Patrícia, uma talentosa bailarina, vê sua vida desmoronar quando um relacionamento tóxico a afasta do palco e um trauma devastador a coloca em um profundo luto. Determinada a reconstruir sua vida, ela encontra apoio em Ester, sua melhor amiga, que a convida a abrir um estúdio de dança. Entre pinceladas de tinta e passos de balé, Patrícia luta para redescobrir sua paixão pela dança e a força que acreditava ter perdido. Paralelamente, Lucas, um empresário de tecnologia bem-sucedido, enfrenta o vazio deixado pela perda repentina de sua noiva, Milena. Ele tenta seguir em frente, mas os ecos do passado ainda o perseguem, tornando difícil enxergar um futuro sem a mulher que tanto amou. Convencido por seu melhor amigo Miguel a sair de sua zona de conforto, Lucas aceita o convite para a inauguração do estúdio de dança, sem imaginar que esse evento mudará sua vida. Quando Patrícia e Lucas se reencontram, suas dores profundas criam um laço silencioso. Ambos tentam manter distância, temendo que as cicatrizes do passado impeçam qualquer chance de felicidade. No entanto, a força da amizade, os desafios do presente e a delicadeza dos novos sentimentos que surgem os empurram a confrontar suas inseguranças e a acreditar, ainda que aos poucos, no poder do recomeço. Entre passos de balé e memórias guardadas, Patrícia e Lucas precisam aprender que o amor verdadeiro não apaga o passado, mas ilumina o caminho para um novo amanhã.
Leer más[Patricia]Os dias que se passaram foram como um túnel escuro e sem fim. Eu caminhava por corredores longos, infinitos, mas nunca encontrava uma saída. Eu gritava, pedia ajuda, mas minha voz parecia não existir. Era como se estivesse presa entre dois mundos, incapaz de voltar, incapaz de seguir em frente.Até que, aos poucos, algo mudou.Um som distante, quase um sussurro, rompeu o silêncio sufocante. No início, era apenas um eco, uma vibração vaga no vazio... mas então as palavras começaram a fazer sentido.— Filha, sua apresentação foi um sucesso. — A voz suave e conhecida me envolveu como um abraço. — Saiu nos jornais da cidade. Aqui, escute... duas grandes apostas do balé realizaram a primeira apresentação...Minha mãe.Mamãe.Fiz força para responder, mas minha boca estava seca, minha garganta parecia feita de areia. Meu corpo não obedecia, como se eu estivesse amarrada a um peso invisível. Com um esforço imenso, consegui murmurar:— Mamãe... onde estou?O som da cadeira sendo ar
[Marcus]Meu sangue ferveu, tornando-se puro ácido ao ver aquela maldita mulher tentando fazer o impensável com a Patrícia.Minha Patrícia.Minha visão escureceu por um instante, e a única coisa que impediu que eu a matasse ali mesmo foi o fato de que eu precisava dela viva para outras finalidades. Lara era apenas um peão nesse jogo, um peão estúpido que quase estragou tudo.Mas agora, eu estava sozinho com a Paty.Me aproximei da cama, observando seu corpo frágil cercado por tubos e máquinas que mantinham sua respiração. Ela parecia tão pequena, tão vulnerável...E, mesmo assim, ainda era a mulher mais bonita que eu já vi.Meu primeiro impulso foi arrancar todos aqueles fios e tomá-la para mim. Beijá-la. Possuí-la. O sabor de seus lábios era a melhor sensação do mundo, e o fato de estar tão perto dela sem poder tocá-la do jeito que queria me consumia por dentro.Respirei fundo, tentando me conter.Ajeitei-me na cadeira ao lado da cama e segurei sua mão delicada entre as minhas. Seu t
[Lara]O corredor do hospital estava silencioso, iluminado apenas pela luz fria e artificial que ecoava nas paredes brancas. Me aproximei de Lucas, que estava sentado em uma das cadeiras de plástico, com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto escondido entre as mãos. Murmurei baixo, quase num sussurro, que iria até a cafeteria para respirar por alguns minutos. Ele nem sequer levantou a cabeça, apenas acenou com um gesto vago, distante. Ele estava longe, em outro lugar, em outro mundo. E eu precisava sair dali. Não suportava mais ficar cercada por todos eles, ouvindo o choro contido, os murmúrios sobre a vida de Patrícia, as preces sussurradas como se ela já estivesse condenada.Eu precisava de espaço. Eu precisava vê-la sozinha.Esperei alguns minutos, observando discretamente até que o corredor ficasse vazio. Então, com passos cautelosos, entrei na UTI. O ar gelado do quarto me envolveu, e a luz azulada dos monitores piscava em sincronia com os bipes incessantes das máquinas.
[Lucas]Quando entrei no quarto, vi Nathan segurando a mão de Patrícia. Um impulso imediato de raiva e ciúme me atravessou, tão intenso que quase me fez agir antes de pensar. Queria arrancar aquela mão dele, gritar que só eu deveria tocá-la, só eu deveria estar ali, ao lado dela. Mas respirei fundo, engoli o gosto amargo da inveja e me controlei. Não era o momento.Pigareei baixo, o som ecoando no silêncio do quarto, para chamar sua atenção.— O tempo de visita acabou.Nathan não me olhou. Apenas assentiu em silêncio, soltou a mão de Patrícia devagar, como se estivesse se despedindo de algo precioso, e se retirou. Observei enquanto ele saía, sua postura tensa, seus ombros levemente curvados, como se carregasse um peso invisível. A porta se fechou atrás dele, e só então me aproximei da cama.Lara ficou um pouco mais afastada, observando, mas naquele momento eu não me importava com o que ela sentia ou pensava. Todo o meu foco estava em Patrícia.Seu corpo parecia tão pequeno e frágil co
[Nathan]Os pais de Patrícia saíram do quarto em silêncio, carregando nos olhos um sofrimento que me atingiu como um soco no estômago. A mãe dela mal conseguia manter a cabeça erguida, os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. O pai, mesmo tentando manter a postura firme, não conseguiu esconder a dor que transbordava de sua expressão. Quando passou por mim, pousou a mão no meu ombro em um gesto silencioso, quase um pedido mudo de que eu cuidasse dela. Eu acenei com a cabeça, sem palavras, porque nenhuma delas parecia suficiente naquele momento.Esperei alguns segundos antes de entrar no quarto, tentando me preparar para o que veria. Mas nada, absolutamente nada, poderia ter me preparado para aquilo.Patrícia parecia tão pequena naquela cama, tão frágil, tão diferente da mulher cheia de vida e força que eu conhecia. O bip ritmado dos aparelhos preenchia o silêncio opressor do quarto, e cada som era um lembrete cruel de que ela estava ali, lutando por sua vida. Eu fechei a porta at
[Mãe]Ver minha filha ali, deitada naquela cama de hospital, cercada por máquinas que mantinham seu corpo funcionando, era como enfrentar uma impotência que eu nunca havia conhecido. Como mãe, sempre me vi como uma protetora, alguém que faria de tudo para mantê-la longe de qualquer perigo. Mas ali, naquele quarto silencioso e iluminado pela luz fria dos monitores, tudo o que eu podia fazer era segurar sua mão e esperar. Esperar por um sinal, por um milagre, por qualquer coisa que me dissesse que ela ainda estava comigo.As palavras "E se…?" ecoavam na minha mente, insistentes, como uma melodia que não conseguia parar de tocar. E se eu não tivesse aceitado aquele convite para o jantar? E se eu tivesse insistido para que ela ficasse na mesa, em vez de ir ao banheiro? E se eu tivesse feito algo diferente, dito algo diferente? Talvez ela não estivesse ali, naquela cama, lutando entre a vida e a morte. Cada "e se" era como uma faca girando no meu peito, cortando um pedaço de mim a cada pen
[ Ester]Horas se passaram desde que Patrícia entrou na sala de cirurgia. O tempo parecia ter congelado, e a sala de espera se tornara uma prisão sufocante, onde a esperança e o desespero travavam uma batalha silenciosa dentro de mim. Ninguém vinha nos dar notícias, e cada vez que uma enfermeira passava, corríamos para perguntar, apenas para ouvir a mesma resposta fria e impessoal:— Patrícia ainda está na cirurgia. Assim que o médico terminar, virá informar vocês.Eu queria gritar. Queria dizer a Patrícia que me perdoasse, que eu a amava, que ela era minha irmã de alma. Mas nada disso importava agora. Eu só queria que ela ficasse bem. Mesmo que nunca mais quisesse olhar na minha cara, tudo o que importava era que ela sobrevivesse.Fechei os olhos, e o flashback veio como uma onda impiedosa. O som dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos, o restaurante mergulhado no caos, e Patrícia... Patrícia levando a mão ao abdômen, os olhos arregalados em choque, caindo lentamente diante de mim. E
[Patricia]Eu via tudo de cima, como se estivesse flutuando. O restaurante estava um caos ao meu redor, pessoas correndo, gritos, mesas viradas, cacos de vidro espalhados pelo chão. Mas nada disso parecia importar. Minha atenção estava fixa ali... em mim mesma.Meu corpo estava no chão, imóvel, os olhos semicerrados, a pele pálida contrastando com o vermelho intenso que se espalhava pelo tecido do meu vestido. O sangue... tanto sangue.Nathan estava ajoelhado ao meu lado, pressionando a ferida com as mãos trêmulas mas firmes sobre o ferimento, os olhos arregalados, repletos de desespero. Sua boca se movia rapidamente, chamando meu nome, tentando me manter consciente. Ele me sacudia levemente, implorando por uma resposta que eu não conseguia dar.Lucas estava ali também, ao lado dele, parecendo congelado no tempo. Seu rosto estava pálido, e nos olhos dele havia algo que eu não via há muito tempo: medo. Ele segurava minha mão com tanta força, como se quisesse me ancorar ali, como se sua
[Ester]O barulho dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos, como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta. O restaurante, que minutos atrás estava repleto de risadas e conversas, agora era puro caos. Pessoas gritavam, corriam, se abaixavam atrás de mesas, e eu... eu estava congelada.Foi então que a vi.Patrícia estava no chão, seu vestido salmão manchado por uma mancha vermelha cada vez maior. A cena parecia irreal, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Meus pés estavam colados ao chão, o ar parecia não chegar aos meus pulmões.— Patrícia... — sussurrei, sem sequer perceber que tinha dito seu nome em voz alta.Nathan estava ajoelhado ao lado dela, pressionando sua ferida com força, seus olhos carregados de desespero e determinação. Ele gritava palavras que eu não conseguia entender, sua voz abafada pelo zumbido em minha cabeça.Meu coração batia tão forte que parecia querer escapar do meu peito. De todas as possibilidades, de todas as discussões