Saímos da sorveteria quando as luzes da rua já estavam acesas, e a praça ao lado começava a ganhar vida. O céu estava tingido de tons de lilás e azul escuro, enquanto as pessoas ao redor davam início à sua rotina noturna. Crianças ainda com uniforme escolar corriam pela praça, adultos caminhavam ou corriam pelos trilhos de cascalho, e buzinas ecoavam no engarrafamento próximo.— O horário do caos. — Ester comentou, abrindo um sorriso divertido enquanto olhava ao redor.— Caótico, mas cheio de vida. — respondi, sentindo uma pontada de paz naquele momento simples.De repente, Ester parou bruscamente e apertou meu braço.— Olha só, amiga! Que lindo aquele cachorro Husky! — disse, já me puxando na direção do animal como uma criança que avista um brinquedo novo.
Estava na cozinha, preparando o jantar, quando Ester apareceu na sala, vestindo shorts jeans e sua camiseta do Rolling Stones, já desbotada pelo tempo, mas que ela adorava. Estava largada no sofá, com as pernas cruzadas e o olhar perdido em seus próprios pensamentos.— E aí, como foi conversar com o Miguel? — perguntei casualmente, enquanto retirava o salmão da geladeira para grelhar.Ela levantou os olhos na minha direção e esboçou um sorriso.— Não quero me precipitar, Paty, mas foi ótimo. Consegui conversar de verdade com ele. Ele é espirituoso, engraçado… — começou, com o tom animado que só usava quando algo realmente a impressionava.Enqua
— Acho que essa é a última caixa, Lucas. — disse Leandro, colocando-a ao lado das outras no canto da sala.Olhei para a pilha de caixas que agora ocupava aquele espaço. Demorei seis meses para criar coragem de retirar os pertences de Milena da nossa casa. Foi um processo lento e doloroso. Cada objeto que eu tocava parecia trazer de volta memórias que me esmagavam por dentro: as roupas que ela usava nos nossos jantares favoritos, os perfumes que enchiam o quarto com seu aroma, e as fotos… cada uma um lembrete do que nunca mais voltaria.Lágrimas teimosas queimavam nos olhos, mas as engoli antes que caíssem. Não era a hora de desabar, não agora, não na frente deles.Miguel, percebendo meu estado, colocou a mão no meu ombro, um gesto simples, mas reconfortante.— Você não precisa se desfazer de tudo de uma vez. Escolha algo para guardar, talvez uma foto dos dois, de um momento em que estavam felizes. Pode parecer pequeno, mas vai ajudar a manter as boas lembranças vivas. — disse ele com
Estava sentada à mesa da cozinha, ainda de pijama, saboreando meu cappuccino e uma fatia de pão com geleia. A manhã seguia tranquila, com o som distante dos pássaros preenchendo o silêncio aconchegante do lar. A luz suave do sol atravessava a janela, aquecendo levemente o ambiente.Ester apareceu na porta, os longos cabelos negros emaranhados e os olhos ainda pesados de sono. Usava um moletom folgado que parecia abraçá-la por inteiro, e os pés arrastavam-se preguiçosamente pelo chão frio.— Bom dia, Paty. Por que você não me acordou? — disse ela entre um bocejo, caminhando até o balcão em busca de uma caneca para o café.— Você parecia tão tranquila, Ester. Não tive coragem. — respondi com um sorriso pequeno.Ester se inclinou e me deu um beijo carinhoso no topo da cabeça antes de se servir com café. Aquele gesto simples, mas carregado de cuidado, fez meu peito se aquecer.Então, meu celular vibrou sobre a mesa. O som, embora discreto, pareceu ressoar mais alto do que deveria. Peguei
— Acredito que, com esses dados, temos tudo o necessário para desenvolver o aplicativo ideal para atender à sua empresa, Sr. Dalton. — finalizei, fechando meu caderno de anotações com precisão. — Nosso departamento jurídico entrará em contato com sua assistente para alinhar a assinatura do contrato.Após quase duas horas de conversa, análises e projeções, a reunião finalmente chegou ao fim. O Sr. Dalton levantou-se, ajustou o paletó impecável e me ofereceu um sorriso satisfeito antes de estender a mão para mim.— Agradecemos pela confiança depositada na SynerTech. — acrescentei ao apertar sua mão.— Eu que agradeço, Lucas. A proposta de vocês está perfeitamente alinhada ao que buscamos. — Sua voz carregava um tom firme, mas havia um brilho no olhar de quem enxergava potencial em nossa parceria.— Marlene, por favor, acompanhe o Sr. Dalton até a saída.Marlene, sempre eficiente, assentiu e seguiu com ele, deixando-me sozinho na ampla sala de reuniões. O silêncio que tomou conta do espa
— Está nervosa para hoje à noite, querida? — perguntou minha mãe, sua voz suave, como sempre, enquanto observava meu reflexo no espelho. Eu ajeitava, mais uma vez, o vestido azul marinho que havia escolhido para a ocasião, tentando ajustar os detalhes que, à minha maneira, poderiam transformar aquele vestido em algo mais do que uma simples peça de roupa. Era mais do que isso. Era uma representação de tudo o que eu estava prestes a viver.Suspirei profundamente, sentindo os ombros relaxarem. — Acho que sim. O novo sempre assusta, não é?Minha mãe sorriu, um sorriso caloroso, com aqueles olhos que pareciam saber mais do que eu. Ela se aproximou, tocando gentilmente minha cabeça, e ajeitou uma mecha de cabelo que insistia em cair sobre meu rosto. Seu toque foi como um bálsamo, e suas palavras, tão cheias de uma sabedoria tranquila, aqueceram meu coração. — O novo é apenas o início de algo que você ainda não conhece. Encare-o como uma página em branco, pronta para ser preenchida com as co
— Olá, sou Leandro. — A voz dele era carregada de um tom confiante, quase como se tivesse o poder de transformar a atmosfera ao redor. Ele se aproximou com um sorriso fácil, os olhos brilhando com uma energia descontraída que se espalhava por onde passava.Leandro era o oposto de Lucas. Enquanto Lucas parecia sempre em seu próprio mundo, com uma aura de mistério e distância, Leandro possuía a capacidade de dominar o ambiente com uma presença magnética, sempre com um sorriso aberto e um olhar afiado. Ele parecia estar sempre no controle, nunca desconfortável, e isso fazia com que as pessoas se sentissem naturalmente atraídas por ele.— Olá, Patrícia. — Respondi educadamente, estendendo a mão em um cumprimento, tentando manter a compostura.Leandro segurou minha mão com uma delicadeza que contrastava com sua postura confiante. Seu sorriso era encantador, como se ele soubesse exatamente como fazer alguém se sentir à vontade. — Muito bonito o espaço. Simples, mas sofisticado. — A maneira
O evento foi um sucesso absoluto. Ester e eu estávamos exaustas, mas realizadas. Conseguimos fechar algumas matrículas ainda naquela noite e recebemos inúmeros elogios pelo espaço e pela organização.Enquanto os últimos convidados iam embora, Miguel, Lucas e Leandro se aproximavam para se despedir.— Parabéns, meninas. O lugar está incrível, e o evento foi impecável. — Disse Miguel, com sua habitual simpatia.— Foi mesmo! — Leandro acrescentou, sorrindo. Em seguida, ele se inclinou e, mais ousado, me deu um abraço caloroso e um beijo na bochecha.Fiquei levemente surpresa, mas retribuí o gesto com um sorriso discreto. Lucas, por outro lado, manteve-se mais reservado, apenas apertando minha mão. Seu olhar encontrou o meu brevemente, e senti novamente aquele misto de nervosismo e curiosidade.Antes de sair, Miguel aproveitou para combinar algo com Ester:— Amanhã à noite, então? Um jantar tranquilo.Ester concordou prontamente, os olhos brilhando. Assim que os três se afastaram, eu a pr