca tivemos a chance de conversar direito. Eu sempre quis ser sua amiga, mas achei que ia te assustar com meu jeito... expansivo. — Ela riu, dando de ombros. — Às vezes, eu falo demais, e sei que nem todo mundo gosta.

Soltei uma risadinha.

— Se eu soubesse disso, teria me aproximado antes.

— Eu sempre quis te conhecer melhor, mas você parecia meio na sua, sabe?

Pisquei algumas vezes, refletindo sobre aquilo. Sim, eu sempre fui mais reservada, mais fechada no meu próprio mundo. Mas, no fundo, também sentia falta de ter uma amiga para quem eu pudesse contar tudo.

Ela estendeu a mão.

— Que tal, a partir de hoje, sermos amigas de verdade?

Segurei sua mão e assenti.

— Amigas.

Eu nunca tinha tido uma amiga antes.

Ela apertou minha mão com força e depois me puxou para um abraço apertado, me pegando de surpresa.

— Agora você tá lascada, viu? Porque eu sou grudenta! — brincou, rindo.

Ri junto com ela. Talvez eu não precisasse mais me sentir tão sozinha.

Seguimos com o trabalho, montando as cestas básicas. O padre Marcos, líder do grupo, veio nos dar palavras de encorajamento.

— Muito bem, meus jovens. Tenho orgulho de vocês! Cada pequeno ato de bondade conta.

Sorri, concordando com a cabeça.

Mas essa paz durou pouco.

No meio da distribuição das cestas, senti uma sensaçãoo estranha, como se allguém estivesse me olhando.

Meu corpo enrijeceu.

Levantei os olhos devagar e vi um homem alto e musculoso, parado do outro lado da praça. Ele não fazia nada além de me observar.

Os olhos dele eram frios, intensos, calculistas. Me analisavam como se enxergassem cada pedaço de mim, como se me despisse sem precisar tocar.

Um arrepio subiu minha espinha.

O sol batia sobre sua pele bronzeada, destacando as tatuagens espalhadas pelos braços, pescoço e mãos.

Por que ele estava me olhando daquele jeito?

— O que…? — murmurei para mim mesma, sentindo um nó na garganta.

Engoli em seco, tentando afastar a sensação estranha.

— Por que ele tá me olhando assim? — sussurrei, sentindo meu coração acelerar.

Abaixei a cabeça e tentei me concentrar no que estava fazendo, mas minha mente não colaborava.

Sem resistir, ergui os olhos outra vez.

Ele ainda estava lá.

Ainda me observava.

Meu peito subiu e desceu rapidamente, e minhas mãos apertaram a lateral da saia, nervosa.

Liliana percebeu minha tensão e seguiu meu olhar.

— Não olha muito, Amélia. — Ela abaixou o tom de voz. — Esse é o Pesadelo.

Arregalei os olhos.

— Quem?

— Ele comanda o morro. Melhor manter distância.

Pesadelo.

O apelido fez minha pele arrepiar. Soava ameaçador, mas, ao mesmo tempo, me deixava intrigada.

Engoli em seco e tentei não olhar mais. Mas falhei.

O olhar dele não vacilava. Não desviava.

— Por que ele tá me olhando tanto, Liliana? — murmurei.

Liliana franziu o cenho, sua expressão ficando mais séria.

— É estranho… — ela disse. — Ele nunca aparece aqui assim, do nada.

Meu estômago se revirou.

— Como assim?

— O Pesadelo não é de ficar andando por aí à toa. Se ele tá aqui, deve ter um motivo.

Arregalei os olhos.

— Que motivo?

Ela deu de ombros, mas seu olhar carregava um alerta silencioso.

— Não sei, mas seja lá qual for, não pode ser coisa boa. — disse. — É melhor você tomar cuidado, Amélia. Não dá confiança e, pelo amor de Deus, não encara ele. 

Engoli em seco, desviando o olhar imediatamente. Mas mesmo sem ver, eu podia sentir o olhar dele queimando a minha pele.

— Você fala como se ele fosse perigoso…

Ela soltou uma risada curta, sem humor.

— Amélia, você não faz ideia. Esse cara é perigoso.

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