Capítulo 3

AMÉLIA

Já estava escuro quando voltei da ação social, me sentindo exausta, mas satisfeita.

Passei o dia ajudando a distribuir alimentos e brinquedos para as crianças da comunidade. No entanto, uma sensação de inquietação ainda pairava sobre mim, a presença de Arthur ainda fresca na minha mente.

É melhor eu tirar ele da cabeça. Afinal, eu não voltaria a vê-lo nunca.

Ao chegar em casa, fui recebida pelo olhar severo da minha mãe, Jussara, e pelo semblante carrancudo do meu padrasto, Agenor.

— Onde você estava até essa hora, Amélia? — perguntou, as mãos na cintura, o rosto marcado por linhas de preocupação e frustração.

— Eu estava na ação social com o pessoal da igreja, mãe. — respondi, tentando manter a calma. — Eu falei com a senhora ontem.

— Você devia passar mais tempo em casa e sair apenas conosco. — Agenor acrescentou, a voz grave e autoritária. — O mundo está perigoso demais, ainda mais para uma jovem como você, Amélia.

Eu sentia nojo em escutar a voz de Agenor.

Será que minha mãe não percebia os comentários dele? Os olhares que ele me lançava?

— Eu já tenho 21 anos. Posso tomar as minhas próprias decisões. — repliquei, sentindo a tensão crescer dentro de mim.

— Você é sustentada por nós e deve nos respeitar. — Minha mãe respondeu com firmeza. — Enquanto viver debaixo do nosso teto, seguirá nossas regras. E fale direito com Agenor, ele é seu pai.

— Esse homem nunca será o meu pai, mãe. O meu morreu, caso não se lembre!

Senti as lágrimas começarem a se formar. Eu sabia que não adiantaria discutir. Minha mãe e Agenor eram inflexíveis em suas crenças e tinham uma visão muito rígida do que consideravam apropriado para mim. Qualquer tentativa de diálogo terminava em brigas ou longos sermões sobre obediência e respeito.

Sem dizer mais nada, subi para o meu quarto. Sentei na beirada da cama e deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Por que minha vida não poderia ser diferente?

Ouvi uma leve batida na porta e levantei os olhos, limpando rapidamente as lágrimas.

Era Agenor.

Ele abriu a porta devagar, com uma expressão de preocupação que parecia quase genuína.

Falso!

— Posso entrar, Amélia? — ele perguntou, a voz mais suave do que de costume.

— Não, quero ficar sozinha. — respondi, tentando manter a voz firme.

Ele entrou de qualquer maneira, fechando a porta atrás de si.

— Estamos apenas preocupados com você. Não queremos que se machuque ou que se envolva em problemas. — ele disse, se aproximando.

Eu queria acreditar em suas palavras, mas havia algo na sua presença que me deixava desconfortável.

Desde que ele entrou em nossas vidas, sempre senti um desconforto em sua presença, uma sensação de que ele estava sempre me observando.

Ele se sentou ao meu lado na cama e colocou a mão no meu ombro, em um gesto que deveria parecer paternal, mas vindo dele, eu sabia que não era.

— Amélia, você sabe que eu e a sua mãe só queremos o melhor para você. — ele continuou, aproximando-se ainda mais.

Eu me afastei instintivamente, mas ele segurou meu braço.

— Agenor, por favor, eu realmente preciso de um tempo sozinha. — eu disse, minha voz tremendo. — Solta o meu braço!

Ele ignorou meu pedido e, de repente, tentou me beijar. Senti um calafrio percorrer minha espinha e me afastei bruscamente, empurrando-o.

— O que você está fazendo? — gritei, a voz cheia de pânico.

— Amélia, por favor, me escuta. Só queremos o seu bem, meu amor. — ele disse, tentando me segurar novamente. — Eu só quero cuidar de você. — disse enquanto tentava beijar a minha boca.

— Vou contar para minha mãe! — eu ameacei, tentando me libertar do seu aperto.

Agenor me soltou imediatamente, o rosto transformado em uma máscara de preocupação fingida.

— Não faça isso, Amélia. Você não quer criar problemas para ninguém. — ele disse, recuando.

— Sai do meu quarto! — mandei com a voz embargada.

Eu o encarei, o coração batendo acelerado, enquanto ele saía do quarto, fechando a porta atrás de si.

Sentei-me de volta na cama, sentindo uma mistura de medo e raiva.

Não podia acreditar no que acabara de acontecer.

Eu preciso sair daqui.

Deitei na cama, abraçando meu travesseiro enquanto lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto.

O comportamento de Agenor sempre foi inadequado, mas ele nunca havia cruzado uma linha tão claramente antes. Eu sabia que precisava contar à minha mãe, mas uma parte de mim temia que ela não acreditasse em mim. Ela era cega de amor por Agenor e confiava nele.

Como poderia convencer minha mãe de que o homem que ela amava e confiava estava se aproveitando de mim?

Enquanto essas questões me atormentavam, ouvi passos pesados subindo as escadas. Prendi a respiração, esperando que Agenor não tivesse voltado. Mas era minha mãe. Ela bateu na porta suavemente antes de entrar.

— Amélia, precisamos conversar. — disse ela, sentando-se na beirada da cama.

Eu me sentei, limpando as lágrimas com as costas da mão.

— O que foi, mãe? — perguntei, tentando parecer calma.

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