Capítulo 4

AMÉLIA

— O Agenor me disse que você tá muito estressada e que anda muito nervosa, filha. — minha mãe começou, me observando. — Ele acha que talvez seja melhor você passar um tempo em casa, longe dessas ações sociais.

Claro que Agenor diria algo assim. Ele estava tentando me afastar de tudo que me fazia feliz, me isolando de tudo e de todos.

— Eu só quero ajudar as pessoas. Isso me faz feliz. — tentei explicar, limpando o resto das lágrimas.

Minha mãe suspirou.

— Eu entendo, Amélia. Mas você precisa entender que estamos preocupados com a sua segurança. — ela insistiu, colocando a mão sobre a minha. O gesto deveria ser reconfortante, mas me senti ainda mais sufocada. — E com seu futuro. Você precisa pensar em se preparar para um bom casamento, ter uma família. Não pode se distrair com essas coisas.

Como se tudo que importasse fosse casar e seguir o caminho que esperavam de mim.

— Mas, mãe, as ações são importantes para mim. — repliquei, frustrada.

— Eu sei, mas você precisa confiar em nós. Nós sabemos o que é melhor para você. — ela concluiu, levantando-se e ajeitando o coque no cabelo. — Eu ouvi os seus gritos lá de baixo. Não fale mais assim com o Agenor.

Seu olhar se tornou sério, um aviso claro.

Agenor.

Sempre ele.

Eu não aguentei e desviei o olhar, incapaz de esconder o desprezo que sentia.

— Está me ouvindo, Amélia?

Assenti lentamente. Não valia a pena discutir.

Minha mãe soltou um suspiro e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.

Assim que fiquei sozinha, me joguei na cama, encarando o teto.

Sentia-me sufocada pelas expectativas deles.

Pelas regras.

Pelo controle.

Por tudo.

Eu precisava encontrar um jeito de fazer minha mãe entender sem destruir nossa relação. Mas como?

Nos dias seguintes, tentei me ocupar o máximo possível. Fiz questão de passar mais tempo na igreja, envolvida com as ações sociais, ajudando no que fosse necessário.

Mas não importava o quanto eu tentasse fugir…

Agenor sempre parecia estar por perto.

Ele encontrava maneiras de se aproximar de mim, sempre com uma desculpa para oferecer ajuda ou para mostrar preocupação.

Cada vez que ele se aproximava, meu estômago revirava.

Tentei evitá-lo o máximo possível, mas morando na mesma casa, era difícil escapar completamente.

E ele sabia disso.

Em um domingo à tarde, aproveitei que minha mãe estava na igreja e fui para a cozinha preparar algo para o almoço.

Era um momento raro de paz.

Ou pelo menos deveria ser.

Estava distraída, cortando legumes, quando senti uma presença atrás de mim.

Meu corpo enrijeceu.

Eu sabia quem era antes mesmo de ele falar.

— Precisa de ajuda? — Agenor perguntou, sua voz soando surpreendentemente amigável.

Tentei manter a calma.

— Não. — respondi, sem me virar.

Mas ele ignorou minha resposta e começou a pegar pratos e talheres, colocando-os na mesa.

— Amélia, você sabe que estamos apenas preocupados com você. — ele começou, aproximando-se lentamente. — Você é uma jovem tão bonita e temos medo de que algo de ruim possa acontecer.

Eu apertei a faca nas mãos.

— Não preciso da sua preocupação. — disse, com raiva. — Eu sei me cuidar.

Ele soltou um riso baixo, como se achasse minha resposta engraçada.

— Sei que sim, mas você é muito ingênua. — ele continuou, e eu senti que ele estava mais próximo agora. — E há pessoas que podem se aproveitar disso.

Muito perto.

— Como você? — as palavras escaparam antes que eu pudesse me conter.

Ele parou por um momento.

Então, um sorriso frio se formou em seus lábios.

— Não fale assim comigo, Amélia. — ele disse, a voz baixando para um tom ameaçador. — Sou seu padrasto e mereço respeito.

Meu estômago revirou com aquelas palavras.

— Respeito é algo que se ganha, Agenor. — repliquei, virando-me para encará-lo. — Você tem sido inconveniente e desrespeitoso comigo. Eu quero que fique longe de mim, entendeu?

O sorriso dele se alargou, mas não havia humor ali.

— Você é muito jovem para entender o mundo, minha querida. — ele disse, aproximando-se ainda mais.

Meu corpo congelou.

— Se afaste! — minha voz saiu mais fraca do que eu queria.

Mas ele não parou.

Antes que eu pudesse reagir, ele colocou a mão na minha cintura, puxando-me para mais perto.

O toque me fez gelar por dentro.

Meu coração disparou, e eu tentei empurrá-lo, mas ele era muito forte.

— Pare com isso! — gritei, a voz cheia de pânico. — Eu juro que chamo a polícia para você, seu abusador!

Ele me soltou de repente, como se tivesse levado um choque.

Por um momento, vi algo brilhar em seus olhos.

Raiva.

Frustração.

Mas, acima de tudo…

Frieza.

— Cuidado com o que você diz, Amélia. — ele avisou, recuando lentamente. — Não quer causar problemas para sua mãe, quer?

Eu o encarei, o coração batendo acelerado.

Minha pele ainda formigava onde ele havia me tocado, e não de um jeito bom.

Era como se a sujeira dele tivesse ficado impregnada em mim.

— Pois então nunca mais toque em mim, ou eu juro que mando você para a cadeia!

Minhas palavras saíram afiadas, carregadas de ódio e medo.

Ele apenas sorriu, um sorriso torto, calculista.

— Veremos. — foi tudo que disse antes de sair da cozinha.

Assim que ele se foi, minhas pernas fraquejaram.

Apoiei as mãos na pia, tentando recuperar o fôlego.

Mas a verdade era que eu nunca me senti tão pequena e impotente antes.

Eu precisava sair daquela situação.

Mas como?

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