Capítulo 6

AMÉLIA

Quando cheguei em casa após mais um dia de trabalho na comunidade, encontrei Agenor sentado na sala, o olhar frio fixo em mim. Sabia que ele estava esperando uma oportunidade para me intimidar, e hoje não seria diferente.

— Está tarde, Amélia. Onde você estava? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo.

— Estava na ação social, ajudando quem precisa — respondi, tentando manter a calma.

Ele levantou-se devagar e caminhou até mim, seus olhos brilhando com uma malícia que me deixava enjoada.

— Ação social... — ele repetiu, cada palavra carregada de desdém. — Sempre a mesma historinha... Só a Jussara para acreditar nesse seu papinho.

— Não estou me mentindo, Agenor. Estou ajudando as pessoas. Algo que você nunca entenderia — rebati, sem conseguir esconder minha irritação.

Ele riu, um som seco e cruel, e deu mais um passo na minha direção, me encurralando contra a parede.

— Você acha que é melhor que todo mundo, não é? A boa samaritana, a menina perfeita. Mas eu sei quem você realmente é, Amélia. E sei que você está mentindo sobre mim para sua mãe.

— Eu nunca menti sobre você! — explodi, sentindo a raiva ferver dentro de mim. — Você é o problema aqui, Agenor. Você sempre foi!

Ele agarrou meu braço, apertando com força suficiente para me machucar.

— Cuidado com as palavras, menina. Não sabe com quem está lidando — sussurrou, o sorriso cruel nunca deixando seu rosto.

Puxei meu braço de volta, o medo e a raiva misturados em meu peito.

— Você não me assusta, Agenor. E não vou deixar você continuar me intimidando. Vou falar com minha mãe e vamos embora daqui.

Ele soltou uma gargalhada, um som que reverberou pelas paredes da casa.

— Você acha que ela vai acreditar em você? Acha que ela vai abandonar tudo por você e as suas mentiras? Você não é nada, Amélia. Nada!

Fugi para o meu quarto, trancando a porta atrás de mim.

As palavras de Agenor ecoavam na minha mente, mas eu sabia que não podia deixar o medo me paralisar. Precisava confrontar minha mãe e contar a verdade, mesmo que ela não acreditasse em mim.

Naquela noite, reuni toda a coragem que tinha e fui até minha mãe, que estava na cozinha preparando o jantar.

— Mãe, preciso falar com você — comecei, minha voz trêmula

Ela olhou para mim com uma mistura de surpresa e irritação.

— O que foi agora, Amélia? Estou ocupada.

— Eu não posso mais ficar aqui com o Agenor. Ele me faz sentir desconfortável, e eu não aguento mais. Precisamos ir embora, mãe. Podemos começar a vida em outro lugar — despejei de uma vez, tentando controlar as lágrimas.

Ela parou o que estava fazendo e me encarou, então bufou, irritada.

— Você está exagerando. Agenor é um homem bom, que cuida de nós. Sempre foi assim desde que entrou nas nossas vidas. — Balancei a cabeça, não acreditando naquilo.

— Eu sinto medo dele, mãe, e não consigo mais ignorar isso.

Ela me olhou, incrédula.

— Você está inventando essas coisas porque nunca gostou do Agenor? Sempre foi assim desde que nos casamos! — Senti um nó se formar em minha garganta

— O que você está dizendo, Amélia? Isso é ridículo! Você está inventando essas coisas porque nunca gostou do Agenor. Sempre fez de tudo para criar problemas entre nós.

— Não é verdade, mãe! — protestei, sentindo a frustração e a dor em cada palavra. — Ele não é quem você pensa que é. Ele... ele não me trata bem.

Antes que pudesse continuar, ela levantou a mão, interrompendo-me com um gesto severo.

Ela me encarou por um momento, os olhos buscando os meus em silêncio. Então, um sorriso cético se formou em seus lábios.

— Chega, Amélia! Eu não quero ouvir mais nada! Você está mentindo e tentando envenenar meu casamento. Se continuar com essas histórias, terá que ir embora desta casa. Não vou tolerar mais essas mentiras.

Agenor, que até então estava sentado na sala, apareceu na porta da cozinha. Seu sorriso debochado me deixou nauseada.

— Parece que temos uma pequena rebelde aqui, não é? — ele disse, sua voz gotejando sarcasmo. — Sempre quis que você me visse como um pai, mas sempre veio com quatro pedras na mão, infelizmente.

Minha mãe olhou para ele e depois para mim, seu rosto endurecendo ainda mais.

— Você ouviu, Amélia. Se não pode viver em paz nesta casa, então talvez seja melhor você procurar outro lugar para viver.

Olhei para minha mãe, implorando silenciosamente por algum sinal de compreensão, mas não encontrei.

— Muito bem, mãe — sussurrei, minhas mãos tremendo. — Se é isso que você quer, então eu vou embora.

Eu não sabia para onde iria, mas sabia que não podia mais viver sob o mesmo teto que Agenor. E, embora a rejeição da minha mãe fosse um golpe duro, a promessa de liberdade me deu uma força inesperada.

Enquanto colocava minhas roupas na mala, uma determinação nova se formava dentro de mim. Eu iria encontrar um lugar para mim, onde pudesse viver sem medo. E, de alguma forma, eu iria sobreviver a isso.

— Amélia, pare de fazer drama. Você não vai a lugar nenhum. — disse Agenor, com um tom áspero.

Olhei para minha mãe.

— Você precisa parar com isso, Amélia. Não vou permitir que destrua nossa família com suas mentiras e fantasias.

Engoli em seco.

— Mãe, eu não estou inventando nada. Só estou tentando dizer o que sinto, ele...

— Chega, Amélia! — interrompeu Agenor, avançando em direção às minhas roupas no armário.— Você vai guardar suas coisas agora mesmo e acabou com essa bobagem.

Sentindo-me sem saída, olhei para minha mãe em busca de apoio, mas encontrei apenas um olhar duro.

Com lágrimas nos olhos, comecei a recolher minhas roupas.

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