Capítulo 5

AMÉLIA

Desde o dia em que vi Pesadelo na ação social, sabia que minha vida não seria mais a mesma.

Ele parecia surgir em todos os lugares que eu frequentava na comunidade. Liliana estava cada vez mais preocupada e insistia que eu tomasse cuidado, mas havia algo dentro de mim que não conseguia ignorar a presença de Arthur.

Ele estava lá quando ajudávamos a reconstruir a escola comunitária, observando de longe. Ele aparecia quando distribuíamos alimentos nas ruas mais carentes, sempre à distância, mas nunca longe demais.

Liliana e eu conversávamos frequentemente sobre ele. Ela estava cada vez mais preocupada com minha segurança.

Porém, por mais que fosse estranho, eu não tinha tanto medo quanto eu deveria ter de Arthur.

— Amélia, você precisa tomar cuidado com esse homem. — ela dizia repetidamente.

— Eu sei, Liliana. Mas não posso evitar o fato de que ele está sempre por perto. Ele não fez nada até agora, apenas observa.

— Isso é o que me preocupa, amiga...

Eu sabia que Liliana tinha razão.

Não era a mesma sensação que eu sentia quando pegava o nojento do Agenor me observando. Com Arthur era diferente.

Ele não era como eu imaginava.

Foi numa tarde ensolarada, enquanto eu ajudava na distribuição de alimentos na praça central, que ele se aproximou de mim pela primeira vez. Eu estava organizando sacolas de mantimentos quando senti alguém atrás de mim.

— Posso falar contigo? — sua voz era mais grossa do que eu pensava.

Me virei devagar.

— Precisa de alguma coisa? — agradeci por não gaguejar quando disse aquilo.

Ele sorriu de lado, um sorriso que não alcançava os olhos.

— Só queria conversar. Tava observando você de longe e... você é muito bonita, sabia, Amélia?

Tentei manter minha postura.

— Agradeço pelo elogio, Arthur, mas eu não entendo o porquê disso.

Ele levantou uma sobrancelha, surpreso por eu usar seu nome verdadeiro.

— Parece que você já me conhece. — constatou. — Isso é injusto, porque eu não sei nada de você.

Antes que eu pudesse responder, ele segurou meu braço, não de maneira violenta, mas firme o suficiente para me fazer perceber que não tinha escolha, e me levou para um canto mais afastado, longe dos olhares curiosos.

— Vamos ser sinceros, eu sei que você tem medo de mim, Amélia. Mas quero que saiba que não tenho a intenção de te machucar.

— Para com isso! — mandei, tentando me soltar.

Fiquei assustada. O que ele estava falando?

— Por que eu? — perguntei, tentando entender suas motivações.

— Porque eu quero. — confessou. — Você me intriga e eu quero saber o porquê disso, garota!

— Você sabe que as nossas vidas são muito diferentes, certo? — perguntei, tentando apelar para a razão enquanto buscava manter uma distância segura entre nós.

Eu lembrava dos conselhos da Liliana e tentava me convencer de que seria melhor não ter qualquer tipo de contato com ele.

Arthur assentiu lentamente, seu olhar intenso ainda fixo no meu rosto.

— Sei disso. Mas isso não significa que a gente não possa. Não tô pedindo nada sério, só quero passar um tempo com você — sua voz era suave, tentadora, como se ele estivesse oferecendo algo mais do que simples companhia.

Meu instinto me dizia para recusar, para afastá-lo, mas havia algo na sua insistência que me fazia hesitar.

— Eu não sou assim! — respondi imediatamente, um leve tom de ofensa na minha voz ao considerar aquela proposta. Não satisfeita, continuei, buscando deixar clara minha resposta:

— Eu só quero que me deixe fazer o bem a essas pessoas. Que me deixe fazer isso em paz.

Ele assentiu novamente, os olhos nunca deixando os meus.

— Acho que você precisa de um tempo. Mas eu não vou desistir de você, Amélia — avisou Arthur, me deixando arrepiada. — Eu quero você, e eu vou ter você.

Meu coração disparou.

Será que ele seria capaz de me machucar?

Antes que eu pudesse responder, ouvi passos apressados atrás de mim. Liliana apareceu, o rosto tomado pela preocupação.

— Amélia, tá tudo bem, amiga? — A voz dela soou alarmada, e seus olhos passaram de mim para Arthur com desconfiança.

Tentei me soltar do aperto dele, e, para minha surpresa, ele me soltou sem resistir. Dei dois passos para trás, meu corpo ainda tremendo.

— Si-sim. Tá tudo bem. — Gaguejei, sentindo o olhar afiado de Arthur sobre mim.

Ele não disse nada, apenas me observou por alguns segundos antes de se afastar lentamente, como se soubesse que aquele não era o fim da conversa.

— O que ele queria? — perguntou Liliana assim que ele saiu de vista.

Passei a língua pelos lábios, ainda sentindo a secura na boca.

— Ele só queria conversar — respondi, tentando soar natural, mas a tremedeira na minha voz me entregou.

Liliana estreitou os olhos.

— Só isso? — Ela não acreditou nem por um segundo. — O que tá acontecendo entre você e ele?

Engoli em seco.

— Eu… Eu não sei.

— Como assim não sabe? — perguntou, curiosa. — Ele estava estranho, e você está tremendo. Se ele te ameaçou, eu juro que…

— Não foi uma ameaça — cortei rapidamente, ainda que não tivesse certeza.

Liliana ficou em silêncio por um momento, analisando meu rosto.

— Você tem certeza?

Eu sabia que ela estava certa em se preocupar.

— É complicado, amiga — sussurrei. — Eu não sei o que pensar, Liliana.

Ela suspirou e segurou minha mão.

— Se cuida, tá?

Eu assenti, mas enquanto saíamos dali, o desconforto só aumentava. Parte de mim sabia que deveria fugir, mas outra parte…

Ah, a outra parte queria saber até onde Arthur estava disposto a ir para me ter.

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