Capítulo 2

Patrícia agradeceu com um aceno tímido e murmurou: — Obrigada… de verdade.

Lucas apenas assentiu, observando enquanto ela se afastava lentamente, os passos hesitantes carregando o peso de sua dor. Ele ficou parado no terraço, o vento ainda frio batendo contra seu rosto, como se tentasse despertá-lo de um pesadelo que não tinha fim.

Quando as portas do elevador se fecharam atrás dela, o silêncio pareceu ainda mais opressor. Lucas ergueu os olhos para o céu nublado, buscando respostas que não vinham. — Por quê? — pensou ele, os lábios se movendo sem som. — Por que ela? Por que agora?

A imagem de Milena veio à sua mente. Seu sorriso brilhante, os planos que faziam juntos, as risadas que compartilhavam. Tudo parecia tão próximo e, ao mesmo tempo, inatingível. A perda era como uma ferida aberta, latejante e insuportável.

Ele permaneceu ali por algum tempo, tentando encontrar sentido no caos. Mas as respostas não vieram, e Lucas soube que talvez nunca viriam. Respirou fundo, ainda sentindo o peso no peito, e se preparou para voltar ao andar de baixo.

Ao entrar na sala de espera, os olhares dos pais e dos sogros recaíram sobre ele. Nenhuma palavra foi dita, mas a dor compartilhada era palpável. Lucas sentou-se ao lado de sua mãe, que segurou sua mão com força, como se quisesse transmitir algum tipo de conforto. Mas naquele momento, nem o toque mais gentil conseguia preencher o vazio.

Patrícia, por outro lado, saía do hospital com passos lentos, quase mecânicos. Suas mãos estavam pousadas levemente sobre o ventre, como se ainda pudesse sentir algo, um resquício de vida que já não estava ali. O vazio que sentia era tão avassalador quanto o silêncio que a acompanhava.

Caminhou sem destino pelas ruas próximas, até que um pequeno parque surgiu à sua frente. O som de crianças brincando, risadas e gritos de felicidade, a chamou como um ímã. Patrícia hesitou por um momento, mas acabou entrando. Sentou-se em um banco próximo ao parquinho, os olhos fixos no balanço que ia e vinha, ocupado por uma garotinha de tranças que gargalhava alto.

Por longos minutos, Patrícia observou aquela cena, como se quisesse gravá-la na memória, como se o simples ato de assistir pudesse reescrever seu futuro. Lágrimas quentes escorriam pelo seu rosto, mas ela não as enxugou. Era difícil não imaginar como seria se as coisas tivessem sido diferentes. Se o bebê que carregava ainda estivesse com ela.

— Ele teria adorado brincar aqui,— murmurou para si mesma, sua voz um eco de saudade e dor.

O som do celular vibrando em sua bolsa a despertou de seus pensamentos. Ela olhou para o visor e sentiu um frio percorrer sua espinha: Marcus.

Por instantes, seus dedos pairaram sobre a tela. O coração acelerou, mas não pelo motivo certo. Era medo. Era angústia. Patrícia fechou os olhos, como se quisesse reunir forças para tomar uma decisão.

— Não,— murmurou, dessa vez com firmeza. Sua mão tremeu, mas ela rejeitou a chamada e colocou o telefone de volta na bolsa.

Ela respirou fundo, enxugando as lágrimas do rosto.— Eu não vou voltar, — pensou, como se reafirmar aquilo em sua mente fosse suficiente para sustentar a escolha. Marcus era parte de um capítulo da sua vida que ela sabia que precisava encerrar. Uma relação marcada por brigas, controle, e agora, pela dor de uma perda que ele sequer parecia lamentar da mesma forma.

Patrícia se levantou do banco, olhando uma última vez para as crianças brincando. Sentiu o peso em seu coração, mas também uma pequena fagulha de força. Ela não sabia como seria o futuro, mas sabia que não podia permanecer no passado.

— Eu vou continuar,— sussurrou para si mesma, dando o primeiro passo em direção a um caminho que, embora incerto, era só dela.

As ruas estavam mais movimentadas agora, mas Patrícia mal notava o burburinho ao seu redor. Ela não tinha um destino certo, mas cada passo que dava parecia mais firme. Aos poucos, a ideia de reconstruir sua vida — mesmo que fragmentada — começava a parecer possível.

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