Capítulo 3

Conheci Milena Cruz em um lugar inesperado: uma boate. Admito, não era exatamente o cenário onde eu imaginava encontrar o amor da minha vida. Esses lugares geralmente são sobre curtição, encontros passageiros, algo leve e sem compromisso. Mas Milena… Milena não era qualquer pessoa.

Eu estava no bar, um tanto deslocado. Não era muito de dançar nem de socializar como meus amigos. Leandro e Miguel, com toda sua popularidade e confiança, dominavam a pista de dança, atraindo olhares e sorrisos de todas as direções. Eu? Bem, estava no segundo ano de Ciência da Computação, o típico “nerd” do grupo, tentando decidir qual cerveja pedir, enquanto eles se divertiam sem preocupação.

— Ei, rapaz,— disse o bartender, interrompendo meus pensamentos enquanto enchia um copo. — Aquela garota ali, de blusa vermelha… Ela não tira os olhos de você.

Franzi a testa, surpreso. — Quem? Eu?

Ele riu, inclinando-se um pouco mais próximo. — Você mesmo. Por que não vai lá e paga uma bebida pra ela?

Olhei na direção que ele indicava. No meio da pista de dança, cercada por amigas, estava Milena. Cabelos negros que caíam em ondas suaves, uma blusa vermelha que parecia destacá-la do resto do mundo, e um sorriso que iluminava o ambiente. Nossos olhares se encontraram por um segundo, e meu coração disparou. Ela realmente estava me olhando.

— Será?— perguntei ao bartender, meio incrédulo.

— Confia, garoto. Vai lá.

Respirei fundo, reuni coragem e atravessei a pista de dança. Meu coração batia mais rápido a cada passo. Quando finalmente cheguei perto dela, tentei soar confiante, mesmo sentindo que minha voz poderia falhar a qualquer momento.

— Oi… Meu nome é Lucas. E o seu?

Ela sorriu, balançando o corpo suavemente no ritmo da música. — Milena. Você demorou a vir.

A naturalidade dela me desarmou completamente. Rimos juntos, e a partir daquele momento, a conversa fluiu como se nos conhecêssemos há anos. Quando a noite acabou, trocamos números, e antes que eu percebesse, ela já fazia parte da minha vida.

Um mês depois, estávamos namorando. Milena era estudante de Arquitetura, apaixonada por arte, design, por criar. Entre os intervalos de aulas, almoçávamos juntos e sonhávamos com o futuro. Ela tinha um jeito especial de enxergar o mundo, como se cada detalhe “uma janela antiga, uma flor num jardim ou até mesmo uma rachadura numa calçada” tivesse uma história para contar.

— Você nunca olha pro céu, Lucas,— ela dizia, deitando ao meu lado na grama do campus. — Sempre com a cabeça nos números, nas fórmulas. Às vezes, você devia só… olhar.

E eu olhava, mas não pro céu. Olhava pra ela.

Nos formamos no mesmo ano, e eu sabia que Milena era a pessoa com quem eu queria passar o resto da minha vida. Decidi pedi-la em casamento no lugar que ela mais amava: um parque que frequentava quando era criança.

— Minha mãe amava esse lugar,— ela havia me contado uma vez, enquanto andávamos de mãos dadas. — Foi aqui que meus pais se conheceram.

Achei que era o lugar perfeito. Naquele dia, ensaiei o pedido tantas vezes que perdi a conta. Quando chegamos ao parque, Milena parecia distraída, caminhando devagar pelas trilhas, seus olhos brilhando com as lembranças que o lugar trazia.

— Lucas, você tá quieto hoje. Algum problema?— ela perguntou, com aquele olhar que sempre parecia enxergar através de mim.

Respirei fundo e parei de andar. — Na verdade, tem uma coisa que eu queria te perguntar.

Ela franziu a testa, curiosa. Antes que pudesse dizer algo, ajoelhei-me diante dela, como manda o figurino. Tirei uma pequena caixinha de veludo do bolso, revelando o anel que eu tinha escolhido com tanto cuidado.

— Milena, você aceita casar comigo?

Ela levou as mãos ao rosto, surpresa, e então fez uma pequena dancinha de alegria, como sempre fazia quando algo a deixava extremamente feliz.

— Claro que aceito, meu amor!— disse ela, rindo e chorando ao mesmo tempo. Milena me abraçou, enchendo meu rosto de beijos, enquanto eu sentia meu coração explodir de felicidade.

Passou-se um ano desde o pedido de casamento. Estávamos no meio dos preparativos, com o grande dia marcado para dali a seis meses. Milena estava radiante, escolhendo flores, provando vestidos, sonhando em voz alta sobre nossa casa, nossos filhos, nosso futuro juntos.

E então, o futuro foi arrancado de nós.

Lembro-me do momento em que recebi a ligação como se fosse agora. A voz do outro lado da linha era urgente, mas as palavras pareciam se arrastar, irreais. — Milena sofreu um acidente de carro.

Meu mundo desabou.

Cheguei ao hospital com o coração na boca, apenas para ouvir as palavras que destruíram tudo: “Ela não resistiu.”

Fiquei parado ali, atônito, incapaz de compreender. Milena, com toda sua energia, seus sonhos, sua luz… havia partido antes de mim. Ela havia prometido que envelheceríamos juntos. Que construiríamos uma vida inteira lado a lado.

Eu não sabia o que fazer, como continuar. Tudo que restava era o vazio, a memória de sua risada e o som de sua voz dizendo: “Olha pro céu, Lucas.”

E naquela noite, pela primeira vez, eu olhei.

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