Para sempre meu amor: nerd da computação e a Profª de balé
Para sempre meu amor: nerd da computação e a Profª de balé
Por: N. Forges
Capítulo 1

Lucas sentia o mundo ruir ao seu redor. A notícia havia sido devastadora, arrancando dele qualquer resquício de esperança. Sua noiva, seu futuro, seu amor havia partido de forma brutal e repentina em um acidente de carro. No corredor do hospital, os sons dos monitores e passos apressados soavam distantes, abafados pelo peso do luto que o sufocava. As paredes pareciam se fechar ao redor, como se quisessem esmagá-lo.

Ele não conseguia encarar os pais ou os sogros, que também choravam em silêncio. O vazio em seus olhos espelhava o próprio vazio que sentia. “Com licença”, murmurou, sem realmente esperar uma resposta. Precisava sair dali, encontrar ar para respirar, mesmo que por um instante.

No elevador, Lucas apoiou a testa contra a parede metálica, a superfície gelada um breve alívio para o calor sufocante da dor que o consumia. Quando as portas estavam prestes a se fechar, uma mulher entrou apressadamente. Ela evitava contato visual, enxugando discretamente as lágrimas que escorriam pelo rosto. Sua expressão estava marcada pelo cansaço, pela perda.

Patrícia havia recebido alta naquele mesmo dia, mas a sensação de alívio não existia. Depois de perder o bebê que carregava, fruto de um relacionamento que estava desmoronando, sentia-se à deriva. Não tinha para onde ir, nem forças para encarar a realidade que a esperava fora do hospital.

O silêncio no elevador era pesado, mas nenhum dos dois tinha energia para preenchê-lo. O destino os guiava para o mesmo local: o terraço do hospital, onde o vento frio parecia ser o único refúgio para almas tão quebradas.

Lucas chegou primeiro, parando no meio do espaço vazio, o olhar perdido no horizonte cinzento. Respirou fundo, tentando afastar a sensação sufocante que o apertava por dentro. O vento batia em seu rosto, mas não trazia consolo.

Patrícia entrou em seguida, hesitante. Seus passos eram leves, como se temesse interromper algo. Ela olhou em volta, percebendo a solidão do local, e caminhou até o parapeito. O olhar dela estava fixo no chão lá embaixo. Por alguns minutos, permaneceu imóvel, como se travasse uma batalha interna.

Lucas, mesmo absorto em sua própria dor, notou a postura dela. Não era difícil reconhecer aquele tipo de desespero. Ele viu a forma como as mãos dela agarravam a borda do parapeito e como o corpo parecia inclinar-se ligeiramente para frente. Algo dentro dele, talvez um resquício de humanidade em meio ao sofrimento, o fez agir.

— Está frio hoje, não está?— perguntou ele, sua voz baixa, mas firme.

Patrícia parou. Sua respiração estava rápida, e as palavras dele pareciam tê-la arrancado de um transe. Lentamente, virou-se para encará-lo. Seus olhos estavam vermelhos, as lágrimas ainda escorrendo, mas havia surpresa em sua expressão.

— É…— respondeu ela, quase em um sussurro, sem saber como reagir.

Lucas deu um passo para mais perto, mas manteve uma distância respeitosa. — Eu não sei o que você está sentindo agora. Mas sei que dói. Mais do que qualquer coisa.

Patrícia piscou, tentando processar as palavras dele. Ela queria responder, mas sua garganta parecia travada. Ele não a conhecia, e ainda assim, havia algo na maneira como falava que soava… verdadeiro.

— Você veio até aqui para respirar, não para desistir,— continuou ele, com delicadeza. — Eu sei que parece impossível agora, mas o ar ajuda. Mesmo que seja só por alguns segundos.

Ela soltou um riso curto, amargo. — Você acha que o ar vai mudar alguma coisa?

— Não vai,— ele admitiu, com um meio sorriso que não alcançou seus olhos. — Mas é um começo. E às vezes, o começo é tudo o que temos.

Patrícia passou as mãos pelo rosto, tentando limpar as lágrimas que insistiam em cair. — Perdi meu bebê. Ele era tudo o que eu tinha… e agora, nem isso.

Lucas sentiu o coração apertar. Ele não sabia o que dizer. O peso do luto era único para cada pessoa, mas havia algo universal naquela dor. — Eu perdi minha noiva hoje. Um acidente. Eu estava pensando… pensando que nada mais faria sentido. E então, vi você aqui.

Ela o olhou, o choque evidente em sua expressão. — Você também…

— Sim.— Ele respirou fundo, tentando controlar a emoção em sua voz. — Acho que, de certa forma, o destino colocou nós dois aqui. Talvez para lembrarmos que, mesmo na pior das dores, não estamos sozinhos.

Por um momento, o silêncio reinou novamente. Mas desta vez, não parecia tão sufocante. Patrícia olhou para o horizonte, sentindo o vento acariciar seu rosto. Lucas, ao seu lado, fazia o mesmo.

— Obrigada, — ela disse, depois de algum tempo. Sua voz era baixa, mas carregava sinceridade.

— Por quê?

— Por ter me feito parar. Por ter dito alguma coisa.

Lucas deu de ombros. — Às vezes, tudo o que precisamos é de alguém que perceba. Mesmo que não possa consertar nada.

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